19 de Agosto de 2024 Olivier Cabanel
OLIVIER CABANEL — Cada país está a tentar, à sua maneira, sair da rota
nuclear. Na Suécia, a rota já está traçada.
Com o Observatório da Energia a anunciar que os recursos petrolíferos se
esgotariam dentro de 41 anos, a Suécia decidiu agir.
Até 1970, o petróleo representava 75% do aprovisionamento energético: já
não se espera que seja utilizado em 2020.
Em 2006, representava apenas 32%.
Foi gradualmente substituído por metano, etanol e veículos híbridos.
A Suécia será também o primeiro país a ter um comboio que funcionará a
biogás.
Este comboio terá uma autonomia de 600 km e circulará a 130 km/h.
O abandono gradual da energia nuclear sueca está ligado ao aumento da
produção de metano por biomassa.
Em 2003, 41% da energia produzida provinha do petróleo, 14,2% da energia
nuclear e 25% de fontes limpas e renováveis.
A produção deste último quase duplicou em 30 anos, link, o que corresponde
a um terço da energia consumida. link
No entanto, o seu potencial não deixa nada a invejar ao nosso: energia
geotérmica profunda, eólica, solar e metano da biomassa também estão ao nosso
alcance.
O imposto sueco sobre o carbono incentiva os consumidores a abandonarem o
petróleo, permitindo-lhes escapar ao imposto de uma forma diferente
do nosso modelo francês, uma vez que, em França, os consumidores só têm a
alternativa de comprar um veículo menos poluente e mais caro.
Por conseguinte, o imposto francês sobre o carbono favorece as classes
ricas (que podem comprar um veículo menos poluente) e penaliza injustamente as
famílias de baixos rendimentos, que são obrigadas a pagar um imposto pesado,
uma vez que não podem mudar de veículo.
Na Suécia, no primeiro semestre de 2008, 60% dos carros novos moviam-se a
etanol, diesel, gás ou híbridos.
Entre 1990 e 2007, as emissões de CO2 diminuíram 9% e, sem a introdução do
imposto sobre o carbono, estas emissões seriam 20% mais elevadas do que em
1990.
Ao mesmo tempo, a Suécia registou um crescimento económico de 48%.
O metano utilizado provém de estações de tratamento de águas residuais,
áreas de armazenamento de resíduos, explorações de ovinos, suínos ou bovinos e
silvicultura.
As florestas suecas representam 59% do território (260 000 km2) e a
produção de metano corresponde a 7 Mtep. (milhões de toneladas equivalentes de
petróleo).
Na Suécia, a biomassa (madeira, resíduos vegetais, orgânicos e animais) já
representa 19% da produção de energia.
Os resíduos de corte são, portanto, triturados e compostados. link
Em França, nos anos 60, um homem chamado Jean Pain, que vivia em Isère, fez
a mesma coisa: recuperou o gás metano dos arbustos esmagados para alimentar o
seu 2CV.link
A floresta francesa é de 155.000 km2, ou 28% do território na França.
Segundo o biólogo Robert de Pontavice, o potencial metano da nossa floresta
é de 20 Mtep por ano.
Jean Pain tinha refeito o cálculo: 1 km2 de floresta pode fornecer 600
toneladas de fertilizantes, 96000 m3 de biogás e milhares de litros de água
quente.
Isso significa que nosso potencial teórico anual de metano francês usando
apenas a floresta é de 60.000 Mtep.
Tudo isto é, naturalmente, teórico.
É evidente que ninguém vai explorar toda a floresta francesa de um dia para
o outro, esmagando os matos e os “ramos abandonados” após o abate.
Mas não são só as florestas que produzem metano: há as explorações de suínos, por exemplo.
Estas constituem um problema para o ambiente, como se viu com a proliferação de algas verdes na Bretanha, claramente devidas aos nitratos, em grande parte imputáveis às explorações suinícolas.
Em França, nos anos 80, Maurice François, um agricultor de Creys Mépieu, muito próximo da “super” fénix de triste memória, produziu durante anos 160 m3 de metano por dia, recuperando os dejectos de uma pocilga.
Agora reformada, a fábrica foi abandonada.
Tendo em conta que existem 23.000 explorações de suínos em França, isto produziria 1.343 Mtep.
Claro que é teórico, mas é enorme, se tivermos em conta que o nosso país só consome 280 MTEP por ano.
Teórica, porque é preciso ter em conta os custos energéticos da instalação e do transporte do metano produzido.
E as centrais não funcionam durante todo o ano.
O modelo ideal incentiva sempre a que a energia produzida seja consumida localmente (se possível) ou não muito longe. Se for transportada, volatiliza-se proporcionalmente à duração do trajecto.
Esta regra aplica-se a todas as energias.
Em todo o caso, podemos constatar que a Suécia fez a escolha certa e que nós, em França, com um potencial quase idêntico, continuamos presos à energia nuclear e ao petróleo, em consequência de opções políticas discutíveis.
Como dizia um velho amigo africano: “Deus, dá vida longa ao meu inimigo, para que ele possa ver no que me tornarei mais tarde”.
Fonte: Énergies propres en Suède – les 7 du quebec
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
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