15 de Agosto de
2022 Robert Bibeau
O mundo pós-24 de Fevereiro é realmente
diferente. A actual lógica geo-política inexorável é que a atenção da América
está virada para outro lado, e o mundo vê uns Estados Unidos mais fraco... e a
aliança Rússia-China numa posição melhor.
By Alastair Crooke – 17 de Julho de
2022 - Fonte Al Mayadeen
Ninguém parece saber exatamente porque é que Biden está a fazer esta viagem ao Médio Oriente. É um mistério. É certo que isto não é para receber elogios no seu país: as mortalhas de Jamal Khashoggi e Shireen Abu Akleh rodopiam confusamente em torno da delegação americana, causando-lhe medo de palco. Mesmo nos jornais americanos mais favoráveis, Biden é interrogado devido ao risco para a segurança dos jornalistas que qualquer reconciliação com o MbS implica.
Biden não vem atrás
dos palestinianos. Pelo contrário, vem com um pequeno presente para "Israel", ou seja, ignorar
os palestinianos, o melhor que puder. Também não é para inaugurar uma NATO
árabe (os Estados do Golfo querem manter laços com o Irão). E nem sequer é pelo
petróleo: os Emirados Árabes Unidos nem sequer lhe dão um único barril extra, e
os sauditas, talvez apenas 100.000 ou 150.000 barris por dia (e mesmo isso será
contra estados da OPEP+ que não atingiram a sua quota de fornecimento).
Um neurologista disse-me uma vez que o nosso cérebro é como uma floresta
virgem. No início, há relva e flores por todo o lado debaixo das árvores.
Então, um veado anda por aí e continua o seu caminho. Outro segue, depois
outro, e todos seguem o rasto traçado pelo primeiro veado. A pista torna-se um
caminho movimentado. É o caso da diplomacia.
Há 20 anos,
desenvolveu-se uma estratégia de ruptura líquida; segundo ela, os Estados
Unidos devem ser amigos dos monarcas da região, e apoiá-los, contra estados
árabes seculares e socialistas, a fim de garantir a segurança de "Israel". E os presidentes
americanos seguiram o mesmo caminho através da floresta. Nada muda, há apenas
um novo nome para uma "nova" aliança árabe
contra o Irão.
E assim Biden anda
pela floresta. Mas, desta vez, trata-se mais de "ocupar o espaço" na região: trata-se
de agitar os monarcas para garantir que este "espaço americano" seja negado à
Rússia.
Existe hoje, em
Washington, esta preocupação de que a esfera russa pareça demasiado atraente. E
há motivos de preocupação (até Josep Borrell admite): o Ocidente, na cimeira
dos Ministros dos Negócios Estrangeiros do G20 em Bali, não conseguiu forçar os
BRICS e os principais actores do Sul a isolarem e sancionarem a Rússia sobre a
Ucrânia. Ainda estão a tentar: a Índia e a Arábia Saudita estão agora na mira.
No entanto, o relatório do G20 chinês assinalou que Jaishankar tinha dito a
Wang Yi que "a
Índia continuará a defender a sua autonomia estratégica e a sua posição
independente nos assuntos internacionais". A Índia também
disse aos EUA que não participará em quaisquer planos para limitar o preço do
petróleo russo.
Os americanos estão a promover a sua arquitectura de segurança regional
(baseada na polarização em torno do Irão). Mas a Rússia tem uma alternativa.
A arquitectura OCS-BRICS é diferente da dos americanos. Prevê uma arquitectura
que não é gerida por poderes externos, mas uma arquitectura propriedade dos
participantes. A Rússia e a China insistem neste ponto. E quer ser inclusiva.
O mundo pós-24 de Fevereiro é realmente diferente. A lógica geo-política
inexorável de hoje é que a atenção da América está a virar-se para outro lado
(para a China). E o mundo vê uma América enfraquecida.
O título da Harpers deste mês é
surpreendente: Harpers
declara "Acabou" – O "Século Americano" acabou. Além disso,
escreve-o, sem o rigoroso ponto de interrogação. Destacou-se uma milha antes da
Harpers lançar esta manchete: Compare as anedotas do G7 com a conduta profissional
da cimeira dos BRICS.
Neste contexto, todos avaliam o curso da história. Para evitar a guerra,
uma certa arquitectura de segurança é necessária. E a iniciativa russa é
atraente precisamente porque inclui o Irão. O Irão é membro da SCO e candidato
aos BRICS. A Arábia Saudita, o Bahrein e o Qatar são também candidatos à SCO, e
a Arábia Saudita foi convidada a aderir aos BRICS. O Egipto e a Síria
candidataram-se ao estatuto de observador com a SCO e a Turquia é um parceiro
de diálogo. Os fundamentos da arquitectura já estão, portanto, em vigor.
E se acrescentarmos
que a SCO já tem uma dimensão de segurança e uma poderosa dimensão económica na
Comunidade Económica Euro-asiática que está ligada à iniciativa "Nova Rota da
Seda", a arquitectura do Norte torna-se inevitável.
Esta semana, o Irão anunciou a conclusão do primeiro carregamento de
mercadorias de São Petersburgo através do Corredor Norte-Sul de Transportes.
Passou pelo porto de Anzali, no Mar Cáspio, e pelo porto iraniano de Bandar
Abbas até Bombaim.
Esta nova rota, que deverá ser transformada numa rota de alta velocidade
dentro de um ano, reduz significativamente os tempos e os custos de transporte.
A Índia acaba de transformar a rupia numa moeda comercial, e o Irão assinou um
acordo de compensação inter-bancária com a Rússia. Prevemos que é o Golfo que
vai rodar, direccionando o seu comércio para a Índia e para a Ásia.
Os acontecimentos seguem-se uns aos outros com velocidade. É de admirar
então que a equipa Biden esteja de volta para tentar consolidar as relações?
Mas será que o balanço da Equipa Biden na região será tão diferente do G20 que
tanto desanimou Josep Borrell?
Alastair Crooke
Traduzido por Zineb, revisto por Wayan, para o Saker Francophone
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
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