Pesquisa realizada por Robert Gil
Não devemos confundir a partida destes migrantes, que arriscam a sua vida
em busca de uma vida melhor, com a imigração em massa pretendida pelo grande
capital. Jean Jaurès tinha razão: "O que não queremos é que o capital
internacional procure mão de obra nos mercados onde ela é mais degradada,
humilhada e depreciada, que a atire para o mercado francês sem controlo nem
regulamentação e que os salários sejam nivelados, em todo o mundo, pelos dos
países onde são mais baixos. É neste sentido, e só neste sentido, que queremos
proteger o trabalho francês contra o trabalho estrangeiro, não, repito, não por
exclusivismo chauvinista, mas para substituir a internacional do bem-estar pela
internacional da miséria", discurso "Pour un socialisme
douanier", 17 de Fevereiro de 1894.
Antes dos anos 80, a questão da imigração não era tabu na esquerda. Ao
longo do século XX, a esquerda criticou as políticas de imigração apontando o
dedo ao grande capital. Esta crítica era acompanhada da solidariedade entre
trabalhadores nacionais e imigrantes, da igualdade de direitos e da unidade na
luta de classes. Os patrões, pelo contrário, pretendiam opor os trabalhadores
estrangeiros aos franceses, tanto para enfraquecer a frente social como para
criar uma massa de trabalhadores que se deixasse levar pela pressão e que
fizesse poucas exigências, juntando-se ao famoso "exército industrial de
reserva" de Marx. Em 1963, a CGT apoiava o princípio do controlo da
imigração e o PCF também defendia o controlo da imigração. Em 1981, Georges
Marchais declarou: "É inaceitável permitir a entrada de novos
trabalhadores imigrantes em França, quando o nosso país tem quase dois milhões
de franceses e imigrantes desempregados". A partir da década de 1980, a
Frente Nacional, ajudada pelas manobras de François Mitterrand, surgirá e
tornar-se-á a espada dos interesses capitalistas que procuram, como sempre,
dividir os trabalhadores franceses e imigrantes. Ao apontar a culpa do
desemprego aos imigrantes, com o slogan "3 milhões de desempregados são 3
milhões de imigrantes a mais", a FN não se pronuncia, obviamente, sobre a
responsabilidade das grandes empresas que facilitaram a entrada desses
estrangeiros e, evidentemente, sobre os processos de exploração que agravam as
desigualdades entre imigrantes e nacionais. Por seu lado, o Partido Socialista,
depois de ter enterrado a luta de classes e de se ter convertido à economia de
mercado, tornou-se um fervoroso defensor do neo-liberalismo, ao mesmo tempo que
se afirma de esquerda. Pouco a pouco, este "Partido Socialista de
direita" e estes aficcionados da "esquerda caviar" começaram a
dar lições, e qualquer comentário sobre a imigração foi rotulado de
"extrema-direita".
A integração está num impasse, porque o Estado, a extrema-direita e o
patronato não têm qualquer interesse nela; querem dividir, não juntar. Os
imigrantes não são responsáveis, são vítimas do sistema que os trouxe até nós,
mas, na situação actual, a chegada de um novo fluxo migratório só vai tornar um
pouco mais inseguros os imigrantes anteriores e os trabalhadores nacionais, colocando-os
uns contra os outros, orquestrados pelo patronato. Entretanto, há quem fantasie
com o perigo dos estrangeiros, enquanto outros moralizam e pregam. Mas, muitas
vezes, nenhuma destas pessoas vive em bairros populares e só ocasionalmente
entram em contacto com os imigrantes. Como sempre, muitas pessoas falam de
coisas que não conhecem. Temos de sair desta armadilha, porque enquanto a
direita e a extrema-direita continuarem a levantar o espectro da imigração,
todas as outras propostas de esquerda serão inaudíveis. Para contrariar o voto
na extrema-direita, temos de voltar a um discurso claro sobre a imigração,
temos de atacar as causas que motivam este voto, sem estigmatizar os
imigrantes, mas sem tabus. Se não conseguirmos fazer passar o debate para a
opinião pública, estaremos a condenar-nos a um beco sem saída, tanto para os
trabalhadores nacionais como para os de origem imigrante, e estaremos a fazer o
jogo da extrema-direita e do patronato, o que conduzirá inevitavelmente a um
nivelamento por baixo de todos os trabalhadores. Nestes tempos de crise, ter a
coragem de fazer perguntas não é o caminho mais fácil, mas não há outro
caminho. Não se enganem, o debate sobre a imigração no final de 2023 na
Assembleia Nacional não passa de uma manobra publicitária do governo para dar a
impressão de que está a levar a sério as preocupações dos franceses e para
tentar tirar o tapete à extrema-direita nas próximas eleições. É uma luta pela
posição, porque, ideologicamente, não há praticamente nenhuma diferença. No final,
a maioria dos artigos desta lei foi rejeitada pelo Conselho Institucional...
Vamos esperar para ver o que acontece a seguir.
Por fim, para que os períodos eleitorais não girem sistematicamente em
torno das questões da imigração, é preciso definir as regras do jogo desde o
início. Um candidato de "esquerda" deve declarar a sua posição sobre
esta questão, mas acrescentar que, se ganhar as eleições, estes problemas serão
resolvidos através de um referendo: São os eleitores que decidirão, mas agora,
durante esta campanha, vamos falar de salários, de trabalho, de serviços
públicos, de saúde, de educação, de distribuição da riqueza, etc. Se
conseguirmos antecipar o resultado do referendo, nada impede que se realize um
segundo referendo alguns anos mais tarde, e se a "esquerda" for capaz
de melhorar a vida das pessoas através do seu programa, as pessoas ficarão
menos revoltadas com a imigração. Mas, enquanto os debates eleitorais forem
dedicados a este problema, não se conseguirá avançar.
Fonte: Oser affronter les difficultés – les 7 du quebec
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
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