20 de Dezembro de 2023 Robert Bibeau
A Rússia está a
intensificar as suas ofensivas ao longo de toda a linha da frente e parece
estar prestes a avançar em vários pontos. Embora as dificuldades ucranianas
sejam reais no início deste Inverno, o exército russo tem também à sua
disposição recursos limitados.
Por:Sebastian SEIBT Acompanhe, sobre os contra-ataques da Rússia: nada está a correr bem para o exército ucraniano? (france24.com)
Em Avdiivka, os russos avançaram. O mesmo acontece na região de Zaporizhzhia. No entanto, a Ucrânia concentrou aí os seus esforços para levar a cabo a sua contra-ofensiva. E do outro lado do Dnieper, as perspectivas para os soldados ucranianos que conseguiram atravessar o rio "parecem escassas", informou a CNN no domingo, 17 de Dezembro.
O canal norte-americano não está sozinho a pintar um quadro negro para a
Ucrânia. "Temos uma escassez significativa de munição e fomos forçados a
ficar na defensiva em algumas áreas", disse o brigadeiro-general ucraniano
Oleksandr Tarnavsky à agência de notícias Reuters nesta segunda-feira (18).
A força dos números
Entre os oficiais de
mais alta patente do exército ucraniano, o clima não é de comemoração. Já no
início de Novembro, Valery Zaluzhny, chefe de gabinete, garantiu em entrevista
ao The Economist que a guerra contra a Rússia
estava "num impasse". Esta declaração foi contestada pelo Presidente
ucraniano, Volodymyr Zelensky, que mais tarde reconheceu que o sucesso das
operações militares também dependia fortemente do apoio logístico ocidental. O
apoio está a diminuir, seja em Washington ou em Bruxelas, de acordo com o New York Times.
No terreno, "é muito difícil neste momento porque a Rússia está a
enviar vaga após vaga de tropas para sobrecarregar as forças ucranianas",
disse Glen Grant, analista sénior da Fundação de Segurança do Báltico
especializado em questões militares russas.
Consequência: os ucranianos estão a ter muita dificuldade em manter Avdiivka, uma cidade importante porque fica nos arredores de Donetsk. Provavelmente perderão Mariinka, que fica um pouco mais a sul. Estão a enfrentar uma grande ofensiva nas imediações da cidade de Robotyne, que foi uma das principais áreas recapturadas pelos ucranianos na região de Zaporijjia desde o início da contra-ofensiva", explica Huseyn Aliyev, especialista na guerra na Ucrânia na Universidade de Glasgow, na Escócia.
E isto sem contar com os violentos combates que continuam pelo controlo de Bakhmut e com as ofensivas russas lançadas ainda mais a norte da linha da frente, em direcção a Kupiansk, na região de Luhansk.
É claro que temos de "ter cuidado com a desinformação russa que procura
enegrecer ainda mais a imagem da Ucrânia", alerta Glen Grant. De facto, os
propagandistas pró-Kremlin estão a multiplicar as mensagens triunfalistas no
Telegram e estão mesmo a criar contas falsas de soldados ucranianos a
"queixarem-se" das dificuldades de lutar contra um inimigo
apresentado como muito mais forte.
Mesmo as afirmações das autoridades ucranianas devem ser tomadas com cautela. Podem ter a tentação de exagerar "para convencer o Ocidente da importância de continuar a fornecer-lhes apoio logístico", sublinha Sim Tack, analista militar da Force Analysis, uma empresa de monitorização de conflitos.
Exageros à parte, "a dinâmica geral dos combates está definitivamente do lado dos russos neste momento", diz Huseyn Aliyev.
À espera do Ocidente
Mas até que ponto? A
batalha de Avdiivka é uma boa ilustração das diferenças de interpretação. Para
alguns, o avanço russo representa um sério revés para Kiev. "Era um posto
avançado valioso para a artilharia ucraniana bombardear Donetsk e colocar as
defesas russas sob pressão constante", explica Huseyn Aliyev. Se as forças
ucranianas forem obrigadas a retirar, isso libertará as tropas russas, que
poderão ser reposicionadas noutras frentes.
Para outros, o preço, em homens e equipamento, que os russos estão a pagar para conseguir passar em Avdiivka é muito - ou mesmo demasiado - elevado. "Segundo as estimativas americanas, a Rússia já perdeu o equivalente a uma divisão inteira, ou seja, cerca de 10.000 homens e o seu equipamento", observa Sim Tack. "O que é mais importante: recuar um pouco ou infligir perdas muito pesadas ao inimigo?", pergunta Glen Grant.
Embora a análise da dimensão das dificuldades ucranianas possa variar, todos estão de acordo quanto às razões. Antes de mais, há "a questão crucial dos países ocidentais que enviam equipamento e munições para a Ucrânia", sublinha Sim Tack. A lentidão dos europeus na finalização do acordo sobre uma ajuda de 51 mil milhões de euros à Ucrânia, apesar do veto da Hungria e do impasse político nos Estados Unidos, complica a tarefa do Estado-Maior ucraniano.
No entanto, ele não se vê destituído da noite para o dia. "Há sempre
material a chegar, especialmente por causa de compromissos anteriores, mas o
futuro é muito mais incerto", diz Sim Tack. Os líderes militares da
Ucrânia vêem-se obrigados a fazer escolhas sem saberem realmente o que o amanhã
trará, o que os leva a racionar munições.
Recapitulação desta semana A France 24 convida-o
a relembrar as notícias que marcaram a semana.
Por outro lado, porém, não é esse o caso. "A Rússia está actualmente a
conseguir sustentar o seu esforço de guerra de forma muito adequada",
disse Aliyev. Por um lado, conseguiu aumentar a sua produção de munições de
artilharia e, por outro, "conseguiu comprar drones e munições em grandes
quantidades a países como o Irão ou a Coreia do Norte", disse o
especialista.
Agradar ao "czar Putin" antes das eleições presidenciais
Não são apenas as
munições que estão a faltar em Kiev. "A Ucrânia também tem uma grave
carência de efectivos. O exército tem cada vez mais dificuldade em fazer rodar
as suas tropas para que possam descansar", sublinha Sim Tack. Este
problema de reservas deve-se, em parte, a "um projecto de lei para
facilitar a mobilização dos jovens, que está a ter dificuldades em ser aprovado
no Parlamento", salienta Glen Grant.
Outra razão para o aumento das ofensivas russas é a eleição presidencial, que deverá dar a Vladimir Putin um novo mandato em Março próximo. "Todos os generais menores querem agradar ao czar, dando-lhe razões para elogiar os 'sucessos' da sua guerra durante a campanha eleitoral", afirma Glen Grant.
Para os especialistas entrevistados pela France 24, o exército russo poderia, assim, fazer um avanço na linha da frente. Mas porquê? Não tem veículos blindados e tropas experientes suficientes para levar a sua vantagem muito longe", diz Glen Grant. Uma convicção partilhada por Huseyn Aliyev: "Os recursos de Moscovo são demasiado limitados para sustentar uma ofensiva prolongada por mais de um ou dois meses".
A vantagem russa assemelhar-se-ia, assim, ao couraçado Potemkin: impressionante, mas apenas à superfície. Sobretudo se as comportas da ajuda ocidental se abrirem de novo para Kiev.
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Fonte : Contre-attaques de la Russie: rien ne va plus pour l’armée ukrainienne fasciste? – les 7 du quebec
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
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