3 de março de 2022 Oeil de faucon
Aqui estão duas declarações sobre os
acontecimentos de guerra que ocorrem na Ucrânia. O primeiro vem do grupo
libertário comunista "Class War" e o segundo de Matériaux Critiques
(neo Bordiguiste). Estamos plenamente de acordo com estas declarações.
G.Bad
Proletários na Rússia e na Ucrânia! Na frente de produção e na frente
militar... Camaradas!
Mais uma vez, os sons das botas ressoam alto na
Europa, limpam-se as armas, os bombardeiros estão cheios de bombons assassinos,
os mísseis lançam as suas pontas nucleares sobre os seus objectivos futuros.
Estas palavras que escrevemos em 2014 são mais
relevantes do que nunca sobre o conflito entre a Rússia e a Ucrânia. Se o
capitalismo é visceralmente o culpado da miséria, do clima e das crises sanitárias,
quase "esquecemos" que era e continua a ser, sem dúvida, um provocador
de guerras!!! Hoje, a ofensiva militar está lançada: há relatos de atentados em
Donbass, Odessa, Kiev, Mariupol, Kharkov...
Proletários de uniforme russo. Durante anos, foram
enviados para todo o mundo para proteger os interesses da "nação
russa". Começou com a "defesa da integridade territorial da
Rússia" contra os separatistas do Norte do Cáucaso, prosseguiu com a
"protecção dos ossénios na Geórgia", culminando na "protecção
dos irmãos e irmãs russos contra as hordas de Bandera na Ucrânia" e do
"governo legítimo da Síria, contra os terroristas islâmicos".
A mesma história tem sido contada a gerações de proletários, a "soldados" e a "civis", em todos os conflitos capitalistas anteriores em todo o mundo, para que possam ser sangrados na frente militar ou nas fábricas na rectaguarda, na frente da produção, na frente interna... Lutaram pelo "czar" ou pelo "Socialismo", ou pela"Nação" ou por "Democracia" ou "Lebensraum" (espaço vital) ou pelo "Cristianismo" ou pelo "Islão". E o mesmo conto de fadas é contado aos proletários uniformizados dos Estados Unidos, Turquia, Reino Unido, Israel, Ucrânia, Síria sob o controlo de Assad, Daesh, Rojava, Geórgia, Donetsk e Luhansk, Irão, regiões geridas pelo Hezbollah, Hamas... e qualquer outra falsa comunidade nacional, regional, religiosa ou outra.
Proletários em uniforme ucraniano. A vossa própria burguesia faz com que vocês acreditem
que tem uma pátria em comum para defender contra o “agressor russo”, e que vocês
devem unir como um só corpo aos vossos próprios exploradores e exigir a adesão
à União Européia ou à OTAN. Mas como todos os proletários em todos os lugares,
vocês tem apenasas vossas correntes correntes de escravos assalariados a
perder.
Proletários na frente doméstica. Novamente, vocês são instruídos a sacrificarem-se, a serem "mais produtivos", a serem "mais flexíveis", a "adiarem" o atendimento das vossas necessidades imediatas (até ao ponto de ficarem com fome em vez de comer "a comida produzida pelo inimigo" ), etc Tudo isso para o bem maior da Nação. Dizem-lhes para apoiarem esta ou aquela “Guerra Santa” sem discussão, para não pensarem mais em greves ou interromperem a produção de materiais de guerra, para enviar os vossos filhos, irmãos, maridos e pais de bom grado para se tornarem mártires em benefício dos vossos mestres burgueses .
O capital e o seu estado sempre encontraram uma maneira de transformar os proletários em carne para canhão e empurrá-los para se matarem uns aos outros sob a bandeira disto ou daquela "pátria" ávida do vosso sangue. Como se nós, o proletariado, a classe explorada, tivéssemos algum tipo de país para defender. Como se os "interesses nacionais" não representassem apenas os interesses da classe dominante. A guerra e a pressa que se seguiu à reconstrucção não passam de uma forma concreta de competição entre as diferentes facções capitalistas.
É a expressão da sua necessidade de expandir o seu mercado a fim de compensar a queda da taxa de lucro. Ao mesmo tempo, a guerra serve para dividir a nossa classe de acordo com critérios nacionais, regionais, religiosos, políticos, etc. para suprimir a luta de classes e quebrar a solidariedade internacional do proletariado. Em última análise, a guerra serve para se livrar fisicamente do excesso de poder de trabalho. Por outras palavras, serve para nos massacrar, para nos eliminar...
Soldados "russos", estão estacionados na
Síria ou na Ucrânia para matar e ser mortos por pessoas que, como vocês e os
vossos parentes em casa, são obrigadas a vender o seu poder de trabalho ao
Capital para sobreviverem, pessoas que fazem parte da mesma classe explorada
que vocês, pessoas que são os vossos irmãos e irmãs proletários do "outro
lado". Todas estas aventuras militares, exercícios e corridas de armas começam
a paralisar a capacidade do capital de apaziguar o proletariado atirando
migalhas do banquete da burguesia.
O capitalismo só nos pode trazer exploração, miséria,
alienação, guerra e destruição, como sempre fez. O proletariado mundial está
numa encruzilhada: ou se ergue contra o capitalismo ou cai no maior triturador
de carne humana da história. Em todo o mundo, eclodiram conflitos militares
mais ou menos abertos e eclodiram confrontos entre diferentes facções
burguesas. As alianças e as contra-alianças formam-se e quebram-se, com uma
centralização cada vez mais evidente em alguns super-blocos. A Ucrânia está no
centro de tudo isto e a guerra ameaça escalar para um conflito mundial, que
corre o risco de acabar com toda a vida neste planeta.
Tal como no Irão, no Iraque, no Chile, no Líbano, na
Colômbia e no Cazaquistão muito recentemente, a única alternativa do
proletariado na Rússia e na Ucrânia é intensificar o confronto com o Estado e
atacar directamente as suas instituições e expropriar os bens e meios de
produção. Não vamos apenas protestar nas ruas, mas alargar e generalizar as
greves e desenvolver a luta de classes na frente da produção! Transformemos a
luta dos familiares dos soldados, que no passado demonstraram repetidas
posições anti-guerra, numa luta derrotistaa e revolucionária generalizada, sem
os limites de qualquer ideologia legalista!
Derrotismo revolucionário significa a organização de qualquer
acção destinada a minar a moral das tropas, bem como impedir o envio de
proletários para abate...
Derrotismo revolucionário significa a organização da
deserção mais massiva possível e a cessação das hostilidades entre os
proletários sob o uniforme de ambos os lados da frente de guerra, o que
significa a transformação da guerra entre os proletários numa guerra entre as
classes, isto é, guerra de classes, guerra nos centros das superpotências de
guerra...
O derrotismo revolucionário significa o incentivo à
confraternização, ao motim, à viragem das armas contra os organizadores do
carnifícinio da guerra, ou seja, "a nossa" burguesia e os seus
lacaios...
O derrotismo revolucionário significa a acção mais
determinada e ofensiva para transformar a guerra imperialista numa guerra
revolucionária pela abolição desta sociedade de classes, miséria e guerra, para
o comunismo...
Vós, "soldados russos" e "soldados ucranianos", proletários nos exércitos das burguesias russas e ucranianas, não têm outra alternativa (se querem viver em vez de continuar a sobreviver, ou mesmo morrer nos próximos campos de horror!) do que recusarem-se a servir mais uma vez como executores das obras sujas do capital! Como muitos dos vossos antecessores durante a guerra na Chechénia, vamos quebrar fileiras e parar os combates! Tal como os soldados do "Exército Vermelho" no Afeganistão ou os soldados americanos no Vietname, podem encontrar os vossos próprios oficiais! Tal como os proletários, com ou sem uniformes durante a Primeira Guerra Mundial, vamos amotinar-nos e erguer-nos juntos e transformar a guerra capitalista mundial numa guerra civil pela revolução comunista!
É claro que não queremos limitar-nos a abordar apenas
os proletários com uniforme russo ou ucraniano, mas também os nossos irmãos e
irmãs de classe em luta por todo o mundo e convidamo-los a continuar e
desenvolver os já existentes exemplos de derrotismo, como os soldados no Irão
que expressaram a sua recusa em ser usados na repressão contra os nossos
movimentos de classe em 2018, a polícia e os milicianos no Iraque que fizeram o
mesmo alguns meses depois durante os motins que assolaram metade do país, de
Basra a Bagdade, bem como a polícia e militares no Cazaquistão, no início deste
ano, que se recusaram a suprimir a revolta proletária, forçando assim o
gendarme russo a intervir para restaurar a ordem capitalista...
Proletários com e sem uniformes, organizemo-nos em
conjunto contra o sistema capitalista de exploração do trabalho humano que está
na origem de toda a miséria, de toda a opressão do Estado e de todas as
guerras!
Proletários, nunca esqueçam, nunca, que foram os
nossos irmãos e irmãs da época que pararam a Primeira Guerra Mundial desertando
massivamente, e amotinando-se colectivamente, fazendo a revolução social !!!
Abaixo os exploradores! De Moscovo a Teerão via
Pequim, Washington e Kiev, e o mundo inteiro!
Contra o nacionalismo, o sectarismo, o militarismo,
opomo-nos à solidariedade proletária internacional e internacionalista!
Transformemos esta guerra numa guerra de classes para a revolução comunista
mundial!
By Class War – 24 de Fevereiro de 2022
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Nem ucraniano nem
russo! – Vamos desenvolver o nosso próprio campo, o terceiro campo, o da
revolução social! https://queonossosilencionaomateinocentes.blogspot.com/2022/03/a-invasao-da-ucrania-e-os-trabalhadores.html
Declaração de Matérias Críticas: A Guerra Capitalista é sempre contra o
Proletariado
As catástrofes capitalistas seguem-se e aceleram, revelando assim a corrida do capital global para o abismo. Palavras e pretextos são típicos de guerras capitalistas de todos os lados, mistificam, mentem, enganam e surpreendem o inimigo.
Assim, do lado russo,
reusaram a ideologia "anti-fascista" e a defesa das
"suas" populações para
justificar a sua intervenção militar e do lado ucraniano estão as "alegrias" da "democracia e liberdade" para trabalhar
(e consumir) que são apresentadas. Mas em ambos os campos estão os nacionalismos
que estão a desenvolver-se e as facções fascistas que estão a agir
simetricamente. A ameaça nuclear é brandida e todos os "Médicos Strangelove" apressam-se a rearmar-se.
As posições clássicas
do internacionalismo proletário não são negociáveis nem ponderadas de acordo
com os conceitos burgueses de "agressores e agredidos" sempre
avançados em todas as guerras capitalistas. Putin pode, como ele o faz,
justificar-se apresentando a Rússia como vítima do colapso do bloco soviético,
do desaparecimento do império czarista e estalinista e dos avanços da NATO. Mas
é sobretudo uma reconfiguração geral das várias alianças e blocos
"imperialistas", inerentes a toda o capital nacional. Os EUA
têm de retomar do seu ponto de vista a sua posição de liderança mundial face à
aliança que está a emergir entre a Rússia e a China, preparando-se para novas
guerras prováveis na Ásia (Taiwan).
No contexto da crise sanitária,
há uma crise económica e energética, em que todos os poderes, e por maioria de
razão aqueles mais encurralados, são obrigados a fortalecer-se militarmente e a
fortalecer os seus discursos
"ofensivos ou defensivos" mas sempre nacionalistas. Os assassinos estão
de ambos os lados; Pensemos na Turquia e nos seus genocídios, que hoje,
oportunamente, está no campo "democrático", como ontem, em 1941-1945, estava
a Rússia estalinista.
Estas questões "geoestratégicas" são inerentes
às contradições e apetites competitivos do capitalismo e de cada um dos seus Estados.
A apatia e a anomia (desorganização) proletária são gerais, assim como o
desinteresse e/ou o medo egoísta na maioria dos segmentos das classes sociais
europeias. Isto, sem, infelizmente, fazer qualquer ligação entre estas
realidades de degradação salarial e a guerra que, com a pandemia, são para o
capital uma possível saída, justificando por isso, as abissais dívidas do
Estado, as políticas de austeridade que virão (mas já iniciadas graças à inflacção)
e o renascimento generalizado do "populismo nacional". A união nacional foi assim
reforçada no início graças à guerra, mas não durou para sempre.
As realidades da
sobrevivência diária, e das mortes que começam a acumular-se, talvez na Rússia,
pois, mais difícil, na Ucrânia eclodem movimentos anti-guerra, possíveis prelúdios
de ataques, deserções, confraternizações e uma luta contra o verdadeiro inimigo
em cada país: a
sua própria burguesia.
São estas posições
características do derrotismo
revolucionário que os marxistas internacionalistas em todo o mundo devem recordar, e
apoiar sem ambiguidades ou "reservas"; mesmo que a sua realização possa
revelar-se muito improvável. O capitalismo na América ou na Europa não é menos
criminogénico do que o da Rússia ou da China; as suas bombas atómicas não são
mais ou menos
"democráticas". Em todos os casos, as principais vítimas directas (mortas e
feridas) ou indirectas (refugiados, deslocados, etc.) são proletários. Estes
sofrem as consequências das guerras, militares, mas também económicas e
sociais, raramente são os governantes ou as classes dominantes que sofrem as
dificuldades devido às conflagrações, pelo contrário, são os primeiros a
enriquecerem com estes conflitos.
O capitalismo é sempre uma guerra contra o proletariado. Matérias Críticas: 1 de Março de 2022
Fonte: DECLARATIONS INTERNATIONALISTES CONTRE LA GUERRE CAPITALISTE – les 7 du quebec
Este artigo
foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice
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