Publicado em 15/08/2024 por La Mouette Enragée
A Nova Frente Popular:
Desconfie sempre de profissionais
que se apressam a fazer-se passar por nós
"Discursos, sermões, programas não
passariam de artimanhas e mentiras; os mesmos malabaristas só voltariam a
executar o mesmo truque, com o mesmo saco a tiracolo; Eles formariam o primeiro
elo de uma nova cadeia de reacção mais furiosa! Sobre eles, anátema e vingança,
se é que alguma vez ousaram reaparecer! Vergonha e pena da multidão que
voltaria às suas redes! »[…] *
Cientistas políticos e analistas da media
estão satisfeitos com a última eleição: apenas cerca de 40% dos eleitores
registados – ou seja, cidadãos canónicos reconhecidos pela selecção republicana
e democrática – fizeram o gesto político de não eleger. Desta vaga entre as
duas voltas das eleições legislativas resultaria a maioria parlamentar. É toda
relativa; é a da Nova Frente Popular. Para o solvente Macron, trata-se de
nomear um chefe de governo. Mas avisou, num primeiro momento: não se trata de
ter um primeiro-ministro insubmisso (a língua francesa é bem elaborada). Por
sua vez, o indescritível Mélenchon diz o contrário. O suspense dura. Difícil.
Duro e cansado ...
Um pequeno lembrete cronológico:
No primeiro dia,
Macron dissolveu a Assembleia Nacional.
No segundo dia, o Renaissance, preso entre duas frentes, pretende, como Sansão,
derrubar as colunas do templo sobre elas. Falhado, o
primeiro-ministro não será "René".
No terceiro dia e nos que se seguem, é uma confusão indescritível que abala o
hemiciclo.
Boa constituição
Como é habitual, é a
partir da Nova Frente Popular (PFN), com uma maioria de 193 lugares (contra 143
deputados para o Rassemblement National e 165 para Macronia) que se espera que
surja o novo primeiro-ministro. Como exigem os costumes da Quinta República, o
primeiro-ministro em exercício, Attal, apresenta a sua demissão ao Presidente
da República, Macron neste caso, que... recusa-o de imediato! Um escândalo para
"os"(1) extremos, PFN e RN.
Só que há alguns detalhes que não devem ser esquecidos em termos de substância,
quando se trata de poder e interesses políticos. Será que Macron sabia disso –
é um banqueiro de origem – ou um ou outro dos seus conselheiros sugeriu-lhe?, a
Constituição da Quinta República, de Gaullian, dá liberdade ao Presidente Manitou
sobre este assunto: nada o obriga a nomear um primeiro-ministro a partir da
maioria legislativa. Além disso, não é imposto qualquer prazo. O artigo 8.º da
Constituição (apenas) diz: O Presidente da República nomeia o Primeiro-Ministro.
Cessa as suas funções após apresentação de demissão do Governo. Sob proposta do
Primeiro-Ministro, nomeia os restantes membros do Governo e cessa as suas
funções.(2) Ponto final.
Se Bardella está quase aliviado – ambicionava sobretudo a fase (bem
sucedida) das eleições europeias e não tinha mais do que guarda-costas para
construir um governo –, Mélenchon, por outro lado, está furioso, todo a NFP
está furiosa!
A Nova Frente Popular: uma composição
francesa
Como posso colocá-lo? A NFP é... complexo. Ora é dado um tiro no pé, ora
liricamente: "a grandeza ética de uma esquerda que quer governar é ter a
consciência de que governamos com pessoas com quem, precisamente, não
concordamos"(3) diz Raquel Garrido, deputada do LFI. Está tudo no
eufemismo "bastante"...
A NFP nasceu do desejo histórico de enfrentar o fascismo, desta vez
"ao alcance dos canhões da Assembleia Nacional", segundo Yannick
Jadot, dos ecologistas.
Antes era a Nova União Ecológica e Social Popular (Nupes). Foi uma
coligação de partidos de esquerda que emergiu da derrota nas eleições
presidenciais de 2022. O motivo: nenhum candidato de esquerda no segundo turno.
Taça! O objectivo: ganhar as eleições legislativas que se seguem.
Nada mau! Sem maioria absoluta, mas o Nupes é o principal grupo parlamentar da
oposição.
Depois vêm as eleições
para senador. O LFI, centro de gravidade da "nova união", é
ultrapassado pelo PS, pelo PCF e pela EELV, que formam listas pelas suas
costas. O pretexto? O centro de gravidade não abriga uma região, um
departamento ou mesmo uma grande cidade; Aos seus olhos, os Insubmissos não têm
legitimidade para interpretar o líder. Seguiram-se as diferenças inabaláveis
sobre a política externa: Putin na Ucrânia, Hamas, ligações bolivarianas... O
LFI, pela voz estrondosa de Mélenchon, dissona demais das dos
"camaradas" e, nas eleições europeias de 2024: a aliança tardia, cada
um vai para a sua capela. Resultado: Patatras! O RN é declarado o primeiro
candidato. Mais a sério, os seus 30 delegados são a primeira componente do
grupo político Patriotas
pela (sic) Europa, a par do Fidesz de Viktor Orbán, do FPÖ do austríaco Herbert Kickl e do
belga flamengo Vlaams Belang, entre outros. Um bando de identitários, xenófobos
e... "Eurocépticos"! O PPE(4) é o terceiro maior grupo do Parlamento
Europeu e Bardella é o seu presidente; Orbán é o Presidente do Conselho da
União Europeia há seis meses – foi a sua vez – e foi a sua vez...
Nem uma, nem duas vezes! Entre 10 e 13 de Junho, a esquerda francesa criou
uma aliança sem precedentes: a Nova Frente Popular. Nada a ver com o Nupes,
objectivo: vencer as eleições legislativas de 2024.
Ufa! Com 193 votos, a NFP é o principal grupo parlamentar, à frente do Renaissance
e do RN. Mas, longe de repintar um hemiciclo em degradée de rosa para vermelho,
seriam necessários mais 90 assentos – assentos rebatíveis teriam sido
suficientes...
Algo tem absolutamente de ser feito com a maioria relativa!
Mas o quê? Proponha um Primeiro-Ministro!
Mas quem? Todos ao mesmo tempo, não, por favor!
É a corrida pela
chalota; Mélenchon decidiu de acordo com o objectivo da sua coligação: será ele. A manta de
retalhos da esquerda, numa grande demonstração de democracia, tinha anunciado
um resultado de "debates" para 14 de Julho (Dia da Federação a isso obriga!).
Adiado... para o dia 18. No dia 18, Faure, apoiado pelo seu PS reanimado por um
aumento de 110% do seu quadro legislativo – eleito inclusive pelos seus piores
inimigos íntimos do momento – propôs a nomeação de Laurence Tubiana
(ex-vereador de... Jospin! ). Este último, diplomata de profissão, faz um aceno
subtil a Mélenchon, com o objectivo de "arrancar medidas sociais",
particularmente sobre a penúria da reforma da Previdência. Cansado! o
coordenador do LFI, Manuel Bompard, destrói a casa ao atirar para fora que
Tubiana iria "trazer os macronistas pela janela". Confrontada com uma
óbvia rejeição da sua candidatura, jogou a toalha ao chão a 22 de Julho. Quanto
a Huguette Bello, presidente PLR (5) da Ilha da Reunião, é o LFI e o PCF que a
estão a pressionar para se candidatar ao Primo-ministério. Huguette Bello é
emblemática do que é o NPF, do que foi o NUPES. Conhece todos os oportunismos
em que uma esquerda naturalmente baseada nas suas rivalidades (na melhor das
hipóteses!) tenta surfar, e... é a taça. Bello é, no entanto, de boa
composição. Ela vem do Grupo Comunista na Assembleia e apoiou Hollande em 2012.
Ela patrocinou Mélenchon nas eleições presidenciais de 2017 e 2022. Está na
lista do LFI-União Popular para as famosas eleições europeias de 2024. Em suma,
"ela é credível", segundo a especialista Marine Tondelier, cujo
partido na aglomeração (Europe Ecology/The Greens) navega à vista, e sem ondas,
no pântano unitário. Além disso, diz que é alguém "que conhece o
Parlamento, que tem a capacidade de construir uma maioria" e que
"está habituada a trocar impressões com Emmanuel Macron". O que isso
significa, mesmo os chamados gaúchos do Partido Comunista têm o seu caminho
para o Eliseu? Mas outros, no PS, sussurram uma versão mais conspiratória.
Diz-se que o Partido Comunista colocou subtilmente o nome de Huguette Bello nos
debates para salvar o seu grupo na Assembleia graças ao reforço dos deputados
reunioneses.
Esta história é o mato
que esconde a tundra.
Por enquanto, uma nova desunião está a surgir. Manuel Bompard critica sem
rodeios Olivier Faure: "Durante sete dias, manifestou total oposição a
todas as propostas que foram feitas, excepto as que vêm do Partido Socialista
e, neste caso, as suas." E leva o assunto para casa: "há uma série de
posições do lado do Partido Socialista para dizer que, no final, o que deve ser
feito é começar a desistir do programa da nova Frente Popular para tentar
encontrar uma espécie de maioria com sectores que vêm do macronismo." (6)
Ainda mais grave: em Março de 2024, a autarquia, presidida por Huguette Bello,
foi condenada a indemnizar 18 agentes "cujos contratos a termo não tinham
sido renovados" para contratarem em seu lugar pessoas próximas da maioria!
(7)
Então foi isso... Há-um-traidor-entre-nós! Imediatamente as insinuações
caluniosas. Não é como se, nas eleições legislativas de 2017, vinte e dois
deputados socialistas(8) se juntassem ao En Marche!
Consciente do
mal-estar, Bompard propõe deixar descansar a nomeação do primeiro-ministro e
concentrar-se noutra questão não negligenciável: a Presidência da Assembleia
Nacional (ver
caixa). Isto é lamentado pelo PS ao indicar num comunicado de imprensa de 15 de
Julho: "Por um lado, queremos indicar que nunca houve qualquer desejo de
veto sistemático por parte do Partido Socialista a qualquer candidatura da Nova
Frente Popular. Manifestámos o nosso desacordo em relação a uma candidatura,
tal como outros manifestaram o seu desacordo em relação a outras candidaturas.
É o funcionamento democrático de uma união que respeita cada uma das suas componentes.
Por outro lado, tal como os outros, fizemos várias propostas, para avançar para
uma escolha consensual. Bom.
A luta continua
Depois da escaramuça cómica no hemiciclo para nomear grandes e pequenos
líderes, é inflaccionado que a NFP se aproxime da nomeação lógica de um
Primeiro-Ministro das suas fileiras. O objectivo é também contrariar a força de
inércia de Macron; É verdade que este último não tinha habituado ninguém,
incluindo e especialmente a sua família, a tal espera. No entanto, bastava
ouvi-lo; a sua escolha cairá no único espectro percetível para ele: nem
infravermelho, nem verdigris – sem LFI ou PCF, sem RN. Será por esta razão que,
em última instância, a Nova Frente Popular decidiu propor Lucie Castets?
"É alguém muito sólido, muito credível e que conseguiu que as quatro
forças da Nova Frente Popular concordassem em torno do seu nome", garante
(decididamente!) Marine Tondelier na France-TV. Uma escolha negociada em apenas
dezasseis dias e à terceira tentativa, poderíamos acrescentar.
Macron, por sua vez, rejeita com desdém Lucie Castets. No entanto, a
senhora tem muitas qualidades – preservação dos serviços públicos, caça ao
crime financeiro, etc. – e está inteiramente de acordo com a ideia de um
Primeiro-Ministro técnico(9) que começa a imaginar, na ausência de um acordo
com o LR e os centristas para formar uma maioria. Mas, oportunamente, há esta
história processual segundo a qual Castets, alta funcionária da Câmara
Municipal de Paris, deveria ter-se colocado de licença, em vez de pedir licença,(10)
LR numa última posição,...
E também o "caso" do triângulo vermelho de Bompard(11)...
E patati e patata...
Na ausência de um verdadeiro confronto político, encontramo-nos tão lamechas
quanto possível.
Macron, em forma olímpica, está a pensar em voz alta num grupo maioritário
barroco na Assembleia que vai desde os escombros da direita
"clássica" – mas qual? todos se odeiam! – que teve o cuidado de
pulverizar, até o Partido Socialista de Olivier Faure. É acusado por Jean-Luc
Mélenchon e Manuel Bompard de ser tentado.
O círculo está completo, acredita-se... Bem, não! Depois de uma semana, foi um
executivo do LFI, Éric Coquerel, que criticou Lucie Castets por uma história de
inviabilidade histórica de recuperar os impostos de "expatriados
fiscais". (12)
Nada mais vai bem, e isso vê-se cada vez mais.
O fio verde sobre fio vermelho...
A exaltação do sucesso de Olivier Faure e do PS, confrontado com o
autoritarismo de Mélenchon, é já em si um defeito da "frente" que
muitos interessados das classes populares não ignoram.
O programa "comum" da NFP, do qual Bompard acusa Faure de se
desviar para definir o rumo dos passos da Macronia, mas que Tondelier garante
que continua a ser "a bússola" de Castets, merece um pouco de
atenção. Para além da forma, a "embalagem" estudada para seduzir a
diversidade do seu eleitorado (uma grande coligação da esquerda moderna) é uma
miscelânea de peças de diferentes puzzles, obviamente impossíveis de montar sem
aparar as arestas e refazer o padrão, cada um querendo impor o seu modelo
original.
Não se trata de insistir nas probabilidades e fins do chamado programa comum, nada
disso.
Tudo se opõe aos "parceiros" desta impostura política.
Os componentes lutam
impiedosamente para conquistar o cargo supremo de primeiro-ministro. Sob a Quinta
República, foi um trampolim para o trono. Mesmo dentro dos partidos, o debate é
uma luta. Assim, "o Partido Socialista passou de uma linha Glucksmann para
uma linha Mélenchon em poucas semanas. Ao adoptar esta postura, preferiu o
bilhar de cinco tabelas em vez de realmente procurar uma solução para tirar o
país da rotina", disse Hélène Geoffroy, ex-ministra, no Le Monde online de 26 de
Julho. É uma opositora declarada de Olivier Faure dentro do PS. Rival da
liderança do PS, denunciou a "falta de democracia interna" de Faure,
a "falta de trabalho e de reflexão ideológica" e uma linha política
pouco clara que o levou a aliar-se aos ecologistas antes de romper brutalmente
os laços. Uma boa companheira, ela agora apoia-a dentro do PFN. Tanto pior para
a "ideologia" como para a democracia interna.
A mesma Hélène
Geoffroy faz finalmente uma verdadeira pergunta: "Quisemos colocar um nome
antes de nos perguntarmos o que queremos fazer. Governar ou apenas obter a
demissão do Presidente da República? Este é um governo que o nosso país
precisa. Os franceses querem respostas para as suas dificuldades diárias...
François Ruffin, que rompeu com Mélenchon, já tinha dado a resposta no Le Figaro: "“a esquerda, que fracasso! [...]
Foram inúteis durante dois anos, foram inúteis durante os seis meses da
campanha europeia, quando tínhamos uma esquerda em farrapos, com a moral em
baixo, porque cada um tinha seguido o seu caminho: Partido Comunista, Partido
Socialista, France insoumise, os ecologistas”, ‘gostam de perder, é a escolha
da derrota, não querem ganhar, não querem governar’.
A União está a fazer piada
A Nouveau Front
Populaire é um monumento à má-fé, um lacaio oportunista, uma fraude intelectual
e política. A NFP assemelha-se, como duas gotas de gasolina, a tudo aquilo de
que os Gilets jaunes se queriam livrar; não tem, do ponto de vista das suas
ambições, nada a censurar aos seus concorrentes. Além disso, todas as “frentes”
passadas, presentes e futuras não passam de andaimes movediços, efémeros e,
sobretudo, enganadores e clientelistas sobre as suas intenções de reforma, em
termos de abolição ou restabelecimento de leis, de proibições e obrigações
(necessariamente) cívicas à medida que a notícia surge, ou ainda de referendos
( ou plebiscitos? )... Um desses edifícios minhocados erigidos por uma esquerda
profissional, condenada, convenhamos, a desmoronar-se devido às suas alianças
falsas, aos cálculos falseados pela matemática da realidade, às ambições
mesquinhas de jovens lobos e de perdedores amargos.
Assim, não é surpreendente que todos os partidos - com a excepção notável do Partido Comunista - tenham comparecido ao convite do Medef “à margem” das últimas eleições. Segundo a imprensa, o Medef submeteu-os a um Grande Oral sobre a compatibilidade dos seus programas com o seu roteiro económico(13). Embora seja difícil dizer o que defendem efectivamente os candidatos examinados, a sua aceitação das regras do jogo significa claramente que não se trata de uma ruptura da esquerda com o capitalismo, mas sim de uma acomodação. Segundo Les Echos, o veredicto de Patrick Martin, presidente do Medef, é que os dirigentes políticos devem “abandonar as posturas e as provocações face aos actores económicos”. Por outras palavras, a revogação da reforma das pensões, por exemplo, “seria um péssimo sinal para os mercados financeiros, mas sobretudo para a sustentabilidade do nosso sistema de repartição”, o mesmo acontecendo com o imposto sobre o património, etc.
Será que esperavam
poder negociar um acordo com o patronato, para conseguir um bilhete para o
topo, ou tratava-se apenas de fazer o estilo “inimigo das finanças”? Traição ou
espetáculo?
Nenhum candidato à liderança do Estado pode ignorar as injunções de empregadores, banqueiros e agências de notação. Ora, em nenhum lugar do programa da "esquerda unida" há qualquer ataque frontal ao capitalismo. Podemos romper com a NATO ou com a UE, não com a economia de mercado. Não como Estado-nação que participa em todas as formas de exploração dos seres humanos e do mundo. O capitalismo é um sistema mafioso, você dirige um Estado – um ramo – você colabora ipso facto. A classe operária, tal como em 1981, tanto como em 1936, sabe que o "programa comum" é uma burla política, um biombo para a luta dos aparelhos e das elites pelo poder. A classe operária é apenas o rebanho eleitoral que só terá de lançar duas ou três medidas emblemáticas no início do mandato e arrumar algumas pequenas coisas no final do mandato. E prometer fazer tudo o resto se lhe for devolvido o poder. Entretanto, podemos sempre (generosamente) incentivar as empresas a permanecerem em França e, portanto, adaptar o "trabalho" nesse sentido e, consequentemente, dar à polícia os meios para "renovar o vínculo com a população".
Teremos de sair à rua. Mais uma vez.
Todos eles traíram a classe operária; todos eles apagaram oficialmente a luta
de classes dos seus estatutos; todos abandonaram o objectivo de uma Revolução
Social emancipatória.
Nenhum deles quer. Todo o mundo tem medo disso.
Na melhor das hipóteses, estão a marchar para os movimentos iniciados pelas
bases do proletariado – os trabalhadores, os reformados, os desempregados, os
estrangeiros, os "eco-guerreiros"... – e recolhem alguns
"sofrimentos populares" que prometerão cuidar nos seus programas. Em
alto e bom som na oposição, menos francamente uma vez no poder. Produzirão leis,
enredadas nos conceitos da sua classe. A denúncia da "violência"
militante tornar-se-á, continuará a ser o seu credo e a sua única resposta será
armada.
Para não concluir
A dissolução precipitada de Macron está a ter efeitos que ele próprio não
previu. Mas o homem de negócios profissional aprendeu a agarrar-se a qualquer
oportunidade susceptível de render alguma coisa; um certo inimigo das finanças
pode testemunhar isso mesmo. Para si próprio, para a sua casta ideológica -
ainda tão indefinível como o liberalismo gotejante - e para a sua classe.
O capitalismo sempre se adaptou a qualquer regime, quer houvesse ou não
tanques nos Campos Elísios.(14) Os industriais, os banqueiros e os comerciantes
de tudo e mais alguma coisa - a tomar à letra - sempre lucraram com as guerras
e com a paz, que eles iniciam e negoceiam, respectivamente, nos momentos
oportunos. E todos os regimes se curvaram ao capitalismo. Quer se encontrem na
bagagem das viagens oficiais do Estado, quer façam lobbying por detrás das
colunas do Palácio Bourbon ou dividam os mercados das ofertas territoriais, os
mundos da economia liberal e da política profissional são tão espessos como os
dos ladrões. O poder, o Estado, o governo e o seu líder não passam de
intermediários políticos, subservientes ou pragmáticos, do capital. Se os
pretendentes aos ouros da República estão divididos entre si, é apenas uma
questão de ego. Que surja um César e todas as alianças, compromissos e traições
se farão nos bastidores e o jogo “democrático” recomeçará na Assembleia.
Finalmente, neste momento, podemos fazer duas observações. Primeiro: com um
governo reduzido à figuração, tudo funciona "regularmente" – a
Bélgica está sem governo há um ano e meio –; Dois: o quotidiano das classes populares
mantém-se.
Enquanto a politicagem estiver em segundo plano, de preferência a dos Jogos
Olímpicosos assalariados (as) continuam
a lutar; A exploração é ininterrupta, as injustiças não diminuem, o controlo é
permanente.
O caminho para a emancipação continua a ser longo, árduo e violento.
Teremos de ir além do espectáculo tragicómico da classe política que compete
pelo nosso domínio. Muito rapidamente, muito fortemente.
[...]" Na presença de proletários
armados, obstáculos, resistências, impossibilidades, tudo desaparecerá.
Mas para os
proletários que se deixam divertir por passeios ridículos nas ruas, pela
plantação de árvores da liberdade, pelas frases sonoras de um advogado,
primeiro haverá água benta, depois insultos, finalmente estilhaços, miséria
sempre!
Deixe o povo escolher!
»*
Boulogne-sur-Mer, 8
de Agosto de 2024
* Auguste Blanqui, Un toast à la
prochaine Révolution, Prison de
Belle-Isle-en-Mer, 10 de Fevereiro de 1851. Publicado pelos "amigos da igualdade".
**Obrigado a Gérard do
site https://spartacusbond.blogspot.com pela sua ilustração
muito bem sucedida que assumimos.
1.Se considerarmos o
RN do ponto de vista político e histórico como sendo ideológica e
intrinsecamente de extrema-direita, é difícil identificarmos uma
extrema-esquerda nA NFP, quanto mais não seja pela composição dos respectivos
cabeças de lista dos partidos que a compõem.
2.Fonte: https://www.conseil-constitutionnel.fr/sites/default/files/as/root/bank_mm/constitution/constitution.pdf
3.Ouça todos! sobre Huff: Como a esquerda justifica a
sua aliança formada em tempo recorde – Video Dailymotion
4.Detalhe sobre: Patriotas
pela Europa — Wikipedia (wikipedia.org) Ver a secção
"composição". Quase engraçado!
5. Para a Reunião: uma
cisão no PCR – Partido Comunista da Reunião – do qual foi expulsa, na sequência
da sua recusa em cair de para-quedas num círculo eleitoral diferente do seu
durante as eleições legislativas de 2012; movimento estratégico decidido pelo
gabinete político local.
6.Fonte: NFP:
as negociações prosseguem, mas o impasse persiste, ainda sem nome para um
primeiro-ministro | Notícias
7. Na
Ilha da Reunião, o conselho regional sancionou depois de ter recrutado pessoas
próximas da maioria (lemonde.fr)
8.Incluindo Brigitte Bourguignon – que é da revista e de Boulogne! Será,
inclusive, vice-ministra.
9. Um Primeiro Secretário que geriria ad libitum os assuntos correntes, todos os
assuntos correntes, nada mais do que assuntos correntes?
10. Ver (ou não) o Canard enchaîné de 31 de Julho, "Castets de
gondola", p. 2
11. Eleições
legislativas 2024: Manuel Bompard explica porque usou um triângulo vermelho
durante o debate (huffingtonpost.fr)
12. Fonte: Le
Canard enchaîné de 7 de Agosto de 2024
13.Ver 15727-propositions-medef-elections-europe-ennes-2024-light.p.
14. Em 1981, a direita ameaçou ver os tanques russos desfilarem nos Campos
Elísios em caso de vitória de Mitterrand e da Esquerda Unida (sim!). No final,
foi Helmut Kohl, chanceler alemão, democrata-cristão liberal e conservador, que
acompanhou gravemente Mitterrand em frente ao túmulo do soldado desconhecido no
Arco do Triunfo, um acto magistral de uma amizade sem fim...
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
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