segunda-feira, 20 de maio de 2024

Ucrânia: entre o nacionalismo pró-russo e o nacionalismo pró-europeu (2019)

 


P1: Introdução

P2 : Apresentação geográfica e histórica (antes de 1991)

P3 : A independência em 1991 (rutura com a Rússia)

P4 : A Revolução Laranja (novembro de 2004).

P5: O governo de Yushchenko (pró-europeu)

P6: Durante a presidência de Yanukovych (pró-russa)

P7 : A Revolta de Maïdan ou Euro-Maïdan de 2014 e suas consequências

P10: O "dégagisme" político na Ucrânia (2019)

P11: MAPA DA UCRÂNIA (Monde diplomatique abril 2014)

 

Introdução

 

   A atual crise na Ucrânia é uma guerra civil no Donbass (uma região no leste do país) que opõe o Estado ucraniano a duas repúblicas secessionistas, a República Popular de Donetsk (RPD) e a República Popular de Lugansk (RPL), que estão unidas numa confederação chamada A Nova Rússia. Este conflito, que começou em Maio de 2014, causou mais de 13 000 mortos (Monde diplomatique Maio de 2019) e 2,5 milhões de deslocados (Le Monde Abril de 2019). Actualmente, não está resolvido, apesar de os confrontos armados terem diminuído de intensidade. Uma das principais razões para o prolongamento deste conflito é o nacionalismo de ambas as partes. As autoridades ucranianas utilizaram a guerra como um meio de canalizar o nacionalismo mais duro que emergiu da revolta da Praça Maidan (finais de 2013-início de 2014), enquanto o lado oposto está a desenvolver um nacionalismo pró-russo. Enquanto no papel o exército ucraniano, reforçado por milícias nacionalistas, saiu vitorioso, no terreno as duas regiões secessionistas receberam apoio militar da Rússia. Foi este apoio russo, tanto militar como económico, que inverteu o equilíbrio de forças e permitiu a formação das duas repúblicas (apesar de a Rússia não as reconhecer oficialmente, nem qualquer outro país do mundo), privando assim o Estado ucraniano de uma das suas regiões mais ricas em termos de minerais e de indústria. De facto, esta é a essência da política russa de Putin: enfraquecer o Estado central ucraniano para o empurrar para uma aliança com a Rússia. Desde que chegou ao poder em 2000, Putin tem procurado trazer a Ucrânia de volta para o seio da Rússia, tentando influenciar as várias eleições para eleger líderes ucranianos pró-russos. Desde a independência da Ucrânia em 1991, o período de 1991 a 2014 pode ser resumido da seguinte forma: a Ucrânia tem sido o campo de batalha político e económico da Rússia e das potências ocidentais (Europa e Estados Unidos). As várias alternâncias políticas dos dirigentes ucranianos à frente do Estado reflectiram este confronto indirecto. Mas, em 2014, após a expulsão dos dirigentes pró-russos na sequência da revolta de Maïdan em Kiev, a Rússia passou à ofensiva militar, anexando a Crimeia, onde a frota russa do Mar Negro está estacionada em Sebastopol, e apoiando as secessões das duas repúblicas do Donbass. A resposta da Europa não será militar, mas consistirá em aplicar toda uma série de sanções económicas contra os interesses russos, enquanto os EUA, em associação com as sanções económicas europeias, fornecem equipamento militar moderno (ver as últimas entregas de mísseis ao Estado ucraniano em Setembro de 2019). Assim, é com a situação actual em mente que tentaremos analisar as diferentes condições que levaram a ela.

 

Apresentação geográfica e histórica (antes de 1991)

 

    A Ucrânia actual é um país com 560.000 km2 e uma população de 42 milhões de habitantes (estimativa, uma vez que não há recenseamento desde 2001). A Crimeia (República da Crimeia), anexada pela Rússia, cobre uma área de 27.000 km2 e tem uma população de 2 milhões de habitantes. A região do Donbass cobre uma área de 16.000 km2 e tem uma população de 4 milhões de habitantes, dividida entre as duas repúblicas separatistas. Após as diversas perturbações históricas causadas pelas duas guerras mundiais, pela Revolução Russa e pelas diversas invasões ao longo dos séculos, a população é constituída por duas populações maioritárias: ucranianos (77%) e russos (17%). A população russa encontra-se principalmente no sul do país. Mas existem também outras minorias, como os tártaros, os cossacos, os húngaros, os romenos e os polacos. As duas principais línguas faladas são o ucraniano e o russo por mais de metade da população. A religião é 80% cristã ortodoxa e 11% católica, sobretudo na parte ocidental (Polónia).

 

   Historicamente, o Estado de Kiev foi fundado no século X e é considerado o berço da civilização eslava por todos os líderes russos que se sucederam no poder na Rússia, até aos dias de hoje, com Putin. No entanto, este Estado não resistiu à invasão tártara de 1240. A região da actual Ucrânia foi então dividida entre os impérios austro-húngaro, otomano e, naturalmente, czarista, a partir do século XVIII. Na altura, era conhecida como a "Pequena Rússia". Durante a Revolução Russa de 1917, a Ucrânia foi palco de combates e confrontos entre os Brancos do General Denikin, aliados dos países capitalistas que lutavam contra a Revolução Bolchevique. Os bolcheviques acabaram por vencer, uma vez que a população camponesa ucraniana não apoiou os latifundiários ligados aos czares. Em 1922, a Ucrânia tornou-se uma das quatro repúblicas fundadoras da URSS. Sob o jugo de Estaline, no início da década de 1930, a Ucrânia foi obrigada a submeter-se à colectivização, o que conduziu a uma fome gigantesca em que morreram milhões de camponeses. Este acontecimento, agora conhecido como HOLODAMOR, é considerado pelos actuais líderes ucranianos pró-ocidentais como um genocídio organizado por Estaline contra o povo ucraniano e é utilizado na propaganda nacionalista contra a Rússia.

 

  Durante a Segunda Guerra Mundial, toda a Ucrânia foi um campo de batalha entre as tropas do Exército Vermelho e as tropas alemãs de Hitler. A barbárie nazi contra civis e combatentes causou 8 milhões de vítimas. Durante a guerra, formou-se no oeste do país um movimento nacionalista, o Exército Insurrecto Ucraniano (UPA). Era dirigido por Stépan Bandera. Tratava-se de um movimento fascista que colaborou com os nazis e assassinou judeus e polacos. Depois, opôs-se ao Exército Vermelho até à década de 1950. Hoje, porém, Stépan Bandera tornou-se uma figura que os líderes ucranianos pró-ocidentais reabilitaram como um herói nacional que lutou contra a opressão de Moscovo, pondo de lado a sua colaboração com os nazis.

 

  No final da guerra, partes de território polaco, eslovaco, húngaro e romeno foram incorporadas na Ucrânia por Moscovo. A Crimeia, que fazia parte da República Russa, foi entregue à Ucrânia em 1954 por Khrushchev. Na altura, este presente de Moscovo não tinha importância fundamental, pois o bloco soviético liderado por Moscovo era suficientemente sólido para não se preocupar com a sua frota, presente em massa no porto de Sebastopol. Não foi isso que aconteceu aquando da dissolução da URSS, em 1991. Apesar da devastação, a reconstrução do país prossegue a bom ritmo. Em poucos anos, a Ucrânia tornar-se-ia uma parte fundamental da economia planificada soviética. Na véspera do desmembramento da URSS, em 1991, fornecia 1/6 do produto nacional da URSS: 35% do aço, 46% do ferro, 20% dos cereais, 23% do leite e 25% da carne. Trata-se de um montante considerável em comparação com o que a economia ucraniana se tornou actualmente.

 

A independência de 1991 (ruptura com a  Russia)

 

  Em 1991, a URSS desmoronou-se. A independência da Ucrânia foi aprovada por referendo em 1 de Dezembro de 1991 (90,3% de votos favoráveis). Leonid Kravchuk foi eleito presidente no mesmo dia e fez do regresso da Ucrânia à Europa uma das prioridades da sua política externa. Tal como noutros países da Europa Central (Polónia, Hungria, etc.), a ruptura definitiva com a Rússia estava na ordem do dia. Em 1993, foram iniciadas conversações com as instituições europeias. Em 1994, a Ucrânia tornou-se o primeiro país a sair da URSS a assinar um Acordo de Parceria e Cooperação (APC) com Bruxelas. Estes acordos consistem em ajuda económica e política para apoiar a transição para uma economia de mercado (a marcha para o capitalismo) e para apoiar a consolidação democrática. A Ucrânia tornou-se membro do FMI, do Banco Mundial e do BERD (Banco Europeu para a Reconstrução e o Desenvolvimento). Foram concedidos milhares de milhões de dólares em empréstimos para desmantelar a antiga economia planificada. O resultado foi o aparecimento de uma casta de oligarcas constituída por antigos burocratas da administração soviética transformados em homens de negócios que construíram enormes fortunas comprando minas, terrenos e fábricas ao Estado ucraniano a preços irrisórios. Esta casta terá acesso a altos cargos públicos, o que lhes permitirá adquirir empresas que podem ser privatizadas e receber milhares de milhões do FMI e outros. Para o povo, a história é outra. O desemprego era praticamente desconhecido antes de 1991, mas é certo que atingiu proporções maciças depois de 1991. De acordo com o Le Monde Diplo, em 1997 havia mais de 20% de desempregados e o PIB tinha caído 50% desde 1991.

 

   Nas eleições de 1994, Leonid Kuchma foi eleito Presidente. É um antigo dirigente do Partido Comunista Ucraniano e antigo primeiro-ministro do anterior governo. Enquanto o seu antecessor tinha defendido a ideia de uma ruptura total com a Rússia, Kuchma foi eleito com base na ideia de que as privatizações deveriam continuar e de que deveriam ser prosseguidos os laços mais estreitos com a Europa e os Estados Unidos, nomeadamente sublinhando o desejo de aderir à NATO, mas também afirmando que a ruptura com a Rússia tinha sido um erro e que o declínio económico da Ucrânia se devia a essa ruptura. Durante o seu mandato, de 1994 a 2005 (foi reeleito em 2000), o problema da Crimeia e da frota de guerra foi resolvido. Foi concedido à Rússia um contrato de aluguer do porto de Sebastopol até 2017. Se Koutchma está a jogar para a aproximação com a Rússia, é porque sabe que a adesão à Europa não é um dado adquirido. Por isso, está a jogar dos dois lados. Aos olhos da opinião pública, o seu governo parece ser corrupto, as eleições presidenciais de 2000 parecem ter sido manipuladas (enchimento de urnas) e Koutchma está directamente implicado no assassinato de um jornalista político da oposição em 2000. Estes factos comprometedores atrasaram o processo de adesão à Europa. Foi na sequência deste assassinato que surgiu um vasto movimento de manifestantes de massas denominado "Ucrânia sem Kuchma", que viria a ensaiar a Revolução Laranja de 2005. Além disso, o seu governo esteve envolvido na venda de um sistema de radar militar ao Iraque, em violação do embargo da ONU. Em suma, as suas perspectivas de adesão à União Europeia são cada vez mais remotas. Mas Kuchma está decididamente sem sorte, porque as coisas estão a mudar na Rússia no início da década de 2000. Desde o fim da URSS, em 1991, a Rússia, sob a presidência de Boris Ieltsin, iniciou um vasto programa de privatizações que provocou um colapso sem precedentes, não só da economia russa, mas também do papel político da Rússia na cena internacional. Além disso, em 1998, a Rússia foi vítima de uma grave crise financeira da qual, na altura, se duvidava da sua recuperação. Assim, em 2000, o governo Putin chegou ao poder na Rússia e, para ele, a Rússia tinha de recuperar a sua antiga grandeza. Para a sua administração, não se tratava de deixar a Ucrânia cair nas mãos dos europeus e dos americanos. Foi assim que, a partir da década de 2000, a Rússia de Putin entrou no jogo político e económico da Ucrânia. Além disso, para a Rússia, estava fora de questão a adesão da Ucrânia à NATO e a instalação de mísseis ou sistemas anti-mísseis (a Ucrânia recusou tornar-se uma potência nuclear em 1991. O arsenal nuclear soviético foi desmantelado pela Rússia em acordo com os EUA) à porta da Rússia.

 

A Revolução Laranja (Novembro 2004).

 

   Nas eleições de Novembro de 2004, Leonid Kuchma não pôde candidatar-se à reeleição e foi o seu primeiro-ministro cessante, Viktor Yanukovych, chefe do Partido das Regiões, que emergiu como potencial vencedor. Este último tem a particularidade de representar os interesses do clã Donetsk, ou seja, os novos capitalistas da região do Donbass. É abertamente apoiado por Vladimir Putin, que se desloca pessoalmente à Ucrânia para se encontrar com ele e apoia financeiramente a sua campanha. É, por conseguinte, o candidato pró-russo. O outro potencial vencedor é Viktor Yushchenko, líder do partido Bloco Nossa Ucrânia, que foi também antigo Primeiro-Ministro do anterior governo e Presidente do Banco Nacional da Ucrânia. O braço direito de Yushchenko é Yulia Tymoshenko, conhecida como "a princesa do gás" por ter feito fortuna no sector do gás. A União Europeia e os EUA apoiam abertamente Yushchenko.

 

   Em outubro de 2004, Yushchenko foi vítima de uma tentativa de envenenamento com dióxido de carbono, que lhe provocou lesões graves no rosto e no corpo e prenunciou a próxima fase do processo eleitoral. Os dois candidatos saíram da primeira volta praticamente empatados. Mas, muito antes das eleições, os apoiantes ocidentais já tinham efectuado um grande trabalho de preparação. Le Monde Diplomatique (Janeiro de 2005) conta a história. O princípio baseia-se no facto de estarmos perante regimes reconhecidamente corruptos, com pouca tradição democrática, onde os dirigentes estão bastante habituados à fraude eleitoral.

 

   Com o apoio de certas ONG (o National Democratic Institute, o International Republican Institute, ambos presididos pela diplomata e empresária americana Madelaine Albright), mas também de organizações como a Fundação Soros (um bilionário americano de origem húngara) e a OSCE (Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa), coloca-se um número suficiente de observadores para poder fornecer provas inquestionáveis de fraude durante as eleições. Nessa altura, contamos com a cumplicidade ou, pelo menos, com o acordo de outras organizações, nomeadamente do mundo estudantil, para fazer propaganda de denúncia e incitar manifestações com o objectivo de perturbar o regime actual e dar uma oportunidade ao candidato pró-ocidental.

 

   Esta estratégia foi bem sucedida em três antigas repúblicas soviéticas, em Belgrado, na Sérvia, em 2000, e em Tbilisi, na Geórgia, em 2003. O mesmo acontecerá em Kiev em 2004.

 

   Na segunda volta, em 22 de Novembro de 2004, Yanukovych venceu. Os observadores da OSCE (Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa) confirmaram a existência de fraudes em muitas mesas de voto. O resultado foi, por conseguinte, contestado pelos apoiantes de Yushchenko, pelas autoridades europeias e pela administração americana, tendo Putin reconhecido a vitória da outra parte. Os apoiantes de Yuchchenko reuniram-se então em massa em Kiev, na Praça Maïdan, com a sua bandeira laranja (mais de 100.000 pessoas no primeiro dia). Esta mobilização, inicialmente de cariz partidário, chegou a incluir cerca de 500.000 pessoas na ocupação de Kiev. As pessoas presentes mobilizavam-se contra a fraude eleitoral e a corrupção. O movimento durou um mês, até à terceira volta das eleições (26 de Dezembro de 2004), e contou com o apoio da população de Kiev, que se organizou para levar alimentos e vestuário aos manifestantes, sob um frio glacial. Yanukovych, que na altura ainda era primeiro-ministro, tinha o poder de chamar a polícia para reprimir e esvaziar a Praça Maïdan, mas não o fez (ao contrário do que aconteceu em 2014). Na cimeira União Europeia/Rússia de 25 de Novembro de 2004, foi decidido cancelar a segunda volta e realizar uma terceira volta sob supervisão. No mesmo dia, o Supremo Tribunal ucraniano anulou a segunda volta e Yanukovych reconheceu a fraude. Por conseguinte, foi marcada uma terceira volta para 26 de Dezembro, desta vez ganha por Yushchenko.

Sob Iouchtchenko

 

   Entre 2005 e 2010, o país entrou num período de instabilidade política. Desde o início do mandato do Presidente, surgiram dissensões com a Primeira-Ministra Yulia Tymoshenko, que o acusou de não querer reverter a privatização de empresas estatais adquiridas a preços vantajosos que tinha tido lugar sob a presidência anterior e de conluio com os oligarcas, enquanto ele a acusou de conluio com Moscovo sobre os acordos de gás que tinham sido assinados, considerando-os contra os interesses da Ucrânia. Ambos têm provavelmente razão naquilo de que se acusam mutuamente. O resultado foi a instabilidade política e mesmo a paralisia das instituições, que levou ao regresso de Yanukovych como primeiro-ministro em 2006, após eleições parlamentares em que o partido do Presidente ficou em terceiro lugar, mas muito atrás do partido de Yanukovych e do partido de Tymoshenko. Foi o fim da Revolução Laranja e das esperanças dos manifestantes que viam o fim da corrupção e do conluio entre políticos e oligarcas.

 

   Dois problemas adicionais irão estragar o mandato de Yushchenko. Em primeiro lugar, os acordos sobre o gás. A Ucrânia depende do gás russo para 60 a 65% do seu consumo de energia e das receitas geradas pela passagem do gás russo para a Europa. Os acordos sobre os preços do gás datam da década de 90 e eram favoráveis à Ucrânia. Mas Putin está determinado a rever tudo isto e a deixar de fazer ofertas ao governo ucraniano. Duas grandes crises de gás ocorreram em Janeiro de 2006 e Janeiro de 2009, quando a Gazprom interrompeu as suas entregas para pressionar o governo ucraniano (ao mesmo tempo que interrompeu as entregas à Europa). O governo ucraniano começou então a desviar o gás destinado à Europa (80% do gás russo destinado à Europa passava pela Ucrânia, enquanto a Rússia envia agora o seu gás para a Europa através de outros gasodutos). Depois veio a crise financeira de 2008, que arrasou os bancos ucranianos e, por efeito dominó, as empresas endividadas com todos esses bancos. Depois de uma retoma económica de 2000 a 2007, com uma taxa de crescimento anual de 7%, em 2009 o PIB caiu 25%, as exportações 25% e as importações 40%. Foi uma catástrofe para a população. O país recorreu ao FMI, que lhe concedeu 16,4 mil milhões de dólares de "ajuda" em Novembro de 2008, empréstimos que seriam renovados regularmente nos anos seguintes. O FMI impôs várias medidas à população, que teve de as pagar, incluindo o aumento da idade da reforma de 55 para 60 anos (para as mulheres) e a duplicação do preço da energia, condições que o Governo não quis aplicar. A política externa do mandato de Yushchenko centrou-se essencialmente na Europa e na adesão à NATO contra a Rússia. A Ucrânia, com as suas duas esperanças, pensou que podia enfrentar a Rússia, como vimos na crise do gás ou durante a intervenção russa na Geórgia, em 2008, apoiando o Presidente georgiano, fornecendo-lhe armas e pondo em causa o contrato que autorizava o estacionamento da frota russa em Sebastopol. Mas a própria Europa, enredada na crise financeira, já não dispõe de recursos políticos e económicos para o alargamento. Além disso, a posição da Ucrânia sobre a crise do gás em relação à Rússia é vista por alguns dirigentes europeus como irresponsável, fazendo recuar as perspectivas de adesão à Europa para uma "agenda grega". A Ucrânia também será criticada por outros motivos, como a luta contra a corrupção e a falta de progressos nas reformas económicas, mas parece que a sua posição em relação à Rússia é a principal razão. Havia dois problemas com a adesão à NATO. Em primeiro lugar, a hostilidade da população em geral em relação à adesão à NATO (ver Pergunta Inter nº 45 Ucrânia "A presidência de Yanukovych"), que a vê como uma fonte de hostilidade com a Rússia que poderia ser evitada. Depois, há a posição da Rússia, que agora mostra que pode intervir militarmente, se necessário (intervenção na Geórgia em 2008), se os seus interesses forem ameaçados. Numa entrevista em vídeo, em Maio de 2009, o Presidente Medvedev declarou que "a Rússia considera inaceitável permitir que a NATO instale estruturas militares nas suas fronteiras". Este é um ponto não negociável para as autoridades russas e que os generais da NATO parecem compreender muito bem, uma vez que a Ucrânia ainda não é membro da NATO.

 

   No plano interno, o Governo iniciou uma política nacionalista anti-russa. Estão a ser desmantelados estatutos que datam do período soviético, os nomes das ruas estão a ser alterados e a língua ucraniana está a ser declarada a língua nacional, quando até agora o russo e o ucraniano eram considerados iguais (sendo ambas as línguas faladas por uma grande maioria da população). O Holodomor é comemorado e os heróis da luta nacional da Segunda Guerra Mundial são consagrados.

 

   Esta posição essencialmente pró-ocidental foi rejeitada nas eleições presidenciais de 2010. Viktor Yushchenko obteve 5,5% dos votos. Por conseguinte, esta eleição opôs Viktor Yanukovych a Yulia Tymoshenko na segunda volta. De acordo com a Question Internationale N°45, os seus programas não são muito precisos, mas são muito semelhantes. Um não queria parecer demasiado pró-russo, enquanto o outro não queria parecer demasiado pró-ocidental. Desta vez, as eleições decorreram sem batota. Yanukovych foi eleito com 48,9% dos votos (70% de participação).

 

Sob Ianoukovitch

 

   Yanukovych enveredou então por uma "deriva autoritária", alterando a Constituição para reforçar o poder do Presidente. Mandou prender ou processar os seus opositores políticos, incluindo Yulia Tymoshenko (presa em 2011). Também pôs rapidamente de lado a sua aproximação à União Europeia, uma promessa de campanha eleitoral em que a adesão à União Europeia era sempre o objectivo da Ucrânia. Em vez disso, reforçou os seus laços com a Rússia. Em troca de uma redução de 30% no preço do gás, o aluguer da base naval de Sevastopol à Rússia foi prolongado por 25 anos. A adesão à NATO foi neutralizada através da adopção pelo Parlamento de uma posição "não-bloco", consagrada na Constituição. Voltou atrás em relação ao Holodomor, que deixou de ser considerado um genocídio, foi inaugurado um monumento à glória de Estaline em Kiev, as tropas russas marcharam com as tropas ucranianas durante as comemorações e os canais de televisão russos recuperaram o lugar que tinham perdido. No plano económico, foram assinados acordos com a Rússia nos domínios da aeronáutica, da energia nuclear civil, da energia e dos transportes. Foi criado um consórcio de gás, definido como estratégico por ambas as partes. Isto marca uma viragem de 180º do governo ucraniano em relação ao seu antecessor, mas também trai a sua promessa eleitoral de manter laços mais estreitos com a União Europeia. A atitude política de Yanukovych assemelha-se à de Erdogan na Turquia, que, para chegar ao poder, apresentou a ideia de aderir à Europa, conquistando assim uma grande parte do eleitorado. Em seguida, instalou-se no poder e alterou a Constituição para se dotar de plenos poderes para islamizar a sociedade. Yanukovych traiu uma parte do seu eleitorado que tinha votado nele pensando que teria uma linha política mediana que não favoreceria nem o campo ocidental nem o russo. Esta traição vai voltar para o morder em 2014, com a revolta dos Maïdan em Kiev.

 

A revolta de Maïdan ou o Euro-Maïdan de 2014 e as suas consequências

 

   No final de Outubro de 2013, o FMI visitou Kiev. O país está completamente endividado com 3 entidades: o FMI, a União Europeia e a Rússia. O país está em situação de incumprimento. Está endividado com os vários empréstimos do FMI desde 1992, que se aceleraram com a crise de 2008. Está também endividado, através do seu operador estatal de gás Naftogaz, com a Gazprom, a sua congénere russa, em mais de 3 mil milhões de dólares (Monde Diplomatique Julho de 2014).

   O FMI coloca em cima da mesa um empréstimo de 10 a 15 mil milhões de dólares em troca de medidas de austeridade que, mais uma vez, o Governo ucraniano terá de tomar contra a população: aumentos significativos dos preços do gás e do aquecimento para as famílias, cortes nas despesas do Estado e a possibilidade de fazer flutuar a moeda nacional, cuja taxa de câmbio está sobrevalorizada. Se o plano do FMI for aceite pelo Governo ucraniano, a Comissão Europeia anunciou que disponibilizará mais 840 milhões de dólares.

 

   Ao que parece, há duas razões principais para Yanukovych não aceitar as condições do FMI. Em primeiro lugar, as eleições presidenciais realizar-se-ão dentro de menos de um ano e as condições do FMI afastariam a população. Em segundo lugar, o aumento do preço do gás penalizaria a indústria do Donbass, de que ele e o seu clã são proprietários.

 

   A 21 de Novembro, como primeira medida, suspendeu o acordo de associação com a União Europeia (CAFTA, Comprehensive and Deepened Free Trade Agreement), após uma visita a Vladimir Putin em Sochi, na Rússia. Este acordo abrangia a Ucrânia, a Bielorrússia, a Moldávia, a Arménia, a Geórgia e o Azerbaijão, mas excluía a Rússia desde a guerra do gás de 2006. Este acordo teve a oposição da Rússia, que se opôs à sua União Económica Eurasiática, que reúne as antigas repúblicas da era soviética. Quando o FMI chegou à Ucrânia, a administração ucraniana ainda não tinha decidido se iria aderir a uma ou outra zona económica. Os capitalistas ucranianos estão divididos entre duas tendências: os da indústria agroalimentar, que são a favor do ACLA, como Poroshenko (o rei do chocolate e futuro presidente), Andri Veresky, dono do grupo Kernel, e os gigantes do sector avícola. E aqueles que são próximos de Yakounovitch, o seu filho, Akhmetov e Dmytro Firtach, que estão presentes nos sectores industrial e mineiro e cujos rendimentos em 2013 dependeram de concursos públicos, rendimentos que seriam ameaçados pelas regras do ACLA.

 

   A Rússia apresentou um plano que a Ucrânia aceitou. Um empréstimo de 15 mil milhões de dólares, uma redução de 1/3 do preço do gás e a redução da dívida da Naftogaz, tudo isto, segundo o Le Monde diplomatique de Julho de 2014, "sem condições". Trata-se de um olhar de reprovação e de um revés para o FMI e a União Europeia.

 

   Foi esta aceitação do plano russo que desencadeou a ocupação da Praça Maïdan, em Kiev, inicialmente por alguns milhares de pessoas e mais tarde denominada EuroMaïdan. Ao contrário da Revolução Laranja de 2004, este movimento foi completamente espontâneo, sem qualquer apelo de partidos ou organizações. Foram os jornalistas independentes e os activistas da sociedade civil que apelaram nas redes sociais à concentração na Praça Maïdan, a 21 de Novembro. Os partidos políticos limitaram-se a seguir o movimento. No início, os manifestantes eram apenas alguns milhares. Segundo o Le Monde de 10 de Dezembro de 2013 (Yulia Shukan), "o movimento destaca-se pela ausência de um líder único" e "na ausência de um líder, são as exigências que unem agora os ucranianos que saíram à rua. A perspectiva europeia, que, aos seus olhos, representa um certo grau de prosperidade económica, mas sobretudo uma democracia assertiva e um Estado que respeite os direitos dos seus cidadãos". A diferença em relação a 2004 é que, desta vez, a polícia entrou em acção e reprimiu com força. Cerca de uma centena de manifestantes foram mortos. A repressão policial, ao contrário do efeito esperado pelo governo, amplificou o movimento, reunindo centenas de milhares de pessoas em Maïdan e manifestações quase diárias em todo o país. A exigência agora apresentada pelos manifestantes é a saída de Yanukovych. Uma grande parte da população rejeita-o e ao seu sistema. Sob a pressão das ruas, Victor Yanukovych foi obrigado a abandonar o poder e o país em 22 de Fevereiro de 2014, refugiando-se em Moscovo. O aparelho de Estado ucraniano (polícia, exército), mas também os oligarcas, deixaram-no ficar mal. Os manifestantes ganharam a causa, tendo rejeitado todas as propostas dos partidos políticos, desde o de Yulia Tymoshenko (libertada da prisão) ao de Svoboda (extrema-direita), para negociar um acordo, sob pressão dos líderes europeus, em que a equipa de Yanukovych teria ainda direito a um lugar, nomeadamente num governo provisório, na pendência de eleições antecipadas.

 

   As eleições presidenciais de 25 de Maio de 2014 levaram Petro Porenchenko ao poder, apoiado pela União Europeia e pelos Estados Unidos. Foi eleito à primeira volta com 54% dos votos. O partido de Yulia Tymoshenko obteve 13% dos votos, enquanto o partido de extrema-direita SVOBODA obteve apenas 1,16%. No entanto, este último partido foi uma força em ascensão nas eleições legislativas de 2012, tendo obtido 10,5% dos votos e 37 deputados. Mas os partidos estão em total descrédito e a população rejeita-os, apesar das imagens televisivas da revolta de Maïdan, que davam a impressão de que a extrema-direita era muito forte e sobretudo popular.

 

   Após a saída de Yanukovych do poder, os acontecimentos aceleraram-se no sul do país. Primeiro na Crimeia, onde foram organizadas manifestações pró-russas na capital Simferopol. Registaram-se confrontos entre manifestantes pró-russos e manifestantes pró-novo governo ucraniano. Durante o fim de semana de 1 e 2 de Março de 2014, foram organizadas manifestações pró-russas no sul do país, que atacaram edifícios oficiais. Na Crimeia, os manifestantes apelaram ao exército russo contra as autoridades de Kiev. O exército russo foi colocado no território. A operação global parece muito bem preparada. Após um referendo realizado em 16 de Março, com 96% de votos a favor, a Crimeia tornou-se parte da Rússia. Apesar dos protestos do Ocidente, da ameaça de sanções económicas contra a Rússia e das ameaças de bloqueio das contas bancárias dos dirigentes russos e da Crimeia, Vladimir Putin manteve-se inflexível. A partida de Yanushencko é vista como uma batalha perdida e uma humilhação pelos russos. Como o novo governo da Ucrânia é pró-europeu, os russos acreditam que a base de Sebastopol pode finalmente ser-lhes retirada se o contrato de aluguer for cancelado. Depois, em Abril de 2014, foi a vez de duas regiões do Donbass proclamarem a sua secessão e declararem-se a República Popular de Donetsk (RPD) e a República Popular de Lugansk (RPL).

 

   Uma vez que o novo governo organizado em torno do Presidente Poroshenko não dispunha de recursos para se envolver num conflito na Crimeia, no qual teria de enfrentar directamente o exército russo, decretou uma mobilização geral para reconquistar o Donbass. Até à data, foram mobilizados mais de 350.000 homens e mulheres. Até Junho de 2015, a mobilização era obrigatória, passando depois a ser voluntária. Este serviço voluntário permitiu integrar os nacionalistas mais radicais, como as milícias de extrema-direita presentes na Praça Maïdan. Mas fazer a guerra não é algo que se possa improvisar, sobretudo com soldados jovens e despreparados que, no caso dos mobilizados, não são necessariamente entusiastas. Após as primeiras vitórias, a chegada ao outro lado de armas russas, de milicianos russos e de milicianos de outras repúblicas pró-russas alterou o equilíbrio de forças, estabilizando a linha da frente nas fronteiras das duas repúblicas até aos dias de hoje. Um artigo no Le Monde de 20 de Abril de 2019 descreve a situação de todos estes ex-combatentes que podem ser encontrados em todas as cidades da Ucrânia e que são vistos como uma ameaça para o resto da sociedade, incapazes de encontrar o seu lugar na vida social.

 

   Isto porque o novo governo, ao envolver-se na guerra no Donbass, comprometeu-se simultaneamente com o FMI a aceitar as suas condições em troca de um empréstimo de 27 mil milhões de dólares e comprometeu-se novamente com a Europa ao assinar o acordo de associação de 2014, libertando 11 mil milhões de euros para o período 2014-2020. Eram precisamente estas as condições que o seu antecessor tinha recusado: aumento de 50% do preço da energia, flutuação da moeda, reforma do Estado, etc. Mais uma vez, as condições de vida da população mais pobre do país estão a deteriorar-se.

 

   Poroshenko, bilionário, proprietário da empresa Roshen (15ª maior empresa de confeitaria do mundo) e várias vezes ministro em governos anteriores, foi eleito em parte com base no seu programa económico, que consistia em dizer que podia aumentar todos os salários para um mínimo de 436 euros, justificando que o tinha feito na sua empresa: "Se o fizemos para 45.000 empregados, podemos fazê-lo para 45 milhões de ucranianos" (le Monde 23 de Maio de 2014). Só que esta propaganda demagógica convenceu os eleitores a votarem nele "em nome das suas qualidades de gestor". E depois há a ideia "de que um bilionário não se sentirá tentado a fazer da Ucrânia a sua carteira pessoal" (Le Monde 22 de Março de 2018). Actualmente, de acordo com o site France Diplomatie, o salário médio na Ucrânia é de 220 dólares, ou seja, cerca de 200 euros. Uma forma de a população trabalhadora do país encontrar trabalho é através da imigração. Estima-se que 3 milhões de ucranianos trabalham no estrangeiro de forma permanente (incluindo 2 milhões na Polónia) e 7 a 9 milhões partem para trabalhar no estrangeiro durante alguns meses por ano (RFI 28 de Março de 2019 "Porque é que os ucranianos continuam a deixar o seu país?"). Graças à Europa, que isentou os ucranianos da obrigação de visto para o espaço Schengen, a Ucrânia tornou-se um verdadeiro reservatório de mão de obra barata e, além disso, qualificada.

 

   Poroshenko tem sido um bom aluno do Ocidente e das instituições internacionais, aplicando as receitas do FMI e das instituições europeias para que a população suporte o peso das reformas. Mas não aplicou estas reformas para si próprio. Os seus negócios continuaram a prosperar e foi implicado no escândalo dos Panama Papers, em Abril de 2016, por ter utilizado empresas offshore para "esconder o seu dinheiro". Na sua campanha eleitoral, prometeu também que se demitiria das empresas do seu grupo e venderia as suas acções para que não houvesse conflito de interesses entre o Presidente e a sua empresa. Não o fez. Pelo contrário, utilizará a sua posição para instalar os seus próximos em todos os níveis de poder, assumindo assim o controlo das empresas públicas.

 

   Na sua luta contra a Rússia, Poroshenko e o seu governo lançaram-se num vasto programa de ucranização da sociedade. Prosseguiu a campanha para rebaptizar as cidades com nomes russos e alterar os nomes das ruas e dos rios. As estações de rádio e televisão são obrigadas a emitir 75% dos seus programas em ucraniano. O ucraniano passou a ser obrigatório nas escolas secundárias. A língua ucraniana tornou-se obrigatória para todos os funcionários públicos.

 

   Esta política nacionalista é uma continuação da guerra travada contra as duas repúblicas secessionistas do Donbass. A política do Governo ucraniano consiste em criar um ponto de não retorno nacionalista contra a Rússia, numa tentativa de cortar quaisquer laços que possam ligar as populações russa e ucraniana. Esta política, para além do bloqueio económico, vai ao ponto de retirar os direitos de pensão aos que vivem actualmente na Crimeia e no Donbass. Trata-se de uma política irresponsável que, em última análise, está a levar estas pessoas a virarem-se exclusivamente para a Rússia.

 

O "dégagisme" (“insubordinação”) político na Ucrânia (2019)

 

   O que pensa o povo ucraniano do historial destes políticos? É difícil de saber. Uma forma de o medir é através das eleições, que continuam a ser um termómetro fiável da opinião pública. E para Poroshenko e a sua equipa, o castigo virá nas urnas, em Maio de 2019.

 

   Nas eleições presidenciais de Maio de 2019, Volodymyr ZELENSKY foi eleito à segunda volta com 73,2% dos votos, e o seu partido político "Servo do Povo" obteve 255 lugares em 450 na Rada (o parlamento ucraniano) nas eleições parlamentares. O "dégagisme" (“insubordinação”) político passou mesmo na Ucrânia.

 

   Zelensky apareceu na cena política a 31 de Dezembro de 2018, quando anunciou a sua candidatura. Ao contrário dos líderes anteriores que vieram do velho mundo soviético ou do mundo dos negócios (que são, de facto, o mesmo), ele vem do mundo dos media. É famoso na Ucrânia por ter protagonizado a série "Honra e Pátria", que viria a ser o nome do seu partido político. Esta série, vista por 20 milhões de espectadores, conta a história de um professor que se torna Presidente da República da Ucrânia graças às redes sociais (nomeadamente o You Tube). Bem, a realidade será mais forte do que a ficção.

 

   Ele está lá "para quebrar o sistema". Durante a sua campanha, tal como na série, não deu entrevistas a jornalistas, comunicando apenas através das redes sociais. Tem 41 anos, o que atrai o voto jovem. É judeu e não esconde a sua fé, tal como assume o apoio do bilionário dos media ucranianos, Kolomoïsky, que também é judeu. Rompe com os códigos e preconceitos actuais que nos fazem crer que a população ucraniana é anti-semita.

 

   O seu programa centra-se na luta contra a corrupção, no cessar-fogo no Donbass através da abertura de negociações com a Rússia com base nos acordos de paz de Minsk de Fevereiro de 2015, num referendo sobre a adesão à NATO (adesão desejada por uma parte da elite, mas não por uma grande parte da população), no fim da ucranização linguística e cultural e na reversão da suspensão do pagamento das pensões aos pensionistas que vivem na Crimeia e nas duas repúblicas do Donbass.

 

   Zelinsky obterá os seus melhores resultados eleitorais no sul do país, onde a população é mais russófona e, sobretudo, onde a hostilidade à guerra no Donbass está a aumentar. De acordo com o Le Monde de 24/09/2019, "71,5% dos ucranianos fazem de um cessar-fogo duradouro na região uma prioridade absoluta, antes mesmo da melhoria do seu nível de vida".  

 

   É possível que seja encontrada uma solução de paz no Donbass graças à aproximação procurada entre a Europa e a Rússia por alguns líderes europeus, liderados por Macron. A Rússia poderia então reduzir a pressão militar na região em troca do levantamento das sanções económicas impostas em 2014, na sequência da anexação da Crimeia. Oficialmente, Putin não reconheceu a existência das duas repúblicas, deixando uma saída em futuras negociações, permitindo que estas duas regiões regressem ao seio da Ucrânia com um estatuto especial de autonomia. Tudo é possível. Mas uma coisa é certa: o futuro da população de toda esta região da Europa de Leste está actualmente sujeito às políticas internacionais destas duas potências, a União Europeia e a Rússia.

 

LE 15/09/2019

 

CARTE UKRAINE (Monde diplomatique Avril 2014)

 

 

Fonte : E53- L'Ukraine, entre nationalisme pro-russe et pro-européen (2019) (louvrier.org)

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice e retirado da webmagazine:




 


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