RENÉ — Este texto é publicado em parceria com a www.madaniya.info.
.
Entrevista com René no La Patrie News, entrevista de Mohamad Abdoun
Este artigo é publicado por ocasião do 61º aniversário dos Acordos de Evian (18 de Março de 1962).
Principais títulos
1. A Argélia, país anfitrião da última cimeira árabe, é o
condutor da diplomacia árabe, papel que deve utilizar como trampolim para a sua
adesão aos BRICS, a fim de fazer ouvir a voz do mundo árabe no seio do novo
agrupamento multipolar.
2. O Hirak definhou sob as leis da dinâmica de protesto.
3. No plano internacional, a Itália substituiu a Espanha
como parceiro energético europeu da Argélia, num contexto de redução da
diplomacia francesa no terreno argelino.
4. No plano interno argelino, a regressão cultural
francesa é inexorável.
5. As comissões mistas franco-argelinas sobre a história
da colonização da Argélia são um erro de interpretação histórica
contraproducente.
6. A verdade histórica da colonização da Argélia está
inscrita na carne dos argelinos, na sua memória, no estigma que a Argélia
carrega e em mais lado nenhum.
7. Sem o decreto Crémieux, que conferiu a nacionalidade
francesa aos judeus argelinos, Eric Zemmour não teria poluído o debate público
francês com a sua islamofobia, nem manchado a imagem internacional da França
com o seu petainismo revanchista.
8. Corrupção: uma ferida aberta que assola a Argélia e
que o Presidente Abdelmadjid Tebboune está a tentar erradicar.
9. BRICS: a Sizígia entre a Argélia, por um lado, e a
China e a Rússia, por outro, é perfeita. O alinhamento dos planetas (Sol,
Terra, Lua) é particularmente favorável..
Pergunta
La Patrie News: Que perspectivas estão disponíveis para a Argélia após a cimeira
árabe de 1 de novembro de 2022?
Resposta René:
Mantenhamos a cabeça fria. A cimeira árabe de Argel iniciou um lento processo
de reconstituição de um processo de diálogo inter-árabe após duas décadas de
autodestruição pelas petro-monarquias árabes, em conluio com a NATO e os
islamistas como carne para canhão, na sequência da chamada "Primavera
Árabe" para maior benefício de Israel e dos países ocidentais. Uma
sequência, a todos os títulos, calamitosa que conduziu à retirada monárquica
colectiva do Estado judaico. Não nos iludamos. Será preciso muito mais do que
uma cimeira para colocar o mundo árabe no caminho da ressurreição, tal é o
estado lamentável deste agrupamento geopolítico.
No entanto, esta cimeira foi um tour de force da diplomacia argelina e a
Argélia recuperou a sua velocidade de cruzeiro no final de um período agitado
pelo crepúsculo do reinado de Abdel Aziz Bouteflika e do Hirak. Desde o dia 1
de Novembro de 2022, a Argélia, país anfitrião da última cimeira árabe,
desempenha o papel de condutor da diplomacia árabe, função que deve utilizar como
trampolim para a sua adesão aos BRICS, a fim de fazer ouvir a voz do mundo
árabe no seio do novo agrupamento multipolar que pretende contrariar a
hegemonia ocidental..
Pergunta
La Patrie News: Você acha que a Argélia retomou a sua velocidade de cruzeiro?
SIM. Vários elementos sustentam a minha apreciação:
Para além do sucesso diplomático argelino (a cimeira árabe em Argel, a
neutralização do estatuto de observador de Israel na União Africana) e da
retoma económica devido à crise energética mundial que se seguiu à guerra na
Ucrânia, o Hirak definhou em virtude das leis da dinâmica do protesto, O Hirak
definhou em virtude das leis da dinâmica de protesto, na medida em que um
movimento estático carrega em si as sementes do seu próprio desaparecimento
devido a uma postura exclusivamente declamatória, em contradição com um
movimento que deve ser impulsionado por uma dinâmica de conquista de poder.
https://www.madaniya.info/2022/03/18/le-grand-retour-de-lalgerie-sur-la-scene-internationale
Sobre o Hirak
https://www.madaniya.info/2020/07/01/qui-sont-les-tenors-autoproclames-du-hirak-algerien/
Adenda: A Argélia planeia duplicar as suas exportações de gás em 2023. 100
mil milhões de metros cúbicos de gás, contra 56 em 2022. Um objectivo que
reflecte a euforia que reina actualmente no sector do gás argelino.
A nível internacional, no contexto da redução do perfil diplomático francês
no território da Argélia - o Sahel, a sanção dos malabarismos franceses na
região, tanto na Líbia como através da sua aliança com o Qatar no norte do Mali
- a Itália substituiu a Espanha como parceiro energético da Argélia para a
Europa Ocidental.
Recorde-se que a recusa da Argélia em cooperar com a França no âmbito do G5
do Sahel conduziu ao fracasso militar francês no Mali, em paralelo com o
aumento dos protestos anti-franceses no Mali, no Burkina Faso, na República Centro-Africana
e até no Senegal.
Pergunta
La Patrie News: 19 de Março coincide com o 61º aniversário dos Acordos de
Evian, que pensamentos tem sobre esta comemoração? E, a propósito, que
comentário o inspira o hype mediático feito em França após a publicação pela
Argélia de uma nota de 20.000 dinares denominada em inglês?
Os acordos franco-argelinos de Evian foram um enorme mal-entendido
histórico. Para os argelinos, marcaram o repúdio de 132 anos de colonialismo.
Para a França, oito anos após a perda do Vietname, Evian foi vivido como
uma venda, desencadeando, correlativamente, 61 anos de ininterruptas diatribes
anti-argelinas por parte de uma fracção da classe política francesa,
inconsolável com a perda desta jóia do império e mais tentada pelas seduções da
diplomacia marroquina da Mamounia.
A venalidade e o racismo foram um veneno mortal para a França. Tal como a
ingratidão, quando se considera que os "nativos" argelinos
contribuíram de forma importante para o esforço de guerra francês, duas vezes
no mesmo século, por ocasião das duas guerras mundiais, bem como para a
reconstrução da França.
A contribuição da Argélia para a defesa da França e sua reconstrução.
A presença de uma grande comunidade argelina em França, da ordem das
500.000 pessoas, não é tanto o resultado da hospitalidade francesa, mas da necessidade
da França de "carne para canhão" e de mão-de-obra para se defender e
reconstruir.
Durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), só a Argélia forneceu 173.000 combatentes muçulmanos, ou seja, 10% da população argelina da altura, dos quais 23.000 foram mortos, e 76.000 trabalhadores participaram no esforço de guerra, substituindo os soldados franceses que tinham partido para a frente.
Para a Segunda Guerra Mundial (1939-1945): O Primeiro Exército Africano, que desembarcou na Provença (sul de França) a 15 de Agosto de 1944, abriu uma segunda frente em França após o desembarque na Normandia a 6 de Junho de 1944. Este exército de 400.000 homens incluía 173.000 árabes e africanos nas suas fileiras. De Junho de 1940 a Maio de 1945, foram mortos cinquenta e cinco mil (55.000) combatentes argelinos, marroquinos, tunisinos e negros africanos.
Durante a campanha italiana, marcada pela famosa batalha de Monte Cassino, que quebrou o bloqueio de Roma e, como tal, é celebrada como a grande vitória francesa da Segunda Guerra Mundial, dos 6.255 soldados franceses mortos, 4.000, ou seja, dois em cada três, eram magrebinos, e dos 23.5000 feridos, 15.600, ou seja, um terço, eram magrebinos. Ahmad Ben Bella, um dos futuros líderes da guerra de independência argelina e o primeiro presidente da Argélia independente, encontrava-se entre os feridos da batalha de Monte Cassino.
A França pagou o preço da sua política errática e da leitura selectiva da
sua história: O Code de l'indigénat, contrário ao princípio republicano da
igualdade dos cidadãos, não tinha razão de ser nos três departamentos franceses
que constituíam a Argélia, e sem o Decreto Crémieux, que conferia a
nacionalidade francesa aos judeus argelinos, Eric Zemmour, - este judeu árabe,
segundo o historiador Benjamin Stora, que no entanto se declara judeu berbere
por fobia ao árabe -, não teria poluído o debate público francês com a sua
islamofobia, nem manchado a imagem internacional da França com o seu petainismo
revanchista.
Veja neste link: https://www.lemonde.fr/idees/article/2023/02/03/depuis-le-xix-siecle-l-immigre-en-bouc-emissaire-des-crises-franco-francaises_6160361_3232.html
Do mesmo modo, a constituição de comissões mistas franco-argelinas para
procurar a verdade sobre a história da Argélia é uma contradição histórica
contraproducente, na medida em que exonera o carrasco das suas torpezas.
Em Oradour sur Glane, durante a Segunda Guerra Mundial, não houve uma
comissão mista franco-alemã para investigar esse drama. Não podia haver uma
comissão mista franco-argelina para investigar Setif e Guelma, nem os fumos nas
grutas nos primeiros tempos da colonização da Argélia, nem as torturas e
violações durante a guerra de independência.
(NDA: Sábado, 10 de Junho de 1944: a vida do pacato burgo limogiano de
Oradour-sur-Glane foi aniquilada em poucas horas por uma acção brutal, metódica
e deliberada de uma parte da divisão Das Reich das Waffen SS, em represália às
acções da Resistência francesa)
A comissão paritária equivaleria a colocar em pé de igualdade o colonizador
e o colonizado, o carrasco e a sua vítima.
A verdade histórica da colonização da Argélia está inscrita na carne dos
argelinos, na sua memória e no estigma que a Argélia carrega e em mais lado
nenhum.
Para ir mais longe neste tema, veja este link:
Como consequência dessa fúria anti-argelina, o retrocesso cultural francês
tem sido inexorável na Argélia.
O aparecimento do inglês na moeda argelina na data altamente simbólica de 1
de Novembro de 2022, aniversário do início da guerra de independência, faz
parte de uma política deliberada de Argel para dar mais espaço a esta língua,
inclusive em detrimento do francês, e a partir do ano lectivo de 2022-2023 o
inglês é ensinado a partir do terceiro ano da escola primária, quando até então
era ensinado a partir do ensino secundário.
O movimento já tinha começado sub-repticiamente no Aeroporto Internacional
Houari Boumediene, em Argel: um passeio pelos corredores deste aeroporto revela
que todos os sinais estão escritos em árabe e em inglês. Não há qualquer
vestígio de francês.
O Presidente Emmanuel Macron admitiu-o em Djerba, durante a cimeira da
Francofonia realizada na ilha tunisina a 19 e 20 de Novembro de 2002, quando
falou da "realidade" do declínio da língua francesa no mundo. Com 321
milhões de falantes, o francês é a quinta língua mais falada no mundo. Mas
continua a ser frequentemente associada à colonização no Magrebe e na África
subsariana e está em declínio constante.
"Temos de ser lúcidos. Nos países do Magrebe, fala-se menos francês do
que há vinte ou trinta anos. Isto é uma realidade. O mundo francófono recuou um
pouco", disse o Presidente francês. O lugar do francês no mundo está, de
facto, a diminuir e a ceder progressivamente o lugar ao inglês e, sobretudo, a
outras influências, nomeadamente a russa, acrescentou. Face a um "regresso
do imperialismo" ou a uma "divisão do mundo", que receia, o
chefe de Estado francês pretende fazer do francês uma língua universal de paz e
democracia.
Na verdade, o francês não está apenas a regredir no Magrebe, mas também no
Líbano, a tradicional âncora da França no Médio Oriente. A última bofetada na
cara da língua francesa no Líbano foi a construção da nova Universidade
Ortodoxa Grega de São Jorge, em Achrafieh, no bairro cristão de Beirute, onde
se ensina exclusivamente em inglês.
O lugar do francês diminuiu consideravelmente, nomeadamente devido à
facilidade de emprego para os falantes de inglês, sobretudo nas
petro-monarquias e na Ásia. Aquando da independência do Líbano, 75% da
população libanesa era francófona e 25% anglófona.
Em 2022, a tendência inverteu-se radicalmente. Este número fala mais alto
do que o mais longo discurso.
https://algerie54.dz/2023/02/27/france-afrique-4/
Pergunta La Patrie News: Na sua entrevista anterior por nós publicada, mencionou o discreto acordo concluído entre França e Argélia (petróleo contra repatriação de capital argelino em França). O que acha disso?
A renda parasitária dos países ocidentais, resultante da fuga de capitais do Terceiro Mundo.
A corrupção é uma ferida aberta na Argélia que o Presidente Abdelmadjid
Tebboune se esforça por erradicar, actuando a nível interno, perseguindo os
corruptores e condenando-os judicialmente, e a nível internacional, devolvendo
os capitais investidos principalmente nos países ocidentais.
A corrupção na Argélia é um fenómeno económico e social importante, cujas
causas residem no sistema autoritário de governação do país e que afecta todos
os sectores económicos e todos os níveis da sociedade. Em 2021, a Argélia
ocupava o 117.º lugar no ranking da ONG Transparência Internacional, muito
atrás dos seus vizinhos do Norte de África, a Tunísia (70.º) e Marrocos (87.º).
Cerca de 40 responsáveis argelinos foram levados à justiça na luta contra a
corrupção, incluindo dois antigos primeiros-ministros Ahmed Ouyahia e Abdel
Malek Salam, enquanto o próprio irmão do ex-presidente Abdel Aziz Bouteflika,
Said Bouteflika, está a definhar na prisão.
Simultaneamente, aproveitando as necessidades energéticas dos países
ocidentais em consequência da guerra na Ucrânia, a Argélia tomou medidas com
estes países para recuperar os capitais argelinos colocados no estrangeiro em
fraude, no âmbito da sua luta contra a fuga de capitais.
Os países em causa são os seguintes: França, Espanha, Suíça, Reino Unido,
Itália, Irlanda, Estados Unidos, China, Panamá, Canadá e Emirados Árabes
Unidos. 210 pedidos foram enviados aos países em causa em 2020 e 2021, 43 dos
quais foram resolvidos a favor do Estado argelino. A Argélia conseguiu assim
recuperar 44 propriedades de França, incluindo algumas residências sumptuosas.
De acordo com as estimativas mais geralmente aceites, a fuga de capitais
argelinos para os países ocidentais ascende a oito mil milhões de dólares.
A Argélia parece assim ansiosa por sanear a sua vida política e privar os
países ocidentais de uma renda parasitária resultante da fuga de capitais do
Terceiro Mundo. Referindo-se às estimativas da CNUCED, Fabrice Marchisio,
advogado especializado na recuperação de activos fraudulentos, afirma que 400
mil milhões de dólares fugiram de África entre 1970 e 2005 para outros
continentes, com base em estimativas do Banco Mundial, Indica que o montante
dos desvios de fundos dos ditadores árabes depostos durante a "Primavera
Árabe", Hosni Mubarak (Egipto), Zine El Abidine Ben Ali (Tunísia) e Muammar
Kadhafi (Líbia), se situaria entre 100 e 200 mil milhões de dólares, valor que
inclui nas suas estimativas os activos ocultos.
(Fabrice Marchisio é membro da empresa Asset Tracing and Recovering/Cabinet
Cotti, Vivant, Marchisio e Lazurel. Entrevista ao jornal Le Figaro, 12 de
Setembro de 2011).
Por sua vez, o ex-embaixador líbio na Arábia Saudita, Mohamad Saad Al Kachatte,
garantiu que "a queda de Trípoli e a liquidação do coronel Kadhafi
marcaram o início do saque da Líbia". Setenta toneladas de ouro (70
toneladas) armazenadas nos vários depósitos do Banco Central líbio foram
saqueadas, enquanto as capitais ocidentais colocaram as mãos em activos líbios
no exterior estimados em 170 mil milhões de dólares" e o gigantesco
arsenal da capital também será saqueado por islamitas líbios para servir para
equipar grupos terroristas na Síria e no Sahel. acrescentou o diplomata líbio.
Isso mostra a magnitude do problema e a necessidade urgente de remediá-lo e
limpar a situação, a fim de abrir caminho para que a candidatura da Argélia aos
BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul) se torne o pivot desse
grupo que desafia a hegemonia ocidental no flanco sul da OTAN.
Neste link, a declaração do diplomata líbio sobre o saque da Líbia
https://www.madaniya.info/2022/10/10/libye-le-portable-lerreur-fatale-du-colonel-kadhafi/
A questão da candidatura da Argélia aos BRICS
A Argélia solicitou a adesão ao BRICS em Novembro de 2022 e espera-se que o
seu pedido seja analisado na próxima cimeira do BRICS, em 2023, na África do
Sul. A candidatura da Argélia não deverá colocar quaisquer problemas, uma vez
que tem as melhores relações com os dois países centrais desta aliança que
desafia a hegemonia ocidental.
A China é, de facto, o primeiro exportador para a Argélia, suplantando a França como primeiro parceiro comercial, e a Argélia é a montra do armamento russo no Mediterrâneo Ocidental, no flanco sul da NATO.
Dos três países do Magrebe central (Argélia, Marrocos, Tunísia), a Argélia é de longe o parceiro mais privilegiado da China, tanto por razões históricas como por afinidades políticas. Uma parceria selada durante as guerras de libertação pós-coloniais, quando a China tentava quebrar o bloqueio ocidental de que era objecto e a Argélia travava a sua guerra de independência contra a potência colonial francesa. Marrocos, de uma forma assertiva, e a Tunísia, de uma forma mais dúctil, juntaram-se ao campo pró-atlantista.
A Argélia é o país mais rico e economicamente mais desenvolvido, com o exército mais poderoso, equiparado ao da África do Sul, seu parceiro e irmão de armas na luta de libertação de África, o maior em superfície, fazendo fronteira com sete países (Marrocos, Tunísia, Líbia, Mali, Mauritânia, Níger e RASD). Esta superfície é infinitamente superior à extensão total da fronteira da França com os seus países vizinhos (Alemanha, Bélgica, Espanha, Itália, Suíça).
Além disso, a Argélia, juntamente com a Rússia, é um dos dois principais fornecedores de gás à Europa Ocidental, que pretende reduzir a sua dependência destes dois países situados fora da esfera atlantista.
Sobre a relação Rússia-Argélia
https://www.madaniya.info/2022/12/15/les-remontrances-du-president-algerien-houari-boumediene-a-ladresse-des-dirigeants-sovietiques/
https://www.afrique-asie.fr/algerie-russie-visite-detat-de-tebboune-a-moscou/
Sobre a relação China-Argélia
https://www.renenaba.com/le-franchissement-du-rubicon-sur-lifriqiya/
A Sizígia entre a Argélia, por um lado, e a China e a Rússia, por outro, é
perfeita. O alinhamento dos planetas (Sol, Terra, Lua) é particularmente
favorável.
A visita do Presidente chinês Xi Jinping à Arábia Saudita em Dezembro de 2022, bem como as manobras conjuntas russo-argelinas em território argelino no local altamente simbólico de Hammaguir, foram vividas como uma humilhação para o Ocidente, no meio da guerra na Ucrânia, na medida em que esta fertilização cruzada constituiu um prenúncio das futuras linhas de força da diplomacia internacional.
Na sequência da grande parada militar argelina organizada em Junho de 2022, por ocasião do 60º aniversário da independência da Argélia, foi programado um exercício militar conjunto entre a Rússia e a Argélia. Pela primeira vez, o exercício Vostok 2 teve lugar em solo argelino, em Hammaguir, na wilaya de Béchar (sudoeste). Este exercício militar táctico reuniu 50.000 pára-quedistas russos e argelinos. Primeira manobra conjunta em território argelino, o "Escudo do Deserto" seguiu-se ao exercício de Outubro de 2021, que teve lugar na Ossétia do Norte, na Federação Russa. Hammaguir é um local altamente simbólico. A dois passos da fronteira marroquina, o local permaneceu sob controlo francês até 1967, vários anos após a independência da Argélia.
Este processo é o fim último da reconfiguração planetária em curso e surge numa altura em que a França se debate com os restos da sua história, no contexto de um debate nauseabundo sobre o véu, a burca, o "separatismo" e a "grande substituição", "a equipa negra negra francesa, motivo de chacota da Europa", que, no entanto, leva o autor deste comentário racista, Alain Finkielkraut, à Academia Francesa, os "territórios perdidos da República" do único país que se diz laico, mas que é um dos principais apoiantes dos grupos terroristas islâmicos nas guerras contra a Líbia e a Síria. Um debate cíclico. Um debate inesgotável mas esgotante para um país com uma visão improvavelmente egocêntrica, a França, na medida em que revela tanto a sua fragilidade como a friabilidade da sua sociedade.
Para ir mais longe neste tema, veja este link
https://www.renenaba.com/france-identite-nationale/
Certamente, com a admissão da Argélia nos BRICS, lágrimas amargas fluirão
para as casas francesas por essa nova perda da antiga joia do Império Francês,
o antigo apoio da Metrópole.
Fonte: L’Algérie pays hôte du dernier sommet arabe, un tremplin à son accession au BRICS? – les 7 du quebec
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa
por Luis
Júdice
Sem comentários:
Enviar um comentário