quarta-feira, 12 de julho de 2023

Ansiedade dos EUA face à Rússia sobreviver ao desgaste da OTAN

 


 12 de Julho de 2023  Robert Bibeau  

Por Alastair Crooke – Fonte Al Mayadeen

O Presidente Macron e a Presidente da Comissão Europeia, Von der Leyen, regressaram da China. A sua visita não produziu grandes resultados concretos (para além de alguns contratos para empresas francesas), mas o ambiente era terrível. Diz-se que a Sra. von der Leyen encurtou a sua viagem.

O Presidente Xi foi tão cortês e paciente como de costume, mas nem ele conseguiu esconder as caretas que fez quando Macron não parava de falar da responsabilidade da China em fazer com que o Presidente Putin recuasse em relação à Ucrânia. A frustração de Xi ficou bem patente quando Macron não pareceu ouvir a sua resposta reiterada de que tanto a Rússia como a Ucrânia têm as suas preocupações em matéria de segurança e que "não", a China não está disposta a intervir no conflito. No entanto, Macron persistiu - e demoradamente.

Qual foi o objetivo desta visita? Bem, teve essencialmente a ver com o facto de o Secretário de Estado Blinken não ter conseguido reorganizar a visita a Pequim que tinha cancelado na sequência do abate de um balão meteorológico chinês pelos Estados Unidos. A Casa Branca também não conseguiu agendar uma chamada telefónica entre os Presidentes Biden e Xi. Pequim não respondeu a nenhum dos pedidos.

Macron respondeu assim a um convite anterior para visitar Pequim e Von der Leyen juntou-se a ele para mostrar a "solidariedade" da UE (mas foi largamente ignorada).

À primeira vista, a mensagem de Macron era que a França queria manter alguns laços comerciais com a China (apesar da pressão dos EUA para isolar a China economicamente), mas os dois europeus viajaram essencialmente como emissários dos EUA.

A sua missão foi bem compreendida pela China. O antigo chefe de redação do Global Times, Hu Xijin, que está próximo do pensamento do Comité Central, resumiu sucintamente este sentimento, dando-nos uma visão geral:

Os Estados Unidos têm afirmado repetidamente que a China se prepara para fornecer "ajuda militar letal" à Rússia no âmbito do conflito em curso na Ucrânia. A China negou firmemente estas alegações: penso que os Estados Unidos estão a fazer uma "acusação preventiva" para impedir que a China tenha qualquer influência no conflito.

 A guerra na Ucrânia já dura há mais de um ano e, de acordo com os cálculos anteriores do Ocidente, a Rússia já deveria ter entrado em colapso. Não esperavam que a Rússia fosse capaz de resistir até agora e, nos últimos dias, a Rússia fez progressos no cerco de Bakhmut, uma rota de abastecimento fundamental para as tropas ucranianas.

Esta é uma guerra de desgaste entre a Rússia e o Ocidente. A Ucrânia fornece as tropas. Recebe todos os seus abastecimentos militares, incluindo munições, da NATO. E embora a NATO seja supostamente muito mais forte do que a Rússia, a situação no terreno não parece demonstrá-lo - razão pela qual está a causar preocupação no Ocidente.

O Ocidente tem tido muito mais dificuldades do que o esperado para derrotar a Rússia. Eles sabem que a China não forneceu ajuda militar à Rússia. Mas a questão que os assombra é a seguinte: se a Rússia, por si só, já é tão difícil de enfrentar, o que acontecerá se a China começar efetivamente a prestar ajuda militar à Rússia, utilizando as suas enormes capacidades industriais em benefício do exército russo? A Rússia sozinha... é mais do que um adversário à altura do Ocidente colectivo. Se [o Ocidente] obrigar efetivamente a China e a Rússia a uma aliança militar, a ameaça que os persegue é que o Ocidente deixará de poder fazer o que quer. A Rússia e a China juntas teriam o poder de controlar os Estados Unidos.

Em resumo, Hu Xijin expressa este paradoxo: os Estados Unidos e a Europa sabem que a China não fornece qualquer ajuda militar. Segundo a China, a Rússia está a lidar muito bem com todo o Ocidente na Ucrânia, sozinha. Então, não precisa da ajuda da China, então por que é que os EUA realmente seguiram uma política de forçar "a China e a Rússia a darem as mãos"?

A resposta, segundo Hu, é que, se a China e a Rússia se unissem militarmente, seria uma mudança de paradigma. A hegemonia americana já não podia agir como bem entendesse. A Rússia e a China teriam, em conjunto, o poder de controlar os Estados Unidos, sempre que ultrapassassem os seus limites.

É bem possível que os chineses estejam verdadeiramente perplexos com a estratégia dos Estados Unidos e da Europa: porque é que os Estados Unidos não saem já da guerra na Ucrânia? Afinal, se o Ocidente continuar a escalada, com um apoio militar cada vez maior da NATO, o que aconteceria se a China e a Rússia acabassem por "dar as mãos" militarmente? Pimba! Uma mudança de paradigma.

Será que os Estados Unidos querem isso? É evidente que não. O resultado seria a humilhação dos Estados Unidos e da NATO. Então, porquê persistir num projecto que parece destinado a acabar mal - e que, vergonhosamente, sacrifica tantas vidas?

Existe uma estratégia invisível ou é simplesmente uma questão de conseguir uma "aparência" presidencial favorável aos EUA em 2024, independentemente da estratégia, ou seja, colocar uma "aparência" presidencial de curto prazo acima de uma perda estratégica dos EUA a longo prazo?

Alastair Crooke

Traduzido por Zineb, revisto por, para o Saker Francophone.

 

Fonte: L’anxiété des États-Unis face à la Russie qui survit à l’attrition de l’ensemble de l’OTAN – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice




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