sábado, 13 de agosto de 2022

Os ventos da guerra regional sopram sobre o Médio Oriente

 


 13 de Agosto de 2022  Robert Bibeau 

Por Alastair Crooke (revisão de imprensa: International Network – 10/8/22)*

Este dilema para Israel esteve precisamente no centro das discussões durante a visita de Biden a Israel. Israel insistiu para que Biden trace uma "linha vermelha" para o Irão: ou seja, aceitar uma solução diplomática com Teerão dentro de um prazo definido, ou enfrentar uma guerra contra os Estados Unidos. Biden pôs-se na alheta.

Sayyed Hassan Nasrallah advertiu – explicitamente – que se os direitos de exploração da ZEE marítima do Líbano em relação a Israel não fossem resolvidos, iria para a guerra. Até fixou um prazo: Setembro. Em apenas um mês. Neste contexto, há um precedente potencialmente explosivo: a situação dos campos libaneses disputados (Karish e Qana) faz lembrar os campos de gás roubados na Faixa de Gaza, na Palestina. A olho nu, os gazans só podem ver as plataformas de perfuração de gás israelitas operarem a poucos quilómetros da sua própria costa, ganhando-lhes apenas uma percentagem escassa do valor extraído.

O Hezbollah está determinado a que os activos energéticos do Líbano não sofrerão o mesmo destino.

Para remexer a faca na ferida, no dia 15 de Junho, foi assinado um memorando de entendimento para exportar este mesmo gás palestiniano offshore para a UE, que, como todos sabem, está simplesmente desesperada por gás após o seu erro estratégico de se juntar a Washington na sanção à Rússia. Em troca, a UE pagaria à Autoridade Palestiniana apenas 4% do valor. (No entanto, a UE acaba de anunciar à Autoridade Palestiniana um novo programa de ajuda, no valor de 224,8 milhões de euros.)

A posição de Sayyed Nasrallah sobre a exploração de Israel do depósito de Karish em águas disputadas libanesas, no entanto, poderia levar a uma mudança no cálculo da resistência palestiniana, caso a região afundasse em guerra.

Agora, vamos olhar para leste: Alon Pinkas, um antigo diplomata israelita e conselheiro político sénior, faz eco de um comentário de Ali Larijani (ex-presidente do Majlis iraniano) de que "o conflito israelo-iraniano não pode ser resolvido através da diplomacia", acrescentando que os responsáveis políticos e militares iranianos devem acompanhar de perto este desenvolvimento.

Eis o primeiro ponto de inflexão: o antigo primeiro-ministro Ehud Barak escreveu na Revista Time que o Irão atingirá de facto o limiar nuclear. E que é tarde demais para o parar: "Sim, vai demorar mais 18 a 24 meses [para os iranianos] [alcançarem] uma ogiva de mísseis. Mas estes passos podem ser realizados num pequeno laboratório ou estaleiro – e não podem ser facilmente seguidos, quanto mais parados."

"Por isso, mesmo que tenhas uma grande informação (que nem sempre tens), e sabes o que se está a passar em tempo real, podes descobrir que não há muito que possas fazer. Portanto, a realidade é esta: Israel e (com certeza) os Estados Unidos podem operar sobre os céus iranianos contra este ou aquele local ou instalação – e destruí-lo. Mas uma vez que o Irão se tornar um estado de facto nuclear, este tipo de ataque simplesmente não pode impedir que os iranianos se tornem nucleares.

O que isto significa, escreve Barak, é que "os Estados Unidos ainda podem impedir o Irão de se tornar nuclear com um ultimato diplomático para parar o programa, apoiado pela ameaça credível de uma guerra em larga escala. Nada além disso pode garantir um resultado. Espero que ainda seja realista."

Sim, Barak diz que Israel também está num novo ponto de inflexão. O antigo mecanismo de contenção da JCPOA está ultrapassado; ele diz que o conflito israelo-iraniano não pode ser resolvido através da diplomacia, mas apenas através de uma perspetiva credível de guerra.

Este dilema para Israel esteve precisamente no centro das discussões durante a visita de Biden a Israel. Israel insistiu que Biden deve traçar uma "linha vermelha" para o Irão: ou aceita uma solução diplomática com Teerão dentro de um prazo definido, ou enfrenta uma guerra contra os Estados Unidos. Biden foi-se embora. Limitou-se a repetir que era a favor da diplomacia. Ele não queria dizer "e se" a JCPOA falhasse – para grande frustração do Primeiro-Ministro Lapid.

A resposta de Biden não é uma "estratégia", é uma esperança de "sair dela": A esperança de que Israel não tente nada estúpido, que o Irão fique à beira de fazer um "avanço" (abreviação para a decisão, seguida de acção, de passar de um programa civil para armas), e que a calma possa ser preservada até às eleições de Novembro nos Estados Unidos.

O que pode Israel fazer face à falta de resposta de Biden? Como explica Alon Pinkas: "Implementar uma abordagem metódica e firme ao Irão, fazendo corresponder a Teerão não tanto  um alvo por um alvo, mas uma estratégia por uma estratégia. O objectivo final: Redefinir as linhas vermelhas [de dissuasão]." (Mais uma vez.)

Lapid: "Dissemos ao mundo que não estávamos dispostos a aturar mais, o Irão diz: podemos trazer a guerra à sua porta, porque nunca a trarão à nossa... Não é assim que vai acontecer... Se os iranianos trouxerem a guerra à nossa porta, encontrarão guerra na deles. Se eles querem evitá-la, então nós vamos evitá-la também.

Pinkas parafrasea a declaração de Lapid da seguinte forma: "Ouvimos as suas proclamações aborrecidas de que pretende limpar-nos do mapa, arrasar Tel Aviv, etc. Terminamos de dissecar cada palavra em busca de significados e ambiguidades escondidas, entendemos... Portanto, por favor, ouçam isto: se o objectivo do Irão é a erradicação de Israel, essa será também a estratégia de Israel."

Bem... "entendemos". E esta afirmação augura bem para o nosso segundo ponto de inflexão: o membro do Knesset, Itamar Ben-Gvir, o marcador de extrema-direita que lidera o Partido do Poder Judaico, é actualmente a maior estrela televisiva da política israelita desde Netanyahu. Ele é a personificação perfeita da eterna "juventude das colinas" (ou seja, o radicalismo dos colonos). Nas eleições anteriores, Netanyahu assegurou que Itamar Ben-Gvir, um racista franco, seria eleito e fazia parte da coligação no poder. "Temos de reconhecer que Ben-Gvir é um mutante de jogos, que está a unificar os ultraortodoxos, os colonos e o Likud num grande bloco", escreveu Chuck Freilich no Haaretz.

A direita não tem um propagandista tão revolucionário desde Netanyahu... É isso que está em jogo. É isto que está em jogo nas próximas eleições. Se Netanyahu for reeleito, poderemos encontrar-nos rapidamente onde estávamos, mas muito piores desta vez. A coligação que poderia trazê-lo de volta ao poder seria composta pelas forças mais radicais e sombrias da história de Israel, avisa Freilich.

Quem está a fazer bluff com quem? Israel diz estar a "tentar compreender o ultimato de Nasrallah sobre a questão marítima". As autoridades israelitas dizem que o Sayyed está a perder a calma. Diz-se que se envergonhou pelo menos duas vezes nas últimas semanas. As avaliações israelitas explicam assim as observações de Nasrallah como uma táctica de diversão, chamando a atenção para a suposta ameaça de Israel, a fim de desviar as atenções da sua posição sensível na política interna libanesa.

Mas não foi isso que os altos funcionários disseram a Biden durante a sua viagem a Israel. Avisaram que Sayyed Nasrallah é muito sério na sua ameaça de guerra.

E, quanto à alusão à erradicação mutuamente assegurada de Israel (do Irão)? Se esta erradicação não pode ser alcançada de forma convencional, como Ehud Barak explicou convincentemente, a passagem de Israel para a direita dura não sugere que uma resposta nuclear ao "avanço" possa em breve ser considerada? Ou é outro bluff?

Assim, numa altura em que Taiwan e a Ucrânia estão na vanguarda das preocupações mundiais sobre os riscos de guerra, vale a pena recordar que Mike Pompeo, num discurso político ponderado proferido no Instituto Hudson em Junho, definiu Taiwan e a Ucrânia, bem como Israel, como os Três Pivôs emblemáticos do apoio neo-conservador.

*Fonte: Réseau international

Versão original: Al Mayadeen

Tradução  Réseau International

 

Fonte: Les vents de la guerre régionale soufflent sur le Moyen-Orient – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice




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