sexta-feira, 26 de julho de 2024

O caminho de Zelensky para a "paz" é uma fantasia política

 


 Julho 26, 2024  Robert Bibeau 


Por Andrew Korybko.

Qualquer discussão que inclua ultimatos à Rússia e na qual a China não participe está condenada ao fracasso.

Zelensky partilhou esta segunda-feira o seu caminho para a paz (sic), onde revelou que estão previstas mais quatro rondas de conversações sobre o conflito na Ucrânia para os próximos meses, depois da mais recente no mês passado na Suíça. A próxima será no Qatar e abrangerá a segurança energética, e depois haverá uma na Turquia sobre a livre navegação no Mar Negro. Em seguida, realizar-se-á no Canadá, por volta de Setembro, uma reunião sobre o intercâmbio de prisioneiros, seguida de outro evento ao estilo suíço em Novembro.

Foi durante este quinto evento que Zelensky disse que esperava que a Rússia pudesse participar, embora o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Mikhail Galuzin, já o tivesse descartado na semana passada, alegando que o seu país não participaria em quaisquer reuniões onde seria desprezado e pressionado a cumprir ultimatos. No entanto, a mudança de retórica de Zelensky e o timing com que espera que tudo se desenrole são desenvolvimentos interessantes em si mesmos, e agora serão analisados para colocá-los em perspectiva.

O seu roteiro foi partilhado pouco depois da "missão de paz" do primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, que o levou à Ucrânia, Rússia, China e Estados Unidos, e sugere que Zelensky e os seus parceiros ocidentais mais confiáveis estão seriamente preocupados com a possibilidade de um processo de paz não ocidental. Foi explicado aqui como isso poderia assumir a forma de conversações mais inclusivas, organizadas pela China mas lideradas pelo Brasil, antes e/ou durante a cimeira do G20 no Rio.

Se ocorrerem, poderão criar o impulso diplomático necessário para forçar a Ucrânia a ceder no seu irrealista objectivo maximalista de reconquistar os territórios perdidos, para não mencionar a criação de um tribunal internacional para alegados "criminosos de guerra" russos após o fim do conflito. Isso porque o duopólio sino-brasileiro poderia, presumivelmente, reunir a maior parte do Sul Global para participar nas suas reuniões e levá-los a apoiar o seu consenso de paz comum de seis pontos para congelar o conflito.

Dado o interesse da China em se apresentar como uma força diplomática mundial a ser considerada, é improvável que participe em qualquer uma das próximas quatro reuniões delineadas por Zelensky, assim como se recusou a participar na reunião do mês passado na Suíça. Os seus parceiros mais próximos no Sul Global também poderiam seguir o seu exemplo ou, se ainda estiverem a participar no evento, poderiam recusar-se a assinar uma declaração conjunta, assim como o Brasil se recusou a fazer na última declaração.

Sem a participação da China e o apoio dos principais países do Sul Global, muitos dos quais também não assinaram a declaração do mês passado, tudo o que Zelensky planeou para os próximos meses é apenas uma fantasia política para fins de gestão da percepção. Ele e aqueles que o apoiam sabem que devem, pelo menos superficialmente, chegar aos países do Sul, daí as próximas reuniões no Qatar e na Turquia, e também sabem que também não podem continuar a excluir a Rússia.

Isto explica o papel destes dois nesta sequência diplomática prevista e o interesse publicamente declarado de Zelensky em convidar a Rússia para o próximo evento ao estilo suíço, em Novembro, embora a primeira parte não faça diferença na mudança da abordagem ao Sul Global, enquanto Galuzin já descartou a segunda. O facto é que todas as negociações que incluem ultimatos à Rússia e em que a China não participa estão condenadas ao fracasso, pelo que tudo isto é mais um golpe de soft power que não dará em nada.

Fonte: La voie envisagée par Zelensky vers la « paix » est un fantasme politique – les 7 du quebec

Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice




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