RENÉ NABA — Este texto é publicado em parceria com a www.madaniya.info.
Parte 1 - https://queonossosilencionaomateinocentes.blogspot.com/2024/05/fobia-e-islamofobia_24.html
Uma operação de retoque cosmético
A Arábia Saudita, berço do fundamentalismo desde há quase um século e incubadora absoluta de todas as variantes do jihadismo errático e do terrorismo islâmico, iniciou, em Julho de 2022, uma vasta operação de cosmética, destinada a melhorar a imagem do príncipe herdeiro saudita e a quebrar o ostracismo de que é alvo nos países ocidentais, desde a morte do jornalista saudita Jamal Khashoggi, prelúdio da sua subida ao trono.
O Reino recrutou, a custo elevado, um jogador de futebol de renome mundial, o português Cristiano Ronaldo, com um salário de 200 milhões de dólares por ano, organizou um grande torneio de golfe, fez publicidade no famoso canal de notícias americano CNN, que funciona 24 horas por dia, e até financiou a produção de filmes europeus, num país que proíbe a entrada de salas de cinema no seu território há mais de um século.
No que parece ser um repúdio das práticas rigoristas anteriores, o reino prestou homenagem ao académico egípcio Hamed Nasr Abou Zeid. Autor de um estudo magistral sobre a "crítica do discurso religioso", este homem desencadeou paixões no Egipto, em plena efervescência islamista, durante o mandato de Hosni Mubarak.
O académico defendia que o pensamento islâmico se tinha tornado "rígido" desde o tempo de Averróis e que tinha perdido a sua vitalidade por não ter sido enriquecido pelo debate pluralista.
Condenado por apostasia em 1995 pelo Tribunal de Apelação do Cairo, obrigado a divorciar-se da sua mulher, que se tinha tornado apóstata, e ameaçado de morte pela organização Jihad, Hamed teve de se exilar nos Países Baixos, onde ensinou primeiro na Universidade de Leiden, depois em Utrecht, antes de obter a cátedra "Ibn Roshd (Averroes)" na Universidade de Berlim para um curso dedicado à relação entre "Humanismo e Islão".
Ver esta ligação sobre a tragédia deste intelectual crítico
§ https://www.renenaba.com/egypte-deces-de-lintellectuel-critique-hamed-nasr-abou-zeid/
E neste link, para os leitores de língua árabe, a homenagem póstuma saudita
ao académico egípcio
A petro-monarquia pretende abrir mais de 200 museus e organizar até 400 eventos culturais por ano até 2030. E, para alimentar este objectivo gigantesco, o país gasta muito. Por exemplo, o festival Noor Riyadh, organizado em Outubro de 2022 pela Havas Events, custou uns impressionantes 8 milhões de euros, quatro vezes mais do que um evento como a Nuit blanche em Paris. Dezenas de milhões de euros são também investidos em projectos de encomendas artísticas no sítio desértico de Wadi Al-Fann, em Al-Ula, uma espécie de Grand Canyon que se estende desde a fronteira jordana até ao Mar Vermelho, no noroeste da Arábia Saudita.
Melhor ainda: criminalizando os Irmãos Muçulmanos, o reino wahhabita modificou o discurso religioso dirigido ao exterior e ordenou o encerramento dos centros religiosos sauditas no estrangeiro.
O Ministério saudita dos Assuntos Islâmicos suspendeu as actividades de 26 centros sauditas dedicados à pregação e ao proselitismo, incluindo nos principados do Golfo (Dubai, Fujairah, Umm el Quoyoum), bem como na Ásia, na Europa (Bósnia-Herzegovina), na América Latina (Argentina) e em África (Camarões, Uganda, Djibuti e Senegal). A Arábia transferiu a gestão dos seus centros para as autoridades locais. A medida mais emblemática foi a renúncia à gestão directa da Grande Mesquita de Bruxelas, a maior da Bélgica, que o ministério saudita geria directamente desde 1969.
Para mais informações sobre a implantação saudita na Europa, ver esta
ligação:
A guerra aberta contra os grupos islamistas.
Em 2014, a Arábia Saudita declarou a Irmandade Muçulmana uma organização
terrorista, apesar de a Irmandade ter sido utilizada como combustível na luta
contra o nacionalismo árabe no auge do Nasserismo, nos anos 1950 e 1960.
"A ostracização da Irmandade Muçulmana conduziu às medidas seguintes, a
expurgação da literatura da Irmandade dos currículos universitários e escolares
e a exclusão de todos os membros e simpatizantes de cargos de responsabilidade
no sistema educativo.
Esta medida foi acompanhada pelo aparecimento de organizações de luta
contra o terrorismo, nomeadamente o "Centro Internacional de Luta contra o
Terrorismo" e o "Centro Internacional de Luta contra o Pensamento
Extremista".
Outra medida de acompanhamento foi o encerramento de locais religiosos ou
próximos da sua ideologia e a expulsão de formadores de opinião com as suas
sensibilidades ideológicas.
A Arábia Saudita colocou assim na lista negra alguns dos teólogos mais
proeminentes do Reino, do qual tem sido guardiã e protectora. Esta denúncia foi
feita pela revista Arab News, que publicou uma lista de "pregadores do
ódio" na véspera do encontro de Mohammad Ben Salmane em Jeddah com o
Presidente norte-americano Joe Biden e da sua visita a Paris com o Presidente
francês Emmanuel Macron.
O Arab News embarcou nesta missão de desmascarar os "pregadores do
ódio". Para além de nomear e envergonhar estes pregadores do ódio, o objectivo
da publicação saudita, segundo o seu director Faisal Abbas, é "documentar
a ideologia extremista e responsabilizar os clérigos pelas suas palavras e
demonstrar como as suas palavras afectam as pessoas em todo o mundo",
sublinhando que "não pode haver tolerância em relação à
intolerância".
Numa reviravolta espetacular, a Arábia Saudita quis livrar-se de alguns dos
mais importantes propagadores da doutrina wahhabita rigorista, que até então
viviam da sua posição de "clérigos da corte".
Para abrir caminho à sua desgraça, o Arab News elaborou uma lista de
islamófobos que vivem nos países ocidentais.
Escrutínio de islamófobos em todo o mundo, diz o Arab News
1 – Eric Zemmour, antigo candidato à presidência da República Francesa
Eric Zemmour nasceu em 1958 em Montreuil, uma pequena cidade nos arredores de Paris, no seio de uma família judia argelina que imigrou para França durante a Guerra da Independência da Argélia. Autodenomina-se um francês de origem berbere.
Depois de ter reprovado duas vezes no exame de admissão à École Nationale d'Administration, trabalhou durante algum tempo em publicidade.
Em 1986, iniciou a sua carreira de jornalista no Le Quotidien de Paris e, em 1996, entrou para o Le Figaro como jornalista político.
Fez a sua primeira aparição na televisão em 2003 e, em menos de dez anos, tornou-se uma figura de proa do discurso racista, anti-imigração e islamofóbico de extrema-direita. Este pied noir vingativo foi condenado em várias ocasiões por difamação racial e incitamento ao ódio racial e religioso, nomeadamente por comentários islamofóbicos.
Para a sua primeira grande batalha, este pequeno Napoleão da reconquista francesa mordeu a poeira duas vezes, em Abril de 2022, durante as eleições presidenciais francesas, e depois em Junho de 2022, durante as eleições legislativas, um duplo Waterloo sem ter experimentado previamente o seu Austerlitz.
O teórico do "francocídio" é, de facto, um "judeu pied noir" com laivos petainistas, um judeu árabe que se declara "judeu berbere" por arabofobia, segundo o historiador Benjamin Stora, especialista na Argélia.
Para saber mais sobre a sua teoria confusa da Grande Substituição, consulte
este link:
§ https://www.madaniya.info/2021/06/01/de-quoi-marseille-est-elle-le-nom/
2 – Meir Kahana (Israel-Estados Unidos)
Meir Kahana, fundador da Liga de Defesa Judaica e do partido israelita
Kach. Rabino de profissão, este antigo membro do Knesset é de nacionalidade
israelo-americana e foi proibido de entrar no Reino Unido em 1981.
O LDJ foi classificado como um grupo terrorista de direita pelo FBI e o
Kach foi classificado como uma organização terrorista estrangeira pelo
Departamento de Estado dos EUA.
O rabino Meir Kahana, nascido Martin David Kahane, nasceu em Brooklyn, Nova
Iorque, em 1932. Na sua juventude, foi influenciado pelo seu pai Yechezkel
(Charles), que fazia parte do movimento sionista revisionista. A sua casa era
frequentada por ultra-sionistas de renome, como Zeev Jabotinsky e Peter
Bergson.
Kahana e o seu partido Kach foram excluídos das eleições de 1988 devido à
sua ideologia racista, que foi qualificada como tal pelo Supremo Tribunal de
Israel. Kahana foi o primeiro candidato a ser excluído de uma eleição israelita
por motivos de racismo.
Em Novembro de 1990, Kahane, então com 58 anos, foi assassinado pelo
egípcio-americano Sayyid Nosair. Kahane tinha sido detido mais de 62 vezes por
acusações de terrorismo. As acusações incluíam incitamento ao ódio, conspiração
para o fabrico de explosivos, ataques à missão russa em Nova Iorque e
conspiração para lançar uma bomba na embaixada iraquiana em Washington.
3 – Baruch Marzel (Israel-Estados Unidos)
Antigo assistente parlamentar de Meir Kahana, este israelo-americano
binacional nasceu em Boston. A sua família mudou-se para Israel quando ele
ainda era muito jovem. Entrou para a Liga de Defesa Judaica aos 13 anos.
Marzel afirma ter participado na invasão israelita do Líbano em 1982 e ter
morto a tiro vários soldados sírios desarmados que tinha feito prisioneiros.
Adopta o mesmo espírito de confronto no seu activismo político. "Esta é
uma guerra religiosa e eles sentem que têm de nos destruir, de nos matar. E nós
pensamos que as pessoas que pensam que têm de nos matar não podem ficar aqui. É
contra a nossa religião", afirma.
Marzel conhece Kahane desde criança; o rabino assistiu ao Bar Mitzvah do
jovem Marzel e abençoou-o. Trabalharam lado a lado até ao assassinato de
Kahane. Em 1984, Kahane ganhou um lugar no Knesset e nomeou Marzel seu
assistente parlamentar.
Com a morte do seu mentor, Marzel foi eleito chefe do secretariado do Kach
e candidatou-se ao Knesset. Saiu da sombra de Kahane e tornou-se uma figura de
proa do radicalismo judeu em Hebron, onde liderou ataques contra os residentes
árabes. Foi preso várias vezes pelos seus actos de violência e intimidação.
Em 2000, organizou uma festa no túmulo de Baruch Goldstein, autor do
atentado contra a mesquita de Hebron, durante a festa judaica de Purim.
"Decidimos fazer uma grande festa no dia em que ele foi assassinado pelos
árabes", disse à BBC.
A mesquita de Hebron é famosa por ser o local de sepultamento do profeta
Abraão. Foi alvo de um ataque de Baruch Goldstein em Fevereiro de 1994, que
matou 20 palestinianos. Baruch Goldstein era um colono israelita de Chicago e
um colega próximo de Marzel.
Mas o activismo de Baruch Marzel não se limitou a Hebron. Juntamente com
Ben-Zion Gopstein, Michael Ben-Ari e Itamar Ben-Gvir, Marzel fundou o movimento
segregacionista Lehava, do qual se tornou porta-voz.
A organização judaica de extrema-direita opõe-se a quase todas as relações
pessoais entre judeus e não-judeus. Em 2014, membros do Lehava incendiaram uma
escola bilingue árabe-judaica. Activo na política, é membro da Otzma Yehudit,
que quer que os árabes abandonem Israel.
4 – Pamela Geller (Estados Unidos)
Nascida em Long Island (Nova Iorque), Pamela Geller é uma blogger
norte-americana, conhecida pelo seu anti-islamismo. Nascida numa família judia,
em 2010, fundou, com o escritor Robert Spencer, a American Freedom Defense
Initiative, também conhecida como Stop Islamization of America (SIOA), uma
organização ideológica descrita como promotora da islamofobia pela Liga Anti-difamação
(ADL).
Entre as suas principais obras:
§ Stop
the Islamization of America: Um Guia Prático para a Resistência. WND Livros.
2011. (ISBN 9781936488360).
§
Freedom or
Submission: On the Dangers of Islamic Extremism & American Complacency,
edição de CreateSpace Independent Publishing Platform, 2013,
§ Fatwa: Hunted in America, edição Dangerous Books, 2017
5 – Robert Ménard, presidente da Câmara Municipal de Béziers, Sul de França
Nascido a 6 de Julho de 1953 em Oran, é co-fundador da associação
Repórteres sem Fronteiras (RSF), da qual foi Secretário-Geral de 1985 a 2008, e
do site Boulevard Voltaire, lançado em 2012. Em 2008, fundou também a editora
Mordicus, que dirige com a sua mulher, Emmanuelle Duverger.
Nascido no seio de uma família católica de origem negra, o seu pai, Émile,
era comerciante, tipógrafo, sindicalista comunista e membro da OAS (organização
secreta do exército), a organização clandestina responsável pela luta pela
independência da Argélia. O seu tio foi
preso por ter pilotado o avião do putschista. Inicialmente empenhado na
esquerda, afastou-se progressivamente desta e aderiu à extrema-direita. Nas
eleições autárquicas de 2014, foi eleito presidente da Câmara de Béziers com o
apoio da Frente Nacional.
A sua atitude populista durante o primeiro mandato foi marcada por medidas
que causaram polémica a nível nacional, algumas das quais foram sancionadas
pelos tribunais. Após a vitória da sua lista na primeira volta das eleições
autárquicas de 2020, foi reeleito presidente da câmara e assumiu a presidência
da comunidade urbana de Béziers-Méditerranée, tornando-se a primeira figura de
extrema-direita a presidir a um organismo intercomunitário na região da
Occitânia.
O controverso ex-director dos Repórteres sem Fronteiras foi empurrado pelo
Qatar, a pedido da França, para a presidência de uma problemática fundação para
a defesa da liberdade de imprensa, em Doha, que abandonou ao fim de um ano,
devido à sua falta de influência face à estrutura paralela criada por um
verdadeiro homem do terreno que deu ao jornalismo as suas cartas de nobreza, o
fotógrafo Sami al-Hajj, do canal al-Jazeera, antigo recluso da prisão de
Guantanamo e fundador do "Guantanamo Center", encarregado de lutar
contra os atentados à liberdade de imprensa.
Para saber mais
sobre Robert Ménard, ver "La face cachée de reporters sans frontières. De
la CIA aux Faucons du Pentagone"-Edições Aden por Maxime Vivas.
6 – Steve Anderson Tempe, Arizona, Estados Unidos
Pastor e fundador da Faithful Word Baptist Church, uma igreja
fundamentalista independente em Tempe, Arizona.
Pai de dez filhos, o Pastor Steven Anderson é um dos pregadores mais
controversos dos Estados Unidos. A sua missão é espalhar pelo mundo as suas
crenças cristãs fundamentalistas, as suas opiniões anti-semitas e as posições
extremistas da sua igreja. É um grande sucesso no YouTube, no seu blogue
pessoal "sanderson1611", que tem mais de 120 000 subscritores, e no
blogue da sua igreja. Nasceu em Sacramento, Califórnia, em 1981, e cresceu no
seio de uma família baptista independente. Em criança, frequentou sete escolas
cristãs e foi educado em casa durante um ano.
Quando adolescente, Anderson frequentou a Woodcreek High School em
Roseville, Califórnia. Depois de se formar, viajou para a Alemanha e para a
Europa de Leste durante três meses, servindo em Igrejas Baptistas
Independentes, aprendendo línguas e ganhando experiência no sacerdócio. A
igreja está actualmente listada como um grupo de ódio pelo Southern Poverty Law
Center (SPLC) devido às opiniões radicais de Anderson. O pastor utiliza as suas
várias contas nas redes sociais, sobretudo no YouTube, Facebook, Twitter e no
seu blogue http://sanderson1611.blogspot.com
, para levar a cabo a sua cruzada de ódio.
7 – Lana Lokteff (Estados Unidos)
Esta radialista americana, que vive no Oregon, é uma figura emblemática da
supremacia branca. Ela e o marido sueco, Henrik Palmgren, fundaram a Red Ice
TV, que apresenta talk shows, programas de rádio e entrevistas com várias
pessoas que pensam da mesma forma. O seu canal no YouTube - que tinha 333 000
subscritores - foi banido em Outubro de 2019.
Num episódio do talk show, Lokteff entrevista o nacionalista branco Greg
Johnson, editor da Counter-Currents, sobre o seu "novo e intrigante
respeito" pelo atirador norueguês Anders Breivik. Breivik é um terrorista
de extrema-direita que levou a cabo os ataques de 2011 na Noruega, matando 77
pessoas, 69 das quais num campo de férias para jovens. Outros terroristas
afirmaram ter sido encorajados por estes ataques. Entre eles, Brenton Tarrant,
o bombista de Christchurch, e o assassino da deputada britânica Jo Cox. Apesar
de ser de origem russa, acredita que é uma "verdadeira refugiada"
porque a sua família fugiu dos bolcheviques. Os outros estão apenas a fugir da
pobreza.
A revista Jacobin, uma publicação trimestral social-democrata de Nova
Iorque, afirmou que Lokteff culpou erradamente os refugiados na Europa pelo
aumento da taxa de criminalidade e descreveu-os como "pessoas preguiçosas
que enchem os gabinetes de assistência social, afluindo para receber
subsídios". Numerosas publicações indicam também que Lokteff nega o
Holocausto e tem tendências anti-semitas".
8 – Anjem Choudary (Reino Unido)
O antigo líder do grupo Al-Muhajiroun e antigo porta-voz do Islam4U nasceu
em Londres em 1967, filho de um corretor da bolsa do Punjab paquistanês. Depois
de ter reprovado em medicina, dedicou-se ao direito e trabalhou num escritório
de advogados londrino, onde completou a sua formação. Os conhecimentos
jurídicos assim adquiridos ajudaram-no a evitar a prisão durante grande parte
da sua futura carreira como pregador fundamentalista. Mais tarde, tornou-se
presidente da Sociedade de Advogados Muçulmanos.
Choudary abraçou o Islão radical e aderiu à organização extremista
Al-Muhajiroun, dirigida pelo militante islâmico Omar Bakri Muhammad. A
organização foi proibida em 2004 ao abrigo da legislação anti-terrorista do
Reino Unido. Muhammad deixou então o Reino Unido para ir para o Líbano e
Choudary tomou o seu lugar à frente da organização.
A dissolução oficial da Al-Muhajiroun teve muito pouco impacto nos seus
apoiantes britânicos e, ao longo dos anos seguintes, Choudary liderou vários
grupos que reapareceram cada vez com um nome diferente para contornar as leis
anti-terrorismo. Entre eles, o Al-Ghurabaa, que no seu site Web contém ligações
para fóruns de discussão que justificam ataques a civis. Outro grupo, o
Islam4UK, faz campanha por um califado mundial ao estilo do Daech. O seu site
Web publica uma fotografia do Palácio de Buckingham transformado em mesquita.
Em 7 de Julho de 2006, Choudary assinalou o primeiro aniversário dos
atentados de Londres declarando que os muçulmanos na Grã-Bretanha são
"oprimidos" e têm o direito de se defender "por todos os meios
necessários", ideias que constituem uma parte central da sua estratégia.
Choudary utiliza a controvérsia em torno da "guerra contra o
terrorismo" liderada pelos EUA para incitar ao ódio contra os soldados
britânicos. Descreveu os desfiles que assinalaram o regresso dos soldados ao
país como "vis" e os militares como "assassinos brutais".
Depois disso, os soldados foram recebidos com cartazes que os apelidavam de
assassinos, violadores e terroristas no seu regresso à Grã-Bretanha.
Em Agosto de 2015, foi finalmente acusado de promover activamente a Daech.
Pouco mais de um ano depois, foi condenado a cinco anos e meio de prisão. O
juiz declarou que Choudary tinha finalmente "ultrapassado a fronteira
entre a expressão legítima das suas opiniões e o acto criminoso".
Publicou um juramento de fidelidade ao Daech num site Web extremista. Entre
Agosto e Setembro de 2014, publicou uma série de discursos no YouTube apelando
ao apoio ao grupo. Choudary foi libertado em Outubro de 2018, mas uma
vigilância rigorosa impediu-o até agora de retomar as suas actividades. Preso
em 2016 e libertado em 2018, está actualmente sob vigilância no Reino Unido.
9 – Laxmi Dubey (Índia)
Esta cantora pop Hindutva, na casa dos trinta anos, promove um hinduísmo
musculado num novo género de canções que misturam a música pop com a ideologia
do extremismo hindu. No seu canal do YouTube, os seus vídeos foram vistos cerca
de 20 milhões de vezes. Ela ataca o Paquistão e apela a medidas duras contra
aqueles que lutam pelos direitos dos caxemires. Dubey defende a expulsão da
população muçulmana do vale de Caxemira. Acredita que o destino da Índia reside
no Hindutva, uma versão política extremista do hinduísmo. O Partido Bharatiya Janata (BJP), no poder,
defende o Hindutva e afirma que este abrange todo um modo de vida.
10 – Ashin Wirathu (Birmânia) – O budista Bin Laden
Este monge budista, que reside habitualmente no mosteiro de Masoyein, em
Mandalay, Myanmar, nasceu a 10 de Julho de 1968 na cidade de Mandalay, Myanmar,
e é descrito pelos meios de comunicação social internacionais como um
extremista e ultra-nacionalista. É conhecido como o "Bin Laden
budista", em referência a Osama bin Laden, líder da Al Qaeda até à sua
morte.
Aos catorze anos, Wirathu abandonou a escola e tornou-se monge num mosteiro
local. Tornou-se famoso em 2001, quando se envolveu no movimento nacionalista
969, descrito pelos media internacionais como islamofóbico. Foi nessa altura que começou a espalhar o
ódio contra a minoria muçulmana no país de maioria budista, exortando os seus
companheiros crentes a boicotar todas as lojas muçulmanas.
Wirathu foi preso pela junta militar em 2003 por 25 anos por distribuir
panfletos anti-muçulmanos e pregar a expulsão dos muçulmanos do estado de
Rakhine, em Myanmar. No entanto, foi libertado em 2012 no âmbito de uma
amnistia e começou a atravessar Myanmar, espalhando o ódio contra os muçulmanos
através dos seus sermões. Em Setembro de 2012, Wirathu liderou uma reunião de
monges em Mandalay para promover o controverso plano do então Presidente Thein
Sein de expulsar os Rohingya, a minoria muçulmana do país.
Um mês após a manifestação, a violência intensificou-se em Rakhine,
expulsando brutalmente milhares de Rohingya das suas casas. Em Julho de 2013,
foi capa da revista Time, que o descreveu como "o rosto do terrorismo
budista".
Num sermão de 2013, Wirathu disse: "Uma pessoa pode ser cheia de
bondade e amor, mas não deve dormir ao lado de um cão raivoso. Chamo aos
[muçulmanos] desordeiros porque são desordeiros. Orgulho-me de ser considerado
um budista radical. Se formos fracos, o nosso país tornar-se-á muçulmano".
Em 2014, os monges nacionalistas de Myanmar criaram a Associação para a
Protecção da Raça e da Religião (Ma Ba Tha). Wirathu faz parte do núcleo deste
grupo, que está a suscitar entusiasmo e a ganhar muitos membros em todo o país.
A Ma Ba Tha tem feito lobby com sucesso para que as leis dificultem o casamento
inter-religioso. Em Janeiro de 2015, ao falar em público, Wirathu chamou
"puta" e "prostituta" a Yanghee Lee, a relatora especial da
ONU. Em 2017, pouco antes da repressão militar contra os Rohingya, que deslocou
à força cerca de 750 000 pessoas para o vizinho Bangladesh, a principal
autoridade budista de Myanmar proibiu Wirathu de pregar em público durante um
ano. Também proibiram Ma Ba Tha, mas este simplesmente mudou de nome e
continuou as suas actividades.
No entanto, Wirathu continuou a viajar pelo país difundindo a sua retórica
anti-muçulmana, sobretudo em Rakhine, onde existe uma grande minoria muçulmana.
Wirathu apoia a repressão militar contra os Rohingya e, em Janeiro de 2018, o
Facebook censurou-o pelos seus comentários sectários e por incitar ao ódio
contra os muçulmanos através dos seus sermões.
Em Abril de 2019, as autoridades tailandesas proibiram Wirathu de entrar no
seu território e, no mês seguinte, um tribunal de Myanmar emitiu um mandado de
captura contra ele. É acusado de fazer comentários inflamados contra Aung San
Suu Kyi, a líder de facto do governo, acusando-a de obstruir a limpeza étnica
dos Rohingya apoiada pelos militares.
11 – Damien Rieu
(nascido Damien Lefèvre)
Nascido em 1990, o seu pai era um activista comunista. Apesar da sua
educação de extrema-esquerda, quando era adolescente juntou-se à secção juvenil
do famoso partido de extrema-direita de Jean-Marie Le Pen, a Frente Nacional.
Quando o pai descobriu o envolvimento do filho com a extrema-direita, expulsou-o
da casa da família e Rieu acabou por ficar em albergues para os sem-abrigo.
Damien Rieu estudou na Universidade Panthéon-Assas, em Paris. Actualmente,
é considerado um dos membros mais radicais e activos do movimento identitário
xenófobo francês. Actualmente, é assistente parlamentar de Philippe Olivier,
deputado europeu do partido de extrema-direita Rassemblement National.
12 – Hassan Iquioussen, o pregador das cidades
Nascido em Denain, no nordeste de França, em 1964, no seio de uma família
de imigrantes marroquinos, obteve uma licenciatura em árabe e um mestrado em
história. Mudou então o seu percurso para se dedicar à aprendizagem e à
transmissão do Islão.
Hassan Iquioussen não recebeu qualquer educação islâmica formal. Apelidado
de "o pregador dos bairros sociais", fundou os Jeunes Musulmans de
France (Jovens Muçulmanos de França) com a Union des organisations islamiques
de France (UOIF). Desde 2012, tem um canal no YouTube onde dá aulas e partilha
as suas opiniões sobre vários assuntos. Faz comentários polémicos e
conspirativos.
É conhecido por fazer comentários odiosos, anti-semitas, homofóbicos e
misóginos. Também fez declarações que negam o genocídio arménio. Hassan
Iquioussen é membro da Irmandade Muçulmana.
Pai de cinco filhos franceses e avô de quinze netos, o pregador vive em
Lourches, perto de Valenciennes. Foi-lhe recusada a renovação da sua
autorização de residência em 2022.
Puro acaso ou coincidência fortuita? A expulsão do pregador marroquino de
França foi decidida na quinta-feira, 28 de Julho de 2022, no mesmo dia em que
Mohammad Ben Salmane chegava a Paris para a sua primeira visita a uma grande
capital ocidental, numa acção que parecia ser a reabilitação pelas
"grandes democracias ocidentais" do homem que ordenou a chacina do
jornalista saudita Jamal Khashoggi.
13 – Idriss Sihamedi (França): Breakdance na cidade de Baraka
Nascido em Paris, em 1984, no seio de uma família muçulmana pouco praticante, Idriss Sihamedi foi um ávido dançarino de breakdance na adolescência. Abandonou esta actividade aos 17 anos para se dedicar à aprendizagem da comunicação e do Islão. Foi viver para a Arábia Saudita durante alguns meses, mas regressou desiludido com a falta de liberdade no Reino.
De regresso a França, criou uma empresa de comunicação, mas após o seu fracasso, voltou-se para o trabalho humanitário e fundou a BarakaCity em 2008. A sua página no Facebook angariou muitos apoiantes para a sua associação. Actualmente, Sihamedi é considerado um pregador radical e tem provocado fortes reacções na Internet com as suas publicações polémicas, sobretudo quando faz apologia do martírio. O pregador fez declarações polémicas sobre o Daech, as mulheres e o papel dos muçulmanos.
Fundador da organização humanitária BarakaCity,
Idriss Sihamedi defende frequentemente posições ambíguas sobre o Estado
Islâmico. Recusa-se a identificar-se com o salafismo e prefere chamar-se "muçulmano
normal" e justifica a poligamia, que vê como uma solução para o adultério.
Sihamedi está, no entanto, referenciado na DGSI (Direção-Geral de Segurança Interna), que conduziu uma investigação sobre o financiamento da BarakaCity.
14 – Nader Abou Anas (França): O negócio do salafismo francês
Nader Abou Anas representa o novo rosto do salafismo "made in France". Por detrás do seu sorriso atrevido e da sua simplicidade suburbana, este imã de trinta e poucos anos transmite mensagens que são mais do que problemáticas para um público jovem, maioritariamente oriundo dos subúrbios.
Abou Anas lançou o seu site, Dourous.net, em 2007. Três anos mais tarde, fundou o seu próprio centro de formação em Bobigny, o instituto D'Clic, que oferece cursos de árabe e ensina o Corão e as "ciências islâmicas" a crianças e adultos.
Ensina também nas mesquitas de Seine-Saint-Denis, Le Bourget (antes do seu encerramento em Maio de 2016) e Le Pré-Saint-Gervais.
Em Bobigny, partilha com a escola Iqra as antigas instalações do serviço departamental da juventude e do desporto: 500 metros quadrados distribuídos por dois andares e cerca de dez salas de aula. Trata-se de um exemplo preocupante de solidariedade baseada numa certa visão da religião muçulmana. De facto, as duas organizações não teriam existido uma sem a outra. Existe actualmente uma certa convergência de radicais cujas redes são cada vez mais organizadas e extensas.
Ao contrário dos seus predecessores, não foi estudar para os Estados do Golfo ou para o Egipto.
Seguiu os ensinamentos de um convertido formado no Paquistão, Yves Leseur,
apelidado de "xeque Ayoub", uma figura famosa e misteriosa no
microcosmo salafista francês. A Madrassah do Sheikh Ayoub situa-se na rue de la
Chapelle, 50, 75018 Paris, e é conhecida nos círculos salafistas por ministrar
cursos de formação radical em solo francês. Nader Abou Anas encarna esta
segunda geração emergente de guias salafistas.
§ https://www.arabnews.fr/predicateursdehaine
Para o orador de língua árabe, ver este link "a caça aos pregadores
sauditas"
Fonte: Islam-Occident 2/4 : Les prédicateurs de la haine, selon l’Arabie saoudite – les 7 du quebec
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
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