15 de Agosto de 2024 Robert Bibeau
Por Khider Mesloub.
Uma semana após o ataque com faca que custou a vida a três raparigas no noroeste de Inglaterra, no meio de especulações sobre a origem do suspeito e da difusão de rumores infundados sobre a sua alegada religião muçulmana, o país continua a enfrentar motins contra os imigrantes. A violência eclodiu em várias cidades de Inglaterra.
Desde o início dos tumultos, foram efectuadas centenas de detenções na sequência
da violência, com hotéis que albergam requerentes de asilo saqueados, mesquitas
atacadas e estabelecimentos comerciais saqueados.
De acordo com os meios de comunicação britânicos, estão previstas cerca de
trinta manifestações para quarta-feira, 7 de Agosto, principalmente em
Inglaterra e em Belfast. A polícia de Londres promete utilizar "todos os
poderes, todas as tácticas e todas as ferramentas" para proteger a
capital. Em todo o país, serão mobilizados 6.000 agentes.
As manifestações poderão ter como alvo escritórios de advogados
especializados em direitos dos estrangeiros. No início da semana, circulava nas
redes sociais uma lista com os nomes de dezenas deles.
Segundo todos os tablóides, a extrema-direita está a espalhar o ódio e a
atacar os imigrantes. Acusam o grupo de extrema-direita English Defence League
(EDL), que conduziu uma campanha de difamação em linha, de ser o principal
responsável pelos motins.
O papel das redes sociais foi também apontado por muitos dirigentes
britânicos. O fundador da EDL, Tommy Robinson, é acusado de utilizar
extensivamente o X para convocar manifestações, ao mesmo tempo que alimentava
os seus 900 000 seguidores com informações falsas.
Em consequência, os dirigentes e os meios de comunicação social acusam a
extrema-direita de alimentar as chamas. De alimentar o ódio contra os
migrantes.
Há quem diga que a culpa é da interferência estrangeira. A interferência
estrangeira está por detrás dos tumultos em Inglaterra, segundo vários meios de
comunicação social, nomeadamente em França. Culpam explicitamente Moscovo.
Mas a verdade é que nem a extrema-direita nem Moscovo são responsáveis pelo
recrudescimento da xenofobia, do racismo puro e simples e da caça aos
migrantes.
Desde o Brexit, foi o governo conservador britânico que fez da imigração,
num contexto de retórica xenófoba, a sua principal plataforma eleitoral e o seu
único projecto de governo.
Recorde-se que, após anos de debates políticos e governamentais
nauseabundos sobre a proposta de deportação de migrantes, debates que
contribuíram para tornar o racismo inaceitável entre a população, o Parlamento
britânico ratificou em Abril o acordo de deportação de migrantes para o Ruanda
(a milhares de quilómetros do Reino Unido e dos seus países de origem).
Um acordo brutal baseado em acordos neo-coloniais, um símbolo da xenofobia
que também está a alastrar por toda a Europa.
A adopção deste acordo de deportação de migrantes inscreve-se na política
xenófoba assassina instaurada pela antiga camarilha governamental do Partido
Conservador.
O antigo primeiro-ministro, Rishi Sunak, afirmou ter aprovado "a lei
anti-imigração mais dura de sempre" e anunciou que "os aviões vão
descolar de qualquer maneira" para começar a deportar os requerentes de
asilo "nas próximas 10 a 12 semanas". Acrescentou ainda que
"nada [poderia] impedir" o Governo de efectuar as deportações.
"Nenhum tribunal estrangeiro nos vai impedir de descolar os aviões",
insistiu.
Assim que o acordo de deportação foi aprovado, o seu Secretário de Estado
do Interior lançou uma vasta operação de prisão e detenção de requerentes de
asilo com vista à sua deportação para o Ruanda.
Foi outro membro da camarilha sionista do governo britânico, Suella
Braverman, então Ministra do Interior, que declarou que "sonhava [...] em
ver um avião cheio de refugiados a descolar para o Ruanda na primeira página do
Telegraph".
Os aviões deveriam descolar entre 1 e 15 de Julho de 2024. Apesar dos
protestos das instâncias internacionais, nomeadamente da ONU, que denunciaram
uma violação do direito internacional, o Governo britânico estava determinado a
levar por diante o seu projecto desumano de deportação de migrantes. Em Abril,
o diário britânico The Guardian revelou que o Governo estava a levar a cabo uma
grande operação de detenção de requerentes de asilo em todo o país, a fim de
encher os aviões com destino a Kigali.
Em Julho de 2023, foi o primeiro-ministro Sunak que ultrapassou os limites
do racismo institucional com o seu projecto de "barcaça flutuante"
(entenda-se: prisão offshore para migrantes). A camarilha governamental
britânica, inspirada pelos sionistas israelitas, encomendou à "Bibby
Marine" a construção destas prisões flutuantes.
Nos últimos anos,
especialmente desde o Brexit, para desviar a atenção da crise económica, a
camarilha sionista do governo britânico continuou a culpar descaradamente os
imigrantes. Pior ainda, para desviar a raiva das crises sociais e económicas,
aplicaram políticas racistas e bárbaras.
Na corrida para se superarem uns aos outros na campanha anti-migrante que está a varrer a Europa, o governo conservador britânico desempenhou um papel de liderança na disseminação da xenofobia e do racismo. Especialmente entre a população britânica empobrecida, que é alimentada diariamente com uma dieta de retórica anti-migrante pelo governo e pelos media.
Seguindo os passos da classe dirigente supremacista israelita, para quem os palestinianos não passam de animais a deportar ou a genocidar, o governo britânico, com a sua política racista de deportação e de "Guantánamização" (1), desumanizou e animalizou os migrantes, na sua maioria oriundos de fora da Europa.
Uma coisa é certa: o surto de violência racista no Reino Unido segue-se a um longo período durante o qual os refugiados e os migrantes foram transformados em bodes expiatórios pelos líderes políticos conservadores através de uma retórica xenófoba e de medidas desumanizadoras. Depois de o Governo britânico ter aberto a caixa de Pandora racista e xenófoba, as classes trabalhadoras empobrecidas, inflamadas até à exaustão, entraram na onda anti-migrante.
Em todo o caso, a hipocrisia ocidental não tem limites.
Quando a classe dirigente britânica adoptou o seu plano desprezível de reunir milhares de imigrantes para os deportar para o Ruanda, em África, nenhum dirigente ocidental se ofendeu com este plano racista e bárbaro.
Mas quando os proletários marginalizados, levados ao delírio pela retórica racista do governo ao longo de vários anos, decidem pôr em prática este plano de expulsão dos imigrantes manu militari, votado pelos conservadores e depois cancelado pelos trabalhistas, os meios de comunicação ocidentais fingem-se ofendidos.
Quando a retórica xenófoba e os planos racistas emanam da classe dirigente britânica, são toleráveis e legítimos. Mas quando são adoptados pelos proletários britânicos, marginalizados e doutrinados, tornam-se intoleráveis e repreensíveis.
Para recordar, se não fosse a sua derrota eleitoral, a máfia do governo sionista britânico, personificada pelo Partido Conservador, esperava deportar mais de 5700 migrantes para o Ruanda este ano.
Permitam-me que seja claro: estamos a tentar explicar, e não a tolerar, estes motins xenófobos. Acima de tudo, estamos a tentar identificar a origem deste surto de racismo e violência xenófoba. Não é da natureza humana ser racista ou violento. Por outro lado, numa sociedade de classes baseada na exploração e na opressão, é da natureza da classe dominante dividir os explorados para melhor governar, para governar pela violência. E o racismo é uma violência simbólica. Tanto a violência como o racismo são inerentes à sociedade capitalista.
Os proletários empobrecidos da Grã-Bretanha estão simplesmente a seguir as pegadas, embora da forma brutal e violenta que caracteriza os motins populistas, da classe dominante xenófoba britânica, que usa o seu braço armado, a polícia, para cometer legalmente os seus crimes racistas, reunindo e deportando migrantes.
Bertolt Brecht escreveu que "o ventre ainda está fértil de onde brotou a besta imunda". O monstro britânico saiu dos palácios da burguesia inglesa, apologista do genocídio israelita. Por acção capilar, espalhou o seu racismo atávico pelas classes trabalhadoras empobrecidas e desesperadas.
Khider MESLOUB
1) O campo de Guantánamo é uma prisão militar de alta segurança situada na
base naval americana da Baía de Guantánamo, no sudeste de Cuba. O centro de
detenção de Guantánamo tornou-se um símbolo de violações dos direitos humanos,
como a tortura e a detenção ilegal.
Fonte: La classe dirigeante britannique unique responsable des émeutes anti-migrants – les 7 du quebec
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
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