Olá;
Eis um
interessante texto de JLR que partilho em grande parte, o seu interesse
prende-se sobretudo com a situação no Níger, ao qual teremos de regressar.
Boa
leitura G.Bad
Quarta,
2 de Agosto de 2023
O ISLÃO E A
"LIBERTAÇÃO NACIONAL"... Uma farsa complementar
Alguns meios de comunicação social (pró-russos) tentaram fazer crer que se tratava de uma revolta espontânea do povo do Níger contra o "colonialismo francês"... gesticulações organizadas por um clã militar mas que, infelizmente, se tornaram ridículas ao arvorar a bandeira russa! Quando, na verdade, o imperialismo russo e chinês estão a fazer tudo o que podem para expulsar a França de África. Note-se que os trotskistas da ideologia burguesa da "emancipação dos povos" (o NPA bastardo da LCR krivinesca) - essa pantalha do tempo da guerra fria quando o mundo estava dividido pelos dois imperialismos mais poderosos da época - não têm agora outra política senão a de se queixar sem parar do antigo colonialismo francês, ter pena dos pobres do Níger e denunciar a energia nuclear, esse cavalo de batalha dos bobos, como nociva.
O apoio aos ditadores locais "emancipados" da tutela colonialista
continua a ser evidente, por razões eleitorais nos subúrbios imigrantes, para
Mélenchon e a sua camarilha, e para o folclórico NPA. Estas facções burguesas
apoiam naturalmente a "cola" que une estes povos alienados, um Islão
brando e até armado. A luta para continuar o roubo de urânio não justifica a
confusão e a cumplicidade repugnantes da esquerda burguesa, ainda "submetida"
às velhas ideologias do tempo da contra-revolução.
Na denúncia histórica destas fábulas de "libertação nacional" ao
serviço deste ou daquele imperialismo, o nosso maximalismo (GCF e também SouB)
negligenciou o lugar do Islão; no Níger, 90% da população é muçulmana, pelo que
as burguesias ou os clãs militares estão serenos. No entanto, o Islão
acompanhou basicamente a "moralização" das chamadas "libertações
nacionais", como Boualem Sansal testemunhou recentemente (ver Gouverner au
nom d'Allah, islamisation et soif de pouvoir dans le monde arabe, Gallimard
2013):
"No contexto dos países "árabes" sob o domínio colonial ocidental e cristão, o rigorismo religioso era amplificado, o Islão era uma armadura, um refúgio para resistir às garras da cultura europeia e suportar a miséria dos indigénat e as injustiças do colonialismo; Durante a guerra da Argélia, a FLN (Frente de Libertação Nacional) fez a guerra contra o colonialismo, mas não se esqueceu de multiplicar as proibições ao povo, tal como os talibãs fizeram quando estavam no poder no Afeganistão: proibiu os argelinos de beber álcool, fumar, mascar tabaco, ir ao café, ao cinema, ao estádio, à praia, festejar, jogar dominó, ler jornais, vestir-se à europeia para as mulheres argelinas...A lista foi crescendo à medida que a guerra avançava. Os infractores foram severamente punidos, abatidos ou tiveram o nariz e os lábios cortados.
Esta abordagem repetiu-se após a independência. As campanhas de moralização
em forma de socos eram periódicas, eram realizadas pela polícia e causavam
muitos danos. Expulsaram milhares de jovens do país. Todos os países árabes,
sem excepção, recorreram aos mesmos métodos, violentos, humilhantes,
castradores. Na verdade, nenhum colonizador se comportou como os
regimes de Kadhafi, El-Assad, Boumedienne, Ben Ali, Saddam Hussein. pág.
118)
O ADVENTO DE UMA BUROCRACIA... MUÇULMANA
Mas Mohammed Harbi, na sua excepcional história da verdadeira FLN, não
esperou que Sansal denunciasse o uso da "moral islâmica" pelo Estado
militar "libertado" (embora no índice de nomes a palavra Islão não
seja mencionada). Em todo o caso, muito melhor e mais profundo do que os curtos
panfletos ou artigos da antiga ultra-esquerda que agora qualifico como maximalista,
Harbi terá sido o melhor denunciador desta ideologia sub-desenvolvida de um
falso marxismo estalinista e trotskiano.
"Os dirigentes da FLN estão, em graus diferentes, divididos entre dois
mundos: o mundo ocidental, símbolo do individualismo e do respeito pela vida
pessoal, e o mundo islâmico, mais marcado pela religião e no qual o indivíduo é
definido apenas pela comunidade. A religião desempenhou na Argélia um papel que
não teve em nenhum outro país árabe. A destruição do Estado dos deys e das
comunidades de base (tribos) levou os argelinos a voltarem-se para aquilo que é
mais interior ao homem, a religião. O Islão foi o substituto do Estado antes de
se tornar a sua alma" (...) As suas ideias (da FLN) sobre a guerra como
jihad, a sua tendência para ver a oposição como um desvio e uma heresia, a sua
avaliação da representatividade com base no consenso, a sua abordagem do
problema das minorias e, finalmente, a sua prática da purga como eliminação do
impuro, são todas emprestadas da tradição. A teoria do Estado-nação defendida
pelo jurista argelino Mohammed Bedjaoui só faz sentido se a nação for
identificada com a comunidade muçulmana.
Baseados na censura das condutas, os princípios de comando treinavam o
espírito público na obediência e no respeito, e faziam da denúncia e da
vigilância mútua um dever comunitário. Sem se aperceberem, os dirigentes da FLN
regressam ao passado. Os direitos do indivíduo não existiam. A passagem da
declaração de 1 de Novembro sobre o respeito das liberdades individuais não é
mais do que um fato de domingo que foi trazido para a ocasião e rapidamente
guardado.
"Como todos os estratos dominantes da história, a burocracia argelina
eleva-se acima do povo através da acção policial". O povo argelino, tão
passivo como o proletariado russo actual, é então sado-masoquista:
"Movidos por um ódio à dominação estrangeira, os argelinos, devido ao
lugar que a religião e a autoridade ocupam na sua concepção do poder, vêem a
arbitrariedade como o lado negativo inevitável daquilo que, para eles, é
essencial: a comunidade. Suportaram a dor, e por vezes a vergonha, de verem a
sua dignidade violada. No entanto, a violência da FLN nunca poderia ser
comparada com a do colonialismo. (...) Mas, à medida que a luta prosseguia,
vastos sectores da opinião urbana começaram a interrogar-se se, sob a capa da
libertação nacional, não se teria criado uma nova camada de dirigentes
tirânicos e medíocres". (...) "Ainda antes da libertação do país, a
burocracia argelina estava despojada do seu mistério (...) Símbolo de uma
unidade duramente conquistada, a FLN não era a formação política que pretendia
ser, mas uma burocracia com vocação estatal cuja força residia no aparelho militar".
ANGARIAÇÃO DE FUNDOS COMPARÁVEL AOS MÉTODOS ISLAMISTAS
"Esta técnica, conhecida como "arriérage", está na origem de
muitas tragédias. Confrontados com a alternativa de salvar a vida ou de
abandonar a família, alguns emigrantes escolhem a segunda solução. Outros
preferem deambular por França para escapar às balas dos angariadores de fundos.
Mas, inexoravelmente, um dia ou outro, acabavam por se encontrar sob o controlo
da FLN, à medida que os cafés, hotéis e albergues eram cercados. O arrivismo
dos quadros veio agravar os danos causados por estas práticas? Submetidos à
exigência de melhorar as cobranças financeiras para subir na hierarquia, os
"cobradores de impostos" multiplicam as multas sob diversos pretextos
(consumo de álcool, pagamentos em atraso, etc.) e aumentam o número de
"contribuintes".
O povo do Níger, mergulhado na sua fé muçulmana, não tem qualquer razão para esperar uma melhoria das suas condições de vida (ou uma libertação do capitalismo), que depende... do início de uma verdadeira revolução no Ocidente! A dada altura, os povos de todo o mundo terão de queimar toneladas de Corões, Bíblias e Torahs para se libertarem desta religiosidade alienada, que há séculos incapacita mentalmente as pessoas.
Fonte: ISLAM ET « LIBERATION NATIONALE »…une mystification complémentaire – les 7 du quebec
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
Sem comentários:
Enviar um comentário