9 de Agosto
de 2023 Robert Bibeau
Quando se trata dos problemas económicos da Europa, é impossível separar a economia da energia e da geopolítica – e mesmo das investigações policiais, como nos lembra a sabotagem do gasoduto Nord Stream. De facto, seja na Europa, na América ou na Ásia-África, o vector económico continua a ser dominante e decisivo na vida em sociedade. A infraestrutura económica da produção apoia, ou não apoia, a superestrutura político-estatal, como demonstra a saga energética europeia. No início estava a crise económica sistémica que afectou primeiro (mas não só) as potências económicas hegemónicas e através delas todos os países do planeta sofrem as repercussões desta recessão mundial. Esta crise económica sistémica está a conduzir a uma guerra comercial entre estas potências e os seus aliados concorrentes, tal como descrito no artigo abaixo. O resto você sabe... cada bloco – cada eixo imperialista – está a fornecer as suas armas económicas, comerciais, energéticas, diplomáticas, políticas e militares em antecipação a esta sucessão de guerras genocidas que visam determinar a superpotência hegemónica e identificar os seus vassalos. A classe proletária deve preparar-se para se recusar a participar nestas guerras imperialistas pela conquista dos mercados. O artigo de Uriel Araujo estabelece a tabela do desvio cometido pelos poderes beligerantes.
Por Uriel Araújo, pesquisador
especializado em conflitos internacionais
Philip Pilkington, um economista irlandês famoso
pelas suas contribuições sobre a estimativa empírica do equilíbrio geral (que
também trabalha no financiamento do investimento), argumenta que as economias
europeias já estão em profunda recessão e que se poderia esperar uma crise
"pior do que 2008". O facto de o desemprego estar agora baixo na zona
euro não é uma boa notícia – na verdade, significa que ou se aproxima uma
recessão em massa ou que está demasiado desindustrializada, escreve o
economista, com base na sua análise de dados da agência europeia de estatísticas,
Eurostat.
Embora, neste artigo específico, Pilkington não
faça qualquer menção à Ucrânia, é impossível mergulhar nas raízes profundas
deste estado de coisas sem recuar um pouco.
Em Outubro de 2021, o subcontinente do Velho Mundo já estava assombrado
pelo espectro de uma grande crise energética, com um aumento de 600% nos preços
do gás e, a certa altura, um aumento de 37% nos preços grossistas no Reino
Unido (em apenas 24 horas). Como escrevi, em
Dezembro de 2021, isso interrompeu a produção da indústria e impactou as
sociedades europeias como um todo.
Em qualquer crise, factores cíclicos e estruturais convergem em termos de
causalidade – sendo a pandemia certamente um deles. Em todo o caso, esses
preços elevados da energia poderiam ter sido evitados,
pelo menos parcialmente, se o projecto Nord Stream 2 não tivesse sofrido, na altura, um
atraso. O Nord Stream 2 era um complexo de gasodutos que corria sob o Mar Báltico da
Federação Russa para a Alemanha. Todas as outras divergências à parte, o projecto
serviu os interesses russos e europeus, oferecendo-lhes custos mais baixos e
segurança energética – a Rússia está literalmente às "portas" do
continente.
O projecto também foi fortemente alvo de uma grande campanha de boicote dos
EUA, a ponto de deputados de Berlim, como o AfD Steffen Kotre, sugerirem em
2021 que a Alemanha deveria "contra-sancionar" os EUA por retaliação.
Embora os interesses privados obscuros dos EUA e as
considerações geopolíticas convirjam neste caso, os interesses de Washington
eram bastante simples: não queria perder a sua "influência" no
continente e queria que Moscovo, por sua vez, não tivesse influência aí. Além
disso, queria vender muito gás natural liquefeito (GNL) dos EUA para os
europeus – que é mais caro.
Após o lançamento de Moscovo da sua campanha militar na Ucrânia, em 24 de Fevereiro
de 2022, os gasodutos não funcionaram devido a disputas europeias sobre o
assunto – mas, de qualquer forma, estavam cheios de gás natural. Desde 26 de Setembro
de 2022, no entanto, uma série de bombardeamentos ocorreram no Nord Stream 1 e
2, infligindo danos sem precedentes às estruturas. Para todos os efeitos, o
Nord Stream desapareceu.
Os legisladores alemães exigiram uma investigação sobre as explosões
clandestinas. O jornalista vencedor do Prémio Pulitzer Seymour Hersh, no seu artigo de 8 de Fevereiro, denunciou o acto
de sabotagem como tendo sido perpetrado clandestinamente por Washington. De facto,
em 7 de Fevereiro de 2022, o próprio presidente dos EUA, Joe Biden, numa colectiva
de imprensa com o chanceler alemão Olaf Scholz, disse: "Se a Rússia invadir (...) não
haverá mais Nord Stream 2. Vamos acabar com isso", acrescentando que "prometo que podemos fazê-lo". Scholz estava ao seu lado. Esta
declaração, surpreendente como é, ecoou as
palavras da Sub-secretária de Estado para a Política Victoria Nuland dois dias antes.
Berlim nunca lançou "contra-sanções" contra Washington e até agora
nenhuma investigação sobre o papel dos EUA na sabotagem foi aberta – embora
promotores alemães tenham afirmado em Março ter encontrado
provas de que ucranianos estavam envolvidos na
sabotagem do Nord Stream. Na reunião
do Conselho de Segurança da ONU em 11 de Julho, informantes pediram ao
conselho que investigasse o assunto de forma independente.
De volta à economia, em Janeiro de 2023, as importações de GNL atingiram o seu limite
máximo, com os preços do gás na Europa ainda elevados. No mês
passado, os preços voltaram a subir, mais de metade. Mesmo que
haja "stocks suficientes" agora com uma vaga de calor, ainda há picos
na procura e interrupções na oferta, que causam volatilidade, de acordo com Anna Shiryaevskaya, repórter de
mercados de energia da Bloomberg. De qualquer forma, o continente
enfrentará o Inverno de 2024 sem qualquer
fornecimento de gás natural russo pela primeira vez.
Em Setembro de 2022, quando ficou bem claro que as sanções ocidentais
contra a Rússia tinham saído pela culatra, Pilkington escreveu sobre a possível desindustrialização da Europa como
resultado da guerra económica, observando como, no mundo pós-pandemia, as
dívidas ocidentais se acumularam e, além disso, o conflito na Ucrânia conduziu a custos adicionais da
energia – o que torna a indústria europeia pouco competitiva. Segundo o mesmo
economista, o colapso da economia britânica tem raízes semelhantes,
ligadas aos elevados custos energéticos e à desindustrialização. A verdade é que, enquanto Washington
joga a sua guerra por procuração de desgaste contra
Moscovo "até ao último ucraniano", as economias europeias são as que
mais sofrem (para não falar da Ucrânia, claro). Além disso, os EUA estão a
travar uma guerra económica contra os seus próprios aliados transatlânticos através
da sua chamada "guerra de subsídios" (com a Lei de Redução da
Inflação de Biden).
Como todos podem ver, quando se trata dos problemas económicos da Europa,
é impossível, neste
caso, separar a economia da energia e da geopolítica – e mesmo das
investigações policiais. No entanto, para os Estados europeus, reafirmar a sua soberania não
será uma tarefa simples.
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa
por Luis
Júdice
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