15 de Agosto de 2022 Robert Bibeau
Não à guerra, sim à guerra de classes.
O
principal inimigo está entre nós!
(SECÇÃO MONTREAL)
Os slogans dos capitalistas sobre a democracia, a autodeterminação
nacional, o Estado de direito e a paz entre as nações são vazios. O que
significam estes ideais abstractos na realidade, se não para servir de desculpa
para a escassez de alimentos em África, o inverno frio que se avizinha em
Berlim, as cidades em ruínas na Ucrânia e as massas de refugiados? Vazios estão
todos os slogans capitalistas da unidade nacional e da paz social quando é a
classe operária que está na linha da frente deste sofrimento, como vemos
claramente aqui em Montreal. Os slogans russos de "des-naziificação",
parceria igualitária e soberania não fazem sentido ao lado dos bombardeamentos
de civis, dos lucros energéticos e do massacre de uma geração de jovens
trabalhadores russos e ucranianos.
Só através da assunpção da nossa classe
da sua própria perspetiva política é que a espiral da ordem capitalista em direcção
à barbárie pode ser derrotada.
Perante a sua crise
económica, os patrões e os seus Estados preparam-se para um confronto militar
enquanto tentam
gerir o colapso económico pressionando a classe operária. Assim, a política da
classe capitalista canadiana torna-se clara: opor-se ao rival russo, utilizando
a última gota de sangue dos trabalhadores ucranianos, atacando as condições de
vida e de trabalho da sua "própria" classe operária.
Desde o fim do boom pós-guerra na década de 1970 e o rebentamento da bolha
especulativa em 2007-8, a classe capitalista tem conseguido evitar o colapso
económico graças à deterioração dos padrões de vida da classe operária. Os patrões
de hoje, que prevêem uma recessão futura, temem que isso não seja suficiente.
Pelo contrário, estão a ser cada vez mais pressionados a travar uma
concorrência imperialista feroz, com cada economia nacional a procurar
descarregar as suas perdas para os seus rivais.
Enquanto a Rússia
procura conquistar para reavivar a sua economia em dificuldades, os membros da
OTAN querem prolongar a guerra na Ucrânia o máximo possível para prejudicar a
indústria e os militares russos – não a paz, mas a vitória. Como disse o
secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin: “Queremos ver a Rússia enfraquecida
a ponto de não poder mais fazer o tipo de coisa que fez ao invadir a Ucrânia.
No final de Junho, na cimeira da OTAN, Trudeau reuniu-se com os seus colegas
conspiradores para decidir a melhor forma de seguir essa política bárbara. Ele
alegremente enviou mais batalhões para o Báltico, mais armas para a Ucrânia e
navios e jactos canadenses para o Pacífico. Em Julho, ele voltou ao Canadá para
generalizar a guerra dos patrões contra a classe operária canadense, enquanto o
preço dos arrendamentos, alimentos e energia está a subir.
Só a luta da classe
operária, no seu próprio terreno económico e político independente, pode
combater a dupla ameaça da crise e do imperialismo. É evidente que a crise
generalizada requer uma luta generalizada da classe operária. Embora tenha havido um ressurgimento
notável da luta dos trabalhadores do Quebeque face à queda dos salários reais
causados pela inflacção, estas lutas têm permanecido sectoriais e demasiadas
vezes dominadas pelos sindicatos. Como se pode ver com as recentes
greves dos trabalhadores do CPE, do SQDC e da hotelaria, o isolamento sectorial
dá aos patrões uma clara vantagem na luta. Não se trata de diminuir estas
lutas, mas é revelador que, entre as muitas lutas recentes, apenas os
trabalhadores de Molson obtiveram uma vitória defensiva obtendo um contrato que
equivale à inflacção actual. Quando trabalhadores de todos os locais de
trabalho e sectores unem a sua luta, a sua força multiplica-se, como pudemos constatar
durante os momentos fortes da luta da nossa classe no Quebeque, seja em 1972 ou
2012.
As recentes lutas dos trabalhadores do
Quebeque mostraram que o domínio sindical só dificulta a iniciativa pessoal, a
militância e as perspetivas de sucesso da classe operária. Para além do número
de greves recentes, muitos mandatos de greve têm sido ignorados pelos
sindicatos a favor da paz social e das negociações entre advogados. Na greve
dos trabalhadores do Porto de Montreal 2020-2021, o sindicato pôs fim a uma
greve de 19 dias a favor do regresso às negociações. O governo federal teve,
assim, tempo suficiente para se preparar para a próxima ronda de greves, o que
lhe permitiu emitir uma providência cautelar, pondo fim à luta em nome da
unidade nacional durante a pandemia. Hoje, Biden está a inferir injunções
contra os trabalhadores ferroviários americanos e o Estado norueguês declarou
ilegal a greve dos trabalhadores das plataformas petrolíferas em nome da
economia nacional mergulhada na concorrência imperialista. Na frente da guerra,
o Estado ucraniano propôs-se tornar ilegal qualquer aparência de luta da classe
operária pelos seus próprios interesses, incluindo a possibilidade de o patrão
rasgar os contratos existentes.
Perante estas ameaças
que enfrentam a nossa classe, a Tendência Comunista Internacionalista lançou a iniciativa
"Não à
Guerra, Sim à Guerra de Classes" (NWBCW), que foi assumida por camaradas de
todo o mundo. A iniciativa NWBCW serve de ponto de referência
política aberto para todos aqueles que vêem a necessidade da luta dos
trabalhadores contra os ataques económicos do capital e o seu confronto nas
rivalidades imperialistas. Somos nós que não temos ilusões sobre o pacifismo ou
a possibilidade de passar por instituições capitalistas para evitar a imposição
da barbárie pelo capitalismo. Pelo contrário, reconhecemos que a única resposta
adequada a esta situação é a luta independente da classe operária. As lutas defensivas
da nossa classe contra os ataques do capital devem ser transformadas numa
ofensiva política contra o sistema capitalista.
Para nós,
trabalhadores de Montreal, o aumento das rendas e das armas na Ucrânia são o
lado inverso da mesma crise capitalista. A nossa luta contra estas condições
revela claramente que o
principal inimigo está entre nós!
Se concordar, convidamo-lo a
contactar-nos na nwbcwmontreal@gmail.com
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
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