20 de Maio de 2023 Robert Bibeau
Por Brigitte Bouzonnie.
1°)-Alain Badiou:
*Falemos a linguagem de Nietzsche. É preciso saber
incorporar-se no movimento de transvalorização dos valores estabelecidos. Há
momentos em que é preciso saber afirmar a inversão das aparências infligidas.
Temos de ter a liberdade, comprometidos com o pensamento-acção da política, de
dizer que muitos dos perseguidos devem absolutamente ser homenageados, não
porque são perseguidos (essa é a abominação humanitária pequeno-burguesa), mas
porque, em nome de todos nós, organizam a afirmação de um pensamento diferente
da vida humana. Este foi o gesto do próprio Marx: os trabalhadores que nada têm, que são
considerados a Classe Perigosa, vou honrá-los e participar activamente na sua
primeira organização: a primeira internacional, pois eles são o motor colectivo
da história da emancipação, os principais construtores de uma sociedade
igualitária.
Seja qual for a escala em que possamos agora repetir este gesto de uma nova forma, fá-lo-emos. Rejeitaremos o veredicto de Sarkosy e das suas ratazanas, que declaram do alto da sua insignificância reaccionária que este homem, este maliano do mar, é apenas tolerado e deve preencher inúmeras condições para poder ficar onde está. Construiremos, dividindo o tempo da opinião, uma duração colectiva no seio da qual não só o maliano do mergulho será reconhecido como um sujeito livre, mas onde será particularmente honrado (sic) (De quoi Sarkosy est-il le nom?, edição Lignes, 2008).
2°)- Brigitte Bouzonnie: Badiou, com razão, propõe que os operários sejam particularmente destacados, pois eles são o motor da história da emancipação.
Ao fazê-lo, o filósofo Alain Badiou posiciona-se claramente contra a corrente de todos os mecanismos económicos, ideológicos, políticos e mediáticos que, desde os anos 80, remeteram a figura do operário para o caixote do lixo da história. No caixote do lixo da história. Isto é verdade para Sarkosy, mas não só. Nesta empresa de ódio à classe popular (prolofobia), Hollande e Macron também não estão mal.
Actualmente, o lugar das classes populares é particularmente subalterno, pelo menos por três razões:
2-1°)-Desde os anos 80, os operários têm vindo a sofrer a força total do desemprego e da pobreza em massa. 1 milhão de desempregados em 1980. 2 milhões em 1988. 3 milhões em 1997. 6,5 milhões actualmente, segundo os dados da DARES. 9 milhões de acordo com os meus cálculos. 15 milhões de pobres que vivem abaixo do limiar de pobreza. 79% dos assalariados com dificuldades de subsistência (ver Sud-Ouest de 1 de Maio de 2010). Os empregos do sector industrial foram infelizmente deslocalizados. O sector secundário perdeu 1,5 milhões de empregos. Representa agora apenas 11% da população activa (dados do site ELUCID).
2-2°) - Desde os anos 80, os trabalhadores são confrontados com uma invisibilização da sua imagem. Nos meios de comunicação, nos filmes, nos livros, nos partidos políticos, no governo, a palavra operário desapareceu. Tornou-se um palavrão, como dizia Pierre Mauroy. Fazendo o balanço dos primeiros sete anos de Mitterrand, Georges Peyrol, jornalista do grupo de Badiou no jornal "Le perroquet", escreveu: "Terá havido alguma vez um período mais confuso e sombrio, pontuado por episódios detestáveis: Talbot, os regulamentos contra os imigrantes sem documentos, a invisibilidade dos trabalhadores, a promoção de Tapie como exemplo para os jovens... (sic) (extracto do livro de memórias escrito por Alain Badiou: Mémoires d'outre politique, edição Flammarion, 2023).
Sob Mitterrand, ainda havia vozes críticas como as de Georges Peyrol, que se indignavam com o desaparecimento programado da imagem dos operários da sociedade francesa. Hoje, nem por isso. Somos blasé. Habituados. Estamos habituados ao facto de 40% da população ter desaparecido de um dia para o outro da televisão e da nossa consciência. Desistimos, erradamente, de nos indignarmos com este genocídio ideológico silencioso. Por exemplo, e como já contei, um Melenchon/Delapierre recusou durante um ano publicar os meus artigos sobre a explosão mensal do desemprego pós-subprime em 2009 (90.250 novos desempregados em Janeiro de 2009, 82.250 em Fevereiro... no jornal do Partido da Esquerda: A Gauche.
Outro exemplo: as sondagens assentam na seguinte falsa premissa: segundo os institutos de sondagem que votam em Macron, haveria 50% de operários e empregados, 50% de executivos. Quantas vezes vi, na BFMTV, "sondagens" a ocuparem todo o pequeno ecrã. E onde nos dizem sem se rirem: "operários e empregados, ou seja, 50% da amostra pensam assim, assim. Os gestores, também 50% da amostra, pensam o contrário. Mas, como diz Emmanuel Todd, há, no máximo, 30% de licenciados na sociedade. Os gestores, que são uma minoria na população activa, estão, portanto, sobre-representados nos meios de comunicação social. Em contrapartida, as classes populares (operários e empregados) são deliberadamente sub-representadas.
2-3º) -Sim, os trabalhadores são o motor da história da emancipação, como escrevem lucidamente Karl Marx e Alain Badiou. São eles, de facto, os grandes batalhões das revoluções: não há dúvida sobre isso. Um exemplo entre mil: quando o Maio de 68 viu 15 milhões de grevistas, o número de operários e empregados pode ser estimado em 10 a 12 milhões. 3 milhões, no máximo, o número de dirigentes. O problema é outro. Como mostra a análise dos efectivos da grande Revolução Francesa, da Comuna de Paris e do Maio de 68, foram apenas os pequeno-burgueses que enquadraram as revoluções: Robespierre, advogado sem causa em 1789, e Saint-Just. Em 1848, Alphonse de Lamartine, o deputado Ledru-Rollin..., os pequenos burgueses desclassificados animaram a Comuna de Paris, como mostra a análise biográfica de cada "delegado". Os Cohn-Bendit, Alain Geismar, Jacques Sauvageot, Maurice Najman, Henri Weber e outros líderes estudantis do Maio de 68. Ver :https://les7duquebec.net/archives/282713
Assim, quando falamos de Maio de 68, não pensamos nos 12 milhões de operários e empregados, mas apenas em Cohn-Bendit, que nunca pegou numa musette na sua vida. Uma fraude grosseira, que nem sequer resiste a uma análise superficial dos factos. Uma reescrita puramente falaciosa da história, que faz do Maio de 68 um movimento puramente libertário de libertação da moral: quando os trabalhadores em greve lutavam por melhores salários e mais poder na empresa!
Cohn-Bendit é um impostor, no sentido
utilizado pelo ensaísta Roland Gori no seu livro "La fabrique des
imposteurs", publicado por "Les liens qui libèrent", 2013. O
impostor Cohn-Bendit é um ilusionista, que privilegia a forma em detrimento da
substância, quando chama em voz alta um ministro da época, "para ir ao
balneário das raparigas" (sic), só para se tornar interessante. Prefere o
mediatismo ao mérito real, opta pela mentira vantajosa (fazer crer que havia 15
milhões de grevistas em Maio de 68, exigindo a entrada no balneário feminino) em
vez da coragem de dizer a verdade. Opta por fazer um grande alarido com a sua
reivindicação pessoal de minoria, em vez de dizer a verdade dos factos
históricos.
A última gota é a ponte de ouro mediática
que os jornalistas sempre proporcionaram a Cohn Bendit! Entre 1968 e 2016-2017,
vimos sempre o campo político/jornalístico estender o tapete vermelho a Cohn
Bendit. Sem excepção. Foi preciso esperar até 2016 para ouvir uma primeira
crítica à personagem, proferida pelos militantes, reconhecidamente de base, do
movimento "Europe écologie les verts" (EELV), apelidando-o
ironicamente: "Tia Danielle"!
Por exemplo, Alain Geismar, líder da UNEF
em Maio de 68, e portanto muito mais legítimo do que Cohn-Bendit para falar de
Maio de 68, morreu em 2019 de um acidente de viação. A sua triste morte não
provocou qualquer emoção popular. Nenhuma celebração oficial. Ficámos a saber
esta informação pela cassete. Por outro lado, não nos atrevemos a imaginar o
funeral de Cohn-Bendit, o que, claro, não quero: durante oito dias, as estações
de televisão deixarão de viver para o homenagear.
Mas voltemos ao nosso comentário sobre o
texto de Alain Badiou: o verdadeiro problema não é saber se as classes populares
são ou não o motor da história, o que, evidentemente, não está em causa. Mas
sim, como Karl Marx sabia desde muito cedo, o facto de as revoluções serem
quase sempre confiscadas pelos pequenos burgueses, mais ou menos honestos. A
classe média, que depois, como mostra o pós-Maio de 68, se juntou à burguesia,
impondo-nos a todos um projecto de imobilismo social, violentamente prolófobo.
Assim, contrariamente
à análise de Alain Badiou, o problema, na minha opinião, não é tanto
"homenagear", atribuir uma medalha ou um estatuto aos operários, mas
sim criar milhões de postos de trabalho permanentes, a fim de combater o
desemprego e a pobreza que afecta as classes populares. Aumentar
substancialmente os salários. Dar uma boa imagem das classes populares nos
meios de comunicação social. Deixar que estas se organizem livremente, com o
seu próprio programa. Longe dos partidos políticos e dos sindicatos clássicos.
Sem fazer uma OPA sobre eles, como Mélenchon e Binet, que pagam 13.000 euros
por mês.
É este o projecto do movimento antipartidário Coletes Amarelos, que elaborou o seu programa e cujas dez principais reivindicações são as seguintes:(Veja: Resultados da pesquisa por "coletes amarelos" – Les 7 du quebec )
1°)-Renúncia de Macron e cia.
2°)-Aumento dos salários.
3°)-Supressão de privilégios políticos.
4°)-Mais referendos.
5°)-Sexta República participativa.
6°)-Restauração do ISF.
7°)-Redução dos vencimentos dos governantes.
8°)-Diminuição do número de parlamentares
9°)-Mais recursos na comunidade médica.
10°)-Combate à fraude fiscal.
Existe um
"parentesco" entre o programa dos Coletes Amarelos e o programa do
Rassemblement "Pouvoir au Peuple", um laboratório de ideias ao
serviço das classes populares. Por exemplo, os Coletes Amarelos propõem uma
redução do número de deputados. O programa do Rassemblement "Pouvoir au
Peuple" (Poder ao Povo) propõe a abolição pura e simples de todos os
deputados.
Em todo o caso, os dois programas são úteis. O programa dos Coletes Amarelos deve ser popularizado. É interessante e defende efectivamente as classes populares e as pequenas classes médias. Com os nossos modestos meios, através da carta política independente, estamos a trabalhar nesse sentido.
Por seu lado, o nosso programa, o Rassemblement "Pouvoir au Peuple", desenvolve 43 propostas. Por exemplo, no domínio internacional, sair da zona euro e da NATO. No domínio nacional: redigir uma nova Constituição nas rotundas dos coletes amarelos, pontos de partida das manifestações, esboço de um poder popular que, a prazo, governará sozinho o país, com base numa excelente ideia do meu amigo Dominique Kern. No domínio financeiro: devolução do poder ao Banco de França para cunhar moeda. No domínio social: um aumento significativo dos salários e um grande plano de recuperação, pois os salários estão estagnados desde os anos oitenta. Regresso à escala móvel, ou seja, indexação dos salários e das pensões aos preços. Plano de luta contra o desemprego e a pobreza: zero pobres, zero desempregados.... Nacionalização do Facebook, uma ideia muito boa da minha amiga Monika Karbowska....
Também ela tem a sua utilidade. Como escreve o meu camarada marxista Ernesto Monteagudo: "A consciência política efectiva dos oprimidos não é imanente ao seu comportamento social como rebeldes (isso não basta), qualquer que seja a sua classe, proletariado ou classes médias intelectualizadas em vias de proletarização... Precisam de um partido político e de um programa fora da sua prática social, da sua praxis, para conhecer as evoluções possíveis de uma dada situação, é necessário conhecer a sua causalidade e ter um conhecimento político exacto" (sic). Nós trazemos o nosso modesto conhecimento das evoluções económicas, políticas, sociais da sociedade francesa 2023, para a construção de um programa em comum com os Gilets Jaunes, antipassesanitário 2021... (ver: Resultados da pesquisa por "colete amarelo" – Les 7 du quebec).
A história mostra a necessidade de uma "vanguarda" revolucionária(1) com um conhecimento preciso da situação geopolítica e económica do momento. Diz-se que Lenine costumava fechar-se durante semanas numa biblioteca para analisar a situação na Rússia. O economista marxista Vincent Gouysse publicou no sítio Réseau International um texto muito interessante, escrito por Estaline nos anos 20, no qual assinala a vassalagem dos países europeus endividados para com os Estados Unidos após a Primeira Guerra Mundial. Isto mostra a importância, para qualquer vanguarda digna desse nome, de ter um conhecimento preciso e argumentado da sociedade nacional e mundial do momento.
(1)- A palavra "vanguarda" não deve assustar. Naturalmente, esta
palavra é demonizada pela ideologia mundialista ocidental. Assim, um dia,
Mélenchon disse que "a França insubmissa não era uma vanguarda"
(sic). A história mostra que os piores inimigos do Povo não são as vanguardas (Lenine,
Estaline), mas os social-democratas pequeno-burgueses como Mélenchon, que
fingem defender as classes populares para que estas votem nele: por exemplo,
com o programa "Human First" de 2012, que contém nomeadamente um
direito de veto dado ao conselho de empresa para contrariar os planos sociais,
sob proposta do sindicalista e líder do movimento social de 1995 com Bernard
Thibault, Claude Debons. E que, a poucos passos do poder, em 2016, liquidam o
seu programa do passado por um posicionamento apenas de centro-esquerda.
A publicação deste artigo não significa que a revista web Les7duquebec.net
endossa todas essas propostas.
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice
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