terça-feira, 8 de março de 2022

Nasrallah: Na Ucrânia, o imperialismo americano ameaça a paz mundial

 


 8 de Março de 2022  Robert Bibeau  


Por Hassan Nasrallah. Tradução O Grito dos Povos (Le Cri des Peuples).


Nasrallah: Na Ucrânia, o imperialismo americano ameaça a paz mundial

Discurso do secretário-geral do Hezbollah, Sayed Hassan Nasrallah, a 1 de Março de 2022.

Fonte: video.moqawama.org. Fonte Secundáriaamericano ameaça a paz mundial – A Voz da Síria

Transcricção:

[...] Deixe-me dedicar os poucos minutos que me restam às notícias (na Ucrânia), porque não posso deixar de falar sobre isso, embora faça alguns comentários rápidos neste momento.

O que se passa hoje na batalha entre a Rússia e a Ucrânia é de (grande) preocupação para todo o mundo. É já evidente que o impacto e as repercussões destes acontecimentos são consideráveis e perigosos para o mundo, especialmente para a Rússia e para a Europa. Não sabemos como vai a situação ou até onde as coisas irão. Há sérios receios entre alguns de que tudo isto vá além de um conflito russo-europeu, a uma terceira guerra mundial, Deus nos livre. De qualquer forma, o que acontece é muito perigoso, e tudo é possível.

Independentemente da posição que qualquer um pode assumir em relação à batalha que ali se está a travar: alguns apoiam a Rússia, outros opõem-se à sua intervenção, outros mantêm-se neutros, mas não vou abordar esta questão agora , quero fazer um apelo, que muitas pessoas já estão a fazer, mas quero acrescentar a minha voz: Apelo a (todos) que acompanhem (de perto) este grande evento internacional, tanto nos seus desenvolvimentos como nas suas implicações e consequências, e que aprendam com o que acontece todos os dias e todas as horas. Porque os acontecimentos que se desenrolam estão cheios de lições e ensinamentos sobre os quais nós, habitantes desta região, deste país, podemos e até devemos basear-nos, nas nossas lutas e no que se passa em casa, tanto para o nosso presente como para o nosso futuro.

Vou citar apenas alguns exemplos (lições a aprender). Em primeiro lugar, um desses exemplos que é mencionado por muitas pessoas, graças a Deus, muitas pessoas são lúcidas, são os dois pesos e duas medidas. O dois pesos e duas medidas. A Rússia interveio na Ucrânia e conduziu uma grande operação militar, uma guerra. E vemos (com que indignação) o mundo inteiro reagiu. Claro que há o receio de que os países europeus entrem em guerra com a Rússia, que os Estados Unidos vão para a guerra com a Rússia, mas para além de lutarem directamente (Rússia), fizeram tudo o que podiam fazer (para punir a Rússia): o bloqueio, as sanções, seja para os meios de comunicação social, a economia, os bancos, o encerramento do espaço aéreo, estreitos, mares, portos, enviando armas para a Ucrânia, abrindo portas a voluntários de todo o mundo para irem (lutar) lá, apoiando a Ucrânia, glorificando a chamada "Resistência Ucraniana"... Pode ver como o mundo se comporta.

Prefiro este, está mais em consonância com a realidade mostrando o abismo que o separa das falsificações político-mediáticas... pic.twitter.com/ZH4xYPyjHm

No que respeita aos dois pesos duas medidas, quando os Estados Unidos invadiram o Afeganistão, como é que o mundo reagiu aos americanos? Sabe a resposta. Quando os EUA invadiram o Iraque, e na verdade (completamente) o destruíram, matando centenas de milhares de pessoas, tal como assolou o Afeganistão e matou dezenas de milhares de pessoas, no mínimo, como é que o mundo se comportou com os EUA? E em todas as guerras desencadeadas pelos Estados Unidos, que constituem a maioria das guerras que ocorreram no mundo, como reagiu o mundo? E como se comporta agora (contra a Rússia)? Como se comporta com o inimigo israelita, esta entidade temporária, face às suas guerras passadas e presentes contra os palestinianos, às suas guerras e ao seu bloqueio contra Gaza, durante a recente batalha da "Espada de Al-Quds" (em Maio de 2021)? Ou nas guerras israelitas contra o Líbano, os massacres que ali foram perpetrados, a guerra de 33 dias em Julho de 2006... Como se comportou o mundo? E como se está a comportar actualmente (face à intervenção russa na Ucrânia)? E a guerra contra o Iémen, que dura há 7 anos e está a entrar no seu 8º ano? Anos de bombardeamentos, massacres, destruição, crianças (mortas às centenas), epidemias, bloqueios, fome, etc. Como é que o mundo se comporta perante isto? Este ponto é claro (dois pesos duas medidas).

Imaginamos quais seriam as vossas reportagens do Iémen (500.000 mortos, fome bíblica, durante 7 anos)...

Ah, mas não, são nossos queridos amigos sauditas que estão a massacrar com as nossas bombas, mexam-se, não há a fazer.https://t.co/e2MYTDDoQk pic.twitter.com/i1oe1p8Nob

 

Temos, portanto, de nos basear nesta realidade para compreender as coisas. Estamos num mundo que só respeita os poderosos. Os Estados Unidos, por serem poderosos, arrogantes, hegemónicos, segurando pelo pescoço muitos (países e governos que lhe são escravizados), podem cometer todas as (agressões e) injustiças sem que o mundo proteste. Um dos mais recentes actos de opressão cometidos pelos Estados Unidos foi a apreensão de 7 mil milhões de dólares do banco central afegão em depósito nos Estados Unidos. Numa das assinaturas, Biden agarrou metade desse dinheiro para dar às vítimas dos ataques de 11 de Setembro — quando o povo afegão não tem nada a ver com isso, por isso esta decisão é totalmente injustificada — e decidirá o que fará com os restantes 3,5 mil milhões de dólares para o Afeganistão. Com o golpe de uma caneta, roubou 3.500 milhões de dólares ao povo afegão que hoje sofre de fome, frio e necessidades (básicas).

Será que alguém no mundo abriu a boca (para condenar este acto)? É um roubo puro e simples, não poderia ser mais flagrante. Ninguém se atreveu a abrir a boca! Enquanto que se fosse outro Estado que tivesse feito muito menos do que isso, o mundo inteiro teria ficado indignado e virado contra ele — o mundo teria feito frente a este país, e não se teria sentado (tão cedo).

Entre as lições a serem aprendidas com esses eventos está ver o destino reservado para aqueles que depõem as suas armas, entregando-as a outros [referência ao abandono em 1994 pela Ucrânia do seu arsenal nuclear herdado da URSS, e/ou os incessantes apelos para desarmar o Hezbollah] e contando com as garantias dadas por tal ou qual poder para garantir a sua segurança. Então, quando a guerra estourar, tudo o que eles precisam fazer é pedir ajuda, pedir armas e apoio. 

Putin Temos de continuar a exigir que deixe de colocar o seu país muito perto das bases militares da NATOpic.twitter.com/oiEqqsNSy8

Mas uma das lições mais importantes a retirar dos acontecimentos de hoje é a responsabilidade dos Estados Unidos por estes acontecimentos, confirmada por Sua Excelência Imam Khamenei pouco antes da minha intervenção num discurso televisivo. Os responsáveis pelos acontecimentos actuais na Ucrânia são os Estados Unidos. Os Estados Unidos incitaram e empurraram as coisas nesse sentido, e nunca trabalharam no sentido de uma resolução política e diplomática desta crise, que não é (em caso algum) uma crise entre a Rússia e a Ucrânia. É uma crise entre a Rússia e a Europa, entre a Rússia e os Estados Unidos, entre a Rússia e a NATO. Os Estados Unidos nada fizeram para nos impedir de chegar a este ponto, muito pelo contrário: fez tudo para lá chegar, para que as coisas avançassem para a guerra.

E, no final, aqueles que pagarão o preço são a Ucrânia e o povo ucraniano, a Rússia e o povo russo, e a Europa se nos expandirmos um pouco, enquanto os Estados Unidos permanecem calmamente muito longe, observando a situação, incitando (escalada), enviando armas, prevenindo resoluções (pacíficas) do conflito e das negociações, definir condições, piorar as coisas, e empurrar a situação naquela direcção. Todos vão perder, mas os Estados Unidos estão a tentar ser os vencedores desta batalha, e isto enquanto o mundo inteiro está em (grande) perigo. Os Estados Unidos incitaram e empurraram (a Ucrânia) para esta guerra, mas agora está a abandoná-la, não fazendo mais nada por ela do que rezar: Biden chamou a rezar pela Ucrânia, vai enviar algumas armas, impor algumas sanções, na esperança de que Deus providencie o resto, e depois veremos.

É também uma lição para todos, especialmente para aqueles que confiam nos Estados Unidos, que colocam as suas esperanças em si mesmos, que confiam neles. Todos temos de saber que a actual crise, as suas dificuldades e os perigos que representa para todo o mundo, são sobretudo os Estados Unidos que assumem a responsabilidade, (a que nos referimos como) o Grande Satanás. Isto deve estar claramente presente na nossa mente e na nossa posição. [...]

 

Fonte: Nasrallah : en Ukraine, l’impérialisme américain menace la paix mondiale – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice




 

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