O texto da Rand Corporation – um think
tank de grande utilidade para o poder instalado nos EUA – prova à exaustão que
a merdia ocidental tenta escamotear, desde o início, que o conflito que se
trava na Ucrânia constitui uma guerra por procuração em que o “ocidente
alargado”, dominado, controlado e dirigido pelos EUA, contra a Federação Russa visa,
sobretudo, eliminar o risco – para os interesses da potência imperialista
americana, claro está – de que esta “normalize” as suas relações comerciais,
industriais, diplomáticas, políticas e militares com a Europa (quer com a UE,
quer com os restantes países que não integram aquela organização mafiosa)
Luis Júdice
Ucrânia: os planos da Rand Corporation em 2019
De acordo com o relatório da Rand Corporation de 2019, intitulado Overextending
and Unbalancing Russia (“O
prolongamento e o desequilíbrio da Rússia”, aqui o documento em Pdf – no primeiro documento podem recorrer
à tradução automática para Língua Portuguesa, que é muito aceitável), o
objectivo dos Estados Unidos era minar a Rússia tal como fez com a União
Soviética na Guerra Fria. Em vez de tentar ficar à frente ou melhorar os EUA do
ponto de vista interno, ou ainda nas suas relações internacionais, a ênfase
estava nos esforços e nas acções para minar o adversário designado, a Rússia.
A Rand é um think tank quase governamental, no sentido que recebe três quartos do seu
financiamento das forças armadas americanas. Entre os mais notáveis membros,
lembramos o Prémio Nobel da Economia Kenneth Arrow, o académico Francis
Fukuyama (autor do O Fim da
História), Condoleezza Rice, Donald Rumsfeld e,
obviamente, Henry Kissinger (entretanto falecido – Nota do Editor) que está
presente em todos os think
tank passados, presentes e futuros dos
EUA.
O relatório enumera medidas anti-Rússia
divididas nas seguintes áreas: económica, geopolítica, ideológica/informativa e
militar. São avaliadas de acordo com a percepção dos riscos, benefícios e
probabilidade de sucesso. Assinala como a Rússia tenha ansiedades “profundas”
sobre a interferência ocidental e um potencial ataque militar. Estas ansiedades
são consideradas uma vulnerabilidade a ser explorada com intervenções em várias
possíveis frente: Síria, Bielorrússia, Cáucaso, Ásia Central e, obviamente,
Ucrânia.
A actual subsecretária para os assuntos políticos, Victoria Nuland, afirmou
que ao longo de 20 anos os EUA investiram 5 mil milhões de Dólares no projecto de transformação da
Ucrânia. O ponto culminante foi o violento golpe em Fevereiro de 2014 e desde
então os EUA têm vindo a formar as milícias ultra-nacionalistas e neo-nazis de
Kiev. Nada disso é um mistério (é possível seguir. Todavia, até o ano de 2018,
os EUA apenas forneciam à Ucrânia armas militares de carácter “defensivo”).
O relatório Rand avalia que prestar
ajuda militar letal (ofensiva) à Ucrânia teria um risco elevado, mas também um
benefício elevado. Como resultado, o armamento letal fornecido pelos EUA
disparou de quase zero para 250 milhões de Dólares em 2019, para 303 milhões de
Dólares em 2020 e para 350 milhões de Dólares em 2021.
O relatório Rand enumera várias técnicas
e medidas para provocar e ameaçar a Rússia. Algumas incluem:
·
Reposicionamento de bombardeiros ao
alcance dos principais alvos estratégicos russos
·
Implantação de armas nucleares tácticas
adicionais em locais na Europa e na Ásia
·
Aumentar a atitude e a presença das
forças navais americanas e aliadas nas áreas operacionais da Rússia (Mar Negro)
·
Realização de exercícios de guerra da
NATO nas fronteiras da Rússia
·
Retirada do Tratado das Forças Nucleares
Intermédias (INF)
Estas e muitas outras provocações sugeridas pela Rand foram, de facto,
implementadas. Por exemplo, a NATO conduziu maciços exercícios de guerra
apelidados de Defender
2021, mesmo na fronteira com a Rússia. A
NATO começou a “patrulhar” o Mar Negro e a fazer intrusões provocatórias nas
águas da Crimeia. Os EUA retiraram-se do Tratado INF.
E nem podemos esquecer a questão da
entrada da Ucrânia no seio da organização atlântica:
Embora a exigência de unanimidade da
NATO torne improvável que a Ucrânia consiga a adesão num futuro próximo, se
Washington empurrar esta possibilidade poderá aumentar a determinação
ucraniana, levando a Rússia a redobrar os seus esforços para impedir tal
desenvolvimento.
Portanto, mesmo admitindo que Kiev não
terá a possibilidade de ingressar na NATO, pois para tal seria preciso que
todos os actuais Estados-membros votassem em conformidade (o que não parece
provável), em 2019 a Rand sugeria que o assunto fosse explorado como uma forte
provocação para alarmar Moscovo. A alternativa, que até poderia ter impedido o
actual ataque russo, teria sido declarar a Ucrânia inaceitável no âmbito da
NATO: mas isto teria sido contrário à intenção dos EUA de aumentar
deliberadamente a pressão, provocar e ameaçar a Rússia.
Aliás, em Novembro de 2021, os Estados
Unidos e a Ucrânia assinaram um Documento de Parceria Estratégica, acordo que
confirmava as aspirações da Ucrânia a aderir à NATO (apesar das poucas
possibilidades disso vir a acontecer) e a rejeição da decisão do povo da
Crimeia de se reunificar com a Rússia após o golpe de Kiev de 2014. Em Dezembro
de 2021, a Rússia propôs um tratado com os Estados Unidos e a NATO: a proposta
da Rússia era um acordo escrito de que a Ucrânia não teria aderido à NATO. Este
acordo foi rejeitado por Washington.
Como afirmado, o relatório da Rand
avalia custos e benefícios de várias possíveis acções dos EUA. É considerado um
“benefício” se o aumento da assistência dos EUA à Ucrânia resultar na perda de
tropas e recursos russos. Especulando sobre a possibilidade da presença de
tropas russas na Ucrânia, o relatório sugere que isso poderia tornar-se
“bastante controverso em casa, como quando os soviéticos invadiram o
Afeganistão” (pág. 99 do relatório completo).
E mais:
O aumento da ajuda militar dos EUA iria
certamente aumentar os custos russos, mas fazê-lo poderia também aumentar a
perda de vidas e de território ucraniano ou resultar num acordo de paz
desvantajoso.
Desvantajoso para quem? Vidas e
território ucraniano estão actualmente a ser perdidos. Um acordo de paz que
garantisse direitos básicos a todos os ucranianos e a neutralidade do Estado na
rivalidade entre as grandes potências beneficiaria a maioria dos ucranianos. Só
a política externa dos EUA e da Rússia, incluindo o complexo industrial militar
e os ultranacionalistas ucranianos, é que estariam numa posição “desvantajosa”.
Pensamento final: o estudo da Rand não é algo secreto. Está online, tal
como sempre esteve. Os meios de comunicação norte-americanos, e ocidentais no
geral, sempre tiveram livre acesso a este como a outros documentos que traçavam
um rumo claro para a guerra. Todavia, estes documentos foram e continuam a ser
ignorados, mesmo que sejam o trabalho duma organização tão próxima do Pentágono
e da Casa Branca.
Da mesma forma, também os russos sabiam
dos planos de Washington. E, mesmo assim, aceitaram seguir exactamente o
percurso programado pelo Ocidente, “caindo” conscientemente na “cilada” e
favorecendo a realização dos planos ocidentais.
Não é difícil ficar com o quadro geral,
pois não?
Ipse dixit (afirmação sem prova).
Fonte: https://informacaoincorrecta.com/2022/03/30/ucrania-os-planos-da-rand-corporation-em-2019/
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