14 de Março de
2022 Robert Bibeau
By Karine
Bechet-Golovko – 6 de Março de 2022 - Política da Rússia (Russie politics)
Nos últimos dias, assistimos a uma
avalanche de sanções sobre a Rússia, expulsando a equipa paralímpica russa,
banindo os gatos russos das competições, exigindo a saída de lojas estrangeiras
do mercado russo, etc. Mas, acima de tudo, são os órgãos da governação mundial,
que têm a tentação da regionalização, o poder atlântico não pode aceitar ser
ignorado, rejeitado. Se pudesse haver vida fora da mundialização, os países
dominados poderiam acabar por pensar nisso. Isto explica este nível de raiva e
ódio sem precedentes contra a Rússia por parte das elites no poder atlantista.
Porque é de facto raiva e ódio que realmente se trata. Face ao risco de um
regresso à regionalização.
Quando lês as
notícias, ouves que as marcas de luxo estão a abandonar o mercado russo. Ontem,
ao ir a um centro comercial, vi a maioria das lojas de roupa estrangeiras
fechadas. A IBM e a Microsoft têm de isolar a Rússia. Não sou economista, mas
parece-me que estas empresas privadas precisam de obter lucros para existirem e
sair à força do mercado russo priva-os de uma parte dos lucros – a menos que os
Estados ocidentais planeiem compensar as perdas. Podemos ver, em todo o caso,
que o liberalismo e o mito da não-politização da economia entraram em
colapso. Este
é objectivamente o fim da mundialização económica.
Os mercados
financeiros ocidentais estão a fechar-se para a Rússia, os investimentos já não
podem cruzar-se, a Visa e a Mastercard já não asseguram transacções, a SWIFT
está a barricar-se gradualmente. A mundialização financeira acaba de cair.
Federações
desportivas, federações científicas e até médicas rejeitam as federações
russas. As estrelas ou maestros russos no Ocidente têm de fazer uma declaração
pública contra o seu país, a Rússia, e contra Putin pessoalmente para se
manterem no cargo – eles recusam-se. Os clássicos russos são removidos dos programas –
porque são russos. Os estudantes estão a ser expulsos das universidades europeias, não por
causa dos seus resultados, mas pela sua nacionalidade. O fanatismo transporta
mediocridade, apoia a desumanidade. A cooperação internacional, um elemento essencial da mundialização
cultural, também entrou em colapso diante dos nossos olhos.
Todas estas medidas
são uma faca de dois gumes: ao excluir a Rússia desta mundialização, o mundo
atlantista está a encolher e a pôr em causa a base da sua existência – a
globalidade. Um modo de vida para todos, o mesmo código, a mesma visão. Até
Hollywood cai na armadilha e suspende as suas estreias na Rússia. A máquina de
propaganda americana corta o ramo onde se senta. A porta para a desintoxicação de mentes
e sociedades está aberta.
São mesmo os órgãos de
governação mundial que são afectados. Recordaremos o Conselho da Europa que, num
movimento furioso após o lançamento da operação russa na Ucrânia, quis excluir
a Rússia, e depois retomou a memória de que a sua razão de ser desaparece sem a
Rússia. Alguns pedem a
exclusão da Rússia da OMS – o que seria uma saída para a fúria
covidia, a que algumas elites russas mundialistas ainda se agarram,
desesperadas para ver uma saída de poder tão mal conseguida tão rapidamente.
Outros estão a esforçar-se para tirar a Rússia do Conselho de Segurança das
Nações Unidas, esquecendo-se um pouco rapidamente que a Rússia, legalmente uma
continuação da URSS na cena internacional, é um membro fundador da ONU e pagou
com a vida de mais de 25 milhões de soviéticos o direito de bloquear decisões mundiais
com um veto. Agora, os Estados Unidos estão a discutir a saída da Rússia da OMC, uma organização na
qual a Rússia entrou tarde e à custa de concessões pesadas. Que a sua voz seja
ouvida! Sem
a Rússia, estes organismos já não são mundiais, tornam-se regionais. Assim, o
mundo unipolar reivindicado pelos Atlantistas voltaria ao nada.
A reacção sem
precedentes do Ocidente à Rússia assemelha-se à de uma mulher repudiada, que
prefere o suicídio à vergonha de ser publicamente rejeitada. Com efeito, como é
que o Ocidente mundializado pode ser negado, quando estava prestes a ganhar –
pensou - com a mais recente salva Covidiana, que deveria esmagar as sociedades,
a sua economia e domesticar a governação nacional? Este
mundo mundial joga o tudo por nada, porque ao decidir ignorar as
sanções, aceitando-as como um dado do jogo, a Rússia está a caminho, se
mantiver até ao fim, de dar a este mundo "global" a sua verdadeira
dimensão – regional – e a sua verdadeira face, a de uma colonização.
Karine Bechet-Golovko
Fonte: Sanctions contre la Russie : la globalisation préfère le suicide à la répudiation – les 7 du quebec
Este artigo
foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice
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