sábado, 13 de maio de 2023

Pacifismo pequeno-burguês e pacifismo revolucionário

 


 13 de Maio de 2023  Robert Bibeau  


Um ano após o desencadear da guerra imperialista na Ucrânia, opondo o proxy ucraniano da NATO-EUA-UE ao proxy chinês, a pequena burguesia, acreditando que está a ser desafiada, salta da sua casota para baralhar as cartas nesta guerra fratricida que nunca acaba. A pequena burguesia oportunista monta o seu velho cavalo de batalha pacifista para fazer crer que ainda são possíveis reformas no seio dos campos imperialistas em conflito. Sejamos claros, nós, proletários revolucionários, somos ferozmente a favor da paz entre os proletários de todo o mundo... mas sabemos muito bem que é inútil implorar ao Grande Capital que acalme a sua fúria bélica genocida resultante da competição pela conquista de mercados e fontes de matérias-primas e energia. Nós, proletários internacionalistas, sabemos que só o derrube deste modo de produção moribundo e a construção do modo de produção proletário nos trará a paz.


Título Original: Pacifismo pronto para intervir contra as lutas operárias diante da guerra imperialista

Par Révolution ou Guerre, no 24, sur Le pacifisme prêt à intervention contre les luttes ouvrières face à (...) – Révolution ou Guerre (igcl.org)

A revista Revolução ou Guerra nº 24, de Maio de 2023 está disponível em formato PDF:
fr_rg24

Até hoje, as expressões de pacifismo face à guerra imperialista na Ucrânia ainda são marginais. Certamente, a fraqueza das respostas proletárias – apesar de uma dinâmica de reacções e lutas contra a deterioração das condições de vida, em particular devido à inflação – explica esse facto. (Veja: 

https://queonossosilencionaomateinocentes.blogspot.com/2023/05/apesar-do-controle-dos-estados-e-dos.html )

A burguesia ainda não precisou usar em larga escala o contrafogo do pacifismo para impedir e desviar qualquer movimento de classe proletário contra as consequências da guerra actual e, especialmente, da guerra generalizada que se aproxima.

No entanto, está a preparar-se para isso. Já está a criar preventivamente, através de forças políticas de esquerda e esquerdistas, comités pacifistas, lançando petições pacifistas e até já organizando manifestações de rua. Foi o caso da Alemanha em 25 de Fevereiro, quando 50 mil manifestantes marcharam em Berlim a pedido de uma ex-líder do partido de esquerda Die Linke, Sahra Wagenknecht, e de uma conhecida feminista, Alice Schwarzer, em apoio a um Manifesto pela Paz (56).

Foi o caso dos Estados Unidos em 18 de Março, em Washington em particular, na convocação (57) de uma infinidade de organizações de esquerda e ambientais, incluindo a Answer Coalition, mas também secções locais do Black Live Matters, do Partido Socialista da América, de muitos grupos trotskistas e estalinistas até... o ex-baixista dos Pink Floyd, Roger Waters!

Na Europa e em Dezembro de 2022, foi lançada um apelo internacional Stop the War (58) reunindo várias centenas de membros de organizações de esquerda, trotskistas em particular, e delegados sindicais, principalmente na Alemanha, França, Espanha, Itália... mas também em África. Para o primeiro apelo "... à chanceler [alemã] para travar a escalada na entrega de armas. Agora! Espera-se que ele lidere uma aliança forte para um cessar-fogo e para negociações de paz a nível alemão e europeu. Agora! Porque cada dia perdido custa até 1.000 vidas a mais – e nos aproxima de uma terceira guerra mundial. (Manifesto pela Paz da Alemanha)

Para o segundo apelo à paz e "para preservar a humanidade, temos de parar esta marcha para a barbárie. A guerra de Putin, tal como a da NATO implementada por Zelenski, não é a nossa guerra. Não estamos em guerra nem com o povo russo nem com o povo ucraniano. Queremos paz para o povo russo e para o povo ucraniano. Estamos a fazer soar o alarme de que esta escalada pode conduzir a uma catástrofe mundial. Não seremos cúmplices dela. Apelamos a todos os trabalhadores e activistas da Europa para que unam forças para pôr termo a esta espiral mortífera e à carnificina e para que se ponha fim à guerra e se estabeleça um cessar-fogo imediato! (59)

O facto de estes apelos terem ainda recebido pouca resposta não retira a necessidade, muito pelo contrário, de denunciar sem demora, e da forma mais clara e frontal possível, estas expressões "modernas" de pacifismo face à guerra imperialista.

Para armar os proletários e revolucionários de hoje contra este perigo, vamos recordar a posição do movimento operário revolucionário sobre esta questão, uma posição internacionalista e revolucionária - uma não passa sem a outra - da qual Lenine foi, sem dúvida, um dos melhores defensores. Os excertos que se seguem foram escritos em Janeiro de 1917, um mês antes do início do processo revolucionário na Rússia que se prolongaria até à insurreição operária de Outubro e à ditadura do proletariado. O mesmo que impôs o fim da guerra na Rússia. A mesma que deu o sinal e o impulso à onda revolucionária internacional, às greves nas fábricas e aos motins nos exércitos, na Alemanha em particular, que impuseram o fim da guerra imperialista generalizada.

Pacifismo burguês e pacifismo revolucionário (Lenine)

(...) O verdadeiro arquitecto de uma paz democrática não é o homem que repete votos piedosos de pacifismo, sem nada significar e sem se comprometer com nada, mas o homem que denuncia o carácter imperialista da guerra actual e da paz imperialista que ela prepara, e que chama os povos à revolução contra os governos criminosos. (...) Os congressos da C.G.T. (Confederação Geral do Trabalho) e do Partido Socialista Francês acabam de terminar. O verdadeiro significado e o papel, no momento actual, do pacifismo socialista ficaram particularmente claros. Eis a resolução do congresso sindical, adoptada por unanimidade, tanto pela maioria dos chauvinistas de todos os matizes, encabeçados pelo infame Jouhaux, como pelo anarquista Broutchoux e... o "zimmerwaldiano" Merrheim: "A conferência das federações sindicais nacionais, das uniões sindicais e das bolsas de trabalho, registando a nota do Presidente dos Estados Unidos "convidando todas as nações em guerra a expor publicamente os seus pontos de vista sobre as condições em que a guerra poderá terminar",

§  insta o Governo francês a aceitar esta proposta (56) .

§  insta o Governo a tomar a iniciativa de fazer intervenções semelhantes com os seus aliados, a fim de acelerar a hora da paz;

§  Declara que a federação das nações, que é uma das garantias da paz definitiva, só pode ser alcançada na independência, integridade territorial e liberdade política e económica de todas as nações, grandes e pequenas. As organizações representadas na conferência comprometem-se a apoiar e propagar essa ideia entre a massa de operários, a fim de pôr fim a uma situação indeterminada e equivocada que beneficia apenas a diplomacia secreta e contra a qual a classe operária sempre se levantou".

Trata-se de um modelo de pacifismo "puro" inteiramente no espírito de Kautsky, de um pacifismo aprovado por uma organização oficial operária que nada tem em comum com o marxismo, e que é composta principalmente por chauvinistas.

Estamos na presença de um documento notável, que merece a mais séria atenção, e que reflecte a união política de chauvinistas e "kautskyistas" sobre a plataforma da frase oca pacifista (...)

Não é ridículo falar em "liberdade económica de todas as nações, pequenas e grandes", ignorando o facto de que, enquanto os governos burgueses não forem derrubados e a burguesia não for expropriada, essa "liberdade económica" serve para enganar o povo, assim como as frases sobre a "liberdade económica" dos cidadãos em geral, Pequenos camponeses e ricos, operários e capitalistas na sociedade moderna? (...) Os nacionalistas burgueses sempre ostentaram frases "ocas" sobre a "federação das nações" em geral, sobre a "liberdade económica de todas as nações, grandes e pequenas".

Ao contrário dos nacionalistas burgueses, os socialistas sempre disseram e dizem: falar da "liberdade económica das nações grandes e pequenas" é uma hipocrisia repugnante enquanto certas potências (Inglaterra e França, por exemplo) colocarem no estrangeiro, isto é, emprestarem a taxas usurárias a nações pequenas e atrasadas, dezenas e dezenas de milhares de milhões de francos, e os países fracos estiverem sob o seu controlo. Os socialistas não poderiam ter deixado passar nenhuma frase da resolução votada por unanimidade por Jouhaux e Merrheim sem um protesto vigoroso. Os socialistas teriam declarado, contrariamente a esta resolução, que a intervenção de Wilson é inquestionavelmente uma mentira e uma hipocrisia, pois ele é o representante de uma burguesia que lucrou milhares de milhões com a guerra, o chefe de um governo que aumentou freneticamente o armamento dos Estados Unidos, O governo burguês francês, inteiramente sob o controlo do capital financeiro, do qual é escravo, e dos tratados imperialistas secretos, absolutamente reaccionários e de rapina, com a Inglaterra, a Rússia, etc., aumentou sem dúvida o armamento dos Estados Unidos com vista a uma segunda grande guerra imperialista. , não está em condições de dizer ou fazer outra coisa que não seja mentir, também, sobre uma paz democrática e "justa"; que a luta por essa paz não consiste em repetir frases pacifistas bonitas, doces, genéricas, ocas e vãs, que não comprometem nada e praticamente só fazem a escória imperialista parecer bem, mas em dizer a verdade aos povos, mais precisamente, que para realizar uma paz democrática e justa é necessário derrubar os governos burgueses de todos os países beligerantes e aproveitar o facto de que milhões de operários estarem armados, bem como a exasperação geral causada na massa da população pelo alto custo de vida e os horrores da guerra imperialista. " Lenine. (60)


ANOTAÇÕES

56.  https://www.change.org/p/manifest-f%C3%BCr-frieden

57.  https://www.answercoalition.org/protest_march_18_19_peace_in_ukraine_say_no_to_endless_u_s_wars

58 . https://infos-ouvrieres.fr/2022/12/21/halte-a-la-guerre-2/

59 . Revolução ou Guerra #24 – Grupo Internacional da Esquerda Comunista (www.igcl.org)

60.  Lenine, Pacifismo Burguês e Pacifismo Socialista, Janeiro de 1917.

 

Fonte: Le pacifisme petit bourgeois et le pacifisme révolutionnaire – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice




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