domingo, 13 de agosto de 2023

É o fim dos programas de ajuda da UE: o Green Deal é o primeiro a morrer

 


 13 de Agosto de 2023  Robert Bibeau 

Como Von der Leyen deixou claro, os Estados-Membros da UE têm de fazer contribuições adicionais no valor total de 66 mil milhões de euros para o orçamento da UE, quanto mais não seja para chegar até 2023.



Por Alastair Crooke – 16 de Julho de 2023 – Fonte Al Mayadeen

Esperava-se que o Green Deal da UE custasse 620 mil milhões de euros. Tudo tinha sido acordado. No entanto, como relata a Eurointelligence, este pacto está agora quase totalmente sem financiamento, devido à ajuda "generosa" fornecida à Ucrânia. A Comissão tem apenas 82,5 mil milhões de euros à sua disposição. Isso é uma ninharia! A agenda verde está, portanto, à beira de desaparecer da cena política.

Na semana passada, o presidente Macron (reflectindo as realidades económicas) começou a recuar nas medidas verdes: a Europa, disse ele, "já foi longe demais". Esta semana, o Partido Popular Europeu terá considerado retirar o seu apoio ao "Green Deal" da Comissão Europeia, que inclui, por exemplo, uma meta europeia para eliminar as emissões líquidas de carbono até 2050.

No entanto, ainda em 2020, a UE chegou a acordo sobre um orçamento para sete anos de 1100 mil milhões de euros. Dois anos mais tarde, este montante já foi atribuído com cinco anos de antecedência"Apenas dois anos após o orçamento de sete anos, Bruxelas ficou sem dinheiro", sublinhou o primeiro-ministro Viktor Orbán: "Como é que isto é possível? O que aconteceu com a economia? Onde está o dinheiro?"

Parece que a Comissão já gastou todos os seus fundos de reserva atribuídos ao orçamento da UE para sete anos (um montante total de 30 mil milhões de euros em reservas), que deveria durar até 2027. Isto significa que os ministros das Finanças da UE terão de fazer mais contribuições para o orçamento da UE, disse a presidente da Comissão, Von der Leyen.

Para onde foi o dinheiro? (Orbán, claro, sabe a resposta): "Enquanto esta guerra [na Ucrânia] está em curso, retiramos do orçamento da UE os 30 mil milhões de euros [ou seja, toda a reserva] para apoiar financeiramente a Ucrânia... Estas [reservas] estão agora esgotadas."

Atualmente, tal como Von der Leyen deixou claro, os Estados-Membros da UE têm de fazer contribuições adicionais no valor total de 66 mil milhões de euros para o orçamento da UE - apenas para chegar até 2023. Destes 66 mil milhões de euros adicionais, 50 mil milhões de euros já foram reservados para empréstimos e subvenções à Ucrânia (para além dos 72 mil milhões de euros já concedidos a Kiev desde o início da operação militar russa na Ucrânia, em Fevereiro passado) e 15 mil milhões de euros para programas de ajuda aos migrantes e refugiados. Apenas mil milhões de euros se destinam a melhorar a competitividade da UE.

E isso não é o pior de tudo, porque a próxima grande questão, de acordo com Von der Leyen, é a forma de apoiar a Ucrânia até 2027. O Comissário responsável pelo orçamento, Johannes Hahn, já percorreu as capitais pedindo mais dinheiro agora e muito mais para 2024-2027. A Senhora Presidente está a pedir 72 mil milhões de euros (a uma taxa de 18 mil milhões de euros por ano) em contribuições adicionais para financiar o orçamento e as necessidades de infra-estruturas da Ucrânia de 2024 a 2027.

Este pedido de fundos marca a primeira vez que a Comissão Europeia teve de implorar aos Estados-Membros da UE que disponibilizassem fundos adicionais após apenas dois anos de um orçamento de sete anos. O quadro de despesas da UE é confirmado de sete em sete anos, o último dos quais em Julho de 2020. As alterações ao orçamento da UE são "supostamente" aprovadas por uma decisão unânime de todos os Estados-Membros. A Hungria, por seu lado, interroga-se sobre se a unanimidade será respeitada.

Em 16 de junho, o Ministro das Finanças alemão, Christian Lindner, declarou ao jornal Die Welt que a Alemanha não podia contribuir com mais dinheiro para o orçamento da UE: "Tendo em conta os cortes necessários no nosso orçamento nacional, não podemos actualmente contribuir com mais dinheiro para o orçamento da União Europeia", declarou Linder aos jornalistas em Bruxelas, acrescentando que outros Estados-Membros tinham chegado à mesma conclusão

No final de Maio, Lindner fixou objectivos de poupança rigorosos para os ministérios alemães, a fim de colmatar o défice financeiro de 20 mil milhões de euros. Desde então, Lindner suavizou um pouco a sua abordagem à austeridade. Os cortes são controversos - e as discussões sobre o financiamento adicional do orçamento da UE ainda não terminaram, informou o gabinete do chanceler Olaf Scholz.

Lindner explicou que a UE tinha atingido o limite máximo do seu orçamento a longo prazo até 2027, em grande parte devido à ajuda generosa da União à Ucrânia.

Lindner explicou que, embora a Alemanha tenha sido tradicionalmente o maior contribuinte da UE, foi forçada a efetuar cortes devido à contracção da sua economia. Após uma década de aumento das despesas, o governo alemão adoptou planos para reduzir o seu orçamento em 30,6 mil milhões de euros para o próximo ano, afectando áreas como a saúde, os cuidados infantis e os transportes públicos, desencadeando ferozes batalhas políticas no seio do governo de coligação e entre as clivagens políticas.

A explosão da dívida pública devido à pandemia do coronavírus e a crise energética desencadeada pela guerra da Rússia na Ucrânia tornam inevitáveis cortes drásticos, afirmou o Ministro das Finanças Lindner. O ministro insistiu que o país vai regressar a políticas orçamentais mais rigorosas que respeitam o travão da dívida consagrado na Constituição do país e que limita as despesas.

Como sempre, são as despesas de guerra que acabam por implodir os impérios! Perguntamo-nos quantos cidadãos europeus estarão conscientes da dimensão das despesas de Von der Leyen com a Ucrânia. No fim de contas, é claro, são eles que vão suportar os custos.

Alastair Crooke

Traduzido por Zineb, revisto por Wayan, para o Saker Francophone

 

Fonte: C’est la fin des programmes d’aide de l’UE: Le “Green Deal” meurt en premier – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice




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