12 de Dezembro de 2023 René Naba
RENÉ NABA — Este texto é publicado em parceria com a www.madaniya.info.
Em 22 de Novembro de 2023, o Líbano celebra o 80º aniversário da sua independência, num contexto de vazio de poder em dois postos-chave - a Presidência da República e a Governação do Banco do Líbano - e de uma guerra branda da NATO para levar o país a insurgir-se contra o Hezbollah libanês e dissuadir o grupo paramilitar xiita de se envolver numa guerra contra Israel em apoio ao movimento islamita palestiniano Hamas em Gaza.
Líbano, um vasto depósito de armas da OTAN desde a operação "Dilúvio
de Al Aqsa".
O Líbano foi transformado num vasto depósito de armamento da NATO pela
guerra desencadeada a 7 de Outubro de 2023 pela operação "Dilúvio de Al
Aqsa" conduzida pelo movimento islamista palestiniano Hamas contra Israel,
a primeira incursão desta dimensão em território israelita desde a criação do
Estado hebreu em 1948.
55 aviões militares da NATO aterraram no Líbano entre 8 e 20 de Outubro, no dia seguinte à operação palestiniana, com o pretexto de reforçar a segurança das embaixadas ocidentais no Líbano e de preparar a evacuação dos cidadãos ocidentais deste país, caso o conflito entre Israel e o Hamas se estendesse ao Líbano.
32 aviões (dos quais 9 americanos, 9 holandeses e 9 britânicos) aterraram em Hamate, no norte do Líbano, e 23 no anexo militar do aeroporto de Beirute, provenientes de França, Canadá, Itália, Espanha e Arábia Saudita. Os Estados Unidos obtiveram a extraterritorialidade do Líbano para a utilização da base de Hamate.
Alguns aviões vieram directamente de Israel, mas devido à ausência de relações diplomáticas entre o Líbano e o Estado hebreu, estes aviões fizeram uma breve escala no Chipre, na base de soberania britânica de Akrotiri, antes de aterrarem em Beirute.
Um avião canadiano transportava um lote de silenciadores. Um avião holandês transportava equipamento de "interferência electrónica" e um avião belga transportava bombas de fumo. Estes equipamentos destinavam-se mais à repressão de manifestações do que à defesa do Líbano.
A França chegou a pedir autorização para atracar um barco que transportava 500 soldados e 50 veículos blindados, mas o pedido francês foi recusado.
O exército libanês, lacónico, garantiu-nos que este equipamento era para seu uso próprio e para as necessidades da UNIFIL (Força Interina das Nações Unidas no Líbano), estacionada na fronteira israelo-libanesa desde 2006, sem no entanto especificar a distribuição do seu equipamento.
Como toque adicional a este tenebroso caso, o exército libanês transferiu todos os seus exercícios militares aéreos e terrestres para Hamate (Norte do Líbano), fora da vista do Hezbollah libanês, a formação xiita que mantém Israel à distância e tira o sono à NATO.
§ Veja neste link: https://www.madaniya.info/2023/11/03/israel-gaza-liban-hassan-nasrallah-le-chef-du-hezbollah-libanais-lhomme-qui-tetanise-israel-et-intrigue-loccident/
Líbano transformado num depósito de armamentos ocidentais, veja este link para o falante árabe.
Um projecto de mandato britânico sobre o Líbano
Por seu lado, o Reino Unido propõe-se estabelecer um novo mandato sobre o
Líbano, no seguimento do seu papel de desestabilização do país durante a guerra
da Síria, através das suas ONG.
Com o pretexto da guerra Israel-Hamas em Gaza, Londres apresentou uma
proposta directamente ao comando do exército libanês - e não ao governo libanês
- para autorizar o destacamento e a protecção de forças britânicas no Líbano.
Apresentado antes da operação Dilúvio de Al Aqsa, este projecto diz
respeito à protecção dos navios de guerra britânicos e dos aviões da Royal Air
Force, dos membros das forças armadas britânicas e dos seus colaboradores
locais, sem no entanto especificar o seu local de implantação, o número de equipamentos
ou o seu volume.
O documento especifica que o Governo libanês não deve impedir a livre
circulação das forças britânicas, quer no espaço aéreo libanês, quer nas águas
territoriais libanesas, e recomenda-lhe que dê prioridade absoluta ao acesso das
forças britânicas ao espaço aéreo e às águas territoriais libanesas.
Estará o Reino Unido, autor da "Promessa Balfour" de criar um
"Lar Nacional Judeu" na Palestina, a pensar em criar um novo
"lar nacional" para uma qualquer minoria em território libanês, a fim
de purgar as torpezas ocidentais contra uma componente da sua população, num
remake longínquo da Promessa Balfour?
Para o falante árabe, este link sobre o projeto britânico
Para aprofundar o papel do Reino Unido na Síria e no Líbano, ver este dossier em três partes.
A DESESTABILIZAÇÃO DA SÍRIA E DO LÍBANO PELO REINO UNIDO DURANTE A GUERRA
SÍRIA
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
Sem comentários:
Enviar um comentário