domingo, 12 de maio de 2024

Os Jogos Olímpicos de Paris serão óptimos!

 


 Maio 12, 2024  ROBERT GIL  

Pesquisa realizada por Robert Gil

O acontecimento desportivo do Verão serão os Jogos Olímpicos de Paris. Paris vibrará ao ritmo das façanhas desportivas dos atletas de todo o mundo e de todas as celebridades que vieram para ser vistas na capital francesa, que mobilizará uma média de 30.000 polícias e gendarmes por dia para a ocasião e 45.000 para a cerimónia de abertura. Cerca de 160 chefes de Estado e de Governo estarão presentes nesta cerimónia e cerca de 500.000 pessoas no total. Mas Paris 2024 também terá lugar nos subúrbios de Paris e na região de Île-de-France. As cidades de Bordéus, Lille, Lyon, Nantes, Nice e Saint-Étienne acolherão competições nos seus estádios, tal como Marselha, que também acolherá provas de vela. As provas de surf terão lugar na Polinésia, no Taiti. No que diz respeito às empresas de segurança privada, o Comité Organizador estimou que necessitará de uma média de 17 000 vigilantes por dia durante os Jogos, com picos que podem atingir os 22 000 por dia. O Comité Olímpico pediu aos seus prestadores de serviços que prevejam um aumento de recursos entre 10% e 30% para fazer face às faltas de última hora. As câmaras ditas "inteligentes", associadas a um software de tratamento de imagens, permitirão analisar automaticamente certas características das pessoas ou o seu comportamento.

A despesa pública total com a organização dos Jogos está estimada em 5,2 mil milhões de euros, num orçamento total de 11,8 mil milhões de euros, mas, num relatório publicado em Janeiro, o Tribunal de Contas declarou que "esta apresentação, que mistura despesas públicas e privadas de vários tipos, baseia-se em perímetros contratuais que mudaram e que, de qualquer modo, não são representativos de todas as despesas efectivamente incorridas. Nesta fase, o Tribunal não está em condições de determinar o custo real dos Jogos e o seu impacto total nas finanças públicas. Uma parte desse impacto só será conhecida após o evento”. Em suma, a situação é totalmente incerta e, no fim de contas, voltamos a um princípio essencial do capitalismo: a socialização das perdas e a privatização dos lucros. Os salários dos dirigentes de Paris 2024 também levantam questões, com salários anuais de 153.000 euros brutos para 13 directores, mais de 200.000 euros para 8 directores executivos e 260.000 euros para o diretor-geral. Os cinco salários mais elevados totalizam 2,2 milhões de euros. O presidente do comité organizador, Tony Estanguet, está a ser alvo de uma investigação sobre a sua remuneração. Os Jogos Olímpicos são uma questão de muito dinheiro e toda a gente está a comer da gamela!

Paris vai apresentar uma imagem limpa e virtual e, para isso, como em todos os grandes eventos, a cidade foi limpa dos seus pobres, sem-abrigo e mendigos - nada deve manchar a festa! Alguns políticos e líderes comunitários receiam que os proprietários despejem os seus inquilinos para colocarem as suas propriedades numa plataforma do tipo Airbnb e as alugarem a preços mais elevados durante os Jogos Olímpicos. Mas há uma categoria de pessoas de que este tipo de evento não pode prescindir: os voluntários! Está a ser redescoberto outro dos grandes princípios do capitalismo: pôr as pessoas a trabalhar pagando-lhes o mínimo possível... e, neste caso, de graça! Os polícias receberão bónus de 500 a 1500 euros durante os jogos, mas esta é uma categoria a mimar, pois serve de muleta ao regime de Macron, caso a sua autoridade seja posta em causa. Sim, 45 000 voluntários serão mobilizados para ajudar na organização, 45 000 voluntários que não serão pagos, nem terão alojamento, terão de se desenrascar sozinhos. A Câmara Municipal de Paris não vai atribuir uma casa aos voluntários que vierem ajudar nos Jogos Olímpicos de 2024. A cerimónia de abertura custará 166 milhões de euros! O dinheiro existe, mas, como sempre, não é para todos...

O espetáculo vai continuar, milhares de atletas vão-se cruzar, alguns perto do amadorismo que vão cair no esquecimento, outros multimilionários que vão aproveitar para vender melhor a sua imagem com vista a futuros contratos mais lucrativos. As multinacionais anunciam, negoceiam contratos e discutem "honorários" e "comissões" nos salões silenciosos das zonas VIP. Enquanto esta pequena classe faz negócios, dezenas de milhares de voluntários trabalham nos bastidores. Ser capaz de gerir o sistema, com mãozinhas que não têm de pagar, fazendo com que as pessoas trabalhem de graça, é a fase final do capitalismo. Talvez, num futuro próximo, seja preciso pagar para ser voluntário - não se pode parar o progresso, o capitalismo pode sempre melhorar... a organização dos Jogos Olímpicos com os seus voluntários poderia servir de reflexão para os directores executivos do CAC40!

No mundo do desporto, das artes ou da indústria, são necessárias pequenas mãos para manter "a máquina" a funcionar. Estas pequenas mãos são indispensáveis, sem elas nada seria possível, e no entanto são escondidas, minimizadas, desvalorizadas e muitas vezes desprezadas. Acima de tudo, não se deve fazer-lhes ver que são a espinha dorsal do sistema. Durante o Covid, vimos claramente quem era indispensável, e não eram os accionistas do CAC40! Por isso, não há justificação para as disparidades de rendimentos a que assistimos, pois não seriam mais do que suficientes variações de 1 para 3 ou de 1 para 5? Durante os Jogos Olímpicos de Londres, lembro-me da declaração de um representante do governo britânico: "Os jovens gostam de fazer voluntariado, os Jogos Olímpicos são um sucesso e mostram que para chegar lá é preciso trabalhar muito". Ámen a esta afirmação!

REF

Nouvelobs, 19/03/2024: "A l'approche des JO, de plus en plus de locataires congués dans des conditions frauduleuses" (Na véspera dos Jogos Olímpicos, cada vez mais inquilinos estão a ser despejados em condições fraudulentas)

Ouest France, 29/03/2024: "ENTREVISTA. Jogos Olímpicos de 2024: "Quando vi os salários da direcção de Paris 2024, fiquei chocado"

 

Fonte: Les J.O. de Paris ce sera super bien! – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice




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