O que terá levado o governo de transição do Mali a anunciar a ruptura das relações diplomáticas do seu país com a Ucrânia? No seu recente comunicado, emitido a 4 de Agosto do corrente (abaixo reproduzido), o Mali, um país que faz parte – conjuntamente com o Burkina Faso e a República do Niger- da Confederação dos Estados do Sahel, no continente africano, que recentemente expulsaram dos seus territórios as tropas e títeres a soldo do imperialismo francês, vem lançar luz sobre os porquês.
Os mais “distraídos” fingem que pensam que, quando o imperador Macron afirma que a sua solidariedade será total e até ao último homem (ucraniano, claro está) no apoio à Ucrânia e ao direito desta se defender da alegada agressão russa à sua “soberania”, a mesma é genuína e assente numa lealdade aos princípios defendidos pela França dos “direitos e liberdades”... humanos, claro está! E que, portanto, toda essa “solidariedade” assenta numa atitude desinteressada.
O supracitado comunicado das autoridades governamentais do Mali, esclarecem que, afinal, não existem ... almoços grátis!!! Mas, para que o leitor retire as suas próprias ilações, aqui reproduzimos, na íntegra, o dito comunicado.
Luis Júdice
O Mali rompe relações diplomáticas com a Ucrânia (Comunicado de imprensa)
O Governo de Transição da República do Mali ficou chocado ao tomar conhecimento das observações subversivas feitas por Andriy Yusov, porta-voz da agência de informação militar ucraniana, admitindo o envolvimento da Ucrânia num ataque cobarde, traiçoeiro e bárbaro perpetrado por grupos terroristas armados que resultou na morte de membros das Forças de Defesa e Segurança do Mali em Tinzawatène, bem como em danos materiais.
Estes comentários foram reforçados por Yurii Pyvovarov, embaixador da Ucrânia no Senegal, que manifestou aberta e inequivocamente o apoio do seu país ao terrorismo internacional, nomeadamente no Mali.
Pior ainda, nos seus comentários, estes funcionários ucranianos anunciaram que mais actos de terrorismo se seguirão.
Estas declarações extremamente graves, que não foram desmentidas nem condenadas pelas autoridades ucranianas, mostram o apoio oficial e inequívoco do Governo ucraniano ao terrorismo em África, no Sahel e, mais especificamente, no Mali.
Após uma análise atenta da situação, o Governo de Transição da República do Mali sublinha que as acções das autoridades ucranianas violam a soberania do Mali, ultrapassam o quadro da ingerência estrangeira, já de si condenável, e constituem uma agressão flagrante contra o Mali e um apoio ao terrorismo internacional, em violação flagrante do direito internacional, incluindo a Carta das Nações Unidas.
O Governo de Transição
da República do Mali condena veementemente esta agressão ucraniana e denuncia
esta hostilidade por parte das autoridades ucranianas, que é contrária à
posição de neutralidade observada pelo Mali, que sempre apelou a uma resolução
pacífica da crise que opõe a Federação Russa e a Ucrânia.
Além disso, o Governo de Transição da República do Mali subscreve inteiramente o diagnóstico feito pela Federação Russa, que há anos alerta o mundo para o carácter neo-nazi e vil das autoridades ucranianas, que são agora aliadas do terrorismo internacional, longe das aspirações de paz e estabilidade do povo ucraniano.
Na sequência do envolvimento reconhecido e aceite da Ucrânia na agressão contra o Mali, o Governo de Transição da República do Mali decidiu tomar as seguintes medidas:
1. romper, com efeito imediato, as relações diplomáticas entre a República do Mali e a Ucrânia, cujo destino foi infelizmente confiado a fantoches que confundem a cena internacional com a cena teatral.
2. Remeter a questão para as autoridades judiciais competentes, na sequência das observações feitas pelos Srs. Andriy Yusov e Yurii Pyvovarov, que constituem actos de terrorismo e apologia do terrorismo.
3. tomar as medidas necessárias para evitar qualquer desestabilização do Mali por parte dos Estados africanos, nomeadamente das embaixadas ucranianas na sub-região, com terroristas disfarçados de diplomatas.
4. alertar formalmente as instâncias regionais e internacionais, bem como os Estados que apoiam a Ucrânia, para o facto de este país ter manifestado aberta e publicamente o seu apoio ao terrorismo. Por conseguinte, o Mali considera o apoio à Ucrânia como um apoio ao terrorismo internacional.
O Mali apela à responsabilidade da comunidade internacional face à escolha deliberada da Ucrânia de apoiar o terrorismo num contexto mundial em que existe um acordo unânime sobre a necessidade de combater este flagelo.
O Mali apela em particular aos Estados e povos africanos amantes da paz para que denunciem estas acções subversivas que ameaçam a estabilidade do continente africano.
O Governo de Transição da República do Mali reitera os seus agradecimentos aos países amigos do Mali que manifestaram a sua solidariedade face aos atentados terroristas perpetrados com a ajuda de patrocinadores estrangeiros.
O Governo de Transição da República do Mali constata que esta agressão mantida pela Ucrânia se inscreve num padrão mais vasto de certos intervenientes que apoiam e exploram activamente grupos terroristas armados, aliados a grupos rebeldes, para fins hegemónicos e neo-coloniais e para quebrar a dinâmica de emancipação, de reconquista da soberania e de desenvolvimento socio-económico iniciada pela Confederação dos Estados do Sahel (AES).
Estes actos de agressão, longe de atingirem o seu objectivo, reforçam, pelo contrário, o empenho e a determinação do Burkina Faso, da República do Mali e da República do Níger, no quadro da Confederação dos Estados do Sahel (CSA), em prosseguirem com maior vigor a sua marcha resoluta para o reforço da sua soberania e a tomada de controlo do seu destino, para felicidade das populações da CSA.
O Mali inclina a cabeça perante a memória de todas as vítimas da insegurança no Sahel e reafirma que os crimes perpetrados não ficarão impunes.
Que Deus abençoe o Mali e a AES!
Bamako, 04 de agosto de 2024
O Ministro de Estado, Ministro da Administração Territorial e da Descentralização,
O porta-voz do
Governo,
Fonte: maliweb.net - Le Mali rompt ses relations
diplomatiques avec l’Ukraine (Communiqué)
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