10 de Agosto
de 2023 Equipa de Publicação
A pornografia de imagem artificial deu saltos gigantescos nas últimas décadas. A imagem impertinente que aqui vos apresento já está amplamente esboçada e antiquada, comparada com o que se inventa hoje em dia, em termos de realismo pornográfico pixelado. A pornografia 3D está a crescer exponencialmente. O lote de representações visuais da ciberpornografia é agora extremamente eficaz, figurativo e caminha a passos largos em direcção ao hiper-realismo.
Caminhamos, portanto, para um universo
visual onde, em combinação com a inteligência artificial, se tornará
perfeitamente possível configurar a pornografia, muito sofisticada, e indo em
todas as direcções fantasmáticas imagináveis, estrictamente trabalhando com
software. Um dia, inclusive, o software de design de vídeo porno estará ao
alcance da população, assim como o software de videogame ou o software de
processamento de texto. E isso, a longo prazo, fará soar o fim da indústria
pornográfica real, carnal e tradicional, aquela em que as vidas de actores e actrizes
de carne e osso são destruídas, deixando-os doentes e forçando-os a conviver com
todo um submundo suspeito numa dinâmica de existência do submundo, que muitas
vezes termina em suicídios e dramas de vida de todos os tipos. Um sector da
indústria desaparece, em secções inteiras, quando uma tecnologia menos
dispendiosa e, sob todos os pontos de vista, menos perigosa, a ultrapassa. É
isso que está a instalar-se aqui, diante dos nossos olhos, nos nossos ecrãs.
Pode-se, portanto, sugerir, e até mesmo esperar abertamente, que um dia em
breve, a pornografia real, a pornografia com actores e actrizes reais
desaparecerão. Mas não a favor da abstinência fantasiosa imaginária. Em
benefício da ciberpornografia, sem menos, sem mais.
Esta realidade sociológica e tecnológica
ganhará certamente ainda mais amplitude com a integração da inteligência
artificial na ciberimagem figurativa. É muito significativo observar que
estamos a caminhar para uma situação mundial em que o consumidor de pornografia
também pode tornar-se o produtor. Instalar-se-á diante do seu pequeno software,
talvez até numa dinâmica de apresentação tridimensional, e será capaz de
fabricar o seu próprio universo de fantasia em projecção pornográfica, susceptível,
entre outras coisas, de assumir formas activas, autónomas e dotadas de
iniciativas imaginativas individualizadas e personalizadas. Assim, mesmo a
ciber-interacção com acompanhantes pornográficos reais é bastante susceptível
de desaparecer, em favor de uma espécie de organização electrónica da fantasia
interior do sujeito neurótico idiossincrático. É preciso compreender que o que
estamos a tentar fazer aqui é regular um fenómeno de uma forma mutatis mutandis semelhante ao que faremos
colectivamente, quando finalmente decidirmos trazer todas as drogas recreativas
para serem devidamente divulgadas, sob a liderança do legislador.
Inevitavelmente, num mundo ideal, estaríamos numa situação em que eliminaríamos
este tipo de produto distorcido e tendencialmente nocivo (drogas, pornografia).
No mundo dos ursinhos fôfos, a gino-segurança e a pedo-segurança seriam máximas
e essas tendências desapareceriam, em muitas nuvens cor-de-rosa. Só que, na
nossa vida mundializada efectiva, encontramos, nesse tipo de situação, o
problema incómodo de fazer cumprir as leis. Uma vez que não é possível pedir à polícia que abra todos os
contentores de um determinado porto e/ou que inspeccione todos os computadores
de uma dada urbe terciarizada, não é realmente viável conseguir eliminar estes
abusos e crimes apenas através de legislação abstracta. Inexoravelmente, esta
legislação não pode ser totalmente materializada e posta em prática. Por outro
lado, o que o legislador não pode fazer, os fluxos fluidos das mudanças
tecnológicas farão, eles, queiram ou não queiram. Assim, se os gostos mudarem,
se as tendências e as modas se deslocarem maciçamente no sentido dos
cibervisuais e da inteligência artificial, dotados de iniciativa e de uma imaginação
algo fantasiosa, toda uma indústria pornográfica e pedopornográfica
semi-criminal e criminosa ver-se-á ultrapassada. Os riscos, tanto a montante
como a jusante, só aumentarão, e o negócio deixará de valer a pena, tanto para
o consumidor como para o produtor, em termos de lucros, devido à evolução das
tendências sociológicas e tecnológicas.
Entre os fenómenos susceptíveis de aparecer e ser maximizados, se as coisas
forem devidamente enquadradas e sem preconceitos moralistas parasitas, está,
numa posição absolutamente crucial, o aumento significativo da pedo-segurança.
A protecção das crianças contra crimes directos de pedofilia e a divulgação de
pornografia infantil em directo constituem uma prioridade absoluta. Essa protecção
deve ser abertamente apoiada por todas as iniciativas que possam fazê-la
funcionar. Uma dessas iniciativas seria substituir a criança real, tendo sido
realmente fotografada e molestada, por um personagem pixelizado, imaginário,
elucubado, inexistente e fabricado, sem qualquer modelo humano eficaz. Como um
desenho, uma pintura, uma estátua ou uma gravura... mas cibernética.
De facto, tenho uma crítica muito firme
a fazer a algumas das nossas concepções estreitas contemporâneas, nomeadamente
aquelas que impedem, ou proíbem, ou reprimem desenhos ou pinturas
pedopornográficas imaginárias, e obras literárias, novelísticas e poéticas
pedopornográficas. Penso que estes modos de expressão, que não têm modelos
reais, são meios saudáveis de auto-indulgência. O pedófilo passivo que consome
estes materiais inofensivos está perfeitamente consciente de que a gratificação
efectiva do seu impulso seria um crime no mundo real. Está a proceder ao
controlo calibrado da sua patologia, sublimando na arte o que não pode fazer na
vida. Gostaria que alguém me explicasse por que razão os romances policiais,
que são obras explícitas em que há assassínios (incluindo instrucções de
assassínio), sangue, violações e tripas a voar em todas as direcções, são tão
populares em nome de uma moda superficial e temporária? A mesma observação pode
ser feita em relação a todos os produtos da cultura literária e cinematográfica
gore ou zombie. Esta confusão ciclópica, omnipresente,
gigantesca e sangrenta não coloca qualquer problema particular à nossa
moralidade colectiva. No entanto, aqui temos a mesma situação. O desejo de
assassinar, massacrar, disparar e outras perversões diversas é satisfeito
através de um modus operandi artístico. O mesmo se passa com a pedofilia. A
este respeito, gostaria de chamar a atenção para um romance escrito há alguns anos
(2016) por Corinne LeVayer. O romance intitula-se intitula-se My Big Doll's Eyes Still Weep,
e faz um relato absolutamente pungente, legítimo e inteiramente satisfatório,
tanto do ponto de vista da crítica intelectual como da qualidade literária.
Esta é a história de uma mulher adulta que, em criança, sofreu uma série quase
ininterrupta de abusos pedófilos às mãos da sua ama, e Corinne LeVayer dá-nos
uma compreensão muito profunda e íntima da situação profundamente dolorosa e
permanente vivida pela pedófila passiva em que se tornou hoje. Corinne LeVayer
não foi apenas vítima de um pedófilo. Ela assume também que foi e continua a
ser cúmplice... e que tem de se agarrar com força para evitar cair neste abuso
criminoso quando for adulta. Muitos pedófilos passivos encontram-se exactamente
na mesma situação que Corinne LeVayer nos descreveu corajosamente neste
importante romance. Não vão até ao fim, não vão cometer o crime supremo, que
eles próprios sofreram... mas está a funcionar com eles. O facto é que, nestas
questões da pedofilia, estamos, como sociedade, como colectivo, numa situação
em que quem bebeu, beberá. Quem é iniciado é susceptível, quando adulto, de
querer iniciar outros. É um pouco como o alcoolismo. Mas querer intensamente
não significa fazê-lo de facto.. E esse sofrimento secreto é o que deve ser controlado,
permanentemente. É ele que deve ser supervisionado, colocando em prática
dispositivos que permitam ao pedófilo passivo segurar bem na mão e continuar,
no caminho certo. Para não cair neste crime insidioso que é o mal do século, é
necessário supervisionar a besta de forma descomunal, fria, metódica e fora de
qualquer moralismo estreito. E isso deve ser feito antes do facto, no pedófilo
passivo. Capturá-los depois do facto, quando eles se tornaram activos, não dá
absolutamente nada, na medida em que toda a rede criminosa já foi totalmente
mobilizada, então, e, portanto, é sinistramente tarde demais... Tarde demais
para as crianças, as únicas que importam em toda esta história.
O que se propõe aqui é continuar na linha de propensões adequadas e
altamente relevantes tão cuidadosamente descritas pela Sra. LeVayer,
mobilizando os pontos fortes emergentes do imaginário cibernético. E
inteligência artificial. Considero que a pornografia infantil pixelada deve ser abertamente
promovida. Temos de fazer notar, com as nossas botas bem assentes no chão, que os
nossos pedófilos, quando o fazem em casa, no computador, não estão a cometer
qualquer crime, a preparar qualquer crime, ou a apoiar qualquer rede de
pedófilos criminosos em qualquer lugar. As crianças reais são substituídas por
fantoches cibernéticos. Torna-se então mais fácil e mais viável assegurar a aplicação efectiva do crime real, o tipo
de crime que não é uma fantasia mas sim uma acção. A pedosegurança seria
reforçada pelo aumento e amplificação do prestígio da jovem frívola e
evaporativa que apresento aqui no início do artigo. Porque esta jovem tem uma
qualidade intangível que prevalecerá sempre sobre qualquer tentativa de
intervenção jurídica ou psicológica de qualquer tipo. A jovem do frontispício
deste artigo não existe. E por não existir, pode ir em qualquer direcção sem
risco ou perigo. E os seus actos de delírio visual e auditivo serão em
detrimento de vastas redes criminosas e pedófilas que estão condenadas a
desaparecer e a ser substituídas pela tecnologia. O destino da pornografia com
actores e actrizes gineco-criminosos ou pedo-criminosos é tão certo como o
destino das máquinas de escrever quando o computador e o processador de texto
foram introduzidos há uma geração. Estamos a perder um tempo precioso negando e
mobilizando levianamente critérios moralistas de interesse menor. Legalizemos e
encorajemos a combinação motriz da inteligência artificial e da pornografia
infantil imaginária. Vai acontecer de qualquer maneira, quer o controlemos ou
não. Fartura. Por uma vez na vida, os legisladores deveriam tentar estar um
passo à frente. O bem-estar das mulheres e a segurança das crianças dependem
disso, em última análise.
Este artigo foi traduzido para
Língua Portuguesa por Luis Júdice
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