Pesquisa realizada por Robert Gil
A acusação foi sempre martelada: "Os comunistas são os coveiros da liberdade". E, de facto, os comunistas são os coveiros da liberdade do capital, dos capitalistas e dos seus meios de comunicação social que fazem uma lavagem cerebral aos homens e às mulheres para melhor os manipular e explorar. Os comunistas são os defensores da verdadeira liberdade neste mundo sobre-alienado pelo dinheiro, pela mercadoria e pelo espectáculo. A liberdade, para utilizar a definição rigorosa de Friedrich Engels, é a consciência do que deve necessariamente ser feito, e não o direito de ignorar os outros e fazer o que quisermos. Na sociedade burguesa, a liberdade do indivíduo pára nos limites da liberdade dos outros, como afirma a Declaração dos Direitos do Homem, excepto que a liberdade ilimitada do dinheiro esmaga completamente a liberdade dos outros. Se queremos uma verdadeira democracia, e não a democracia liberal totalitária que nos está a ser imposta como norma, temos de a impor às minorias que monopolizam o poder político: a nobreza, os ricos, a grande burguesia: "Não há sujeição tão perfeita como aquela que conserva a aparência de liberdade", Jean Jacques Rousseau. A democracia não deve ser confundida com o sistema de assembleias. Mesmo a democracia etimológica de Péricles, em Atenas, no século V a.C., em que a assembleia do povo era todo-poderosa, baseava-se na guerra, no imperialismo e na escravatura, e não era uma democracia no sentido actual.
Enquanto os partidos comunistas exigiram e defenderam o sistema de partido
único que prevalecia nos países socialistas, foram forças políticas poderosas,
controlos e equilíbrios democráticos eficazes nos países capitalistas e limites
impostos pela classe operária à ditadura do capital sobre esses países. Mas
assim que esses partidos aceitaram submeter-se ao Estado de direito, tal como
definido pelo liberalismo político, o seu poder evaporou-se. Os países que se
dizem socialistas merecem esse título quando impedem os capitalistas
estrangeiros ou nacionais de desempenharem um papel político. Esta proibição,
embora não seja suficiente para preservar o socialismo, é necessária. Nunca
ninguém votou para substituir o feudalismo pelo capitalismo, nem o fará quando
o capitalismo der lugar ao socialismo. Um pequeno número de pessoas tem uma
consciência clara do que é decisivo, no momento da escolha decisiva, e
compreende o seu carácter decisivo. Este pequeno número deve colocar-se ao
serviço da classe proletária.
Apelar a um sistema multipartidário em Cuba ou na China é apelar a um
regresso ao capitalismo. De facto, é exatamente isso que pretende o discurso
imperialista dominante das "revoluções coloridas", que tenta incitar
as pessoas a saírem à rua contra o socialismo em nome do pluralismo ou de uma
liberdade fictícia, sem qualquer outro programa. Mas então podemos perguntar,
com alguma preocupação: que garantias existem para a liberdade individual se
não há pluralismo? Não há nenhuma. Mas essas famosas garantias não existem de
facto em lado nenhum: a Grande Burguesia estabelece as suas regras e, quando
estas já não lhe convêm, muda-as. O pluralismo é apenas o que perpetua o seu
poder e não põe em causa o sistema que defende. A democracia no seu sentido
etimológico, "o poder do povo", é odiada e temida por todos aqueles
que detêm o poder económico e financeiro. As nossas elites não têm outra
alternativa senão caricaturar e oprimir cada vez mais todos aqueles que
reivindicam este "poder popular".
Em todo o caso, a democracia não é individualista; pelo contrário, reflecte
a consciência das massas, o que só pode acontecer depois de eliminada a
influência mecânica do dinheiro, que reproduz incessantemente "a multidão
inconsciente dos alienados". A verdadeira democracia nunca resultará do
confronto eleitoral. A democracia em acção não resulta do confronto e dos
compromissos de grupos ou de partidos que são outros tantos "clãs,
coteries, mafias", e cujo jogo e grandes discursos ocos que não
comprometem nada, fariam aparecer magicamente o interesse geral ou o óptimo
político. Pelo contrário, o que emerge do circo eleitoral, quase universalmente
desprezado pelo comum dos cidadãos, é um espectáculo de completo disparate.
Todos estes oportunistas afirmam partilhar um ideal, uma ética, ou falam-nos de
conceitos incessantemente repetidos como "valores", mas vemos que, no
universo liberal, esta exibição moralizante cede o lugar às relações concretas
que unem indivíduos ambiciosos, cujos objectivos pessoais são muitas vezes o
seu único valor. A maçonaria é o exemplo arquetípico deste sistema dualista: um
ideal comum que beira a puerilidade, mas que encobre as relações comerciais e
os conflitos de interesses, com um duplo recrutamento de ingénuos e podres, e
de ingénuos que apodrecem à medida que se tornam mais livres.
O ideal comunista não é deste tipo, mas sim o de um mestre de obras que recruta membros com espírito construtivo para reconstruir o mundo. O socialismo e a verdadeira democracia que ele permite e implica não são um sistema liberal e parlamentar em que os representantes do povo se insultam em público e se relacionam amigavelmente em privado. Uma pergunta simples: onde está a democracia que levámos ao Iraque, à Líbia e à Jugoslávia? Será que a democracia prevalece agora mais na Arménia e no Azerbaijão? Ou será que ela reinava sem o parecer quando estes dois países formalmente independentes, agora envolvidos num conflito absurdo, eram duas das repúblicas soviéticas, dentro da União, em pé de igualdade com a Rússia? E a fortiori na Ucrânia e na Rússia? O pior governo socialista é melhor do que a melhor democracia liberal, porque nesta pseudo-democracia o capital governa. É melhor ser governado por seres humanos do que por coisas. E a ascensão da Inteligência Artificial não vai mudar isso!
O sistema de partido único, embora tenha os seus defeitos, é necessário para preservar o objectivo, e é perfeitamente legítimo. É um sistema que os bolcheviques foram obrigados a aplicar face à contra-revolução a partir do Verão de 1918, e tem perdurado porque a burguesia mundial nunca aceitou a legitimidade do Estado que emergiu da Revolução de Outubro, ou dos outros Estados socialistas fundados posteriormente no século XX. Se o actual governo americano não aceita a legitimidade do governo chinês sob a liderança do Partido Comunista, não é porque não seja pluralista, mas porque é socialista e soberano até um ponto que já considera excessivo, e exige a introdução do pluralismo na China ou em Cuba para aí poder favorecer livremente a acção dos seus agentes. O pluralismo é considerado um fetiche no sistema do Império mundializado e é a garantia de que, a longo prazo, os seus clientes, financiados, publicitados e legitimados pelos seus media e diplomatas, prevalecerão em todo o lado. Em 2024, há cinco países oficialmente socialistas no mundo, todos governados por um único partido, ou institucionalmente colocados no poder, o que é quase a mesma coisa. Isto não significa que estes países não sejam democracias. São-no: Cuba, Coreia do Norte, República Popular da China, Vietname e Laos. É claro que os meios de comunicação social e a massa de ovelhas que geram vos dirão que se trata de ditaduras. Não lhes levem a mal, foram doutrinados durante tanto tempo... mas evitem entrar nas suas polémicas, estarão a perder o vosso tempo, porque a longo prazo a doutrinação tem um efeito irreversível nos neurónios.
Fonte: Capitalisme, Socialisme, et Démocratie – les 7 du quebec
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
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