domingo, 11 de agosto de 2024

LFI e Mélenchon são demais!

 


 11 de Agosto de 2024  ROBERT GIL  

Robert GIL

Após a dissolução orquestrada por Macron, o RN obteve um resultado histórico com 125 deputados na Assembleia Nacional. É claro que é fácil dizer que "Júpiter" construiu uma avenida para Marine Le Pen, com a lei da imigração, as suas políticas anti-sociais e a sua vontade de pôr as pessoas umas contra as outras. Mas a esquerda também tem a sua quota-parte de responsabilidade. Os "pequenos" sentem-se abandonados e têm a impressão de que a esquerda está mais interessada nas classes médias e nos licenciados do que nos problemas dos cidadãos comuns. Que se afastou progressivamente do campo e se dirigiu para as cidades. Constatou a tendência para a direita na política e na sociedade, mas recusou-se a analisar as causas desta viragem para a direita, e mesmo para a extrema-direita. Se a esquerda quer ser credível, não pode continuar a evitar reflectir. Tem de sair da armadilha social e voltar ao essencial. São os sectores mais abastados da sociedade que estão mais interessados no feminismo, nos direitos LGBT, nas questões dos transexuais ou nos carros não poluentes, mas são aqueles que lutam para fazer face às despesas, que lutam para pagar a renda, para se manterem aquecidos, para pôr gasolina no carro para irem trabalhar porque os comboios e os transportes públicos foram abolidos, todos eles querem ser levados a sério. A esquerda também precisa de enfrentar as questões levantadas pela imigração de frente, sem preconceitos mas sem angelismo. São as camadas populares mais vulneráveis que são directamente confrontadas com a imigração, e é sobre este assunto que a RN está a construir o seu fundo de negócio.

A Nova Frente Popular é uma estrutura frágil. Faure (4), Gluksman, Tondelier, para não falar do regresso de Hollande, são mais compatíveis com a LR ou a Renascença do que com a FLI. As retiradas "republicanas" custaram lugares ao partido de Mélenchon, mas beneficiaram o PS, o EEVL e Macron. Entre outras coisas, isto permitiu a eleição de Borne e Darmanin!

Já no dia seguinte às eleições, um grupo de dissidentes abandona as fileiras do LFI, porque se quisermos trabalhar a nossa carreira, se tivermos ambições pessoais, é melhor distanciarmo-nos de um grupo que é considerado radical e de uma personalidade que os nossos meios de comunicação rotularam de violenta. Há trinta anos, o LFI não seria classificado de extrema-esquerda e, se recuarmos quarenta anos, este mesmo grupo seria classificado de "esquerda moderada". Estes dissidentes que foram "expurgados" pouco antes das eleições estavam, de facto, a preparar a sua cisão desde 24 de Maio de 2024. Na sexta-feira, 12 de Julho, Clémentine Autain e quatro outros conspiradores - Alexis Corbière, Raquel Garrido, Danielle Simonnet e Henrik Davi - apresentaram o seu movimento, bizarramente denominado "L'Après (1)", num café no centro de Bagnolet.

Em vez de reconhecerem que estes oportunistas têm ambições pessoais, bloqueadas por Mélenchon, e depois sem dúvida por Quatennens, cuja cabeça mantiveram debaixo de água após os seus contratempos conjugais (4), utilizaram a desculpa da "ausência de democracia no LFI", sem qualquer outra demonstração para além das suas palavras. O momento mágico foi quando disseram na conferência de imprensa: "Mantivemo-nos fiéis à nossa identidade política"... quando se conhece o passado político de Autain, há que esperar que seja humor! O comportamento de Ruffin é mais difícil de definir, a não ser, claro, que ele se veja como um possível Presidente da República! Ele precisa de romper com os "extremistas" do LFI, a fim de prosseguir uma agenda política muito pessoal. Ruffin é, sem dúvida, muito bom a ajudar os oprimidos, mas o seu projecto político é muito menos claro.

O objectivo é marginalizar o LFI sem parecer que o trai... Todos os outros partidos são auto-compatíveis. O LFI numa ponta, o RN na outra. O plano é construir um social-liberalismo que sirva as classes proprietárias. Em seguida, continuar a remodelar o povo, despojando-o de toda a consciência política e recentrando-o em particularismos identitários e folclóricos, ressuscitando nele tradições fantasiadas. É preciso fazer com que as "classes laboriosas" deixem de pensar no poder económico e no seu controlo, porque dele depende toda a estrutura e a vida das nossas sociedades. Podemos confiar na RN para fazer este trabalho, desviar a atenção das pessoas de bem e provar a sua lealdade à oligarquia (2 e 3) em vigor. Para já, só o LFI os impede de fazer uma festa!

O que é que vai acontecer a seguir? Governar e aplicar o programa da Nova Frente Popular vai ser difícil. Terão de ser feitos compromissos... compromissos? Até onde irá a traição e a compatibilidade com os partidos do governo? Se o EEVL, o PS, Place Publique e agora "L'Après" forem demasiado longe na sua colaboração, correm o risco de se "queimarem" para 2027. Esperemos que Mélenchon não os coloque de novo na sela com um novo NUPES. Dependendo dos acontecimentos, o LFI poderá estar numa posição forte nas próximas eleições presidenciais. Na minha opinião, a prioridade é definir um objectivo comum, um projecto político, social e económico que possa ser adoptado por e para o maior número de pessoas, para que juntos possamos avançar para um futuro em que ninguém seja deixado à beira da estrada... Eu sei que são apenas palavras, mas as palavras também podem trazer esperança.


Notas:

(1) Histoire et Société, 13/07/2024: " Les statuts d'Après ont-ils été déposé "avant" et ce que cela dit d'une manière de faire de la politique... ".

(2) Basta, 13/05/2024: "Au Parlement européen, le RN s'oppose aux droits des femmes et au salaire minimum".

(3) Frustration, 11/06/2024: "Porque é que os ricos querem que vote RN". Olivier Faure ao microfone do BFM em 09/05/2017: "Queremos que Macron tenha sucesso. Queremos fazer parte desta maioria".

(4).Le Grand Soir, 17/02/2022: "Sur Quatennens, Aubry et Autain sont mieux informées que la Justice".

 

Fonte : LFI et Mélenchon sont de trop! – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice




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