terça-feira, 6 de agosto de 2024

Desporto trans-mediterrânico, uma ponte, negando a "teoria da grande substituição".

 


 6 de Agosto de 2024  René Naba 

RENÉ NABA — Este texto é publicado em parceria com a www.madaniya.info.

Texto da intervenção do autor no 3º colóquio internacional Sport-Europa-Mediterrâneo, realizado em 5 de Junho de 2023 no Hôtel Mercure Marseille-Centre Vieux Port, sob a égide de Serge e Michel Pautot, editores da revista Legisport.

A convulsão geo-estratégica da bacia mediterrânica

A diversidade é riqueza. Uma pessoa com uma monocultura é hemiplégica. Toda uma parte do hemisfério sul do seu cérebro é cega.

Isto é tanto mais verdade quanto a bacia mediterrânica está a sofrer uma reviravolta geo-estratégica. Pela primeira vez na história da humanidade, a margem sul do Mediterrâneo - a margem árabe e muçulmana - tem um excedente demográfico em relação à margem norte, a casa histórica do mundo ocidental.  E o Mediterrâneo deixou de ser um mar ocidental para se tornar um mar internacional, com a ascensão do Islão ao estatuto de religião mundial, a par do cristianismo, que inclui tanto o catolicismo como o protestantismo nas suas diversas formas.

Melhor ainda: nenhum país europeu tem 100 milhões de habitantes, enquanto a margem sul do Mediterrâneo tem dois: o Egipto e a Turquia.

Melhor ainda: a África Negra tem hoje tantos católicos como a Europa Ocidental, com cerca de 250 milhões de fiéis, enquanto a Europa, outrora o centro da expansão mundial do cristianismo, conta com cinco grandes países católicos: Itália, França, Espanha, Portugal e Alemanha. Mas a África negra, que não tinha católicos há dois séculos, está em plena fase de expansão do cristianismo, paralelamente a uma fase de secularização e laicização da Europa, a tal ponto que se perspectiva um papa do continente africano à frente da Igreja Católica, não um "papa negro", termo geralmente reservado ao superior dos padres jesuítas, mas um soberano pontífice de origem africana.

A diversidade é, portanto, um trunfo. Mas não deve, em caso algum, constituir uma negação da matriz identitária original. Este simpósio é disso testemunho.

O desporto como escape não letal

O desporto transmediterrânico é, por excelência, a negação da "teoria da grande substituição", como gostam de dizer os nostálgicos de um império passado.

A competição existe de facto neste domínio. Mas não implica a eliminação física do adversário, nem a sua repressão, nem a sua remigração, muito menos a sua deportação, ou pior ainda, a sua erradicação. Uma saída não letal. Um combate não poluente. Um combate ecológico.

No desporto, a competição é emulação. Um esforço colectivo para melhorar a condição humana. E é disso que se trata um recorde.

A "equipa negra, negra, negra, alvo de chacota na Europa" existe apenas na mente dos infelizes, apesar de ter levado o autor desta observação imoral a uma instituição de prestígio, a Academia Francesa, com o grau de "Imortal".

O desporto em geral, e o desporto trans-mediterrânico em particular, é um caldeirão permanente. Para além das religiões, das etnias e das culturas, é um esforço para realizar um desejo comum de viver em conjunto nas margens do nosso mar comum.

Uma ponte entre as duas margens.

Não um choque de civilizações, mas um diálogo de civilizações.

Em suma, a transcendência. A superação de si próprio.

A alegria dos cumes, não a náusea dos poços nauseabundos.

Numa palavra: o melhor do homem.

Celebremos, pois, o desporto. O esforço do homem pelo melhor do homem, esteja ele onde estiver, seja ele quem for, venha ele de onde vier, aconteça o que acontecer. Para que o Mediterrâneo, "o Mare nostrum, não se torne um Mare mortuum" e para que "o Mediterrâneo, berço da civilização, não se torne o túmulo da dignidade, mas um laboratório da Humanidade", para usar a expressão do Papa Francisco durante a sua homilia no estádio Velódromo de Marselha, em 23 de Setembro de 2023.

A PROPÓSITO DO MEDITERRÂNEO

§  https://www.renenaba.com/la-mediterranee-a-lhorizon-de-lan-2050-du-centre-du-monde-au-focal-du-monde/

§  https://www.renenaba.com/le-pole-mediterraneen-ou-le-dilemme-de-leurope-face-a-lamerique/

 

Fonte: Le sport transméditerranéen, une passerelle, la négation de la «théorie du grand remplacement» – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice




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