A Orquestra vegetal

 

 13 de Setembro de 2021  Olivier Cabanel  

Toda a gente sabe que frutas ou vegetais levam a tudo, uma vez que recentemente eu estava a dizer como podiam produzir energia, uma experiência que semeou dúvidas em algumas mentes perplexas ou fechadas à inovação, enquanto é comumente praticada nas aulas de física elementar...

Mas as plantas também podem fazer música.

Todos se divertiram um dia ou outro a esticar uma folha, ou uma relva plana, entre os dois polegares, mãos juntas, para produzir um som, aplicando os lábios contra a fenda deixada pelos dois polegares tornando-se assim "assobiador de relva". link

O soprador de folhas de árvore Miao dá uma demonstração viva dos sons que podem ser modulados com uma simples folha de árvore. vídeo

Ninguém se esqueceu da origem da flauta pan, instrumento que simboliza a união dos dois sexos, que quer que a ninfa Syrinx se tenha atirado à água para escapar ao deus Pan que a perseguiu com o seu ardor, e que no local dos juncos em falta teria crescido.

O deus desesperado teria cortado estas canas, descobrindo que podia desenhar melodias (link), mas os cientistas evocam outra hipótese fazendo de Hermes o inventor desta flauta, e lembrando que o clero tinha classificado a flauta de Pan entre os instrumentos autorizados a serem usados em igrejas. link

Mais recentemente, o artista italiano Diego Stocco, uma espécie de feiticeiro musical, também faz música com folhas de árvores, mas com uma técnica completamente diferente.

Para chegar ao fim do seu projecto "duet for Leaves & Turntable " (“dueto para folhas e gira-discos), usa um gira-discos para esfregar folhas de diferentes formas, e dependendo do ângulo, pressão, diferentes tipos de folhas, produz todo o tipo de sons.

Aqui,um exemplo do seu trabalho.

Mas podemos ir um pouco mais longe.

Com efeito, as plantas e os legumes oferecem-nos a oportunidade de fazer música, começando com uma simples espiga, aveia ou mesmo aveia louca, esta planta que os agricultores tentam em vão eliminar, para fazer, com a ajuda de um cortador ou de uma faca afiada, uma flauta com uma cintura.

Para ser completamente preciso, a espiga tem que ser escolhida no início do Verão, quando os trigos são altos, e o ideal é fazer o instrumento quando a palha ainda é verde.

O seu fabrico requer um pouco de meticulosidade e é descrito com precisão neste documento.

É provável que o 1ª tentativa falhe, mas a matéria-prima não falta, e inevitavelmente acabamos por chegar lá.

Vamos deixar os campos de trigo para o jardim dos botões, que podem transformar-se em chocalhos, graças às sementes que permaneceram no interior, e quando o vegetal secou... estes mesmos botões,e outras cabaças que servem como uma placa de som para xilofones e outros balafons (precursor do xilofone – NdT) africanos. link

É também uma oportunidade para evocar o Didjeridu (instrumento de sopro dos aborígenes australianos – NdT), que é nada mais nada menos que um ramo de eucalipto, que os aborígenes australianos usaram como um appeau (instrumento usado na caça para produzir um determinado som ou ruído que atrai pássaros ou caça – NdT) para atrair cangurus.

Este vídeo de 10 horas, apesar de não conseguir atrair cangurus, não deixará de seduzir os amantes de viagens musicais e, neste link, podemos descobrir todas as variedades de sons que podem ser retirados deste instrumento.

É também graças a metade de uma cabaça que o Kora é feito, este instrumento africano com um número variável de cordas (de 10 a 32) que a lenda afirma ser propriedade de uma mulher-génio, que foi desapropriada por Tiramakhan Traore, um senhor da guerra. link

Mas seria esquecer outros instrumentos que também são feitos em França com várias variedades de abóboras: mirlitons (gaita de cana – NdT), tambores de fricção, chamados em Occitan "petadous", serpentários, todos feitos com o que os Provençais designam por cabaças. vídeo

Os nossos vizinhos do outro lado da fronteira não ficam de fora, e do lado do Namur (município da Bélgica), Joëlle Dpierkel e o seu centro de investigação e educação ambiental, transformaram a sua casa numa oficina de som, utilizando 120 plantas disponíveis que se tornarão tantos outros potenciais instrumentos musicais. link

Os legumes fazem, portanto, na cena musical uma entrada notável, como se pode ver com a "orquestra vegetal", esta orquestra vienense que regularmente dá concertos por todo o mundo. link

Este conjunto quase único no seu género foi fundado em Viena, Áustria, em 1998, e pratica muitos géneros musicais com especial enfoque na música contemporânea, Free Jazz, Fusion, etc. vídeo

Neste link,pode descobrir o seu atelier de fabricação de instrumentos, os concertos planeados para os 4 cantos do mundo, e aqui um vídeo esclarecedor das suas vidas como músicos.

Escusado será dizer que estes instrumentos vegetais só podem ser usados uma vez, e que devem ser feitos antes de cada concerto, aqueles que já foram usados uma vez devem logicamente estar na ementa dos artistas após o facto... Sopas que ele irão degustar com uma colher, sendo que estas são também surpreendentes instrumentos de percussão. link

Neste link,uma demonstração.

Um professor japonês, Junji Koyama, inspirado pelo que a Orquestra de Viena tinha feito, criou os seus próprios instrumentos musicais usando vegetais.

Neste pequeno vídeo, podemos descobrir as suas criações, incluindo uma flauta de brócolos, mas também a sua flauta de cenoura, a sua ocarina-cogumelo, a sua ocarina de pepino, a sua flauta pan em cenouras, ou espargos, ou mesmo o seu trompete de pepino-pimenta, e nele interpreta uma velha canção graças a uma cenoura-cogumelo.

Os animadores infantis tomaram o conceito dos instrumentos da natureza, e na Bretanha, ou em qualquer outro lugar, ensinam as crianças a escolher um ramo para fazer um instrumento. link

Você também pode descobrir em Rhône-Alpes um músico, Pascal Gayaud, que fez dos vegetais os seus instrumentos favoritos, constando no menu um apito de cenoura, uma batata slide, ou mesmo uma batata de percussão. link

Este trabalho sobre frutas e legumes para fazer instrumentos musicais está a generalizar-se em todo o país, e não só.

Refira-se ainda, por exemplo, a animação proposta por "Le Potager Musical" criada pela empresa "Les Arts Verts" sediada em Rhône-Alpes. link

Muito mais longe de nós, na China, os dois irmãos Weidong e Weiping Nan exibem os seus conhecimentos fazendo instrumentos musicais com vegetais, não hesitando em usar instrumentos de precisão para afinar os seus engraçados vegetais musicais. link

Para terminar em grande estilo, podemos descobrir o trabalho de um artista que, num número de percussão de tirar o fôlego sobre corpo de outro artista, demonstra que a massagem leva a tudo, até mesmo à música. link

Neste link,todos os detalhes sobre a fabricação de frutas ou vegetais musicais.

Mas há ainda mais surpreendente já que em 2004 uma dupla de artistas, Grégory Lasserre e Anaïs lançaram Akousmaflore, uma instalação interactiva em que os espectadores se tornam actores e são convidados a acariciar plantas suspensas que produzirão sons de acordo com a intensidade do toque dos espectadores. link

Este conceito parece estar a florescer desde que um evento foi realizado em Abril de 2014 no Blue Club de Paris, e depois no Café A no quadro do Disquaire Day (Dia da Loja de Discos).

Os artistas convidados eram a Calla, oAnthurium,o Dieffenbachiae o Echeveria.

Com a ajuda de sensores colocados nas raízes das plantas, e um controlador MIDI as plantas tornaram-se criadoras de melodias, e depois de o utilizador ter escolhido o seu estilo, a criação pôde começar. link

Para julgar o resultado final, criação na qual um famoso DJ também colocou a sua semente, veja este vídeo

Anteriormente, em 2012, havíamos descoberto "as plantas musicais da Disney", graças aos laboratórios de investigação da empresa americana que, ligando a planta a um computador, revelam as variações no fluxo eléctrico emitido pela fábrica, fluxo codificado pelo computador, e transformado em música. link

É também uma oportunidade para assinalar os dias dos " incríveis comestíveis " que tiveram lugar em Poitiers de 8 a 10 de Maio de 2015. link

Decididamente, as plantas não deixam de nos surpreender, dado o número de áreas em que se convidam: proteger-nos da poluição, mesmo despoluindo, decorando os nossos lugares de vida, inspirando a nossa criatividade, cuidando de nós, alimentando-nos, até produzindo energia, e colocando-se agora no centro das atenções do grande palco do mundo da música.

Como diz o meu velho amigo africano: "A árvore do silêncio carrega os frutos da paz".

 

Fonte: L’orchestre des légumes – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice