20 de Dezembro de 2023 Robert Bibeau
Nos anos 40, o grande
capital energético de Alberta apostou tudo na exploração das suas jazidas de
petróleo e de gás. Centenas de milhares de poços pontilham a província
canadiana, mas muitos deles foram suspensos ou abandonados por empresas que
declararam "falência" para evitar serem apresentadas à falência,
causando danos sanitários e ambientais que foram imputados ao Estado
capitalista de Alberta. (NDÉ)
Um poço de petróleo órfão à beira da estrada em Alberta, Canadá, 30 de Novembro de 2023. © Léopold Picot / RFI
O poço de petróleo
está localizado ao lado de uma rodovia que vai de norte a sul através da
província canadiana ocidental de Alberta. Um tanque enorme e enferrujado
recolheu o óleo bombeado. "Este reservatório deve estar localizado a pelo menos
60 metros da estrada. Agora, quanto mede? Talvez 12 ou 15 metros no máximo. Se
o gás escapar, o que éo caso, e que as pessoas passem na estrada, há o risco de
explosão", avisa Mark Dorin, ex-funcionário da indústria petrolífera, ao
descer da sua enorme camionete.
Esse poço foi
abandonado há alguns anos por uma empresa que faliu. "Não sou contra a indústria de petróleo e
gás, longe disso. Mas há regras e a indústria tem de as seguir", insiste Mark.
Uma organização para poços órfãos
Isso porque existem leis para garantir que os poços sejam devidamente
selados. Já existe um mecanismo para garantir poços que pertenciam a empresas
agora falidas. Estes são chamados poços órfãos, e são administrados por Alberta
através da Orphan Well Association (OWA). Todos os anos, a indústria de
combustíveis fósseis paga centenas de milhões de dólares para financiar a OWA,
uma agência governamental única no mundo, assim como o estado de Alberta.
Lars DePauw, presidente da OWA, disse
que os poços da província, que foram perfurados há menos de 80 anos, são todos
referenciados e monitorizados. "Acho importante contextualizar que há
pouco menos de 10.000 poços órfãos que precisam ser selados agora, enquanto
há 300.000
poços na província. Portanto,
é menos de 1%." No entanto, o processo de garanti-lo pode levar anos: o poço que
Mark visitou é gerido pela organização, que ainda não teve tempo de cuidar
dele.
A poucos quilómetros deste poço, um agricultor teve o mesmo problema
durante vários anos. Quando uma companhia petrolífera, à qual a província tinha
concedido o direito de explorar o petróleo sob o seu campo, entrou e cavou um
poço, Joe Lovell não teve voz ao abrigo da lei de Alberta.
No entanto, a empresa pagou-lhe uma renda para ocupar o seu terreno. O agricultor considera que não foi devidamente compensado. "Regra geral, pagam-nos cerca de 3 500 dólares canadianos por terreno e por ano. Calculo que estamos a perder entre 5.600 e 7.000 dólares em perda de produção no local", lamenta o agricultor. Quando a empresa faliu, Joe Lovell ficou com o poço desativado no seu campo. "Houve muita burocracia durante anos, mas, no final, a OWA fez um ótimo trabalho. (...) Agora, tudo é 100% utilizável", diz o produtor de cereais.
Um grande desafio ambiental
Para os opositores, o problema não são tanto os poços órfãos, mas todos
aqueles que não são contabilizados. Alguns poços são assim
"suspensos" pelos operadores, de acordo com o termo consagrado. Não
faliram, mas já não usam os seus poços... E algumas empresas nem sequer os
mantêm mais. Algumas associações apontam para cerca de 80.000 poços abandonados
e órfãos só na província de Alberta.
Além do desafio de proteger
os poços para evitar explosões ou problemas sanitários, há também o desafio de
fazer com que as vedações de cimento perdurem. "No contexto da exploração de gás de
xisto, por exemplo, os líquidos utilizados são bastante ácidos e podem degradar
este selo", explica Romain Chesnaux, professor catedrático da Université du
Québec à Chicoutimi, especializado na área das águas subterrâneas. O gás
residual, que ainda se acumula nos anos seguintes à exploração, pode então
subir à superfície.
Estima-se que vazamentos
de antigos poços de petróleo e gás libertem dezenas de milhares de toneladas de
metano na atmosfera a cada ano. No entanto, este gás é 25 vezes mais potente do
que o CO2, diz Romain Chesnaux: "Só no nordeste da Colúmbia Britânica, e para os 25.000
poços de gás de xisto que estudei, as fugas representaram 75.000 toneladas de CO2 equivalente anualmente.
Isso equivale às emissões anuais de uma cidade norte-americana de cerca de
15.000 pessoas." E não são apenas as emissões de GEE que levantam muitas questões,
acrescenta o investigador: "Para os agricultores, por exemplo, há problemas de
micro-sismicidade causados pelo enfraquecimento do subsolo ou problemas de
contaminação das águas superficiais e subterrâneas".
Os denunciantes e as associações deparam-se com um duplo problema:
incentivar a indústria a cumprir as leis e a selar os poços de forma adequada,
tendo consciência de que esta selagem não é perfeita. Uma equação complexa, que
exigirá mais do que os 1,7 mil milhões de dólares anunciados no início de 2023
pelo governo canadiano de Justin Trudeau para resolvê-la.
Por:Léopold PicotAcompanhe, no Canadá, a bomba climática de poços de petróleo e gás
abandonados – Relatório internacional (rfi.fr)
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
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