15 de Maio de
2023 Olivier Cabanel
OLIVIER CABANEL — A probabilidade é uma ciência aproximada.
Por definição.
Este facto acaba de ser comprovado por uma colisão anterior entre dois
submarinos nucleares.
Havia uma hipótese num milhão de que um submarino, nuclear ou não, atingisse outro submarino.
Mas este facto acaba de acontecer.
Para além das consequências concebíveis de um tal acidente, como é que
podemos ainda hoje confiar nas certezas dos tecnocratas que calculam a
probabilidade de um acidente?
De um milhão, de dez milhões?
Como é que podemos sustentar tais afirmações?
Deixemo-nos levar pela imaginação:
A colisão que acaba de ter lugar enfraquece a estrutura dos dois submarinos
que transportam ogivas nucleares.
Para além do facto de os dois submarinos e os seus ocupantes poderem ir
parar ao fundo do mar, o que acontece ao material radioactivo?
Mas a pior pergunta a fazer é: porque é que as autoridades esperaram tanto
tempo para avisar os meios de comunicação social?
Porque é que a informação veio de Inglaterra?
Porque é que a França tentou atrasar ou mesmo esconder este acidente?
Isto não é tranquilizador.
Há alguns dias, dois satélites colidiram e, obviamente, caíram no solo do
nosso planeta.
No momento em que escrevo, não sabemos se transportavam material nuclear.
Quais eram as hipóteses de uma tal colisão?
À luz de outros acidentes nucleares, somos tentados a interrogar-nos.
Passemos por cima de Chernobyl, do qual hoje conhecemos grande parte da
verdade.
Tomemos outros exemplos.
A central nuclear de Creys-Malville (que a sua alma descanse em paz), aliás
chamada "superfénix", o que não deixou de fazer sorrir a comunidade
antinuclear, funcionou aleatoriamente durante alguns anos e conheceu aquilo a que
as autoridades nucleares definiram amavelmente como um "incidente".
A probabilidade de uma fuga de sódio nesta antiga central, que ocorre uma
vez em cada cem mil anos, verificou-se em poucos meses.
Para aqueles que não estão completamente familiarizados com o assunto, é
necessária uma explicação.
A tecnologia nuclear, de que tanto se fala nos comunicados apaziguadores, é
bastante simples.
Não é mais do que um motor de automóvel.
Se não for arrefecido com água, explode, tal como o motor do vosso carro,
se o radiador ou um tubo tiverem uma fuga.
Para Malville, um circuito secundário de água deve arrefecer o circuito
primário de sódio líquido.
Este produto, o sódio líquido, inflama-se espontaneamente em contacto com o
ar e explode em contacto com a água e, até hoje, ninguém conseguiu apagar um
incêndio de sódio com mais de uma tonelada.
É fácil imaginar os danos que podem ser causados por uma fuga do circuito
de sódio, especialmente se o circuito de água estiver defeituoso.
Em Malville, havia 60 toneladas de sódio líquido.
O que é que aconteceu em Malville?
Sob o calor intenso do reactor, e na sequência da escolha duvidosa de um
metal de má qualidade para o fabrico da cuba do reactor, o sódio vazou.
A probabilidade de um acidente deste género era, no caso dos submarinos em
questão, da ordem de uma vez em cada cem mil anos.
No entanto, a fuga ocorreu de facto.
Pior ainda, os técnicos não acreditavam na fuga e pensavam que se tratava
de um problema com os detectores.
Em suma, não estávamos longe de uma grande catástrofe.
Mas as coisas melhoram:
Algum tempo depois, devido a um manuseamento incorrecto, também no mesmo local, o passadiço instalado por cima do reactor caiu sobre ele.
A probabilidade de um peso de um quilo cair sobre a cúpula do reactor era de uma vez em cada cem mil anos.
Nesse dia, caíram treze toneladas sobre a cúpula do reactor de Malville.
Portanto, a probabilidade não é uma ciência exacta.
E como um velho amigo africano costumava dizer:
"a estrada não dá informações ao viajante".
Fonte: La faute à pas de chance – les 7 du quebec
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
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