quinta-feira, 18 de maio de 2023

A Terceira Guerra Mundial e a alternativa "revolução ou guerra" na Grã-Bretanha

 


 18 de Maio de 2023  Robert Bibeau  


Por IGCL- Revolução ou Guerra, em http://www.igcl.org/-Revolution-or-War-

A revista Revolução ou Guerra está disponível em formato PDF aqui:
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A prosperidade e a paz desapareceram da vulgata capitalista e das mentes tristes dos esquerdistas pacifistas. Desde o início da guerra na Ucrânia, as linhas de confronto entre a propaganda e a ideologia burguesas, por um lado, e a teoria e os princípios do proletariado, o marxismo, por outro, mudaram.

A luta para alertar as fileiras proletárias para a inevitabilidade da crise do capital, bem como da guerra imperialista, pertence ao passado como uma batalha central.

A luta para convencer o campo proletário, especialmente as suas forças que reivindicam ser a Esquerda Comunista, do perigo e da perspectiva da Terceira Guerra Mundial Imperialista e da alternativa histórica "revolução ou guerra" pertence ao passado.

A crise e a guerra tornaram-se realidades imediatas, anunciando o aumento da miséria e um forte aumento do sofrimento dos assalariados e das suas famílias. Um facto evidente para todos. E mesmo para a burguesia, que já nem sequer tenta escondê-lo (1).

Quanto às forças políticas revolucionárias, só as mais sectárias e escleróticas se recusam a registar o rearmamento geral, os apelos ao desenvolvimento da economia de guerra e a polarização imperialista acelerada dos últimos seis meses (2).

Não há agora nenhuma luta central, nenhuma urgência, para convencer os componentes mais dinâmicos do campo proletário, que permaneceram fiéis aos princípios do marxismo, da realidade e da actualidade da ameaça de uma marcha para a guerra imperialista generalizada, bem como da sua alternativa histórica (revolução). Estão convencidos disso e tentam agir em conformidade.

O confronto ideológico e político central deslocou-se para o terreno do confronto directo entre as classes, para o terreno das lutas operárias e, sobretudo, para o da sua conduta, da sua direcção política.

A questão já não gira em torno da capacidade de reacção do proletariado, como alguns ainda podiam duvidar há alguns meses. Tal como a crise e a guerra se tornaram realidades dramáticas e sangrentas, a retoma das suas lutas pelo proletariado internacional é igualmente real. As revoltas mais ou menos maciças dos países capitalistas menos desenvolvidos são agora respondidas pela dinâmica das greves e das lutas proletárias nos países mais desenvolvidos.

Também não há necessidade de convencer os proletários de que devem lutar. Eles estão a lutar. Tentam responder à crise. Reagem sobretudo à subida geral dos preços, à inflação que explode por toda a parte, em todos os continentes, em todos os países, sem excepção. Perante a inflação actual, a reivindicação salarial é central. Torna-se assim o objecto político e o factor de generalização e de unidade das lutas proletárias. E, ao lutar pelos salários, o proletariado rompe a unidade nacional de facto e levanta-se contra os sacrifícios que cada burguesia nacional, cada governo, cada Estado, lhe quer impor para a defesa do capital nacional e as necessidades da guerra imperialista. Como resultado, a sua indisciplina nacional tende a tornar-se um travão, um obstáculo, objectivo, relativo e tendencioso, à marcha forçada do capitalismo para a guerra imperialista generalizada.

As actuais greves no Reino Unido estão a dar o tom à luta de classes internacional. O proletariado britânico está a mostrar o caminho a seguir: empenhar-se na luta sem mais demoras (3). O facto de a burguesia britânica ser uma das mais favoráveis à guerra contra a Rússia na Ucrânia ilustra, e muito, a realidade dos desafios históricos, da alternativa revolução ou guerra e das potencialidades do proletariado.

Mas, acima de tudo, as greves actuais mostram que a luta central que os proletários em luta têm de conduzir hoje se cristaliza em torno da sua liderança e do seu controlo. Face a uma dinâmica de reacções espontâneas dos operários, de greves selvagens, desde Maio, a burguesia não ficou inactiva. Longe de se oporem frontalmente a estas greves, os sindicatos tentam sobrepor-se a elas e tomar a dianteira para melhor minar e entravar, a partir do interior, as dinâmicas de generalização e de unidade. Ao organizarem votações para decidir sobre greves legais, procuraram, e aparentemente conseguiram, controlar o ritmo e impor o seu terreno: o dos dias sucessivos de acção por corporação ou ofício. O seu objectivo é claramente enunciado: ganhar tempo, ameaçando com uma greve geral para... Outubro (4).

Após a nomeação do novo primeiro-ministro britânico! À realidade de um Verão quente marcado por uma dinâmica de mobilização e de greve generalizada, de greve de massas, os sindicatos opõem um "Outono quente" para mais tarde. Aceitar este ritmo é aceitar o ritmo da burguesia e dos seus sindicatos. Significa ceder-lhes o controlo do tempo e do terreno do confronto.

Esperar pelo outono sindical é permitir que os vários dias de acção sirvam de contra-fogo e, no final, abafem o inferno do Verão proletário que continua até hoje. É aceitar a preparação da derrota dos trabalhadores sem travar uma verdadeira luta. É por isso que convocámos, e continuamos a convocar no momento em que escrevo (5), os proletários da Grã-Bretanha a entrarem em luta todos juntos, ao mesmo tempo, sem demora, para que possam manter a iniciativa que se manifestou tanto pelas greves não oficiais de Maio e Junho como pela participação maciça nas greves convocadas pelos sindicatos.

A organização de sucessivas jornadas de greve oficiais (legais), ofício a ofício, corporação a corporação pelos sindicatos, a ausência - tanto quanto sabemos - de qualquer tentativa de "ultrapassar" os sindicatos, por exemplo recusando-se a voltar ao trabalho após um dia de acção, a aparente simpatia ou compreensão dos meios de comunicação social para com os grevistas até agora, levam-nos a pensar que já estamos atrás dos acontecimentos; que a burguesia consegue dominar a dinâmica dos acontecimentos e apoderar-se do controlo efectivo das greves. Por tudo isso, o confronto continua. Se os proletários querem manter, ou retomar, a iniciativa da luta, têm de lutar pela direcção, pelos objectivos e pelos meios com os sindicatos, sejam eles as centrais ou as secções sindicais de base. E é hoje que isso está em causa. Não daqui a dois ou três meses. Será demasiado tarde.

Numa luta aberta e maciça, chegou o momento de não privilegiar a propaganda, mas a agitação. Não é tempo de explicações e de análises, mas de orientações concretas e de palavras de ordem para a acção na luta. Apelar aos proletários para que disputem com os sindicatos e o esquerdismo o controlo do tempo, dos objectivos, do terreno e dos meios, é a primeira responsabilidade das vanguardas comunistas.

Assim, longe de deixar que a burguesia e os sindicatos manobrem a seu bel-prazer e imponham o terreno e o momento das batalhas, cabe-lhes elevar-se à vanguarda política do conflito, antecipar o mais possível o curso dos acontecimentos e dos confrontos; em suma, assegurar uma verdadeira direcção política da luta da nossa classe.

Neste sentido, cabe-lhes também, enquanto direcção política, participar na luta pela definição e adopção de reivindicações imediatas que permitam a extensão, a generalização e a maior unidade da luta. Convencer as pessoas da necessidade de dar orientações e palavras de ordem concretas para a acção no decurso da própria luta, e de acordo com a sua dinâmica, os seus momentos e diferentes episódios, os seus altos e baixos, torna-se por sua vez um desafio no seio das forças comunistas e do campo proletário.


"Em vez de colocar o problema da técnica e do mecanismo da greve de massas, a social-democracia é chamada, num período revolucionário, a assumir a liderança política. A tarefa mais importante da "liderança" no período da greve de massas consiste em dar a palavra de ordem da luta, em dirigi-la, em regular a táctica da luta política de tal forma que em cada fase e em cada momento da luta, a totalidade do poder do proletariado já empenhado e lançado na batalha seja realizado e posto em actividade e que esse poder seja expresso pela posição do Partido na luta; A táctica da social-democracia nunca deve estar abaixo do nível da relação de forças em presença, mas, pelo contrário, deve ultrapassar esse nível. " (Rosa Luxemburgo, sublinhado nosso) 6

No momento em que escrevemos, à medida que a semana de greve dos estivadores de Felixstowe se aproxima do fim, as apostas permanecem as mesmas: alertar tanto os grevistas como os não grevistas, convencer outras forças revolucionárias de que esperar pelo Outono quente anunciado e planeado pelos sindicatos britânicos equivale a deixar-lhes o campo da iniciativa e da condução das greves; e deixá-los organizar e planear as jornadas sindicais cujo objectivo final será abafar as últimas brasas da mobilização de Verão. "Arrastar-se para a cauda do movimento [é] uma coisa inútil, na melhor das hipóteses, e, na pior, extremamente prejudicial para o movimento." (Lenine, Que fazer?)

Revolução ou guerra.


ANOTAÇÕES

1 . "O crescimento económico global está a desacelerar diante de um horizonte sombrio e mais incerto. (...) A desaceleração reflecte um impasse no crescimento nas três maiores economias do mundo, Estados Unidos, China e zona do euro, o que tem implicações importantes para as perspectivas mundiais. (FMI, Julho de 2022, https://www.imf.org/fr/News/Articles/2022/07/26/blog-weoupdate-july-2022)

2 . Temos um pensamento especial para o caso específico da Corrente Comunista Internacional e da sua teoria oportunista da Decomposição que exclui qualquer perspectiva e perigo de guerra imperialista generalizada. De facto, voltar atrás nesta posição colocará inevitavelmente em causa a Decomposição, levando consigo toda a sua política sectária anti-parasita levada a cabo desde os anos 90 à custa da exclusão e condenação de dezenas dos seus membros. Face à realidade histórica e às suas contradições, a sobrevivência desta organização e a convicção política dos seus membros tornar-se-ão cada vez mais difíceis.

3 . Não é necessário recordar aqui que os comunistas não são "grevistas", que não apelam em todo o lado e sempre à luta aberta e à greve, independentemente da evolução da relação de forças entre as classes.

4 cf. nosso comunicado e folheto sobre greves na Grã-Bretanha – 1 – Revolução ou Guerra # 22 – Grupo Internacional da Esquerda Comunista (www.igcl.org).

5 Com todas as limitações, até reservas sobre este ou aquele aspecto em particular, devido à nossa ausência em território britânico e às nossas dificuldades em seguir diariamente e "in loco".

6 . Greve de massas, partido e sindicatos, Maspéro, 1969.

 

Fonte: Troisième Guerre mondiale et l’alternative «révolution ou guerre» en Grande-Bretagne – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice




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