http://mai68.org/spip2/spip.php?article15865
Ameaçados pela Inteligência Artificial,
empobrecidos pelo streaming, actores de Hollywood em greve
19 de Julho de 2023
Este é o maior protesto na indústria cinematográfica
desde 1960. Os actores de Hollywood decidiram juntar-se os guionistas, que
desde 2 de Maio estão em greve com os estúdios. As duas principais exigências
dizem respeito à remuneração e à ameaça da inteligência artificial.
A paragem de onze
semanas dos guionistas não perturbou muito as plataformas como a Netflix e a
Disney, que não cederam às suas exigências. Mas desde quinta-feira, 13 de Julho,
toda a indústria do espectáculo está paralisada.
Com o aparecimento do streaming, não só a remuneração dos actores baixou consideravelmente, como também é difícil de gerir para os trabalhadores da imagem e do som, porque, se antes recebiam uma percentagem por cada emissão na televisão ou nos cinemas, as coisas são diferentes com a distribuição em linha: as plataformas não comunicam os seus dados, o que resulta numa perda de informação que torna impossível controlar e distribuir equitativamente os ganhos.
Quanto à Inteligência Artificial, pode deixar os actores ao abandono, depois de alguns produtores terem proposto digitalizar os seus rostos para utilizar a sua imagem... tantas vezes quantas as necessárias, pagando-lhes por um único dia de trabalho! Uma proposta absurda, para dizer o mínimo. Os actores pedem também uma protecção geral para que a IA não possa reproduzir a sua voz e imagem sem o seu consentimento.
Discurso de Fran Dresher
A actriz, antiga estrela da muito popular série dos anos 90 "Une nounou d'enfer", fez um discurso inflamado no pódio do sindicato de actores SAG-AFTRA, que representa 160.000 actores e profissionais e do qual é presidente, onde o estatuto dos actores, mas também os mega-lucros indecentes dos CEOs, foram amplamente denunciados:
"Todos os olhos estão postos em
nós, porque o que nos está a acontecer está a acontecer a todas as categorias
de trabalho, quando os patrões fazem de Wall Street e do lucro a sua
prioridade. Não somos só nós aqui, mas milhões de pessoas em todo o mundo.
Somos vítimas de uma entidade gananciosa. Falam de pobreza e de como estão a
perder dinheiro como loucos, mas pagam aos seus directores executivos centenas
de milhões de dólares! É nojento. Que vergonha! Estão do lado errado da
história. (...) Todo o modelo de negócio foi alterado pelo streaming, pela
tecnologia digital e pela IA. Este é um momento histórico. Se não nos
levantarmos agora, vamos ser substituídos por máquinas. E por uma grande
máquina que se preocupa mais com Wall Street do que convosco e com as vossas
famílias".
Não é preciso muito para se ser rotulado de comunista na terra do Tio Sam.
Silêncio, não filmamos mais!
Esta paralisação conduz, portanto, a um adiamento de filmes e séries em
fase de produção, que sofrerão atrasos significativos. A Aliança de Produtores
de Cinema e Televisão AMPTP, que representa as principais produtoras (Netflix,
Disney, Apple, Paramount, Warner..) respondeu que não pretende ceder a
"exigências irrealistas".
Mais tarde, um executivo
do estúdio teria dito ao Deadline, a revista de notícias da
indústria do entretenimento, que a AMPTP está a demorar: "O objetivo é
deixar as coisas arrastarem-se até que os membros do sindicato comecem a perder
os seus apartamentos e casas".
A greve poderá, portanto, prolongar-se por mais algum tempo. Meses sem séries ou filmes para televisão? Uma pausa na doutrinação do entretenimento de Hollywood? Alguns sonhariam com isso!
Fonte: Révolte des canuts à Hollywood : le travail disparait ! – les 7 du quebec
Este
artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice
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