22 de Agosto de
2022 Olivier Cabanel
OLIVIER CABANEL - O 50ºe O
aniversário dos acontecimentos de Maio também nos vai fazer assistir a uma repetição?
Muito inteligente quem poderia saber, mas em qualquer caso, é certo que
todos os ingredientes de uma agitação popular estão presentes.
Como disse André Malraux sobre estes acontecimentos, "são acontecimentos que não pertencem à
política, mas à história, porque a política é o que resta quando não há
história".
Também não devemos esquecer que os acontecimentos de Maio começaram no
final de Março.
Em 22 de Março, um punhado de estudantes de grupos de extrema-esquerda
(JCR, JAC, FER, etc.) invadiram o edifício administrativo da nova faculdade de
Nanterre e ocuparam a câmara do conselho dos professores.
Eles não têm um programa bem definido, e a sua acção nesse dia é mais como
uma farsa estudantil do que uma insurreição.
Mas uma vez ocupado o corpo docente, os "enraivecidos" entrincheiravam-se
lá, e organizavam-se para um longo cerco, estudando em pequenos grupos a
remodelação da universidade, depois a da sociedade e, finalmente, a do mundo.
Será sobretudo uma revolta dos jovens contra os velhos, contra todos
aqueles que os intimidam, que decidem, quem proíbem, que lideram.
Daí os primeiros slogans:
"é proibido proibir" ou "pai tresanda", e uma
estratégia é implementada resumida por Daniel Cohn-Bendit, ou seja Dany, o
vermelho (hoje verde!): "vamos primeiro, vamos fazer o movimento, a teoria
vem depois".
Pensar que tudo começou de um golpe no dia 22 de Março seria um erro,
porque durante vários meses houve uma atmosfera turbulenta e conturbada em
Nanterre.
Vários pequenos grupos que vão de anarquistas a guevaristas, incluindo os
Maoístas, trotskistas, marxistas e outros anarquistas formam um caldo de
cultura ou fermentam as ideias mais loucas, mais rebuscadas e revolucionárias.
No entanto, foi naquele dia que tudo começou.
Muito para o desgosto do Partido Comunista, que na altura criticava os
"enraivecidos" de uma forma virulenta, porque este protesto escapou-lhes.
O resto sabemos melhor, pois finalmente o movimento operário e toda a
esquerda sairão às ruas, provocando a “fuga para Colombey” do grande Charles.
E hoje?
É necessário aprofundar as camadas da sociedade para encontrar uma
profissão que não esteja em competição.
De professores a enfermeiros, cabeleireiros, taxistas, pescadores,
reformados, trabalhadores, caixas de supermercado, etc., para não falar, claro,
dos alunos, estão todos infelizes.
Sentem-se enganados por falsas promessas, e votaram como um homem para este
homem que dizia que tudo ia mudar, que os carrinhos de compras estariam cheios,
que a segurança voltaria, que o Estado reduziria as suas despesas.
Mas agora, em quase um ano, nada mudou, excepto o salário do presidente.
O suficiente para mobilizar mais do que um insatisfeito.
Especialmente porque o efeito "Martinon" poderia muito bem ter um
efeito de arrastamento dentro da maioria.
Esta última, que tem sido tratada com desprezo desde as eleições, começa a
achar a inacção onerosa.
Os murmúrios estão a aumentar na maioria para exigir que a Assembleia Nacional recupere finalmente a sua legitimidade, que seja consultada antes de propor leis, que possa finalmente fazer o seu trabalho cívico.
Como um velho amigo africano costumava dizer:
"Não é porque as ovelhas não têm dentes que se tem de pôr a mão na boca".
Fonte: Joli mois de Mai, quand reviendras-tu? – les 7 du quebec
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
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