30 de Julho de 2024 Robert Bibeau
Por Khider Mesloub.
No final de uma segunda volta da farsa eleitoral francesa, marcada por uma afluência maciça às urnas, foi o cenário que nenhum comentador (jornalista ou político) tinha previsto que acabou por prevalecer.
Macron não só deixou os franceses perplexos com a sua calculada dissolução da Assembleia Nacional, como também contrariou todas as previsões dos pseudo-analistas de que o Rassemblement National sairia vencedor. A grande burguesia francesa está a manter este partido em reserva para a próxima fase dos seus planos de guerra. Deve ser o povo tetanizado a chamar o seu carrasco para o governar (recordemos os anos trinta).
Num contexto de recrudescimento da tripolarização, o bloco de esquerda acabou por se impor com 182 lugares, à frente do partido de Macron, que obteve 168 lugares, relegando a extrema-direita, que se previa vencedora, para o último lugar, com 143 lugares. É verdade que o Rassemblement National obteve um número recorde de lugares. Mas estes deputados servirão apenas para fazer número nesta fase do plano de guerra mundial. A direita tradicional, por seu lado, mal se aguenta, com 60 lugares.
Uma coisa é certa, nenhum destes três “blocos” capitalistas está em condições de formar um governo sozinho, por falta de maioria absoluta na Assembleia Nacional - o antro do capital nacional. Este resultado paralisa o parlamento, como pretendia a secção francesa do capital mundializado. De facto, com a “perna” legislativa da governação burguesa paralisada, a “perna” executiva da governação burguesa conduz sozinha o barco nacional sob a tutela transnacional da União Europeia. (CQFD).
Além disso, Macron será forçado a formar
um governo chauvinista e abrangente de unidade nacional, composto por ministros do NFR (socialistas, Esquerdistas ligeiros compatíveis, ecologistas), da direita
tradicional e de Macron. Ou mesmo da "sociedade civil".
Esta aliança disparatada (de brique et de broque – NdT)) , paralisada e
impotente, será rapidamente desacreditada... então a escolha será entre uma
extrema-esquerda totalitária ou uma extrema-direita militarista?
Dada a crise económica e as tensões militares internacionais, a pressão dos mercados e a tendência para a guerra na Europa, este novo governo da União Nacional chauvinista assumirá uma dimensão pugnaz e belicosa. Será um governo de guerra, colocado sob a égide do Conselho de Defesa, o mesmo que governou a França durante a pandemia, politicamente instrumentalizado por Macron para iniciar a militarização da produção e da sociedade.Ver este artigo: https://queonossosilencionaomateinocentes.blogspot.com/2024/07/a-organizacao-dos-jogos-olimpicos.html
Enquanto chefe de
Estado de um país imperialista, Macron está consciente de que estamos a
caminhar para uma proliferação de conflitos militares de “alta intensidade”.
Pior ainda, para uma terceira guerra mundial.
Por conseguinte, actualmente, em França como na maioria dos países (Israel e Rússia e Ucrânia, e Sahel, e China, e Venezuela, etc.), é a guerra que dita o ritmo. É a guerra que impõe o seu programa político assassino, a sua agenda económica militarista, o seu modo de pensar chauvinista, corporativo e corporativista.
No final, Emmanuel Macron, ao dissolver a
Assembleia Nacional, terá engenhosamente suscitado um surto eleitoral nacional
utilizando o “perigo fascista” e o “perigo russo”, o que lhe terá dado um
parlamento composto por deputados dispostos a formar um governo republicano da
União Nacional, ou seja, um governo furiosamente burguês, capitalista e
belicoso.
Um Parlamento dócil e
submisso, empenhado no programa de guerra. Pronto a apoiar a agenda da guerra
social na frente interna e da guerra militar mundial na frente externa.
Em conclusão, os franceses, especialmente os de origem estrangeira e de fé muçulmana, terão de suportar não só um governo belicista, mas também uma “sociedade civil” racista (13 milhões de franceses votaram no partido de direita RN e outros milhões votaram numa dúzia de outros partidos fascistas de direita ou de esquerda).
O “bloqueio republicano pseudo-democrático e chauvinista” terá certamente permitido, por razões geopolíticas, bloquear o acesso do Rassemblement National ao poder, mas certamente não a sua ideologia racista, já amplamente difundida e reinante na República Francesa e na sociedade civil, instilada pelos partidos “governamentais de esquerda e de direita”, pelos “democratas burgueses revanchistas”, pelas redacções reaccionárias e pelos canais de televisão pagos.
Para os franceses de origem estrangeira e os imigrantes, é um duplo castigo (aflição). Terão de enfrentar a cólera do governo reaccionário e a peste da sociedade civil chauvinista.
Khider Mesloub
Este artigo foi traduzido para Língua Portuguesa por Luis
Júdice
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