12 de Dezembro de
2023 Robert Bibeau
Por
O Washington Post publicou
um longo artigo em duas partes sobre a fracassada "contra-ofensiva"
na Ucrânia. Ele culpa os americanos e os britânicos que planearam essa confusão
tanto quanto os ucranianos que a executaram.
Os principais pontos da primeira parte:
Erros de cálculo
e divisões marcaram o planeamento ofensivo EUA-Ucrânia (arquivado)
Os elementos-chave que moldaram a contra-ofensiva e o resultado inicial são os seguintes:
·
Oficiais militares ucranianos,
americanos e britânicos organizaram oito grandes jogos de guerra teóricos para
desenvolver um plano de campanha. Mas Washington avaliou mal até que ponto as
forças ucranianas poderiam ser transformadas numa força de combate de estilo
ocidental num curto espaço de tempo - particularmente sem dar a Kiev o poder
aéreo que é parte integrante dos exércitos modernos.
·
Por vezes, os oficiais americanos e ucranianos
discordavam fortemente quanto à estratégia, táctica e calendário. O Pentágono
queria que o assalto começasse em meados de Abril para evitar que a Rússia
continuasse a reforçar as suas linhas. Os ucranianos hesitaram, insistindo que
não estavam preparados sem armas e treino adicionais.
·
Os oficiais militares americanos estavam
convencidos de que um ataque frontal mecanizado contra as linhas russas era
possível com as tropas e armas disponíveis na Ucrânia. As simulações concluíram
que as forças de Kiev, na melhor das hipóteses, poderiam alcançar o Mar de Azov
e isolar as tropas russas no sul em 60 a 90 dias.
·
Os EUA defendiam um ataque direccionado
ao longo deste eixo sul, mas a liderança ucraniana considerava que as suas
forças deveriam atacar em três pontos distintos ao longo dos 1000 km da frente,
a sul em direcção a Melitopol e Berdyansk no Mar de Azov e a leste em direcção
à cidade sitiada de Bakhmut.
·
Os serviços de informação americanos
eram mais pessimistas do que o exército dos EUA, acreditando que a ofensiva
tinha apenas 50/50 de hipóteses de sucesso, dadas as defesas sólidas e
multi-camadas que a Rússia tinha montado durante o Inverno e a Primavera.
·
Muitos na Ucrânia e no Ocidente
subestimaram a capacidade da Rússia para recuperar de desastres no campo de
batalha e explorar os seus pontos fortes permanentes: mão de obra, minas e uma
vontade de sacrificar vidas a uma escala que poucos outros países podem
tolerar.
·
À medida que se aproximava o lançamento
planeado da ofensiva, os oficiais militares ucranianos temiam baixas
catastróficas, enquanto os oficiais norte-americanos acreditavam que o número
de baixas acabaria por ser mais elevado na ausência de um ataque decisivo.
E na segunda parte :
Na Ucrânia, uma guerra de ganhos incrementais à medida que a contra-ofensiva estagna (arquivado)
As principais conclusões dos relatórios da campanha incluem:
·
70% das tropas, numa das brigadas que
lideram a contra-ofensiva e equipadas com as mais recentes armas ocidentais,
entraram na batalha sem qualquer experiência de combate.
·
Os reveses da Ucrânia no campo de
batalha provocaram divergências com os Estados Unidos sobre a melhor forma de
romper as defesas profundas da Rússia.
·
No início da campanha, o comandante das
forças americanas na Europa não conseguiu estabelecer contacto com o
comandante-chefe ucraniano durante semanas, devido às tensões causadas pelo
facto de os americanos questionarem as decisões tomadas no campo de batalha.
·
Cada uma das partes acusava a outra de
ter cometido erros ou de ter feito juízos errados. Os oficiais militares
americanos concluíram que a Ucrânia não tinha respeitado as tácticas militares
básicas, em particular a utilização do reconhecimento do terreno para
compreender a densidade dos campos de minas. Os oficiais ucranianos afirmaram
que os americanos não pareciam compreender como os drones de ataque e outras
tecnologias tinham transformado o campo de batalha.
·
No total, a Ucrânia só reconquistou
cerca de 320 km2 de território, à custa de milhares de mortos e feridos e de
milhares de milhões de euros de ajuda militar ocidental só em 2023.
Todos estes factores tiveram um papel
importante.
A minha opinião:
·
A Ucrânia e os seus apoiantes
subestimaram sistematicamente as capacidades russas (e continuam a subestimar).
·
O reconhecimento por satélite mostrou que
os preparativos de defesa da Rússia estavam ao nível dos da Batalha de Kursk. Ali, a
Wehrmacht alemã, depois de demasiada preparação, não conseguiu romper as linhas
russas. A lição não aprendida de 1943: quando se vêem linhas defensivas como
estas, tenta-se outra coisa.
·
As simulações de batalha e os jogos de
guerra de mesa têm um "factor de moral" para cada lado. Se colocarmos
o nosso factor em 10 e o do inimigo em 0, como fizeram os Estados Unidos e o
Reino Unido, ganhamos sempre, mas isso não tem nada a ver com a realidade.
·
O apoio aéreo não teria sido útil. As
defesas aéreas russas são demasiado poderosas para as contrariar.
·
A decisão de utilizar brigadas "de novatos", mal treinadas e sem
experiência de combate, foi um erro grave.
·
A não utilização de granadas de fumo e,
de um modo geral, de meios de dissimulação, foi totalmente despropositada.
·
Foi um grande erro político fazer com
que metade das novas tropas, a parte mais experiente, lutasse na batalha já
perdida de Zelenski por Bakhmut.
Todos estes factores fizeram com que a chamada "contra-ofensiva" nunca fosse posta em prática. As actuais disputas não são mais do que uma tentativa de transferir as culpas do fracasso para o outro lado da mesa.
O general ucraniano Zaluzny aprendeu as
lições da batalha. Está agora a apresentar números realistas para mostrar aos
Estados Unidos quão pequenas são as suas hipóteses de vitória:
O comandante-chefe Zaluzhnyi pediu ao chefe do Pentágono 17 milhões de cartuchos de munições.
Durante uma visita a Kiev, o secretário da Defesa americano, Lloyd Austin, foi informado de que a Ucrânia precisava de 17 milhões de munições e que seriam necessários 350 a 400 mil milhões de dólares em recursos e pessoal para libertar o país.
Citação de um alto funcionário da defesa: "Austin
foi informado de que eram necessários 17 milhões de cartuchos de munições. Ele
ficou espantado, para dizer o mínimo, porque é impossível obter essa quantidade
de munições em qualquer parte do mundo.
O exército ucraniano não tem os dez mil lançadores necessários para
disparar 17 milhões de munições. Nem tem os homens necessários para fornecer
essas armas imaginárias.
Zaluzhny pensa claramente que a guerra está perdida e acabada. E que é altura de fazer política pela paz:
Além disso, segundo uma fonte, Austin disse também que Zaluzhnyi se tinha queixado em privado aos generais americanos da interferência do gabinete do Presidente [...]: "Austin disse-nos em privado que Zaluzhnyi estava sempre a queixar-se aos seus generais do gabinete do Presidente e da obstrução a que este o estava a sujeitar. É óbvio que o Presidente também ouviu falar dessas conversas. E isso não é propício à confiança".
No entanto, o gabinete do Presidente está inclinado a acreditar que a demissão de Zaluzhnyi facilitaria a sua carreira política.
É mais do que tempo de a administração Biden pôr fim a esta questão. Faça
como de costume: declare vitória, saia e esqueça.
Gilbert Doctorow pensa em como conseguir isso:
Tudo o que acontecer depois disso permanecerá nas notas de rodapé.
Moon of Alabama
Traduzido por Wayan, revisto por Hervé, para Saker Francophone
Fonte: La guerre en Ukraine est terminée…ou presque – les 7 du quebec
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
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