Por Andrew Korybko.
Qualquer discussão que inclua ultimatos
à Rússia e na qual a China não participe está condenada ao fracasso.
Zelensky partilhou
esta segunda-feira o seu caminho para a paz (sic),
onde revelou que estão previstas mais quatro rondas de conversações sobre
o conflito na Ucrânia para
os próximos meses, depois da mais recente no mês passado na Suíça. A próxima será
no Qatar e abrangerá a segurança energética, e depois haverá uma na Turquia
sobre a livre navegação no Mar Negro. Em seguida, realizar-se-á no Canadá, por
volta de Setembro, uma reunião sobre o intercâmbio de prisioneiros, seguida de
outro evento ao estilo suíço em Novembro.
Foi durante este
quinto evento que Zelensky disse que esperava que a Rússia pudesse participar,
embora o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Mikhail Galuzin, já o
tivesse descartado na semana
passada, alegando que o seu país não participaria em quaisquer reuniões onde
seria desprezado e pressionado a cumprir ultimatos. No entanto, a mudança de
retórica de Zelensky e o timing com que espera que tudo se desenrole são
desenvolvimentos interessantes em si mesmos, e agora serão analisados para
colocá-los em perspectiva.
O seu roteiro foi
partilhado pouco depois da "missão de paz" do primeiro-ministro
húngaro, Viktor Orban, que o levou à Ucrânia, Rússia, China e Estados Unidos, e
sugere que Zelensky e os seus parceiros ocidentais mais confiáveis estão
seriamente preocupados com a possibilidade de um processo de paz não ocidental.
Foi explicado aqui como isso
poderia assumir a forma de conversações mais inclusivas, organizadas pela China
mas lideradas pelo Brasil, antes e/ou durante a cimeira do G20 no Rio.
Se ocorrerem, poderão
criar o impulso diplomático necessário para forçar a Ucrânia a ceder no seu
irrealista objectivo maximalista de reconquistar os territórios perdidos, para
não mencionar a criação de um tribunal internacional para alegados
"criminosos de guerra" russos após o fim do conflito. Isso porque o
duopólio sino-brasileiro poderia, presumivelmente, reunir a maior parte do Sul
Global para participar nas suas reuniões e levá-los a apoiar o seu consenso de paz comum de seis pontos para
congelar o conflito.
Dado o interesse da China em se apresentar como uma força diplomática mundial
a ser considerada, é improvável que participe em qualquer uma das próximas
quatro reuniões delineadas por Zelensky, assim como se recusou a participar na
reunião do mês passado na Suíça. Os seus parceiros mais próximos no Sul Global
também poderiam seguir o seu exemplo ou, se ainda estiverem a participar no
evento, poderiam recusar-se a assinar uma declaração conjunta, assim como o
Brasil se recusou a fazer na última declaração.
Sem a participação da China e o apoio dos principais países do Sul Global,
muitos dos quais também não assinaram a declaração do mês passado, tudo o que
Zelensky planeou para os próximos meses é apenas uma fantasia política para
fins de gestão da percepção. Ele e aqueles que o apoiam sabem que devem, pelo
menos superficialmente, chegar aos países do Sul, daí as próximas reuniões no
Qatar e na Turquia, e também sabem que também não podem continuar a excluir a
Rússia.
Isto explica o papel destes dois nesta sequência diplomática prevista e o
interesse publicamente declarado de Zelensky em convidar a Rússia para o próximo
evento ao estilo suíço, em Novembro, embora a primeira parte não faça diferença
na mudança da abordagem ao Sul Global, enquanto Galuzin já descartou a segunda.
O facto é que todas as negociações que incluem ultimatos à Rússia e em que a
China não participa estão condenadas ao fracasso, pelo que tudo isto é mais um
golpe de soft power que não dará em nada.
Fonte: La voie envisagée par Zelensky vers la « paix » est un fantasme
politique – les 7 du quebec
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis Júdice
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