sexta-feira, 10 de maio de 2024

Para conseguir uma guerra generalizada, a burguesia europeia prepara-se para atacar o proletariado

 


Na edição anterior, tentámos mostrar como as políticas económicas seguidas pelo governo Biden, a "Bidenomics", representou tanto os primeiros passos na adaptação do aparelho produtivo americano à dinâmica da guerra imperialista generalizada como um ataque económico, político e ideológico ao proletariado.(5) O artigo que se segue (página seguinte), publicado no site da Tendance communiste internationaliste, sublinha como a burguesia começa também a preparar a guerra a nível económico e "social", ou seja, a impor sacrifícios ao proletariado em França.

Os sacrifícios do proletariado em França que são indispensáveis para esta preparação. Apelamos a todos aqueles que podem, grupos, círculos e mesmo indivíduos isolados, para que façam o mesmo no maior número possível de países.

Escrito há um mês, o artigo não podia ter em conta o Discurso sobre a Europa onde o presidente francês Macron expõe em grande parte a visão da burguesia francesa, que se vê simultaneamente como uma contrapartida da "bidenomics" para a Europa e uma tentativa de se distanciar da crescente polarização entre os Estados Unidos e a China, precipitada pela guerra na Ucrânia. A Europa está a tentar convencer os europeus da necessidade de uma "autonomia estratégica europeia" em matéria de defesa militar, que espera liderar, nomeadamente face à Alemanha. E, para o efeito, Macron apela também a uma política industrial europeia adequada.

"Há um risco enorme de sermos enfraquecidos ou mesmo relegados. Porque estamos num momento de convulsão sem precedentes no mundo

e a aceleração de grandes transformações. (...) Temos de ser claros quanto ao facto de a nossa Europa actual é mortal. Pode morrer. Pode morrer, e isso depende apenas das nossas escolhas. Mas, essas escolhas têm de ser feitas agora. Porque a questão da paz e da guerra no nosso continente, e da nossa capacidade de garantir ou não a nossa segurança, está a ser decidida hoje (...).

e isso faz-se pela observação muito simples de documentar para sublinhar a seriedade do que estou a dizer. Em primeiro lugar, estamos desarmados (...) face ao rearmamento generalizado e da sua aceleração. (...) A segunda é que, em termos económicos, o nosso modelo [social], tal como está hoje, não é sustentável. Já não é sustentável. (...) Depois, a terceira constatação (...) é a batalha cultural, a batalha do imaginário, das narrativas, dos valores [democráticos], que é cada vez mais delicada.

Desde o início da guerra na Ucrânia, a porta da autonomia estratégica europeia, uma política tradicional do imperialismo francês desde De Gaulle, foi fechada, com todas as nações europeias a refugiarem-se sob o guarda-chuva nuclear dos EUA fornecido pela NATO.

A Finlândia e a Suécia aderiram com urgência ao guarda-chuva nuclear americano fornecido pela NATO. Com o Congresso a bloquear a ajuda dos EUA à Ucrânia durante seis meses e a possibilidade da eleição de Trump, o risco de um desengajamento militar dos EUA na Europa e a perda de uma posição de liderança na Europa são cada vez maiores.

O risco de um desengajamento militar dos EUA na Europa e a perda do seu guarda-chuva nuclear voltaram a assombrar a burguesia europeia, especialmente porque os sucessos militares da Rússia na frente ucraniana tornaram-no ainda mais preocupante.

Perante isto, abriu-se a porta a uma autonomia estratégica europeia, independente dos Estados Unidos e específica da Europa.

Pelo menos, é o que a França quer fazer crer ao promover as suas capacidades militares e nucleares:

"A era em que a Europa comprava a sua energia e os seus fertilizantes à Rússia, tinha a sua produção na China e delegava a sua segurança nos Estados Unidos acabou.

(...) [Temos de] construir uma Europa capaz de mostrar que nunca será vassala dos Estados Unidos da América. (...) A dissuasão nuclear está no centro da estratégia de defesa da França.

É, por conseguinte, um elemento essencial para a defesa do continente europeu. É graças a esta defesa credível que poderemos construir as garantias de segurança que todos os nossos parceiros na Europa esperam.

Não sabemos até que ponto as propostas da UE serão implementadas.

Não sabemos até que ponto as outras burguesias europeias irão aderir às reivindicações da França, mas não há dúvida de que o farão, não há dúvida de que se unirão em torno do facto de que "o modelo social mais exigente, que retira o máximo da riqueza já não é sustentável" para todos os capitalismos europeus. O discurso de Macron confirma o título do artigo seguinte, que adoptámos: "A guerra social está declarada". E é a burguesia que a declara, que a dirige e que a impõe ao proletariado, procurando que ela se desenrole no terreno e nos momentos que julga melhores para vencer. É este também o sentido do apelo de Macron para que a Europa lidere a batalha cultural, ou seja, ideológica, para desviar o proletariado da luta de classes em nome da defesa da liberdade.

É por isso que saudamos e apoiamos este artigo (7).

 

A equipa editorial

 

 

5 . RG #26, Estados Unidos: derrota dos trabalhadores, vitória do sindicato UAW e preparação para uma guerra imperialista total,

http://igcl.org/Etats-Unis-defaite-ouvriere

 

6 . https://www.elysee.fr/emmanuel-macron/2024/04/24/discours-sur-leurope

 

7 . Poderá haver dois pontos a discutir neste texto que são totalmente secundários aqui e agora. A passagem sobre a crise histórica do capitalismo deve ser aprofundada no conjunto do campo proletário. O apelo à "auto-organização" e a apresentação da

relação partido-classe, que só poderia ser breve, exigiria uma discussão contraditória.

 

Fonte: Révolution ou Guerre # 27 – Groupe International de la Gauche Communiste (www.igcl.org )

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice

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