sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

Do Universo Cósmico Global ao Universo Humano Concreto

 


 8 de Dezembro de 2023  Ysengrimus 

YSENGRIMUS -- Na questão da não-criação do universo, eu sou um MATERIALISTA. Uma massa material rica e complexa em constante movimento dá origem à vida orgânica inferior, depois à vida orgânica superior, depois à vida pensante. O universo material é, portanto, incriado. Não começa em lugar nenhum e não termina em lugar nenhum, assim como a linha do tempo para o passado e o futuro. O infinito do universo exige que ele seja incriado. A criação é um mito de antropomorfização da irracionalidade religiosa. Devemos fazer o esforço da racionalidade para nos libertarmos desta quimera míope. Os únicos universos paralelos que conheço são os do pensamento abstracto. Estou a esquivar-me deles aqui não por causa do seu paralelismo com o universo real, mas por causa do facto angustiante de que eles supostamente nunca o tocam e afirmam ser autónomos dele. O único universo paralelo que vale a pena é realmente perpendicular! Mental e imaginário, corta o nosso, não se separa completamente dele, emana dele e é, portanto, no final, fundamentalmente parte dele. O ser humano aparece no universo e vai desaparecer. Mas ele é dotado de uma aptidão especial para lidar com a realidade material. Ele pode desviá-la, distorcê-la, distendê-la para assimilá-la e colocá-la ao seu serviço concreto e prático. Começa quando o nosso antepassado distante se apropriou das ferramentas, do pastoreio e depois da agricultura, e continua com a locomotiva, o alto-forno, a telegrafia, a electricidade, a internet. Um primata que produz e reproduz a estrutura complexa das suas próprias condições materiais de existência, desde que seja historicizado por ela, não deixa facilmente de navegar e conversar... O que para os nossos antepassados era apenas gregariedade torna-se, para nós, um conjunto crucial de relações sociais, determinando-nos tão profundamente que no final o humano é o conjunto de relações sociais específicas que se cruzam dentro de nós numa dada fase histórica. No universo humano, o do desenvolvimento histórico, tudo acontece no seu próprio tempo, sem "culpa". Nunca há atrasos absolutos na história, mas há sempre atrasos correlaccionados. Uma tribo que ainda luta com a lança sofre um atraso em comparação com um povo vizinho que luta com o arco. Este último atrasa tanto ou mais diante de uma falange de besteiros. É claro que alguns atrasos históricos são mais decisivos do que outros. Assim, no movimento global de emergência do capitalismo, a França e a Espanha entraram na Revolução Industrial atrás da Inglaterra, apesar do facto de que a Inglaterra entrou na fase colonial tardiamente em comparação com a França e a Espanha. A primeira é economicamente mais decisiva do que a segunda, como a implantação histórica demonstrou mais tarde. Alguns avanços políticos e militares escondem, por vezes, um profundo atraso económico e vice-versa. O bonapartismo e o estalinismo são bons exemplos de atraso económico temporariamente mascarado por um ilusório sobreaquecimento político-militar. Não há dúvida de que a história se desenvolve em surtos desiguais. Não se trata de um juízo moral abstracto sobre as pessoas, mas simplesmente de um facto político-económico que devemos sempre dedicar tempo a descrever e nunca perder tempo a justificar, porque quem vê nisso o menor demérito é um propagandista mesquinho de uma folha de opinião. Para chegar ao nível seguinte, o trabalhador deve usufruir plenamente dos frutos do seu trabalho sem que outra classe o oprima e desvie contra ele a sua actividade produtiva. Deve ser reclamado de cada um de acordo com o que pode dar, e dado a cada um de acordo com as suas necessidades reais. Os homens e as mulheres devem esperar este mínimo de justiça no quadro do seu universo concreto, mas esta expectativa é inevitavelmente activa, porque os homens e as mulheres terão de obter este ajustamento dos valores das suas vidas através da luta. O ser humano não é livre. Ele é o resultado infinitesimal da acção de forças históricas gigantescas. Uma classe social pode libertar-se de outra, mas o ser humano não se libertará dos seus determinismos. Ele simplesmente os transformará noutros determinismos. É agindo voluntariamente sobre este universo histórico concreto do qual nunca sai que o ser humano assegura a sua posição e a sua acção num universo global que só pode apreender indirecta e constantemente.

O universo concreto é a História. O universo global é a Natureza. O seu ponto de contacto é o Ambiente.

Um universo global que só pode ser entendido indirectamente...

 

Fonte: De l’univers cosmique global à l’univers humain concret – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice




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