9 de Agosto
de 2023 Robert Bibeau
Por Andrew Korybko – 2 de Agosto de 2023
Poucas pessoas no mundo ouviram falar do Níger antes
do golpe militar da semana passada no país sem litoral da África Ocidental, e
ainda menos poderiam localizá-lo num mapa. No entanto, a grande media mentirosa
(MSM) agora quer que todos acreditem que o Níger se tornou subitamente um
epicentro mundial do terrorismo. Esta narrativa não é mais do que uma guerra de
informação destinada a assustar o público para que ele apoie a invasão do país pela CEDEAO, apoiada pela
NATO e liderada pela Nigéria, que deverá começar no final deste mês.
As análises que se seguem actualizarão os leitores que não acompanharam de perto esta crise:
§
Golpe nigerino
pode ser um divisor de águas na nova Guerra Fria
§
África Ocidental
prepara-se para uma guerra regional
Este é, de facto, o último conflito por procuração na nova Guerra Fria entre
a NATO e a Rússia.
O público ocidental não compreende as razões geoestratégicas pelas quais o
bloco militar do seu campo está a interferir nesta parte de África e a levar o
país mais populoso do continente a invadir o seu vizinho do norte. É por isso
que a media mentirosa (MSM) relata que o Níger de repente se transformou num
epicentro mundial do terrorismo, pois eles esperam que o seu público-alvo fique
tão assustado que apoie cegamente o curso da acção que os seus governos
acabarão por decidir adoptar para resolver esse problema.
Aqui estão três exemplos de alto perfil em que a media mentirosa está a espalhar
essa narrativa de propaganda recém-inventada:
§
Voz da América: Golpes na região do Sahel
abrem espaço para grupos terroristas, dizem analistas
§
The Economist: Por que é que o
pesadelo do Níger é um problema mundial
§ Associated Press: Golpe no Níger só vai encorajar extremistas, diz ex-combatente jihadista
Todos afirmam que um exército distraído e a dissidência popular conduzirão
a um recrudescimento do terrorismo.
Para elaborar brevemente, a primeira metade deste produto de guerra de
informação artificialmente fabricado alega que as forças armadas pós-golpe dos
Estados regionais estão demasiado concentradas em manter o poder e eliminar
rivais que estão inadvertidamente a criar espaço para a expansão dos
terroristas. Quanto à segunda, implica incrivelmente que os manifestantes
pró-democracia, supostamente pacíficos, serão em breve tão radicalizados pelo
regime militar que se transformarão numa massa extremista violenta que
constituirá assim uma ameaça iminente para todo o mundo.
Ironicamente, apesar de dirigir a Voz da América, o governo dos EUA nem sequer acredita na propaganda da media ou nas alegações relacionadas dos seus pares, como evidenciado pela decisão de terça-feira de suspender o treino de contra-terrorismo com o Níger. Se houvesse alguma chance de que qualquer um dos factores acima mencionados pudesse transformar o Níger num epicentro mundial do terrorismo, então estaria fora de questão para os EUA arriscar a sua própria segurança e a de seus vassalos regionais, permitindo que essa ameaça se dissipasse.
Como resultado, ou o governo dos EUA sinalizou acidentalmente que todas
essas declarações alarmistas são propaganda infundada, ou está a mostrar ao
mundo que cinicamente prefere que o Níger se torne/permaneça um epicentro mundial
do terrorismo em vez de lutar conjuntamente contra esse flagelo com as suas
forças armadas após o golpe. Como não há verdade no segundo cenário brandido
pela media mentirosa, a primeira explicação é a única credível, que confirma
que tais afirmações são apenas mentiras destinadas a ocultar motivos
geopolíticos.
Para ser honesto, há alguma verdade na sua afirmação de que a combinação de
fracassos militares e a pobreza sistémica desempenha um papel na aceleração da
propagação do terrorismo nos países em desenvolvimento, mas isso é atribuível a
uma formação ocidental pobre/insincera e ao neo-colonialismo francês,
respectivamente. Foi precisamente devido a estes factores interligados e às
consequências regionais da guerra da NATO na Líbia em 2011 que o terrorismo
explodiu no Sahel e depois preparou o terreno para recentes golpes militares
patrióticos.
Estas mudanças de regime visam reorientar as prioridades das suas forças
armadas e reequilibrar os laços dos seus países com o Ocidente e a França, a
fim de resolver os problemas correspondentes que conduziram a uma deterioração
tão drástica da sua situação económica e de segurança na última década. Se não
tivessem sido envidados esforços sérios para contrariar estas tendências no
Mali, no Burkina Faso e, agora, no Níger, a própria existência destes Estados
teria sido inevitavelmente ameaçada ao longo do tempo.
Os seus líderes militares são sinceros no seu objectivo declarado de
combater o terrorismo, não só porque corresponde à sua devoção patriótica aos
interesses nacionais dos seus países, mas também porque é do interesse da sua
instituição, uma vez que são eles que lutam na linha da frente contra este
flagelo. Sem melhorar as suas capacidades associadas, com as quais Wagner os
ajuda, como explicado aqui e aqui, os seus camaradas continuarão a
morrer em vão e a ameaça às suas famílias continuará a crescer.
Em conclusão, afirmar que o Níger é agora um epicentro mundial do
terrorismo é uma tolice, mas espera-se que a media mentirosa amplifique esta
falsa narrativa tanto quanto possível, numa tentativa de assustar o público e
fazer este apoiar a planeada invasão da CEDEAO ao país, apoiada pela NATO e
liderada pela Nigéria. Esta abordagem, no entanto, corre o risco de se
desacreditar se desencadear más memórias da chamada "guerra mundial contra o terror", lembrando ao público o quão céptico
eles se tornou a este respeito no final da era Bush Jr.
André Korybko
Traduzido por Wayan, revisto por Hervé, para o Saker Francophone.
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa
por Luis
Júdice
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