14 de Julho de 2023 Robert Bibeau
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"A Europa está agora assustada, aterrorizada, não sabe o que o futuro lhe reserva", diz Scott Ritter, antigo oficial dos serviços secretos do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos.
Desde o início da operação militar
especial russa, os Estados Unidos têm tido o cuidado de não se envolverem
formalmente no conflito.
O Pentágono tem-se contentado em fornecer
armas e peritos ao regime de Kiev, incitando os Estados europeus a fazerem o
mesmo e, sobretudo, a arranjar mercenários europeus para combater a guerra.
A NATO, por ordem de Washington, seguiu a
mesma linha, ajudando os Estados Unidos a encurralar os seus Estados. Tal como
os próxenos atenienses eram responsáveis pelo controlo e vigilância dos aliados
da Liga de Delos, no século V a.C., a NATO da época.
Serão os vassalos europeus de Washington
deixados à sua sorte numa guerra continental?
É o que parece estar a desenhar-se em
Vilnius, se juntarmos um certo número de pistas e de factos notáveis.
O Estado profundo dos EUA no ponto de ruptura
Os neo-conservadores americanos não são um grupo homogéneo. Os da linha dura, liderados por fundamentalistas como Antony Blinken, chefe da diplomacia americana, e Victoria Nuland, continuam a defender uma guerra total contra a Rússia, custe o que custar. De ascendência moldava e ucraniana e judia por parte do pai, Shepsel Ber Nudelman, Nuland encarna o neo-conservadorismo emocional e ideológico.
Esta facção do poder profundo infiltrou-se em todo o aparelho de Estado
americano desde o fim da Guerra Fria. Os atentados de 11 de Setembro de 2001
deram-lhe o controlo do Capitólio e das suas agências, da CIA ao Conselho de
Segurança Nacional, que tem uma influência directa sobre o Presidente dos
Estados Unidos.
Os representantes, agentes e intermediários neocon estão por todo o lado,
mesmo nos dois partidos que asseguram a falsa alternância democrática nos
Estados Unidos.
Mas uma outra franja do neo-conservadorismo acredita agora que há mais a
perder do que a ganhar no conflito na Ucrânia, e está a fazer valer esse ponto
de vista alto e bom som através das suas agências.
"Não deixem a Ucrânia aderir à NATO", apela
a revista Foreign Affairs.
E a voz oficial do grupo de reflexão do Conselho de Relações Externas (CFR), que exerce uma influência considerável no Capitólio, apela a um pouco de racionalidade:
Os líderes da NATO há muito que
compreenderam que admitir a Ucrânia na aliança implica uma possibilidade muito
real de guerra, incluindo uma guerra nuclear com a Rússia.
A Ucrânia não deve ser bem-vinda à NATO,
e isto é algo que o Presidente dos EUA, Joe Biden, deve deixar claro.
A resistência de Kiev à agressão russa
tem sido heróica, mas, no fim de contas, os Estados fazem o que é do seu
próprio interesse. E, neste caso, os benefícios de segurança para os Estados
Unidos da adesão da Ucrânia são insignificantes em comparação com os riscos de
a trazer para a aliança.
A admissão da Ucrânia na OTAN levantaria
a perspectiva de uma escolha difícil entre uma guerra com a Rússia e as
consequências devastadoras que isso implicaria, ou um recuo e desvalorização da
garantia de segurança da OTAN em toda a aliança.
Na Cimeira de Vilnius e depois dela, os
líderes da OTAN fariam bem em reconhecer estes factos e fechar a porta à
Ucrânia.
O poderoso complexo
militar-industrial dá o alarme
A situação parece, pois, suficientemente crítica para que os poderes
instituídos procurem retomar os contactos com Moscovo, na esperança de
encontrar uma saída honrosa.
Apenas os meios ocidentais de popularização, propaganda e desinformação das
massas ocidentais continuam a manter a narrativa de uma vitória ucraniana. A
contra-ofensiva do regime de Kiev está a transformar-se num desastre.
A
guerra económica contra a Rússia falhou; virou-se mesmo contra o Ocidente e, acima de tudo, contra a velha Europa,
incluindo a Alemanha, que está a pagar o preço e a ver a sua
desindustrialização acelerar.
O Ocidente já não
dispõe de nenhuma ONG nem de cabeças-de-ponte na Rússia para lançar uma das
suas revoluções coloridas.
À medida que as armas ocidentais demonstram a sua inferioridade e
inadequação no campo de batalha, o complexo militar-industrial americano, o
outro lado do Estado profundo neo-conservador, faz soar o alarme.
A guerra na Ucrânia não é apenas um desastre para a reputação dos
comerciantes de armas americanos. Mais grave ainda, uma derrota esmagadora
poria em causa o gigantesco sistema de sucção da riqueza criada para o
americano médio, através do Congresso e da sua relação incestuosa com o
complexo militar-industrial, cujos programas dispendiosos e muitas vezes
ineficazes financia.
A Lockheed Martin, a Raytheon, a Boeing e a Northrop Grumman
desviaram dinheiro suficiente através dos pacotes de assistência militar à
Ucrânia votados no Congresso quase todas as semanas, independentemente do
partido que o controla.
Chegou a altura de o complexo militar-industrial fazer tudo o que estiver
ao seu alcance, antes que seja tarde demais.
O conflito congelado
como única saída possível para o Estado Profundo
A péssima notícia para a Europa é que as duas facções do Estado profundo norte-americano poderiam concordar com a boa e velha receita dos conflitos congelados que podem ser reaquecidos a pedido, que a talassocracia anglo-saxónica já semeou em todo o planeta.
Desde o Vietname, os Estados Unidos deixaram de tentar ganhar guerras.
Instalar o caos duradouro é suficiente - ou costumava ser suficiente - para
impedir que regiões inteiras se tornem adversários crescentes da sua hegemonia.
Para o Atlantic Council, o think tank do Deep State, Ian Brzezinski - filho
de Zbigniew - deu as suas instrucções num "Memo to NATO Leaders":
- "Estabelecer uma nova Parceria de Dissuasão e Defesa NATO-Ucrânia
com base no estatuto da Ucrânia como membro do programa Enhanced Opportunities
Partnership".
- Para reforçar a capacidade de longo prazo da Ucrânia para se defender e
impedir futuras agressões russas. O compromisso dos aliados de armar, treinar e
equipar as forças ucranianas, se possível, através de financiamento conjunto da
NATO".
- Uma garantia de segurança pós-guerra para a Ucrânia até que os Aliados
estejam prontos para admitir a Ucrânia como membro de pleno direito da NATO."Isso poderia ser implementado inicialmente por uma
coalizão de voluntários. Por exemplo, Estados Unidos, Reino Unido, França,
Alemanha e Polónia", sugere Brzezinski.
Sobretudo a Polónia... e a Lituânia, poder-se-ia acrescentar, os próximos
países que Washington poderia atirar para o moinho de carne ucraniano, se
necessário, ou para assegurar a parte ocidental da Ucrânia e tentar um bluff
com Moscovo.
Para o observador atento, para além das declarações rasas dos Macrons, dos Scholzes e dos Stoltenbergs, Vilnius deveria lançar as bases para garantir o que um dia restará da Ucrânia; para assegurar o seu papel de base operacional anti-russa e de base operacional para um conflito mais ou menos aceso, durante o maior tempo possível.
Se Vilnius vier a ser a cimeira que confirma o fracasso da contra-ofensiva da NATO e o descalabro militar do seu regime fantoche, Kiev, a talassocracia anglo-americana não quer, não se pode permitir, a paz. Terá, portanto, de fazer a guerra, de acordo com uma tradição secular. Ao herdarem o conflito, os europeus não poderão provavelmente contar nem com a NATO nem com Washington.
Mas, como manda o endo-colonialismo ocidental, o Pentágono deve aproveitar a situação para completar a ocupação militar da Europa, iniciada em 1945, instalar as suas forças, vender as suas armas aos seus vassalos e proteger o Velho Continente como uma província imperial, como uma colónia.
Vilnius será "uma cimeira de nações desesperadas e em pânico", diz Scott Ritter.
A "harmonia" da NATO pode ser abalada após
as declarações dos EUA
de transferência de munições cluster para Kiev, disse o ex-chefe do
Estado-Maior das Forças Armadas britânicas à Sky News. E isto poucos dias antes
da cimeira da Aliança, muitos dos quais assinaram a convenção que proíbe o uso
de armas deste tipo.
A decisão do Presidente dos EUA de
transferir munições de fragmentação para a Ucrânia é susceptível de causar
agitação no seio da NATO, disse o antigo Chefe do Estado-Maior britânico à Sky
News.
"À medida que nos aproximamos da cimeira da NATO em Vilnius, [...] penso que o anúncio do envio destas armas nesta fase, quando tantos países da NATO já as proibiram, comporta algum risco de perturbar a harmonia no seio da NATO", disse Richard Dannatt.
Esta reunião dos países membros da Aliança Transatlântica está prevista para 11 e 12 de Julho em Vilnius, na Lituânia. O futuro transporte destas armas para Kiev, proibido por uma convenção, foi anunciado a 7 de Julho.
Erguem-se vozes contra
A Espanha, o Canadá e a Itália não apoiaram esta iniciativa americana. A Tailândia também considerou que esta iniciativa conduziria a uma grande escalada do conflito.
O primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, declarou em 8 de Julho que
Londres também tinha decidido opor-se à utilização de munições de fragmentação
na sequência da decisão dos EUA de as fornecer à Ucrânia.
"O Reino Unido é signatário de uma convenção que proíbe a produção ou
a utilização de munições de fragmentação e não recomendamos a sua
utilização", afirmou o Primeiro-Ministro na televisão Sky News. Datada de
2008, esta convenção foi assinada por mais de 100 países, com excepção de um
pequeno número de países, incluindo os Estados Unidos e a Ucrânia.
Fonte: Nouvelles en vrac sur la guerre de l’OTAN en Ukraine – les 7 du quebec
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
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