11 de Agosto
de 2024 Robert Bibeau
Por Vijay PRASHAD
Na cimeira da
Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), em Washington, o foco foi a
Ucrânia. Na Declaração de Washington, os líderes da NATO escreveram: "O futuro da Ucrânia está na NATO".
A Ucrânia solicitou formalmente a adesão à NATO em Setembro de 2022, mas
cedo percebeu que, apesar do amplo apoio da NATO, vários Estados-membros (como
a Hungria) não estavam confortáveis com a ideia de escalar o conflito com a
Rússia. Já na Cimeira da NATO em Bucareste, em 2008, os membros saudaram
"as aspirações euro-atlânticas da Ucrânia e da Geórgia à adesão à NATO.
Acordámos hoje que estes países se tornarão membros da NATO."
No entanto, o Conselho
da NATO hesitou devido ao conflito fronteiriço com a Rússia. Se a Ucrânia
tivesse sido integrada à pressa na NATO e o conflito fronteiriço tivesse
escalado (como aconteceu), a NATO teria sido arrastada para uma guerra directa
contra a Rússia... o que
não queria na altura, dada a impreparação das forças militares da NATO e da
opinião pública ocidental. Nota do editor.
Ao longo da última década, a NATO reforçou
a sua presença militar ao longo das fronteiras da Rússia. Na Cimeira da OTAN no
País de Gales (Setembro de 2014), a OTAN implementou o seu Plano de Acção de
Prontidão (RAP). Este plano foi concebido para aumentar as forças militares da
NATO na Europa Oriental "desde o Mar Báltico, a norte, até ao Mar Negro, a
sul". Dois anos mais tarde, em Varsóvia, a NATO decidiu desenvolver uma
Presença Avançada reforçada (FPE) na região do Mar Báltico com "agrupamentos
tácticos estacionados na Estónia, Letónia, Lituânia e Polónia". A
distância entre Moscovo e as regiões fronteiriças da Estónia e Letónia é de
apenas 780 quilómetros, bem abaixo do alcance de um míssil balístico de curto
alcance (1.000 quilómetros). Em resposta à escalada da NATO, a Bielorrússia e a
Rússia acolheram o Zapad 2017, o maior exercício militar destes países desde
1991. Na altura, pessoas razoáveis teriam pensado que a desescalada deveria
ter-se tornado a prioridade de todas as partes. Mas não foi esse o caso.
As provocações dos
Estados membros da NATO continuaram. Após a invasão da Ucrânia pela Rússia em
2022, os Aliados da OTAN decidiram apoiar totalmente a Ucrânia e impedir
quaisquer negociações para uma resolução pacífica do conflito. Os Estados
Unidos e seus aliados da OTAN enviaram armas e equipamentos para a Ucrânia, e
altos responsáveis militares dos EUA fizeram declarações provocatórias sobre os
seus objectivos de guerra (por exemplo, "enfraquecer a Rússia"). As
conversações entre os ucranianos e as autoridades russas na Bielorrússia e na
Turquia foram postas de lado pela NATO, e o verdadeiro objectivo de guerra da
Ucrânia (a mera retirada das forças russas) foi ignorado. Em vez disso, os
países da NATO gastaram milhares de milhões de dólares em armamento e viram
soldados ucranianos morrerem numa guerra inútil. À margem da cimeira da NATO em
Washington, o almirante Rob Bauer, da Marinha Real Neerlandesa, que preside ao
comité militar da NATO, disse à Foreign Policy: "Os ucranianos precisam de mais para
ganhar do que aquilo que criámos". Por outras palavras, os Estados-membros
da NATO estão a fornecer à Ucrânia armas suficientes para continuar o conflito,
mas não para mudar a situação no terreno (seja através da vitória ou da
derrota). Os países da NATO parecem querer usar a Ucrânia para sangrar a
Rússia.
Culpar a
China
A Declaração de
Washington da NATO contém uma secção desconcertante. Diz que a China "se tornou um apoiante
decisivo da guerra da Rússia contra a Ucrânia". A expressão "apoio
decisivo" tem merecido muita atenção na China, onde o governo
condenou imediatamente a caracterização da NATO da guerra na Ucrânia. O
porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Lin Jian, disse que a
declaração da NATO "está mal motivada e não faz sentido". Pouco
depois de as tropas russas entrarem na Ucrânia, Wang Wenbin, do Ministério dos
Negócios Estrangeiros chinês, disse que "a soberania e a integridade
territorial de todos os países devem ser respeitadas e mantidas". Isso é
exactamente o oposto de encorajar a guerra e, desde então, a China apresentou
propostas de paz para acabar com a guerra. As acusações de que a China forneceu
"ajuda letal" à Rússia não foram comprovadas pelos países da NATO e
foram negadas pela China.
Lin Jian fez duas
perguntas-chave na conferência de imprensa de 11 de Julho de 2024 em Pequim:
"Quem
exactamente está a alimentar as chamas? Quem, exactamente, "permite"
o conflito? ". A resposta é clara, uma vez que é a NATO que rejeita quaisquer
negociações de paz, os países da NATO que estão a armar a Ucrânia para
prolongar a guerra e os líderes da NATO que querem expandir a NATO para leste e
recusam o apelo da Rússia a uma nova arquitectura de segurança (tudo isto é
demonstrado pela deputada alemã Sevim Dağdelen no seu novo livro sobre os 75
anos de história da NATO).
Quando o húngaro Viktor Orban – cujo país detém a presidência semestral da União Europeia – visitou a Rússia e a Ucrânia para falar sobre um processo de paz, foram os Estados europeus que condenaram a missão. (Ver Resultados da Pesquisa por "Orban" – les 7 du quebec ). Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, respondeu com uma dura repreensão a Orban, escrevendo que "o apaziguamento não deterá Putin". A par destes comentários, os europeus e os norte-americanos prometeram fornecer à Ucrânia fundos e armas para a guerra. Surpreendentemente, o novo secretário-geral da NATO, Mark Rutte, autorizou mesmo a Ucrânia a utilizar um jacto F-16 holandês, oferecido à Ucrânia quando Rutte era primeiro-ministro, para atacar solo russo. Isto significa que as armas de um país da NATO seriam utilizadas directamente para atacar a Rússia, permitindo que a Rússia retaliasse contra um Estado da NATO.
A declaração da NATO de que a China era um "facilitador decisivo" permitiu à Aliança Atlântica defender a sua operação "fora da área" no Mar da China Meridional como parte da defesa dos seus parceiros europeus. Foi isso que permitiu à NATO declarar, como fez o secretário-geral cessante, Jens Stoltenberg, numa conferência de imprensa, que a NATO deve "continuar a fortalecer as suas parcerias, especialmente no Indo-Pacífico". Esses parceiros do Indo-Pacífico são Austrália, Japão, Nova Zelândia e Coreia do Sul. Curiosamente, o principal parceiro comercial de três destes países não são os Estados Unidos, mas sim a China (sendo o Japão o caso especial). Até mesmo analistas do Federal Reserve Bank dos EUA concluíram que "a desconexão da China com os processos mundiais de produção e consumo não está à vista". Esta é a verdadeira causa do processo de escalada gradual nos preparativos para uma guerra mundial entre os dois eixos imperialistas (Ocidente-NATO versus Leste-China-Rússia).
Apesar disso, estes países aumentaram de forma imprudente a pressão contra a China (incluindo a Nova Zelândia, que está agora ansiosa por aderir ao segundo pilar do tratado AUKUS entre a Austrália, os Estados Unidos e o Reino Unido). A Otan disse que continua aberta a um "compromisso construtivo" com a China, mas não há sinais de tal desenvolvimento.
Vijay Prashad é um historiador indiano e intelectual marxista. É Director
Executivo do Tricontinental: Institute for Social Research e Editor da LeftWord
Books. Ideologicamente marxista, Prashad é bem conhecido pelas suas críticas ao
capitalismo, neo-colonialismo, excepcionalismo americano e imperialismo
ocidental, enquanto expressa o seu apoio ao comunismo e ao Sul. É autor de Red
Star Over the Third World (Pluto Press) e Washington Bullets: A History of the
CIA, Coups, and Assassinations (Monthly Review Press).
»» https://italienpcf.blogspot.com/2024/07/lotan-accelere-son-conflit-ave... NATO acelera
conflito com a China — Vijay Prashad (legrandsoir.info)
Este artigo
foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice
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