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11 de Maio de
2023 Robert Bibeau
Por Daron, Abril de 2023, sobre Révolution ou Guerre #24 – Grupo Internacional da Esquerda Comunista http://www.igcl.org/The-demonstrations-and-riots-that
A revista Révolution ou
Guerre nº 24
está disponível em formato PDF:
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As manifestações e os tumultos que se seguiram ao assassinato, em Setembro último, da jovem iraniana pela polícia islamista, por não usar lenço na cabeça, são-nos apresentados como uma luta particular contra a "ditadura dos mulás" e como específicos do Irão. No entanto, mesmo que a faísca estivesse especificamente ligada ao regime dos mulás iranianos, o desenvolvimento e a extensão das greves operárias, bem como a exacerbação dos antagonismos sociais e de classe no país, são uma expressão e um factor da dinâmica internacional de luta a que assistimos em todos os continentes.
É assim que devemos entender e denunciar o surgimento e a apresentação de uma alternativa política "democrática e de esquerda" ao regime dos mulás: desviar a dinâmica proletária das suas reivindicações e da luta de classes em benefício de "reivindicações democráticas" e no terreno do povo, ou seja, do nacionalismo e do capital.
Breve explicação dos acontecimentos no Irão
Com o início das manifestações e a onda de greves em reacção à morte de Mahsa Amini, a direita e a esquerda do capital formaram diferentes alianças e grupos. Alguns dos rostos mais famosos da oposição fora do Irão formaram um grupo chamado "Aliança para a Democracia e a Liberdade "12 , um grupo composto pelo filho do último Xá do Irão, Reza Pahlavi, e por outros activistas proeminentes da direita e da esquerda13.
Cerca de um mês após a publicação desta carta, denominada "Carta de Solidariedade e Aliança para a Liberdade" ou "Carta Mahsa "14 , a ala esquerda "mais radical" do capital achou necessário anunciar também a sua existência, redigindo algo semelhante que pode ser considerado uma carta em resposta à "Carta Mahsa". O próprio nome deste prisma, Carta das Exigências Mínimas, mostra a filiação destas "Uniões e Organizações Civis Independentes" ao capital e o objectivo de o preservar15.
O programa mínimo, uma táctica ultrapassada
Na época da Segunda Internacional, especialmente quando o Estado burguês ainda tinha um carácter progressista e a prossecução de reformas ainda era um objectivo viável e tacticamente positivo, os partidos da Segunda Internacional pressionaram o Estado a aprovar leis e reformas a favor do proletariado e das suas organizações. Estas tácticas e exigências foram designadas por programa mínimo, porque uma revolução internacional imediata não estava na ordem do dia nessa altura. Com o início da decadência do capitalismo e a consequente perda do carácter semi-progressista do Estado burguês, com as guerras imperialistas e a crise económica, a busca de reformas tornou-se, com o tempo, uma táctica reaccionária e desfavorável à classe proletária. As reivindicações mínimas tornaram-se obsoletas e a primeira coisa na ordem do dia foi uma revolução mundial.
Qualquer grupo ou organização que ainda defenda e utilize esta táctica de
reformas e de programa mínimo foi totalmente integrado no campo burguês e abandonou
completamente o campo proletário.
A situação actual da esquerda iraniana
Aparentemente, para as esquerdas iranianas, o Estado burguês ainda tem um
carácter progressista e reformável e, por mais ridículo que pareça, este Estado
burguês é o Estado dos burgueses islamistas cujo maquiavelismo e brutalidade
são conhecidos de todos. As exigências de "abolição da pena de
morte", de "separação entre religião e Estado" ou de
"abolição dos órgãos de opressão e limitação da autoridade e dos poderes
do Estado" por parte do Estado burguês (mesmo o Estado burguês islamista) nesta época de decadência, não passam de
uma brincadeira infantil.
Uma das outras exigências ridículas destas organizações era a
"normalização das relações externas com outros países com base em relações
fundamentadas e no respeito mútuo". Os esquerdistas iranianos estão a
viver na era pré-imperialista e ainda estão presos às exigências da Primeira
Internacional.
Na exigência número 4, "reconhecimento da sociedade arco-íris
LGBTQIA+, descriminalização de todas as relações e tendências de género",
tentam defender os direitos das minorias sexuais. No entanto, é impossível
livrar completamente a sociedade capitalista da discriminação e do fanatismo
contra as minorias sexuais sem uma revolução da classe operária. Os
acontecimentos da revolução russa e a subsequente despenalização dos
homossexuais e transexuais são prova disso16.
A sociedade iraniana é governada pela burguesia islâmica, cuja ideologia
fundamental se opõe à existência de homossexuais e transgéneros.
A ala esquerda do capital, preservação
das relações capitalistas
Mais uma vez, podemos ver a profundidade com que as organizações de
esquerda são uma força cujo objectivo é preservar o capitalismo (consciente ou
inconscientemente). Não há qualquer sinal de unidade e independência da classe operária
nesta carta. Para não falar da ausência da palavra "classe operária"
ou "proletariado", mas sim de numerosas menções ao "povo".
Isto mostra o quanto o proletariado internacional e, em particular, a classe operária
da região do Irão precisa de um partido de classe internacional (como bem
disseram os camaradas da TCI).
O horizonte da classe operária
internacional
Apesar da sabotagem activa de todos os lados da burguesia, as greves e as
lutas proletárias (à escala internacional) continuam vivas. Isto também é
verdade para o proletariado iraniano, com diferentes sectores e profissões a
participarem activamente e a juntarem-se às ondas de greves. O que a classe operária
iraniana precisa não é da unidade das esquerdas e da sua visão nacionalista,
mas do partido internacional e da sua capacidade de cristalizar as lutas e
experiências da classe operária internacional.17
Daron, Abril de 2023
Nota
13 https://adfiran.com/en/signatories/
14 https://adfiran.com/en/docs/mahsa-charter/
16 https://www.bbc.com/news/world-europe-41737330/ https://www.marxist.com/bolshevik-decriminalisation-ofhomosexuality-intentional-or-oversight.htm
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
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