Na edição
anterior, tentámos mostrar como as políticas económicas seguidas pelo governo
Biden, a "Bidenomics", representou tanto os primeiros passos na
adaptação do aparelho produtivo americano à dinâmica da guerra imperialista
generalizada como um ataque económico, político e ideológico ao proletariado.(5)
O artigo que se segue (página seguinte), publicado no site da Tendance communiste
internationaliste, sublinha como a burguesia começa também a preparar a guerra
a nível económico e "social", ou seja, a impor sacrifícios ao
proletariado em França.
Os
sacrifícios do proletariado em França que são indispensáveis para esta
preparação. Apelamos a todos aqueles que podem, grupos, círculos e mesmo
indivíduos isolados, para que façam o mesmo no maior número possível de países.
Escrito há
um mês, o artigo não podia ter em conta o Discurso
sobre a Europa onde o presidente francês Macron expõe em grande
parte a visão da burguesia francesa, que se vê simultaneamente como uma
contrapartida da "bidenomics" para a Europa e uma tentativa de se
distanciar da crescente polarização entre os Estados Unidos e a China, precipitada
pela guerra na Ucrânia. A Europa está a tentar convencer os europeus da
necessidade de uma "autonomia estratégica europeia" em matéria de
defesa militar, que espera liderar, nomeadamente face à Alemanha. E, para o
efeito, Macron apela também a uma política industrial europeia adequada.
"Há um risco enorme de sermos enfraquecidos
ou mesmo relegados. Porque estamos num momento de convulsão sem precedentes no
mundo
e a aceleração de grandes transformações. (...)
Temos de ser claros quanto ao facto de a nossa Europa actual é mortal. Pode
morrer. Pode morrer, e isso depende apenas das nossas escolhas. Mas, essas
escolhas têm de ser feitas agora. Porque a questão da paz e da guerra no nosso
continente, e da nossa capacidade de garantir ou não a nossa segurança, está a
ser decidida hoje (...).
e isso faz-se pela observação muito simples de
documentar para sublinhar a seriedade do que estou a dizer. Em primeiro lugar,
estamos desarmados (...) face ao rearmamento generalizado e da sua aceleração.
(...) A segunda é que, em termos económicos, o nosso modelo [social], tal como
está hoje, não é sustentável. Já não é sustentável. (...) Depois, a terceira
constatação (...) é a batalha cultural, a batalha do imaginário, das
narrativas, dos valores [democráticos], que é cada vez mais delicada.
Desde o
início da guerra na Ucrânia, a porta da autonomia estratégica europeia, uma
política tradicional do imperialismo francês desde De Gaulle, foi fechada, com
todas as nações europeias a refugiarem-se sob o guarda-chuva nuclear dos EUA
fornecido pela NATO.
A
Finlândia e a Suécia aderiram com urgência ao guarda-chuva nuclear americano
fornecido pela NATO. Com o Congresso a bloquear a ajuda dos EUA à Ucrânia
durante seis meses e a possibilidade da eleição de Trump, o risco de um desengajamento
militar dos EUA na Europa e a perda de uma posição de liderança na Europa são
cada vez maiores.
O risco
de um desengajamento militar dos EUA na Europa e a perda do seu guarda-chuva
nuclear voltaram a assombrar a burguesia europeia, especialmente porque os
sucessos militares da Rússia na frente ucraniana tornaram-no ainda mais
preocupante.
Perante
isto, abriu-se a porta a uma autonomia estratégica europeia, independente dos
Estados Unidos e específica da Europa.
Pelo
menos, é o que a França quer fazer crer ao promover as suas capacidades
militares e nucleares:
"A era em que a Europa comprava a sua
energia e os seus fertilizantes à Rússia, tinha a sua produção na China e
delegava a sua segurança nos Estados Unidos acabou.
(...) [Temos
de] construir uma Europa capaz de mostrar que nunca será vassala dos
Estados Unidos da América. (...) A dissuasão nuclear está no centro da
estratégia de defesa da França.
É, por conseguinte, um elemento essencial para a
defesa do continente europeu. É graças a esta defesa credível que poderemos
construir as garantias de segurança que todos os nossos parceiros na Europa
esperam.
Não
sabemos até que ponto as propostas da UE serão implementadas.
Não sabemos
até que ponto as outras burguesias europeias irão aderir às reivindicações da
França, mas não há dúvida de que o farão, não há dúvida de que se unirão em
torno do facto de que "o modelo social mais exigente, que retira o máximo
da riqueza já não é sustentável" para todos os capitalismos europeus. O
discurso de Macron confirma o título do artigo seguinte, que adoptámos: "A guerra social está declarada". E é a burguesia que a declara, que a dirige
e que a impõe ao proletariado, procurando que ela se desenrole no terreno e nos
momentos que julga melhores para vencer. É este também o sentido do apelo de
Macron para que a Europa lidere a batalha cultural, ou seja, ideológica, para
desviar o proletariado da luta de classes em nome da defesa da liberdade.
É por
isso que saudamos e apoiamos este artigo (7).
A equipa editorial
5 . RG #26, Estados Unidos: derrota dos trabalhadores, vitória do
sindicato UAW e preparação para uma guerra imperialista total,
http://igcl.org/Etats-Unis-defaite-ouvriere
6 . https://www.elysee.fr/emmanuel-macron/2024/04/24/discours-sur-leurope
7 . Poderá haver dois pontos a discutir neste texto que são
totalmente secundários aqui e agora. A passagem sobre a crise histórica do
capitalismo deve ser aprofundada no conjunto do campo proletário. O apelo à
"auto-organização" e a apresentação da
relação partido-classe, que só poderia ser breve, exigiria uma
discussão contraditória.
Fonte: Révolution ou Guerre # 27 – Groupe International de la
Gauche Communiste (www.igcl.org )
Este
artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice
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