18 de Agosto de 2022 Robert Bibeau
Thierry Meyssan
Revivendo as estratégias da Alemanha durante a Primeira Guerra Mundial e os
Estados Unidos e os nacionalistas ucranianos durante a Guerra Fria, o Ocidente
acaba de criar um Fórum dos Povos Livres da Rússia. Trata-se de prolongar a
dissolução da URSS, de criar movimentos separatistas para, no final, proclamar
a independência de vinte regiões do país.
IMPÉRIO ALEMÃO DE GUILHERME II VS IMPÉRIO RUSSO DE NICOLAU II
No início do século XX, antes das guerras mundiais, a Europa Central era
profundamente instável. Duas potências entraram em confronto nesta grande planície:
no Ocidente, nos Impérios Alemão e Austro-Húngaro, no Oriente, o Império Russo.
As pessoas foram convidadas a escolher o seu protector, sabendo que as
fronteiras tinham sido mudadas muitas vezes e que nenhuma parecia definitiva.
No entanto, o Império Russo manteve-se preso durante vários séculos,
deixando os seus súbditos numa situação de completa ignorância e miséria,
enquanto o Império Alemão se tinha tornado o principal centro científico do
mundo e estava a desenvolver-se a alta velocidade. Assim, a maioria dos
intelectuais da Europa Central optou por apoiar a Alemanha e não a Rússia.
Durante a Primeira
Guerra Mundial, os Ministérios dos Negócios Estrangeiros alemão e
austro-húngaro lançaram uma operação secreta conjunta: a criação da Liga dos
Povos Estrangeiros da Rússia (Liga der Fremdvölker Rußlands – LFR) [1]. Recrutaram muitos intelectuais de alto
nível para o animar. Tratava-se de implodir o Império Russo dando origem a
movimentos separatistas. Esta Liga exortou os Estados Unidos (que só entraram
na guerra em 1917) a libertar os povos escravizados da Rússia.
Dmytro Dontsov, o
futuro fundador do "nacionalismo integral ucraniano" [2], apoiou este movimento e até se
tornou um assalariado do mesmo. Sem vergonha, dirigiu a filial de Berna e
editou o Boletim Mensal francês das Nacionalidades Russas.
A Liga Mundial para a Liberdade e a Democracia
realizou o seu último congresso anual em 22 de Janeiro de 2022, em Taiwan.
ESTADOS UNIDOS VS. UNIÃO SOVIÉTICA
Além disso, no final
da Segunda Guerra Mundial, a OSS, depois a CIA, organizou a transferência de
líderes anti-comunistas do Eixo para o Terceiro Mundo e reciclou-os em
diferentes governos. Criaram uma Liga Anti-Comunista dos Povos Asiáticos em
torno do Chinês Chiang Kai-shek, depois uma Liga Mundial Anti-Comunista (WACL),
com a reunião do antigo primeiro-ministro nacionalista ucraniano, o Nazi
Yaroslav Stetsko [3]. Esta organização secreta, ainda
sediada em Taiwan, tomou o nome de Liga Mundial para a Liberdade e Democracia
em 1990.
Não é por acaso que a guerra na Ucrânia é seguida por provocações em
Taiwan, mas sim pela extensão lógica desta estratégia. A Liga ainda é
financiada pela secreta taiwanesa e as suas acções estão cobertas pelo sigilo
da defesa.
Dmytro Yarosh, o actual conselheiro do comandante-em-chefe dos exércitos ucranianos, fundou a Frente Anti-Imperialista contra a Federação Russa com o Emir de Ichkeria.
NACIONALISTAS UCRANIANOS CONTRA A FEDERAÇÃO RUSSA
O nacionalista
ucraniano Dmytro Yarosh criou em Ternopol (Ucrânia Ocidental), em 2007 – ou
seja, sob a presidência de Viktor Yushchenko – uma "Frente
Anti-Imperialista", uma organização que visa explodir a Federação Russa.
Mas enquanto as tentativas dos anos 1910 se baseavam na atracção do Império
Alemão e das da Guerra Fria contra o anti-comunismo, esta terceira operação
apostou nos jiadistas [4].
O primeiro emir islâmico de Ichkeria (Chechénia), Dokou Umarov, deveria ter
participado, mas, procurado em todo o mundo, não conseguiu sair da Rússia.
Enviou uma mensagem de apoio e foi eleito co-presidente da organização. Os
jiadistas da Crimeia, Adygea, Daguestão, Ingushetia, Kabardino-Balkaria,
Karachayevo-Cherkessia e Ossétia mudaram-se.
Dmytro Yarosh e muitos nacionalistas ucranianos lutaram na Chechénia ao
lado do Emirado Islâmico de Ichkeria. Na altura, a imprensa ocidental falou de
um movimento de libertação nacional e ignorou a imposição da lei sharia por
Dokou Umarov.
O Fórum dos Povos Livres da Rússia emitiu este mapa do desmantelamento da Federação Russa.
O FÓRUM DOS POVOS LIVRES DA RÚSSIA
Hoje, onde as obras de
Dontsov são leitura obrigatória para os 120.000 soldados das milícias
nacionalistas integrais da Ucrânia e onde Dmytro Yarosh se tornou um
conselheiro do comandante-em-chefe dos exércitos ucranianos, um patrocinador
não identificado - provavelmente o BND alemão, a CIA americana , o MI6
britânico, o AW polonês, o VSB lituano e o SBU ucraniano — organizou em Praga,
nos dias 23 e 24 de Julho de 2022, um Fórum dos Povos Livres da Rússia (Free Nations of Russia) [5].
Parece que a SBU hesitou em participar e que esta foi uma das razões que
levou os Estados Unidos a recomendar ao Presidente Volodymyr Zelenskyy que
demitisse o seu director.
A expressão "Povos Livres" é semelhante à usada pelos
nacionalistas integrais ucranianos, incluindo o economista ucraniano Lev
Dobriansky. Fundou o Comité Nacional das Nações Em Cativeiro com
o Presidente Dwight Eisenhower e Yaroslav Stetsko, e depois ajudou a fundar a
Liga Mundial Anti-Comunista. A sua filha, Paula Dobriansky, desempenhou um
papel central no aparelho de propaganda do Secretário de Estado e da agência
noticiosa Thomson Reuters. Foi Sub-secretário de Estado para os Assuntos Mundiais
durante a presidência de George W. Bush. O Presidente Donald Trump opôs-se à
sua nomeação como Secretário de Estado dos Assuntos Políticos.
O Fórum dos Povos Livres da Rússia usa o argumento
da auto-determinação dos povos para justificar uma divisão da Rússia. Após a
sua dissolução, a URSS libertou quinze estados separados, incluindo a Federação
Russa. A ideia é alargar esta partição, desta vez criando cerca de vinte
Estados adicionais. Não se trataria apenas de criar novos Estados no Cáucaso,
mas também de alterar completamente o mapa da Sibéria, ou seja, as marchas da
China.
No entanto, se existe um verdadeiro problema de desenvolvimento em algumas
regiões da Rússia, está a ser resolvido com a criação de novas vias de
comunicação, primeiro leste-oeste, depois nos últimos dez anos, Norte-Sul. Os
povos que os serviços secretos ocidentais desejam "libertar" nunca
expressaram a sua vontade de abandonar a Federação Russa, à excepção da
Chechénia, que está agora em paz.
Aqui, mais uma vez, não é por acaso que o exército russo destaca, na sua
operação militar especial contra os "nazis" ucranianos no Donbass
[prefiro a expressão "nacionalistas integrais ucranianos"], o lugar
das suas unidades chechenas. É uma forma de ela se lembrar que satisfez as
exigências da Chechénia após duas guerras terríveis. Da mesma forma, o
Presidente da República da Chechénia, Ramzan Kadyrov, apela ao seu povo para
que se vingue dos abusos cometidos no seu país pelos nacionalistas integrais
ucranianos.
Em 15 de Agosto de 2022, o Presidente Vladimir Putin, que está atento a
esta estratégia ocidental, anunciou a convocação de uma conferência global
anti-nazi em Moscovo.
[1] Liga
der Fremdvölker Russlands 1916-1918. Ein Beitrag zu Deutschlands antirussischem
Propagandakrieg unter den Fremdvölkern Russlands im Ersten Weltkrieg, Seppo Zetterberg,
Akateeminen Kirjakauppa (1978).
[2] Em artigos anteriores, usei o termo
"nazi" para descrever esta corrente de pensamento. No entanto, este
termo é inadequado, na medida em que são duas ideologias distintas. Depois usei
o termo "banderistas". Mas não é mais apropriado, na medida em que se
refere ao contexto da Segunda Guerra Mundial. Por isso, uso agora a expressão
"nacionalistas integrais" que aqueles que se reclamam dele
reivindicam. Refere-se aos escritos do francês Charles Maurras e especialmente
aos do ucraniano Dmytro Dontsov. No entanto, o primeiro era germanofóbico,
enquanto o segundo era germanófilo.
[3] "La Ligue anti-communiste mondiale, une
internationale du crime", Thierry
Meyssan, Rede Voltaire, 12 de Maio de 2004.
[4] "A CIA coordena nazis e
jihadistas", Thierry Meyssan, Al-Watan (Síria), Rede
Voltaire, 19 de Maio de 2014.
[5] "Declaração adoptada pelo
Segundo Fórum dos Povos Livres da Rússia", Rede
Voltaire, 24 de Julho de 2022.
Consultor político, presidente e fundador da Rede Voltaire. Último livro em francês: Sous nos yeux – Du 11-Septembre à Donald Trump (2017).
A estratégia ocidental para desmantelar a Federação Russa
Os franceses precisam de falar uns com os outros.
A agonia do Ocidente
A sabotagem da paz na Europa
A ideologia dos banderistas ucranianos
Os planos da NATO contra a Rússia passam pela Bielorrússia (Lukashenko)
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Fonte: La stratégie occidentale pour démanteler la Fédération de Russie – les 7 du quebec
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
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