quarta-feira, 5 de outubro de 2022

Gleichschaltung: "Não nos importamos com o que as pessoas pensam: tudo será regulado e limitado"

 


 5 de outubro de 2022  Robert Bibeau 

A principal falha em todo o plano europeu é que a Europa, o grande consumidor, tendo perdido o controlo dos preços das matérias-primas para os produtores de energia e matérias-primas, quer agora, com a ajuda dos Estados Unidos, retomá-lo.


By Alastair Crooke – 11 de Setembro de 2022 – Fonte Al Mayadeen


Caso alguém, algures, não tenha reparado, a Europa está em crise. Há seis meses, os líderes europeus estavam entusiasmados com os seus planos de deixar de comprar gás e petróleo russos e sancionar absolutamente tudo o que fosse russo iria "explodir" a economia russa e, ao mesmo tempo, "eliminar" Putin.

Avanço rápido até hoje, e são "6 em cada 10 empresas no Reino Unido que estão em risco de fechar as portas por causa do aumento dos custos energéticos", "um inverno frio está a chegar à Europa", "dez invernos terríveis por vir", "inflacção recorde na zona euro", e as opções energéticas da Alemanha estão a diminuir. Mas regozijem-se: os líderes europeus não se importam com o que vocês pensam. Vão para o inferno! "Apoiaremos a Ucrânia até ao fim"... até o último ucraniano ao último europeu... avisam.

É simplesmente extraordinário: a UE continua a atirar no próprio pé e depois a fazê-lo novamente. Primeiro imaginou o colapso financeiro da Rússia; depois imaginou que a incompetência militar da Rússia e o desempenho desajeitado permitiriam que Zelensky humilhasse a Rússia no campo de batalha. E agora, em vez de deixar de cavar o seu buraco, a UE propõe o seu "plano B": depois de sancionar tudo (com consequências previsíveis), planeia agora "tapar" tudo, com consequências negativas igualmente previsíveis.

Na passada sexta-feira, os ministros das Finanças do G7 decidiram implementar o seu plano de limitar o preço das exportações russas de petróleo. Esta iniciativa não substituirá os embargos separados dos países do G7 ao petróleo russo, mas será implementada paralelamente; 5 de Dezembro para o petróleo bruto, e 5 de Fevereiro de 2023 para produtos refinados.

Este limite será implementado pela "proibição total dos serviços" que permitam o transporte marítimo de produtos petrolíferos e brutos russos. Estes serviços – que incluem seguros marítimos – só serão permitidos se os produtos forem adquiridos a um preço inferior ou igual a um preço que será fixado por uma "ampla coligação de países".

Este projecto é essencialmente a ideia da Secretária de Estado do Tesouro dos EUA, Janet Yellen.

Na sua visão, o preço seria fixado acima do nível de preços que a Rússia precisa para equilibrar o seu orçamento nacional (e, assim, incentivá-lo a continuar a bombear petróleo), mas abaixo do preço necessário para manter a prosperidade das economias ocidentais – e baixo o suficiente para reduzir significativamente as receitas petrolíferas da Rússia, enfraquecendo assim (esperam) a sua economia e o seu esforço de guerra.

O tecto teórico é indeterminado, mas estima-se em cerca de $50-60. O orçamento russo baseia-se num preço do petróleo equivalente a 44 dólares em 2022. A aplicação pela UE exigirá que os Estados-Membros aceitem por unanimidade alterar o sexto conjunto de sanções que detalha o embargo da UE ao crude russo, nomeadamente através da adaptação da sua proibição aos serviços de seguros.

Mesmo este elemento-chave do seguro que serve de "mecanismo operacional" do limite máximo é questionável: o Lloyds de Londres é uma das principais seguradoras marítimas. Como é que, na prática, as companhias de seguros determinarão quais as cargas transportadas e a que preço inicial? Vão recrutar um exército de inspectores? Porque é que estes ministros do G7 assumem que só os serviços de seguros do G7 serão contratados? A Índia já assegura cargas russas, assim como a Rússia e a China. É mais provável que se ficcione uma transferência de serviços de seguro marítimo de Londres para a Ásia - outra vantagem económica ocidental perdida.

A primeira e mais óbvia das deficiências deste projecto é que depende da vontade dos grandes importadores de petróleo russo, incluindo a Índia e a China, de se juntarem a ele. E ambos os países disseram "não". A Rússia advertiu que simplesmente deixará de exportar para qualquer Estado que participe no sistema.


Depois, poucos dias depois de a UE ter ameaçado os comerciantes de matérias-primas com uma "intervenção de emergência" para esmagar os preços da energia, a Gazprom anunciou (por puro acaso?) que iria "interromper completamente" todo o trânsito do Nord Stream 1 devido a uma "fuga de petróleo". [Desde então, um ataque danificou severamente a NS1 e a 2]

Ver: https://queonossosilencionaomateinocentes.blogspot.com/2022/10/sabotagem-dos-gasodutos-nord-stream-1-e.html

A notícia fez afundar os mercados bolsistas mundiais e ameaçou empurrar os preços do gás e da electricidade na Europa para máximos históricos. Também forçou a Suécia a seguir a Áustria e a Alemanha ao resgatar as suas empresas de energia no valor de milhares de milhões de euros.

No final de domingo, a União Europeia (que tem "trabalhado incansavelmente durante todo o fim de semana")) propôs "intervenções históricas" no mercado da energia, incluindo uma imposição sobre os lucros excessivos das empresas de electricidade e energia: desde os limites dos preços do gás até à suspensão das transacções de derivados de electricidade, "A União Europeia está a trabalhar para responder aos últimos desenvolvimentos da crise que se agrava."

Em resumo, todos os outros mercados de matérias-primas estão prestes a ser "regulados" ou limitados à morte.

A principal falha em toda esta construcção é que a Europa, o grande consumidor, tendo perdido o controlo dos preços das matérias-primas para os produtores de energia e matérias-primas, quer agora, com a ajuda dos Estados Unidos, retomar a situação. Mas ninguém fora do Ocidente quer isso. A OPEP+ certamente não quer isso. Com efeito, a OPEP+ está a reduzir a producção, o que fará subir os preços. Os produtores querem, naturalmente, preços elevados. Não querem "punir" a Rússia à custa dos seus rendimentos.

Quanto à Índia e à China, estão muito felizes em comprar petróleo russo a um preço reduzido (gás liquefeito no caso da China) e, depois de o terem "transformado", a vendê-lo aos europeus com um lucro significativo. Nenhum dos Estados tem interesse em perturbar desnecessariamente Moscovo e não são fãs de um intervencionismo ocidental "baseado em regras".

intervenção planeada [pela UE] deve ser concebida de modo a evitar um aumento do consumo de gás ou a comprometer os esforços para reduzir a procura de gás. Deve ser simples implementar e coordenar em toda a União e ser compatível com os objectivos climáticos da União", afirmou a Presidência da UE no projecto de documento.

"Simples de implementar"? É aí que entra o riso: porquê? Porque, como escreveu o Goldman Sachs na sexta-feira, nada do que a Europa faz conduzirá a preços mais baixos e, pelo contrário, os preços irão subir drasticamente, sugerindo que os planos "históricos" da Europa funcionam em teoria, mas que na prática entram em colapso.

Alastair Crooke

Traduzido por Zineb, revisto por Wayan, para o Saker Francophone

 

Fonte: Gleichschaltung : «Nous nous moquons de ce que pense le peuple: tout sera réglementé et plafonné» – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice




 

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