RENÉ NABA — Este texto é publicado em parceria com a www.madaniya.info.
Texto da intervenção do autor no 3º colóquio internacional Sport-Europa-Mediterrâneo, realizado em 5 de Junho de 2023 no Hôtel Mercure Marseille-Centre Vieux Port, sob a égide de Serge e Michel Pautot, editores da revista Legisport.
A convulsão geo-estratégica da bacia mediterrânica
A diversidade é riqueza. Uma pessoa com uma monocultura é hemiplégica. Toda
uma parte do hemisfério sul do seu cérebro é cega.
Isto é tanto mais verdade quanto a bacia mediterrânica está a sofrer uma
reviravolta geo-estratégica. Pela primeira vez na história da humanidade, a
margem sul do Mediterrâneo - a margem árabe e muçulmana - tem um excedente
demográfico em relação à margem norte, a casa histórica do mundo
ocidental. E o Mediterrâneo deixou de
ser um mar ocidental para se tornar um mar internacional, com a ascensão do
Islão ao estatuto de religião mundial, a par do cristianismo, que inclui tanto
o catolicismo como o protestantismo nas suas diversas formas.
Melhor ainda: nenhum país europeu tem 100 milhões de habitantes, enquanto a
margem sul do Mediterrâneo tem dois: o Egipto e a Turquia.
Melhor ainda: a África Negra tem hoje tantos católicos como a Europa
Ocidental, com cerca de 250 milhões de fiéis, enquanto a Europa, outrora o
centro da expansão mundial do cristianismo, conta com cinco grandes países
católicos: Itália, França, Espanha, Portugal e Alemanha. Mas a África negra,
que não tinha católicos há dois séculos, está em plena fase de expansão do
cristianismo, paralelamente a uma fase de secularização e laicização da Europa,
a tal ponto que se perspectiva um papa do continente africano à frente da
Igreja Católica, não um "papa negro", termo geralmente reservado ao
superior dos padres jesuítas, mas um soberano pontífice de origem africana.
A diversidade é, portanto, um trunfo. Mas não deve, em caso algum,
constituir uma negação da matriz identitária original. Este simpósio é disso
testemunho.
O desporto como escape não letal
O desporto transmediterrânico é, por excelência, a negação da "teoria
da grande substituição", como gostam de dizer os nostálgicos de um império
passado.
A competição existe de facto neste domínio. Mas não implica a eliminação
física do adversário, nem a sua repressão, nem a sua remigração, muito menos a
sua deportação, ou pior ainda, a sua erradicação. Uma saída não letal. Um
combate não poluente. Um combate ecológico.
No desporto, a competição é emulação. Um esforço colectivo para melhorar a
condição humana. E é disso que se trata um recorde.
A "equipa negra, negra, negra, alvo de chacota na Europa" existe
apenas na mente dos infelizes, apesar de ter levado o autor desta observação
imoral a uma instituição de prestígio, a Academia Francesa, com o grau de
"Imortal".
O desporto em geral, e o desporto trans-mediterrânico em particular, é um
caldeirão permanente. Para além das religiões, das etnias e das culturas, é um
esforço para realizar um desejo comum de viver em conjunto nas margens do nosso
mar comum.
Uma ponte entre as duas margens.
Não um choque de civilizações, mas um diálogo de civilizações.
Em suma, a transcendência. A superação de si próprio.
A alegria dos cumes, não a náusea dos poços nauseabundos.
Numa palavra: o melhor do homem.
Celebremos, pois, o desporto. O esforço do homem pelo melhor do homem,
esteja ele onde estiver, seja ele quem for, venha ele de onde vier, aconteça o
que acontecer. Para que o Mediterrâneo, "o Mare nostrum, não se torne um
Mare mortuum" e para que "o Mediterrâneo, berço da civilização, não
se torne o túmulo da dignidade, mas um laboratório da Humanidade", para
usar a expressão do Papa Francisco durante a sua homilia no estádio Velódromo
de Marselha, em 23 de Setembro de 2023.
A PROPÓSITO DO MEDITERRÂNEO
§ https://www.renenaba.com/le-pole-mediterraneen-ou-le-dilemme-de-leurope-face-a-lamerique/
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
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