quarta-feira, 21 de agosto de 2024

A Nova Frente Popular: Desconfie sempre de profissionais que se apressam a fazer-se passar por nós



21 de Agosto de 2024  Oeil de faucon 

Publicado em 15/08/2024 por La Mouette Enragée


A Nova Frente Popular:
Desconfie sempre de profissionais que se apressam a fazer-se passar por nós

"Discursos, sermões, programas não passariam de artimanhas e mentiras; os mesmos malabaristas só voltariam a executar o mesmo truque, com o mesmo saco a tiracolo; Eles formariam o primeiro elo de uma nova cadeia de reacção mais furiosa! Sobre eles, anátema e vingança, se é que alguma vez ousaram reaparecer! Vergonha e pena da multidão que voltaria às suas redes! »[…] *

Cientistas políticos e analistas da media estão satisfeitos com a última eleição: apenas cerca de 40% dos eleitores registados – ou seja, cidadãos canónicos reconhecidos pela selecção republicana e democrática – fizeram o gesto político de não eleger. Desta vaga entre as duas voltas das eleições legislativas resultaria a maioria parlamentar. É toda relativa; é a da Nova Frente Popular. Para o solvente Macron, trata-se de nomear um chefe de governo. Mas avisou, num primeiro momento: não se trata de ter um primeiro-ministro insubmisso (a língua francesa é bem elaborada). Por sua vez, o indescritível Mélenchon diz o contrário. O suspense dura. Difícil. Duro e cansado ...

Um pequeno lembrete cronológico:

No primeiro dia, Macron dissolveu a Assembleia Nacional.
No segundo dia, o Renaissance, preso entre duas frentes, pretende, como Sansão, derrubar as colunas do templo sobre 
elas. Falhado, o primeiro-ministro não será "René".
No terceiro dia e nos que se seguem, é uma confusão indescritível que abala o hemiciclo.

Boa constituição

Como é habitual, é a partir da Nova Frente Popular (PFN), com uma maioria de 193 lugares (contra 143 deputados para o Rassemblement National e 165 para Macronia) que se espera que surja o novo primeiro-ministro. Como exigem os costumes da Quinta República, o primeiro-ministro em exercício, Attal, apresenta a sua demissão ao Presidente da República, Macron neste caso, que... recusa-o de imediato! Um escândalo para "os"(1) extremos, PFN e RN.
Só que há alguns detalhes que não devem ser esquecidos em termos de substância, quando se trata de poder e interesses políticos. Será que Macron sabia disso – é um banqueiro de origem – ou um ou outro dos seus conselheiros sugeriu-lhe?, a Constituição da Quinta República, de Gaullian, dá liberdade ao Presidente Manitou sobre este assunto: nada o obriga a nomear um primeiro-ministro a partir da maioria legislativa. Além disso, não é imposto qualquer prazo. O artigo 8.º da Constituição (apenas) diz: 
O Presidente da República nomeia o Primeiro-Ministro. Cessa as suas funções após apresentação de demissão do Governo. Sob proposta do Primeiro-Ministro, nomeia os restantes membros do Governo e cessa as suas funções.(2) Ponto final.

Se Bardella está quase aliviado – ambicionava sobretudo a fase (bem sucedida) das eleições europeias e não tinha mais do que guarda-costas para construir um governo –, Mélenchon, por outro lado, está furioso, todo a NFP está furiosa!

A Nova Frente Popular: uma composição francesa

Como posso colocá-lo? A NFP é... complexo. Ora é dado um tiro no pé, ora liricamente: "a grandeza ética de uma esquerda que quer governar é ter a consciência de que governamos com pessoas com quem, precisamente, não concordamos"(3) diz Raquel Garrido, deputada do LFI. Está tudo no eufemismo "bastante"...

A NFP nasceu do desejo histórico de enfrentar o fascismo, desta vez "ao alcance dos canhões da Assembleia Nacional", segundo Yannick Jadot, dos ecologistas.

Antes era a Nova União Ecológica e Social Popular (Nupes). Foi uma coligação de partidos de esquerda que emergiu da derrota nas eleições presidenciais de 2022. O motivo: nenhum candidato de esquerda no segundo turno. Taça! O objectivo: ganhar as eleições legislativas que se seguem.
Nada mau! Sem maioria absoluta, mas o Nupes é o principal grupo parlamentar da oposição.

Depois vêm as eleições para senador. O LFI, centro de gravidade da "nova união", é ultrapassado pelo PS, pelo PCF e pela EELV, que formam listas pelas suas costas. O pretexto? O centro de gravidade não abriga uma região, um departamento ou mesmo uma grande cidade; Aos seus olhos, os Insubmissos não têm legitimidade para interpretar o líder. Seguiram-se as diferenças inabaláveis sobre a política externa: Putin na Ucrânia, Hamas, ligações bolivarianas... O LFI, pela voz estrondosa de Mélenchon, dissona demais das dos "camaradas" e, nas eleições europeias de 2024: a aliança tardia, cada um vai para a sua capela. Resultado: Patatras! O RN é declarado o primeiro candidato. Mais a sério, os seus 30 delegados são a primeira componente do grupo político Patriotas pela (sic) Europa, a par do Fidesz de Viktor Orbán, do FPÖ do austríaco Herbert Kickl e do belga flamengo Vlaams Belang, entre outros. Um bando de identitários, xenófobos e... "Eurocépticos"! O PPE(4) é o terceiro maior grupo do Parlamento Europeu e Bardella é o seu presidente; Orbán é o Presidente do Conselho da União Europeia há seis meses – foi a sua vez – e foi a sua vez...

Nem uma, nem duas vezes! Entre 10 e 13 de Junho, a esquerda francesa criou uma aliança sem precedentes: a Nova Frente Popular. Nada a ver com o Nupes, objectivo: vencer as eleições legislativas de 2024.
Ufa! Com 193 votos, a NFP é o principal grupo parlamentar, à frente do Renaissance e do RN. Mas, longe de repintar um hemiciclo em degradée de rosa para vermelho, seriam necessários mais 90 assentos – assentos rebatíveis teriam sido suficientes...

Algo tem absolutamente de ser feito com a maioria relativa!

Mas o quê? Proponha um Primeiro-Ministro!
Mas quem? Todos ao mesmo tempo, não, por favor!

É a corrida pela chalota; Mélenchon decidiu de acordo com o objectivo da sua coligação: será ele. A manta de retalhos da esquerda, numa grande demonstração de democracia, tinha anunciado um resultado de "debates" para 14 de Julho (Dia da Federação a isso obriga!). Adiado... para o dia 18. No dia 18, Faure, apoiado pelo seu PS reanimado por um aumento de 110% do seu quadro legislativo – eleito inclusive pelos seus piores inimigos íntimos do momento – propôs a nomeação de Laurence Tubiana (ex-vereador de... Jospin! ). Este último, diplomata de profissão, faz um aceno subtil a Mélenchon, com o objectivo de "arrancar medidas sociais", particularmente sobre a penúria da reforma da Previdência. Cansado! o coordenador do LFI, Manuel Bompard, destrói a casa ao atirar para fora que Tubiana iria "trazer os macronistas pela janela". Confrontada com uma óbvia rejeição da sua candidatura, jogou a toalha ao chão a 22 de Julho. Quanto a Huguette Bello, presidente PLR (5) da Ilha da Reunião, é o LFI e o PCF que a estão a pressionar para se candidatar ao Primo-ministério. Huguette Bello é emblemática do que é o NPF, do que foi o NUPES. Conhece todos os oportunismos em que uma esquerda naturalmente baseada nas suas rivalidades (na melhor das hipóteses!) tenta surfar, e... é a taça. Bello é, no entanto, de boa composição. Ela vem do Grupo Comunista na Assembleia e apoiou Hollande em 2012. Ela patrocinou Mélenchon nas eleições presidenciais de 2017 e 2022. Está na lista do LFI-União Popular para as famosas eleições europeias de 2024. Em suma, "ela é credível", segundo a especialista Marine Tondelier, cujo partido na aglomeração (Europe Ecology/The Greens) navega à vista, e sem ondas, no pântano unitário. Além disso, diz que é alguém "que conhece o Parlamento, que tem a capacidade de construir uma maioria" e que "está habituada a trocar impressões com Emmanuel Macron". O que isso significa, mesmo os chamados gaúchos do Partido Comunista têm o seu caminho para o Eliseu? Mas outros, no PS, sussurram uma versão mais conspiratória. Diz-se que o Partido Comunista colocou subtilmente o nome de Huguette Bello nos debates para salvar o seu grupo na Assembleia graças ao reforço dos deputados reunioneses.

Esta história é o mato que esconde a tundra.
Por enquanto, uma nova desunião está a surgir. Manuel Bompard critica sem rodeios Olivier Faure: "Durante sete dias, manifestou total oposição a todas as propostas que foram feitas, excepto as que vêm do Partido Socialista e, neste caso, as suas." E leva o assunto para casa: "há uma série de posições do lado do Partido Socialista para dizer que, no final, o que deve ser feito é começar a desistir do programa da nova Frente Popular para tentar encontrar uma espécie de maioria com sectores que vêm do macronismo." (6) Ainda mais grave: em Março de 2024, a autarquia, presidida por Huguette Bello, foi condenada a indemnizar 18 agentes "cujos contratos a termo não tinham sido renovados" para contratarem em seu lugar pessoas próximas da maioria! (7)
Então foi isso... Há-um-traidor-entre-nós! Imediatamente as insinuações caluniosas. Não é como se, nas eleições legislativas de 2017, vinte e dois deputados socialistas(8) se juntassem ao 
En Marche!

Consciente do mal-estar, Bompard propõe deixar descansar a nomeação do primeiro-ministro e concentrar-se noutra questão não negligenciável: a Presidência da Assembleia Nacional (ver caixa). Isto é lamentado pelo PS ao indicar num comunicado de imprensa de 15 de Julho: "Por um lado, queremos indicar que nunca houve qualquer desejo de veto sistemático por parte do Partido Socialista a qualquer candidatura da Nova Frente Popular. Manifestámos o nosso desacordo em relação a uma candidatura, tal como outros manifestaram o seu desacordo em relação a outras candidaturas. É o funcionamento democrático de uma união que respeita cada uma das suas componentes. Por outro lado, tal como os outros, fizemos várias propostas, para avançar para uma escolha consensual. Bom.

A luta continua

Depois da escaramuça cómica no hemiciclo para nomear grandes e pequenos líderes, é inflaccionado que a NFP se aproxime da nomeação lógica de um Primeiro-Ministro das suas fileiras. O objectivo é também contrariar a força de inércia de Macron; É verdade que este último não tinha habituado ninguém, incluindo e especialmente a sua família, a tal espera. No entanto, bastava ouvi-lo; a sua escolha cairá no único espectro percetível para ele: nem infravermelho, nem verdigris – sem LFI ou PCF, sem RN. Será por esta razão que, em última instância, a Nova Frente Popular decidiu propor Lucie Castets? "É alguém muito sólido, muito credível e que conseguiu que as quatro forças da Nova Frente Popular concordassem em torno do seu nome", garante (decididamente!) Marine Tondelier na France-TV. Uma escolha negociada em apenas dezasseis dias e à terceira tentativa, poderíamos acrescentar.

Macron, por sua vez, rejeita com desdém Lucie Castets. No entanto, a senhora tem muitas qualidades – preservação dos serviços públicos, caça ao crime financeiro, etc. – e está inteiramente de acordo com a ideia de um Primeiro-Ministro técnico(9) que começa a imaginar, na ausência de um acordo com o LR e os centristas para formar uma maioria. Mas, oportunamente, há esta história processual segundo a qual Castets, alta funcionária da Câmara Municipal de Paris, deveria ter-se colocado de licença, em vez de pedir licença,(10) LR numa última posição,...
E também o "caso" do triângulo vermelho de Bompard(11)...
E patati e patata...
Na ausência de um verdadeiro confronto político, encontramo-nos tão lamechas quanto possível.

Macron, em forma olímpica, está a pensar em voz alta num grupo maioritário barroco na Assembleia que vai desde os escombros da direita "clássica" – mas qual? todos se odeiam! – que teve o cuidado de pulverizar, até o Partido Socialista de Olivier Faure. É acusado por Jean-Luc Mélenchon e Manuel Bompard de ser tentado.
O círculo está completo, acredita-se... Bem, não! Depois de uma semana, foi um executivo do LFI, Éric Coquerel, que criticou Lucie Castets por uma história de inviabilidade histórica de recuperar os impostos de "expatriados fiscais". (12)
Nada mais vai bem, e isso vê-se cada vez mais.

O fio verde sobre fio vermelho...

A exaltação do sucesso de Olivier Faure e do PS, confrontado com o autoritarismo de Mélenchon, é já em si um defeito da "frente" que muitos interessados das classes populares não ignoram.

O programa "comum" da NFP, do qual Bompard acusa Faure de se desviar para definir o rumo dos passos da Macronia, mas que Tondelier garante que continua a ser "a bússola" de Castets, merece um pouco de atenção. Para além da forma, a "embalagem" estudada para seduzir a diversidade do seu eleitorado (uma grande coligação da esquerda moderna) é uma miscelânea de peças de diferentes puzzles, obviamente impossíveis de montar sem aparar as arestas e refazer o padrão, cada um querendo impor o seu modelo original.
Não se trata de insistir nas probabilidades e fins do chamado programa comum, nada disso.
Tudo se opõe aos "parceiros" desta impostura política.

Os componentes lutam impiedosamente para conquistar o cargo supremo de primeiro-ministro. Sob a Quinta República, foi um trampolim para o trono. Mesmo dentro dos partidos, o debate é uma luta. Assim, "o Partido Socialista passou de uma linha Glucksmann para uma linha Mélenchon em poucas semanas. Ao adoptar esta postura, preferiu o bilhar de cinco tabelas em vez de realmente procurar uma solução para tirar o país da rotina", disse Hélène Geoffroy, ex-ministra, no Le Monde online de 26 de Julho. É uma opositora declarada de Olivier Faure dentro do PS. Rival da liderança do PS, denunciou a "falta de democracia interna" de Faure, a "falta de trabalho e de reflexão ideológica" e uma linha política pouco clara que o levou a aliar-se aos ecologistas antes de romper brutalmente os laços. Uma boa companheira, ela agora apoia-a dentro do PFN. Tanto pior para a "ideologia" como para a democracia interna.

A mesma Hélène Geoffroy faz finalmente uma verdadeira pergunta: "Quisemos colocar um nome antes de nos perguntarmos o que queremos fazer. Governar ou apenas obter a demissão do Presidente da República? Este é um governo que o nosso país precisa. Os franceses querem respostas para as suas dificuldades diárias... François Ruffin, que rompeu com Mélenchon, já tinha dado a resposta no Le Figaro: "“a esquerda, que fracasso! [...] Foram inúteis durante dois anos, foram inúteis durante os seis meses da campanha europeia, quando tínhamos uma esquerda em farrapos, com a moral em baixo, porque cada um tinha seguido o seu caminho: Partido Comunista, Partido Socialista, France insoumise, os ecologistas”, ‘gostam de perder, é a escolha da derrota, não querem ganhar, não querem governar’.

A União está a fazer piada

A Nouveau Front Populaire é um monumento à má-fé, um lacaio oportunista, uma fraude intelectual e política. A NFP assemelha-se, como duas gotas de gasolina, a tudo aquilo de que os Gilets jaunes se queriam livrar; não tem, do ponto de vista das suas ambições, nada a censurar aos seus concorrentes. Além disso, todas as “frentes” passadas, presentes e futuras não passam de andaimes movediços, efémeros e, sobretudo, enganadores e clientelistas sobre as suas intenções de reforma, em termos de abolição ou restabelecimento de leis, de proibições e obrigações (necessariamente) cívicas à medida que a notícia surge, ou ainda de referendos ( ou plebiscitos? )... Um desses edifícios minhocados erigidos por uma esquerda profissional, condenada, convenhamos, a desmoronar-se devido às suas alianças falsas, aos cálculos falseados pela matemática da realidade, às ambições mesquinhas de jovens lobos e de perdedores amargos.

Assim, não é surpreendente que todos os partidos - com a excepção notável do Partido Comunista - tenham comparecido ao convite do Medef “à margem” das últimas eleições. Segundo a imprensa, o Medef submeteu-os a um Grande Oral sobre a compatibilidade dos seus programas com o seu roteiro económico(13). Embora seja difícil dizer o que defendem efectivamente os candidatos examinados, a sua aceitação das regras do jogo significa claramente que não se trata de uma ruptura da esquerda com o capitalismo, mas sim de uma acomodação. Segundo Les Echos, o veredicto de Patrick Martin, presidente do Medef, é que os dirigentes políticos devem “abandonar as posturas e as provocações face aos actores económicos”. Por outras palavras, a revogação da reforma das pensões, por exemplo, “seria um péssimo sinal para os mercados financeiros, mas sobretudo para a sustentabilidade do nosso sistema de repartição”, o mesmo acontecendo com o imposto sobre o património, etc.

Será que esperavam poder negociar um acordo com o patronato, para conseguir um bilhete para o topo, ou tratava-se apenas de fazer o estilo “inimigo das finanças”? Traição ou espetáculo?

Nenhum candidato à liderança do Estado pode ignorar as injunções de empregadores, banqueiros e agências de notação. Ora, em nenhum lugar do programa da "esquerda unida" há qualquer ataque frontal ao capitalismo. Podemos romper com a NATO ou com a UE, não com a economia de mercado. Não como Estado-nação que participa em todas as formas de exploração dos seres humanos e do mundo. O capitalismo é um sistema mafioso, você dirige um Estado – um ramo – você colabora ipso facto. A classe operária, tal como em 1981, tanto como em 1936, sabe que o "programa comum" é uma burla política, um biombo para a luta dos aparelhos e das elites pelo poder. A classe operária é apenas o rebanho eleitoral que só terá de lançar duas ou três medidas emblemáticas no início do mandato e arrumar algumas pequenas coisas no final do mandato. E prometer fazer tudo o resto se lhe for devolvido o poder. Entretanto, podemos sempre (generosamente) incentivar as empresas a permanecerem em França e, portanto, adaptar o "trabalho" nesse sentido e, consequentemente, dar à polícia os meios para "renovar o vínculo com a população".

Teremos de sair à rua. Mais uma vez.
Todos eles traíram a classe operária; todos eles apagaram oficialmente a luta de classes dos seus estatutos; todos abandonaram o objectivo de uma Revolução Social emancipatória.
Nenhum deles quer. Todo o mundo tem medo disso.
Na melhor das hipóteses, estão a marchar para os movimentos iniciados pelas bases do proletariado – os trabalhadores, os reformados, os desempregados, os estrangeiros, os "eco-guerreiros"... – e recolhem alguns "sofrimentos populares" que prometerão cuidar nos seus programas. Em alto e bom som na oposição, menos francamente uma vez no poder. Produzirão leis, enredadas nos conceitos da sua classe. A denúncia da "violência" militante tornar-se-á, continuará a ser o seu credo e a sua única resposta será armada.

Para não concluir

A dissolução precipitada de Macron está a ter efeitos que ele próprio não previu. Mas o homem de negócios profissional aprendeu a agarrar-se a qualquer oportunidade susceptível de render alguma coisa; um certo inimigo das finanças pode testemunhar isso mesmo. Para si próprio, para a sua casta ideológica - ainda tão indefinível como o liberalismo gotejante - e para a sua classe.

O capitalismo sempre se adaptou a qualquer regime, quer houvesse ou não tanques nos Campos Elísios.(14) Os industriais, os banqueiros e os comerciantes de tudo e mais alguma coisa - a tomar à letra - sempre lucraram com as guerras e com a paz, que eles iniciam e negoceiam, respectivamente, nos momentos oportunos. E todos os regimes se curvaram ao capitalismo. Quer se encontrem na bagagem das viagens oficiais do Estado, quer façam lobbying por detrás das colunas do Palácio Bourbon ou dividam os mercados das ofertas territoriais, os mundos da economia liberal e da política profissional são tão espessos como os dos ladrões. O poder, o Estado, o governo e o seu líder não passam de intermediários políticos, subservientes ou pragmáticos, do capital. Se os pretendentes aos ouros da República estão divididos entre si, é apenas uma questão de ego. Que surja um César e todas as alianças, compromissos e traições se farão nos bastidores e o jogo “democrático” recomeçará na Assembleia.

Finalmente, neste momento, podemos fazer duas observações. Primeiro: com um governo reduzido à figuração, tudo funciona "regularmente" – a Bélgica está sem governo há um ano e meio –; Dois: o quotidiano das classes populares mantém-se.
Enquanto a politicagem estiver em segundo plano, de preferência a dos Jogos Olímpicosos assalariados (as)  continuam a lutar; A exploração é ininterrupta, as injustiças não diminuem, o controlo é permanente.

O caminho para a emancipação continua a ser longo, árduo e violento. Teremos de ir além do espectáculo tragicómico da classe política que compete pelo nosso domínio. Muito rapidamente, muito fortemente.

[...]" Na presença de proletários armados, obstáculos, resistências, impossibilidades, tudo desaparecerá.
Mas para os proletários que se deixam divertir por passeios ridículos nas ruas, pela plantação de árvores da liberdade, pelas frases sonoras de um advogado, primeiro haverá água benta, depois insultos, finalmente estilhaços, miséria sempre!
Deixe o povo escolher! »*

Boulogne-sur-Mer, 8 de Agosto de 2024

* Auguste Blanqui, Un toast à la prochaine Révolution, Prison de Belle-Isle-en-Mer, 10 de Fevereiro de 1851. Publicado pelos "amigos da igualdade".
**Obrigado a Gérard do site https://spartacusbond.blogspot.com pela sua ilustração muito bem sucedida que assumimos.

1.Se considerarmos o RN do ponto de vista político e histórico como sendo ideológica e intrinsecamente de extrema-direita, é difícil identificarmos uma extrema-esquerda nA NFP, quanto mais não seja pela composição dos respectivos cabeças de lista dos partidos que a compõem.
2.Fonte: https://www.conseil-constitutionnel.fr/sites/default/files/as/root/bank_mm/constitution/constitution.pdf
3.Ouça todos! sobre Huff: Como a esquerda justifica a sua aliança formada em tempo recorde – Video Dailymotion
4.Detalhe sobre: Patriotas pela Europa — Wikipedia (wikipedia.org) Ver a secção "composição". Quase engraçado!

5. Para a Reunião: uma cisão no PCR – Partido Comunista da Reunião – do qual foi expulsa, na sequência da sua recusa em cair de para-quedas num círculo eleitoral diferente do seu durante as eleições legislativas de 2012; movimento estratégico decidido pelo gabinete político local.
6.Fonte: NFP: as negociações prosseguem, mas o impasse persiste, ainda sem nome para um primeiro-ministro | Notícias
7. Na Ilha da Reunião, o conselho regional sancionou depois de ter recrutado pessoas próximas da maioria (lemonde.fr)
8.Incluindo Brigitte Bourguignon – que é da revista e de Boulogne! Será, inclusive, vice-ministra.
9. Um Primeiro Secretário que geriria 
ad libitum os assuntos correntes, todos os assuntos correntes, nada mais do que assuntos correntes?
10. Ver (ou não) o Canard enchaîné de 31 de Julho, "Castets de gondola", p. 2
11. Eleições legislativas 2024: Manuel Bompard explica porque usou um triângulo vermelho durante o debate (huffingtonpost.fr)
12. Fonte: 
Le Canard enchaîné de 7 de Agosto de 2024
13.Ver 15727-propositions-medef-elections-europe-ennes-2024-light.p.
14. Em 1981, a direita ameaçou ver os tanques russos desfilarem nos Campos Elísios em caso de vitória de Mitterrand e da Esquerda Unida (sim!). No final, foi Helmut Kohl, chanceler alemão, democrata-cristão liberal e conservador, que acompanhou gravemente Mitterrand em frente ao túmulo do soldado desconhecido no Arco do Triunfo, um acto magistral de uma amizade sem fim...

 

Fonte: Le Nouveau Front Populaire : Toujours se méfier des professionnels prompts à se prétendre nous – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice




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