terça-feira, 5 de dezembro de 2023

Mohamed Hassanein Heikal, incorruptível, uma dor de cabeça para a Mossad

 


 5 de Dezembro de 2023  René Naba  

RENÉ NABA — Este texto é publicado em parceria com a www.madaniya.info.

Mohamed Hassanein Heikal, incorruptível, uma dor de cabeça para a Mossad

Por Abdallah As Sinnawi, adaptação da versão francesa René Naba https://www.madaniya.info/

Autor do livro "Achille blessé", colunista do jornal "Ahram on Line" e colaborador do diário libanês "Al Akhbar".

Mohamad Hassanein Heykal, um homem incorruptível, revelou-se uma dor de cabeça para a Mossad, que tentou recrutá-lo. Mas o confidente do presidente egípcio Gamal Abdel Nasser recusava sistematicamente o menor contacto, não só com responsáveis ou serviços israelitas, mas até com cidadãos israelitas comuns.

Esta é a conclusão a que chegou o jornalista egípcio Abdallah as Sinnawi, após um estudo meticuloso dos arquivos israelitas sobre as tentativas de contacto dos israelitas com o director do influente jornal egípcio "Al Ahram".

"Tudo o que ele dizia, tudo o que fazia, era objecto de um exame minucioso por parte dos serviços secretos israelitas e ocidentais.  O seu famoso editorial, publicado todas as sextas-feiras no "Al Ahram", era imediatamente traduzido e enviado para os diferentes centros de decisão de Israel e dos países ocidentais, a fim de decifrar o pensamento do Presidente Gamal Abdel Nasser, de quem Heykal era confidente", escreve Abdallah As Sinnawi na sua coluna publicada no diário libanês "Al Akhbar", a 24 de Fevereiro de 2022, sob o título "O complexo Heykal nos arquivos israelitas".

Para o falante árabe, a narrativa neste link

Heykal: um nacionalista inflamado, um lendário editor-chefe.

Os serviços secretos israelitas admiravam o profissionalismo de Heykal, "um redactor lendário", "mas também a alma maligna que ele insuflava contra nós em todos os andares do edifício de 13 andares do Al Ahram", como disse Simbar Perry (ortografia fonética), colunista de assuntos árabes do jornal Yedioth Aharonot.

Uma decifração sistemática dos escritos de Heykal desde a guerra de Outubro de 1973 até à viagem do Presidente Anwar Sadat a Israel em Novembro de 1977, um período de 4 anos, revela que a principal preocupação de Heykal era a "segurança nacional do Egipto e do mundo árabe".

Amir Orim (grafia fonética), responsável pela defesa e pelos serviços secretos do jornal Haaretz, tentou, sem sucesso, contactar Heykal para saber se o confidente de Nasser aceitaria encontrar-se com dirigentes israelitas à margem da participação de Nasser na sessão de 1960 da Assembleia Geral das Nações Unidas, a única deslocação do presidente egípcio a Nova Iorque.

Orim tinha recebido luz verde da Mossad para elaborar um plano pormenorizado de organização de um encontro entre Heykal e dirigentes israelitas. O plano do jornalista israelita deveria conduzir gradualmente a um encontro entre Nasser e Moshe Dayan, então Ministro da Defesa de Israel.

Um estudo aprofundado dos escritos e conferências de Heykal concluiu que "era impossível que o jornalista egípcio se prestasse a uma tal manobra... Heykal era um nacionalista feroz, furioso com o poder crescente de Israel. Heykal não era do tipo que se deixa corromper pelo dinheiro e não se detectou nada que sugerisse que o confidente de Nasser pudesse ser vulnerável a qualquer tipo de chantagem que o levasse a colaborar com Israel", concluiu Orim.

De acordo com Orim, a Mossad tinha, de facto, estado a brincar com a ideia de alistar Heykal ao seu serviço ou, pelo menos, de o transformar num agente de influência com vista a influenciar a política egípcia.  Através de Heykal, a Mossad tentava, de facto, penetrar no raciocínio de Nasser.

Em 1967, Heykal, lúcido, escreveu o seguinte a propósito do encerramento do Golfo de Aqaba, que precipitou a guerra entre Israel e o Egipto: "O assunto não se limita ao Golfo de Aqaba. Trata-se de mais do que o Golfo de Aqaba, trata-se do conceito de segurança de Israel, da filosofia de segurança de Israel. Mais cedo ou mais tarde, Israel recorrerá às armas.

A Mossad retirou conclusões tendenciosas dos escritos de Heykal para efeitos da sua propaganda, atribuindo-lhe as seguintes conclusões: "A guerra de Outubro de 1973, marcada pela destruição da Linha Bar Lev e pela travessia do Canal do Suez, provou que, apesar da melhoria qualitativa do equilíbrio das forças árabes, não é possível infligir uma derrota a Israel devido ao fosso abismal que existe entre Israel e o seu ambiente árabe, tanto mais acentuado quanto Israel continua a expandir-se e a fortalecer-se com o passar do tempo".

No entanto, Heykal afirmou publicamente que "Israel, apesar da sua capacidade de tirar partido das situações que lhe são apresentadas, não conseguiu aterrorizar os árabes. As capacidades de Israel não são extraordinárias e a sua derrota é possível", recorda Abdallah As Sinnawi.

De facto, os israelitas não perdoam a Heykal o facto de ter sido o homem que, já em 1964, exortou a opinião pública árabe a considerar a questão palestiniana como uma questão fundamental, com base nas seguintes considerações:

1.      Israel é uma base de agressão ao serviço do imperialismo ocidental;

2.      Israel era o principal obstáculo à realização da unidade árabe.

3.      Israel tem objectivos expansionistas em detrimento do mundo árabe.

1A importância do Al Ahram na vida nacional árabe.

O Al Ahram, sob a direcção de Heykal, era o jornal árabe mais importante; o único jornal diário lido com maior atenção pelo maior número de falantes de árabe do mundo.

A relação de Heykal com Nasser ultrapassava a de uma relação sólida entre um jornalista e um dirigente político. A pena de Heykal e a sua grande competência profissional conferiram-lhe um prestígio tão excepcional que tudo o que escrevia era visto como sendo ditado pelo próprio Nasser.

Os israelitas consideravam Heykal um "estratega com ódio a Israel por detrás de todas as decisões que ameaçavam a segurança de Israel".

No final desta apresentação, a questão que se coloca, segundo Abdallah As Sinnawi, é se a Mossad planeou o assassinato de Heykal. A resposta, segundo ele, está nos arquivos secretos dos serviços israelitas, caso estes decidam torná-los públicos.

Artigos de Abdallah As Sinawi publicados em madaniya, em anexo:

§  https://www.madaniya.info/2021/06/05/egypte-le-legs-de-nasser-comment-le-chef-est-tombe-dans-le-piege-qui-lui-a-ete-tendu/

 

Fonte: Mohamed Hassanein Heikal, incorruptible, un casse-tête pour le Mossad – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice




Sem comentários:

Enviar um comentário