Pesquisa realizada por Robert Gil
Em 22 de Novembro de 1943, Estaline, Roosevelt e Churchill reuniram-se em
Teerão. Entre as questões mais importantes discutidas estava o problema da
abertura de uma “segunda frente” pelos Aliados. Esta era a questão mais
difícil. A Grã-Bretanha e os Estados Unidos fizeram tudo o que puderam para
adiar a abertura de uma segunda frente na Europa Ocidental. A decisão de abrir esta
“segunda frente”, ou seja, o desembarque das tropas aliadas na Europa e a
criação da Frente Ocidental, deveria acelerar consideravelmente a queda do
Terceiro Reich. Após o ponto de viragem estratégico das batalhas de
Estalinegrado e Kursk, a situação na Frente Oriental evoluiu favoravelmente
para a URSS. As tropas alemãs tinham sofrido perdas irreparáveis e já não as
podiam compensar. Os alemães tinham perdido a iniciativa estratégica da guerra.
O Exército Vermelho fez recuar o inimigo, libertou o Donbass, atravessou o
Dnieper e reconquistou Kiev. Os russos tinham também expulsado o inimigo do
Cáucaso do Norte e desembarcado na Crimeia.
Mas a vitória estava ainda muito longe: o Império Alemão era ainda um
adversário formidável, com forças armadas poderosas e uma indústria forte. Os
alemães controlavam vastas áreas da URSS e da Europa de Leste. Para acelerar a
derrota do Terceiro Reich e dos seus aliados, era necessário um esforço
conjunto das três grandes potências. Os Aliados tinham prometido abrir uma
segunda frente em 1942, mas passou um ano e não se registaram progressos.
Militarmente, os Aliados estavam prontos para iniciar a operação em Julho-Agosto
de 1943, quando se travava uma batalha feroz na Frente Oriental, no bojo de
Orel-Kursk. Um exército expedicionário de 500.000 homens foi colocado em
Inglaterra, que estava em plena prontidão de combate e dispunha de tudo o que
era necessário para os desembarques e para assegurar a superioridade aérea. Mas
a frente não foi aberta principalmente por razões geopolíticas. Londres e
Washington não iam ajudar Moscovo. Os serviços secretos soviéticos descobriram
que, em 1943, os Aliados não abririam uma segunda frente no Norte de França.
Iriam esperar “até que a Alemanha fosse
mortalmente ferida pelo avanço russo”.
Londres e Washington viam o Terceiro Reich como um “aríete” capaz de
esmagar os bolcheviques. No início, acreditavam que a Alemanha poderia derrotar
a URSS e que, neste duelo de titãs, ficaria enfraquecida, permitindo aos
anglo-saxónicos forçar o Reich a uma paz que os beneficiaria. Só depois de se
ter tornado claro que a Alemanha de Hitler não seria capaz de derrotar a Rússia
e a URSS é que Londres e Washington reviram o seu cenário de guerra mundial. Os
britânicos e os americanos elaboraram um plano estratégico para atacar a partir
do sul, através de Itália e dos Balcãs, com Roma a aliar-se ao bloco
anglo-americano. À espera de ver o que acontecia na Frente Oriental.
Era possível que os alemães criassem uma defesa estratégica sólida e que a
Segunda Guerra Mundial se prolongasse com o massacre mútuo de russos e alemães.
A Alemanha e a URSS sofreriam enormes perdas e as suas forças armadas seriam
esvaziadas. Ao mesmo tempo, estavam a ser elaborados planos para o desembarque
de tropas aliadas na Grécia e na Noruega. Desta forma, os senhores do Ocidente
esperariam até ao último momento, quando a URSS e a Alemanha estivessem
exangues na batalha titânica. Isto permitiria à Grã-Bretanha e aos Estados
Unidos actuar a partir de uma posição de força e ditar os termos da ordem
mundial do pós-guerra.
Os britânicos e os americanos convenceram os russos de que o desembarque no
norte de França era complicado devido à falta de transportes, o que criava um
problema de abastecimento. Avançar pelos Balcãs seria um cenário mais rentável.
Isto permitiria aos Aliados ligarem-se ao território romeno e atacar a Alemanha
a partir do sul. De facto, Churchill queria separar a maior parte da Europa da
URSS. Isto tornou possível desenvolver novos cenários anti-soviéticos e
enfraquecer a importância do Exército Vermelho na fase final da guerra. Em
particular, estava a ser desenvolvido o cenário de um golpe de Estado
anti-Hitler na Alemanha, em que a nova liderança alemã compreenderia o
desespero da situação e concordaria com um acordo separado com a Grã-Bretanha e
os EUA. Os alemães permitiriam então que as tropas anglo-americanas entrassem
no seu território para salvar o país do Exército Vermelho.
Depois de muito debate, a questão da abertura de uma segunda frente ficou num impasse. Estaline declarou-se pronto a abandonar a conferência: “Temos demasiadas coisas para fazer em casa para perdermos tempo aqui. Na minha opinião, nada que valha a pena está a funcionar”. Churchill apercebeu-se de que a questão não podia agravar-se ainda mais e chegou a um compromisso. Roosevelt e Churchill prometeram ao líder soviético abrir uma segunda frente em França, o mais tardar, em Maio de 1944. O calendário final da operação deveria ser determinado no primeiro semestre de 1944. Durante a operação dos Aliados, as tropas soviéticas tiveram de lançar uma ofensiva para impedir a transferência de divisões alemãs de leste para oeste.
Desde então, todas as manhãs nos dizem que foram “os americanos” que
libertaram a França, quando isso só foi possível graças à imobilização de 200
divisões da Wehrmacht na Europa de Leste face à ofensiva soviética ao longo de
2000 km... na Normandia, apenas uma parte das cinquenta divisões alemãs
estacionadas em França lutavam contra os Aliados. Por isso, é preciso repetir
vezes sem conta: sem a ofensiva soviética, as forças americanas e britânicas
nunca teriam podido desembarcar! Mas os media da oligarquia quase não falam
disso...
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Fonte: 1943, le problème de l’ouverture d’un «deuxième front» – les 7 du quebec
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
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