5 de Maio de 2023 Robert Bibeau
Por Will Daniel – 6 de Abril de
2023 – Fonte Fortune
GANÂNCIA. A subida dos preços significa
preços elevados para si e lucros recorde para as grandes empresas
Quando os custos aumentam, os lucros aumentam??? Não é assim que o capitalismo deve funcionar, mas é a tendência recente. Há mais de um ano que os consumidores e as empresas, tanto nos Estados Unidos como no resto do mundo, enfrentam lucros recordes. No ano passado, somente as empresas listadas na Fortune 500 geraram um lucro recorde de 1,800 triliões de dólares sobre receita de 16,100 triliões de dólares. Vozes à esquerda do espectro político soaram o alarme sobre isso – pense-se em Bernie Sanders no Congresso ou na recente acusação de Jon Stewart ao antigo secretário do Tesouro Larry Summers. Mas um economista que trabalha para um dos maiores e mais antigos bancos de investimento do mundo também canta a mesma canção.
Albert Edwards, estratega mundial do Société Générale, um banco com 159 anos, acaba de publicar uma nota contundente sobre o fenómeno agora chamado de "Greedflation" [neologismo que significa "inflação devida à ganância"]. Empresas, especialmente em economias desenvolvidas como os EUA e Reino Unido, usaram o aumento dos custos das matérias-primas no meio da pandemia e a guerra na Ucrânia como uma "desculpa" para aumentar os preços e aumentar as margens de lucro para novas máximas, disse ele. E o banco de investimento francês não é apenas antigo: é um dos bancos considerados "sistemicamente importantes" pelo Conselho de Estabilidade Financeira, o organismo internacional do G20 encarregado de proteger o sistema financeiro mundial.
Edwards escreve, na
edição de terça-feira do seu Global Strategy Weekly, que depois de quatro
décadas a trabalhar em finanças, nunca viu nada como os níveis "sem precedentes" e "surpreendentes" de "ganância" das empresas
durante este ciclo económico. Nesse sentido, um estudo de Janeiro do
Kansas City Federal Bank descobriu que o "crescimento da margem", ou seja, o
aumento da relação entre o preço de uma empresa e o seu custo de produção, foi
um factor de inflação muito maior em 2021 do que já foi na história da
economia.
Normalmente, o aumento
dos preços das matérias-primas e dos custos de mão de obra reduz as margens das
empresas, especialmente quando a economia desacelera. No entanto, Edwards
chamou a atenção para dados divulgados na semana
passada pelo Bureau of Economic Analysis (BEA), que mostraram que as margens de
lucro permaneceram perto de um recorde em relação aos custos no quarto
trimestre. O estratega disse acreditar que as margens teriam "caído drasticamente" no final do ano
passado devido à desaceleração da economia, mas enganou-se.
Edwards acrescentou que teme que as "margens de lucro mais altas" das empresas nos EUA e no exterior possam acabar "por desencadear agitação social" se os consumidores continuarem a lutar contra a inflação.
“O fim da "greedflation" tem de chegar. Caso
contrário, poderemos assistir ao fim do capitalismo", advertiu. "Esta
é uma questão importante para os decisores políticos que não pode continuar a
ser ignorada.”
A nota de Edwards poderia ser importante porque traria
para o mainstream uma visão que, até agora, vivia na franja progressista. Por
exemplo, um debate sobre Greedflation rebentou no mês passado, quando o
ex-apresentador do
Daily Show Jon Stewart entrevistou Larry
Summers como parte do seu novo programa de TV da Apple, The Problem. Enquanto Stewart e Summers debatiam se a
Reserva Federal tinha razão em fazer baixar os salários aumentando as taxas de
juro como parte da sua luta contra a inflação, Stewart mudou de ideias: "Porque é que não atacamos os lucros
das empresas de qualquer forma? Porque se estima que eles sejam responsáveis
por 30% ou 40% da inflação?"
Summers foi rápido a
responder que não achava que "a
ideia de que, de repente, as empresas se tornaram gananciosas é
defensável". Edwards parece pensar que é, de facto, bastante
defensável.
É hora de controlar os preços?
Edwards propôs uma
solução controversa para lidar com a ascensão da "ganância", que, segundo
ele, reflecte um "enfraquecimento
da confiança" no próprio sistema capitalista. Numa viragem antes impensável para
"aqueles de nós
que viveram o fracasso das políticas de preços e rendimento dos anos 1970", Edwards disse
que havia uma ferramenta para esse tipo de problema, e que datava dessa mesma
década: o controle de preços.
O controle de preços,
ou seja, o facto de um governo definir os preços que as empresas podem cobrar aos
consumidores, tem sido responsabilizado por
todos os males, desde a queda do Primeiro Império Babilónico, em 1595 a.C. até às
longas filas na bomba de combustíveis dos governos Nixon e Carter nos anos
setenta. Uma das histórias mais comuns sobre a suposta loucura do controle de
preços vem-nos do imperador romano Diocleciano, que promulgou um "édito sobre preços máximos" para trabalho,
mercadorias etc. para combater a inflação galopante em 301 d.C. Mas o decreto,
que previa a pena de morte para quem o violasse, acabou por sair pela culatra,
criando uma escassez de bens e dependência do trigo do Estado, o que levou à
sua revogação.
Edwards observa que
muitos de seus colegas são "menos favoráveis ao uso de controlos de preços" por causa desse
histórico, mas argumenta que o seu uso pode ser justificado porque "algo parece ter rompido com o
capitalismo". (sic)
O estratega refere-se
a um artigo escrito por
Isabella Weber e Evan Wasner, economistas da Universidade de Massachusetts
Amherst, intitulado "Inflação
vendedora, lucros e conflito". Isso mostra que as empresas têm precificado durante a
pandemia e que o controlo temporário de preços pode ser a única forma de
evitar as "espirais
inflaccionárias" que poderiam resultar desse disparar de preços. "Se olhar para as suas descobertas sobre
como lidar com a ganância, os controlos de preços parecem ser um método
preferido de controlo", disse Edwards.
Will Daniel
Traduzido por Wayan,
revisto por Hervé, para o Saker francophone.
Este artigo
foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice
Sem comentários:
Enviar um comentário