segunda-feira, 21 de agosto de 2023

Victor Hugo foi um visionário?

 


 21 de agosto de 2023  Olivier Cabanel  Sem comentários

OLIVIER CABANEL — Esta é a questão que se pode colocar à luz de um dos seus textos, que pode ser encontrado em qualquer boa livraria.

Mas a questão pode ser surpreendente.

Enquanto autores como Jules Vernes e George Orwell podem ser descritos como visionários, a questão pode parecer inadequada quando se trata de Victor Hugo.

Claro que todos sabemos que o famoso escritor gostava de virar mesas e "comunicar com espíritos", mas chamar-lhe visionário...

Mas vejamos este texto com mais atenção.

"O que é que ele pode fazer? Ele pode fazer tudo! O que é que ele fez? Não fez nada!

Com todo este poder, em oito meses, um homem de génio teria mudado a face da França. Da Europa, talvez.

Só que, o problema é que ele tomou conta da França e não soube fazer nada dela. Deus sabe que o Presidente faz tudo o que pode: enfurece-se, mexe em tudo, corre atrás de projectos".

Um Presidente omnipresente, que fala tudo, que corre tudo? Começa-se a perceber a ideia, não é?

Incapaz de criar, decreta; tenta dar o troco na sua nulidade; é o movimento perpétuo; mas ai de mim! Esta roda está a girar fora de controlo".

Ele não é o único a usar decretos para forçar a sua entrada, mas esta forma de "dar a mentira para esconder a sua nulidade" é bastante inteligente. Mas continuemos a ler.

"O homem que, depois de tomar o poder, casou com uma princesa estrangeira, é um carreirista avantajado.

Princesa estrangeira? Estrangeira sim, mas princesa? Eu não sabia.

"Ele ama a glória, o brilho, as grandes palavras, o que é sonante, o que brilha, todas as bijuterias do poder. Tem para si o dinheiro, o agio, o banco, a bolsa de valores, o cofre."

O nevoeiro começa a erguer-se sobre esta incógnita: o brilho, o que brilha, o dinheiro... Mas vamos um pouco mais longe.

« Ele tem caprichos, ele deve satisfazê-los.

Quando medimos o homem e o encontramos tão pequeno, e depois medimos o sucesso e o achamos enorme, é impossível para a mente não experimentar alguma surpresa.

Neste ponto do texto, pode-se ter algumas dúvidas sobre o "sucesso", mas se pensarmos na mesma pessoa que eu, ela não está nem a meio do seu mandato, e por isso tem algum tempo para dar razão à visão huggoliana. 

 Vamos continuar a descoberta do texto:

« Acrescentaremos cinismo porque, em França, ele espezinha-a, ri-se na sua cara, desbrava-a, nega-a, insulta-a e despreza-a! »

Ninguém esqueceu o "quebra-te pobre condescendente", nem as promessas não cumpridas, em Gandranges ou em qualquer outro lugar, a invectiva nos lábios aos pescadores, ou evocando a "escória dos subúrbios, que ele quer limpar com karcher".

O texto escrito por Hugo parece o de um visionário, mas não vou mais fazer o leitor definhar, pois a resposta à questão colocada no título do artigo é NÃO.

Este texto não evoca o que você estava a pensar.

Vem de um livro reeditado pela Acte Sud e o seu título é: "Napoleão, o pequeno", cujo autor é, naturalmente, Victor Hugo.

Nas suas "Mémoires d'outre tombe", ele tem esta frase sobre Napoleão que marca outra convergência:

"Tinha prazer em humilhar todos aqueles que tinha chacinado, a sua arrogância era igual à sua felicidade; achava-se ainda maior por ter rebaixado os outros. Com inveja dos seus generais, acusava-os das suas próprias falhas, porque para ele, nunca poderia ter falhado".

Em 30 de Maio de 2007, mencionei essa convergência num artigo publicado na net "Napoleão Sarkozy", ver link seguido por outros editores do blog, e o livro de Alain Duhamel (la marche consulaire/Janvier 2009).

Nesse artigo mencionei outras semelhanças: o "impossível não é francês" de Napoleão deu lugar ao slogan de campanha de Sarkoz: "juntos tudo se torna possível".

Esperemos, para bem do Presidente, que as semelhanças se fiquem por aqui, porque morrer envenenado, exilado numa ilha, não é um fim muito glorioso, e que se fiquem por aqui também para nós, porque os franceses não gostariam certamente de voltar a viver os 2,5 milhões de mortos das guerras napoleónicas.

Como dizia um velho amigo africano:

"Quando os elefantes lutam, é sempre a erva que é esmagada".

Documentos anexados a este artigo

 

Fonte: Victor Hugo était-il visionnaire? – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice




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