segunda-feira, 17 de julho de 2023

Os BRICS, o Ocidente e a Nova Linha Leste-Oeste


17 de Julho de 2023  Robert Bibeau  

por Mikhail Gamandiy-Egorov

Na actual situação internacional, torna-se mais claro do que nunca que nada voltará a ser como dantes. A cólera ocidental é tanto mais forte quanto a esmagadora maioria dos povos do mundo se recusou claramente a aderir às iniciativas do eixo da NATO contra a Rússia. Além disso, processos que o establishment atlantista julgava não ter de observar durante muitos anos - estão agora a desenrolar-se diante dos nossos olhos. Entretanto, a linha divisória continua a ser traçada.

A operação militar especial lançada pela Rússia em Fevereiro do ano passado teve o mérito de pôr em evidência a extrema desonestidade do Ocidente. E não apenas em relação à Rússia, no contexto dos compromissos não cumpridos pelo Ocidente desde os anos 90 e ao longo do período recente, incluindo no contexto dos Acordos de Minsk. O Ocidente, ou seja, a minoria extrema do mundo, não teve outra alternativa senão revelar a sua face hedionda à esmagadora maioria dos povos do mundo.

Sobretudo no que se refere ao facto de as várias situações de crise à escala internacional, do Médio Oriente a África, tantas vezes criadas directamente pela política ocidental, não merecerem qualquer atenção especial por parte desta minoria que se proclama a chamada "comunidade internacional" - que não é, nunca foi e nunca será. Mas enquanto os interesses do Ocidente forem afectados - porque o tempo da impunidade acabou efectivamente - toda a humanidade tem de ouvir dia e noite as lamúrias do establishment ocidental.

Quanto à Ucrânia, uma das ex-repúblicas soviéticas mais desenvolvidas economicamente na altura do fim da URSS e que se está a tornar rapidamente um dos países mais pobres da Europa, tornou-se mais claro do que nunca que o projecto ocidental para Kiev é apenas mais uma fraude, embora em grande escala. Isto é particularmente verdade quando se considera que o dinheiro gasto pelo eixo da NATO para armar o regime fantoche de Kiev na guerra por procuração da NATO contra a Rússia poderia ter sido utilizado há anos para dar à Ucrânia um impulso económico e ajudar o seu povo, que não tem conseguido sair do marasmo económico desde a década de 1990.

Mas os verdadeiros objectivos do Ocidente, por detrás das belas palavras de democracia e liberdade, nunca foram criar "histórias de sucesso" nos países que caem sob a sua bolha. Longe disso. O único interesse desses países foi sempre o de os explorar contra os principais opositores ao domínio e ao diktat ocidentais. Aliás, alguns dos outros países envolvidos nesta experiência ocidental, nomeadamente as antigas repúblicas soviéticas da Geórgia e da Moldávia, começam agora a aperceber-se disso. E a tirar as devidas conclusões. Quer ao nível de uma parte dos seus dirigentes (no caso da Geórgia), quer ao nível da oposição e da sociedade civil (no caso da Moldávia).

Em geral, o pequeno mundo ocidental que observa os acontecimentos actuais, não só geo-políticos, mas também geo-económicos, ainda para mais agora em modo de aceleração, com grande preocupação, compreende, apesar de toda a arrogância que o caracteriza, que terá de aceitar, de uma forma ou de outra, a nova linha divisória Leste-Oeste. Ou, mais particularmente, entre o bloco da ordem multipolar internacional, por um lado, e a nostalgia da unipolaridade, por outro.

Além disso, mesmo os pesos-pesados da propaganda ocidental, incluindo a muito famosa revista de política externa dos EUA, estão agora a deixar passar a mensagem de que será necessário negociar com a participação de potências não ocidentais, especialmente as dos BRICS, incluindo sobre a questão "ucraniana". Confirmando ao mesmo tempo as recentes declarações dos principais elementos do regime de Kiev que falam de uma pressão acrescida de muitos países, para que o regime negoceie.

A amargura com que os herdeiros do golpe de Estado de Maïdan reconhecem esta realidade não está obviamente ligada ao facto de o regime de Kiev ter de ceder territórios que historicamente não tinham nem têm nada de "ucraniano", mas é óbvio que isso implicará uma redução significativa do financiamento ocidental, que favoreceu o seu enriquecimento pessoal à custa do sangue da sua própria população.

Portanto, é agora absolutamente claro que a linha divisória vai ser traçada. A única questão que permanece em aberto é onde e quando. Do lado russo, a moderação continua a estar na ordem do dia, apesar de enfrentar uma coligação da NATO composta por dezenas de regimes inimigos. Se as forças armadas russas tivessem luz verde para aplicar o método da NATO - ou seja, arrasar tudo indiscriminadamente - a linha de demarcação já estaria o mais próximo possível das fronteiras do eixo da NATO. Especialmente quando sabemos que os regimes ocidentais apoiam e organizam totalmente actos terroristas que poderiam ter um impacto devastador na região e levar a um confronto nuclear.

Mas a Rússia está a trabalhar a longo prazo. E, provavelmente, prefere não ter de empenhar todo o seu potencial para permitir que a humanidade perceba melhor o que está em jogo actualmente. Além disso, os processos de paz em várias partes do mundo não ocidental, já confirmados ou em vias de finalização, demonstram a importância da contenção russa. Com efeito, enquanto os parasitas ocidentais continuam concentrados no seu laboratório experimental na Ucrânia, os povos não ocidentais aplaudem os acontecimentos na Síria, na Turquia, no Irão e na Arábia Saudita, para citar apenas alguns.

Quanto aos regimes fantoches criados e instalados pelo Ocidente, não terão muito tempo de vida quando um mínimo de sensatez for restituído aos povos vítimas desta enésima burla ocidental. E para isso - de facto - não há necessidade de arrasar. Muitos objectivos podem ser alcançados por outros meios. Daí a raiva deste pequeno mundo ocidental. E as tentativas de empurrar para a parede, por todos os meios, os defensores da actual ordem multipolar.

Mikhail Gamandiy-Egorov

fonte: Observador Continental

Fonte BRICS, Oeste e a Nova Linha de Demarcação Leste-Oeste (reseauinternational.net)

 

Fonte deste artigo: BRICS, Occident et la nouvelle ligne de démarcation Est-Ouest – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice



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